segunda-feira, 26 de julho de 2010

NÓIA, FANTASIAS E CAPRICHOS



Carla 124

Sonhei que estava num local quando notei dois conhecidos de longa data. Um deles sempre foi apenas amigo, mas o outro me rejeitou enquanto mulher. Cumprimentei-os com um aperto de mão e sentei-me com uma conhecida para comer algo (permaneci na vista deles). Reagi com normalidade, mas lidar com a rejeição é sempre cruel e gerou em mim certa desconfiança. Espantara de vê-los juntos, pois para mim eles não se conheciam, ao menos não até então. O que sempre tive como amigo, vim a descobrir a pouco tempo que assumiu-se enquanto homossexual. Não desconfiei dos dois, mas sim de mim mesma, como se algo comigo estivesse errado. Senti-me uma pessoa estranha: uma desejável, mas intocável. Enquanto tentava não importar-me com a presença dos dois, dialoguei com a conhecida sobre algumas oferendas que tinha de fazer e também sobre uns compromissos (como ir à chácara). Foi chato quando notei que os dois haviam se retirado do local. Foi como se minha presença os houvesse espantado ou como se eles houvessem ido lá apenas para confirmar minha presença. Lembro apenas disso.

Parece-me um sonho de confronto. Sonhos de confronto necessariamente não envolvem combates, mas uma vertente de transformação da dinâmica pessoal, que o inconsciente abre, para que o sonhador possa tomar consciência de suas dificuldades, se defrontar com seus limites, ou com bloqueios que precisam ser superados.

“...mas lidar com a rejeição é sempre cruel e gerou em mim certa desconfiança.”

Você tem consciência de sua dificuldade de aceitação do “Não” do outro.

A rejeição no adulto em principio é isso, a dificuldade de aceitar o “não” alheio, de aceitar que a sua escolha não lhe escolhe, de levar equivocadamente a resposta do outro para o lado pessoal, por capricho, vaidade ou narcisismo. Isso pode se chamar Birra! Aquele comportamento de menino birrento que continua pela vida afora fazendo birra, chorando, esperneando, querendo ser atendido em seus desejos e na condição de comandar o mundo.

É claro que na vida adulta, isto se transforma em emburramento, defesas, distanciamentos, inferioridade, e superestima compensatória, caprichos.

Receber o não do outro é cruel! Porque tem que ser cruel? É escolha! Direito pessoal!

Seu amigo é homossexual. Você o coloca junto do rejeitador, levantando a suspeita de sua homossexualidade. Pode ser que assim fique mais fácil lidar com a rejeição. Você se vinga, punindo-o com a possibilidade de gay, e ainda sai da situação como vítima e rejeitada, pobre coitada. A rejeição passa a ser justificada.

Com essas respostas você estimula sua desconfiança, sua descompensação, pensamentos persecutórios, seu desconforto, inadequação. Sai do eixo, de sua referência para se conduzir através do imponderável: o mundo, as atitudes, as escolhas do outro. Porque se dá muita importância. Minha cara, o que lhe dá a certeza que o outro funciona a partir de sua presença ou comportamento? O fato de você fazer isso não quer dizer que os outros o façam, vivendo em função de ações alheias. Abandone essas certezas, e acreditar nesses pensamentos, nesse tipo de fantasia. Pare de se dar tanta importância, o mundo não gira ao redor de nosso umbigo.

O pensamento é uma grande conquista da evolução humana. Mas é uma mecanismo ainda em evolução, possuindo armadilhas perigosas. É necessário cuidado e cautela com os pensamentos.

No processo de desenvolvimento passamos pela fase onde  acreditamos que o mundo é o que pensamos, crescemos e passamos pela fase onde gostaríamos que o mundo fosse o que pensamos e podemos chegar à vida adulta com a consciência de que nem tudo o que pensamos deve ser considerado. Você está próxima deste momento, precisando aprender a separar o JOIO do TRIGO. Parar de comer feijão pensando que é caviar.


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