terça-feira, 31 de agosto de 2010

DIVINA GRAÇA E ÊXTASE




Carla153

Eu estava no meio de um grupo de ciganos, mas em verdade parecíamos mendigos. Um senhor aproximou-se de mim mostrando que havia ganho um creme de leite e ofereceu-me. Eu peguei a embalagem e agradeci-o dizendo que não estava com apetite. Meu tom de voz era muito suave e calmo, eu sentia uma doce paz dentro de mim e nada me amedrontava ou desconfortava-me. Nisso uma jovem do bando aproximou-se como se estivesse com ciúmes e retirou-o de perto de mim. Afastada do pessoal eu me despedi e comecei a passar pelo meio de uma multidão de pessoas que transitavam numa espécie de mercado-feira. Nisso me deu vontade de dançar. Firmei o pensamento e comecei a me ver e sentir-me dentro de um lindo vestido rodado vermelho-vinho de veludo e renda. Conforme eu levantava a roda da ultima saia, aparecia a parte de baixo feita de cetim branco plissado. Eu rodava com velocidade para ambos os lados e sapateava os pés, mesmo estando apenas com uma sapatilha. Olhei para um dos cantos e vi um jovem recolhendo as moedas que alguns passantes jogavam-lhe no chão. Pensei que poderia ganhar dinheiro com minha dança, entretanto, ninguém parecia estar nem aí para mim. Ninguém me olhava ou parecia se interessar com minha apresentação. Não me senti mal com isso, era como se já estivesse acostumada e soubesse que a realidade era aquela. Pensei comigo mesma que, por mais belo que fosse aquele vestido tão cheio de saias rodadas, preferiria uma roupa de dança do ventre, pois não teria o peso daquele vestido. O mesmo era tão pesado que dificultava meus movimentos. Não sei exatamente por que sonhei com isso. Depois eu estava em um templo, mas ciganos não podiam entrar em tais locais e eu o fazia escondido. Indescritível buscar palavras para o que senti dentro do sonho. Era como se eu estivesse diante de todos os santos, anjos e personagens bíblicos celestes e puros. Era como se eu fosse a criatura mais pequena do universo e, ao mesmo tempo, a mais íntima da realeza divina. Ali eu esquecia o fato de nada ser perante os homens da Terra, pois aquela sensação de paz profunda me levava a sentir que eu era uma parte ativa da luz do Céu.

Como disse, acho que faltam palavras para descrever algo que, de tão grandioso e bom, me faz questionar: como tive a graça de um sonho desses?

Infelizmente eu lembro muito pouco do sonho, mas ainda conservo a sensação inexplicável de bem-aventurança. É algo tão indescritível e mágico que até me perturba por provocar uma vontade de quero mais, de querer sentir isso para sempre. Sei que sonhei bastante essa noite, mas isso é tudo o que recordo.

 

DIVINA GRAÇA E ÊXTASE II

Raquel Brice


Salvo engano, no último ano seus sonhos deixaram de ser angustiantes se transformando em sonhos mais serenos, agradáveis e dadivosos. Este é uma ótima referência do significado de suas transformações internas. Quando a dinâmica onírica se mostra conturbada, promovendo angustias e sofrimentos, desconforto e até receios do repouso é sinal de que o fluxo do rio da vida está sendo desviado, produzindo desconforto, caos e desordem.

A tônica deve ser o bem estar. Eu não tenho dúvidas de que a vida não é uma festa, mas isto não quer dizer que ela tenha que ser um martírio.

Quando sintonizamos o fluxo da vida, interrompemos o processo de desordem e desequilíbrio que produzimos com as inquietações, os tormentos, as revoltas e as escolhas insensatas, apressadas, que relevam o importante e prioriza o insignificante.

Quando paramos de produzir transtornos e seguimos em consonância com o espírito, o caminho fica mais leve, mais suave e o sofrimento não se impõe. O sofrimento se impõe quando queremos conduzir a vida sem considerar seus pressupostos básicos.

Sua sensibilidade se mostra e você começa a entender o “espírito da coisa”, a ideia, o princípio. A vida pode ser um mar de lama ou de graças alcançadas, a escolha é pessoal. Seu esforço pessoal neste último ano dá mostras de que avançou, e sabemos do avanço pela agradável sensação de sermos agraciados com as graças divinas, com o prazer da harmonia, com a força do numinoso que aflora e se deixa ser experimentado.

Nestes tempos de tormentas, onde os desesperados buscam amortecedores nas drogas lícitas e ilícitas, a busca pelo prazer se mostra imperativa e projeção do sofrimento. Quanto mais tormentos mais drogas, mais amortecedores para aliviar o desconforto de viver, as cobranças, a competição, a frustração, a infelicidade.

Quando escolhemos caminhos verdadeiros, trabalhamos em prol dessa harmonia e a vida nos agracia com prazeres inimagináveis e sensações de alegria, satisfação e felicidade.



O SONHO

"Pensei comigo mesma que, por mais belo que fosse aquele vestido tão cheio de saias rodadas, preferiria uma roupa de dança do ventre, pois não teria o peso daquele vestido. O mesmo era tão pesado que dificultava meus movimentos."

A pele do humano civilizado se reveste do socialmente aceitável, mas muitas vezes o aceitável pode ser uma roupagem mais leve que não impeça seus movimentos, sua dança, seus passos, sua graça ou sua capacidade e poder de sedução.

O movimento indica mudança de atitude

Abandonar, pois pesada, a velha roupagem e abrir espaço para a tendência de se mostrar leve, flexível, em movimento. Pouco esforço, mais resultados, mais alegria e menos sofrimento.

Depois eu estava em um templo, mas ciganos não podiam entrar em tais locais e eu o fazia escondida. Indescritível buscar palavras para o que senti dentro do sonho. Era como se eu estivesse diante de todos os santos, anjos e personagens bíblicos celestes e puros. Era como se eu fosse a criatura mais pequena do universo e, ao mesmo tempo, a mais íntima da realeza divina.

Ciganos são povos nômades, livres, e identificados com os seus valores singulares. Vale a pena investigar se tens origens nômade, indígena ou europeia. Pode clarear o significado de algumas tendências. Se não há origem, então considere o simbolismo de um povo corajoso, unido em tribos, que celebra a força da paixão, do amor e da alegria, sem se fixar, aprisionar, ou abandonar a referência ancestral,

A consciência da insignificância do ser humano frente a grandeza do universo é um passo favorável para encontrar o tamanho que temos ou que somos. A auto estima se reconfigura, se resignifica.

A força da vaidade ainda se exibe, a necessidade de reconhecimento ainda remanesce.

Veja: somos pequenos, mas o alvo indica o realce do filtro. Independente da humildade de reconhecer a pequenez diante do universo, o foco nesse pequeno realça a condição que causa desconforto. A mudança é plena e ocorre com a consciência da relatividade dessa pequenez. Pequenos diante do universo, grandes frente ao microcosmo. Quando essa consciência se instala não existe o grande nem o pequeno apenas o que existe. E neste aspecto a consciência como aquisição excepcional não se restringe à dualidade das diferenças entre o pequeno e o grande.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

MOMENTO CRUCIAL





Existe um momento crucial em nossas vidas, aquele em que a consciência que se forma em nós toma consciência de que existe.

O estado anterior, de consciência em formação no individuo, nos permite nos situar no presente ainda sem a capacidade de transcendência no tempo, sem a consciência de passado, presente e futuro, neste estado somos o Buda sem sabemos que somos iluminados, ou o que somos, vivemos como sem saber o que.

Mas este é um estado perigoso, pois o individuo age como um cego que não sabe que não enxerga e saí espalhando desastres, se debatendo sem saber nadar, acabará se afogando por exaustão.

O momento que chamo Crucial, quando a configuração de consciência se instala, coloca o individuo numa situação delicada: A partir deste instantâneo, ele tem a possibilidade de se diferenciar da massa indiferenciada e iniciar sua caminhada rumo à complementação de sua singularidade, à sua plena realização.

Neste estágio a maioria se confunde entre as realizações materiais, aquelas que acariciam o ego, e a outra, a que realiza e que fortalece a formação do espírito humano.

Esta confusão é natural, já que a sociedade humana não favorece essa compreensão do individuo, ao contrário, lhe fornece uma preparação básica inconsistente que pouco lhe esclarece sobre o significado de sua existência.

A mais importante questão deste momento crucial e que se impõe ao individuo é:

Qual a razão da existência?

Como ele não tem instrumental para se responder e tão pouco a sociedade humana  favorece, facilmente, a resposta, o sujeito segue sozinho na sua busca e rapidamente tende a se perde na confusão das exigências sociais, de sobrevivência e nas exigências internas de anseios e dos desejos.

A compreensão dos sonhos nos permite reconstruir uma conexão perdida com o que é essencial e vital na existência, e a forma mais acessível de olharmos para o nosso interior e nos aproximarmos do elo perdido, aquele que nos aproxima do divino.


sábado, 28 de agosto de 2010

EVA E MAÇAS ENVENENADAS


Carla 152

Tenho dormido menos quantidade de horas por noite e isso, como já disse outrora, faz-me ter um sono pesado e com menos lembranças oníricas. Entretanto, 'por acaso', tive uma ajudinha hoje pela manhã e minha mente clareou-se:

Estava terminando minha corrida no parque quando vi um carro estacionado e haviam várias maçãs dentro dele, bem no para-brisa. Brinquei comigo mesma dizendo: hum que delícia, quero uma! Achei estranho alguém ter deixado cerca de uma dúzia de maças daquele jeito largado dentro do carro, mas nisso veio um lampejo na minha mente e, sincronicamente, lembrei de um sonho lúcido que tive durante a noite. Eu estava no meio de um campo amplo quando deparei-me com uma macieira carregada de belas maçãs. Como nunca estive diante de uma macieira, senti que aquilo era um sonho. Temendo que o mesmo pudesse acabar, colhi uma maça e fiquei observando o que acontecia, mas nada aconteceu. Dei uma mordida, esperei, e tudo continuou calmo. Então colhi outra maça e nada aconteceu. Dei uma mordida na outra maça e tudo permaneceu normal. Feliz como se estivesse recebendo uma bençãos do céu, talvez a benção de comer aquela divina fruta sem ser arrebatada do paraíso interno que aquele meio externo me proporcionava, colhi outra fruta e conscientemente fiz questão de apanhar quatro maçãs, pois lembrei que o número quatro é o representante da perfeição (interessante que sempre fui atraída pelo três, mas no sonho eu ultrapassei o misticismo do três). Pensei dentro do sonho que, quando acordasse e fosse analisar o mesmo, o fato de ter tido concedimento e intenção de pegar quatro frutas faria diferença. A suculenta fruta me fez ter a sensação de estar recebendo uma dádiva indescritível, mas não recordo nada além disso. Ah, enquanto apanhava a primeira maça eu lembrei dos sonhos anteriores com frutas e, uma vez consciente, fiz questão de provar a maçã. Embora estivesse cautelosa pensando que algo trágico pudesse ocorrer, ainda assim o fiz e com bom apetite. Eu queria ter a certeza de que estava sendo agraciada, de que podia suprir meu desejo e sentir-me abençoada exatamente por me permitir saborear o prazer daquela bela fruta.

O que um sonho desse pode dizer de fato?

EVA E MAÇAS ENVENENADAS II




Voce o diz: “... fiz questão de provar a maçã. Embora estivesse cautelosa pensando que algo trágico pudesse ocorrer, ainda assim o fiz e com bom apetite.”

A primeira associação que faço é com a A Branca de Neve “Bela Adormecida”. Eu escolheria não me referenciar nesta associação, mesmo que a pensasse, mas sua observação registrada não me permite desconsiderar que o temor pode ocorrer por associação interna de medo de morder a maça envenenada. Medo, desejo ou consciência?

Não há, portanto, como não fazer as duas associações básicas:

1. A Eva que prova a fruta da árvore do conhecimento, se deliciando pelo prazer da descoberta;

2. A Branca de Neve que provando da fruta envenenada cai em sono até que possa realizar o destino de ser acordada como A Bela Adormecida pelo beijo de amor dado pelo príncipe, decorrente do encantamento que o subjugou e o fez beijar a bela jovem morta, acionando o sopro vital que a traz de retorno à vida.

O amor rompe barreiras, supera sacrifícios, dá vida aos mortos, realiza o milagre divino da existência.

Vemos portanto dois movimentos, duas dinâmicas:

1. Ao provar o gosto prazeroso do saber, você é inundada pela consciência, organização racional (número 4) e inundada de prazer, alegria, júbilo e encantamento

Provar o gosta da fruta da árvore do conhecimento, e o pecado original que todos carregamos, é a aquisição da consciência. Perde-se a pureza, a inocência, a ingenuidade. Passa-se a ter a consciência do pecado.

Sinal de crescimento, da chegado ao mundo adulto, ao mundo dos pecadores, ao mundo do prazer, do gozo, dos sabores, das paixões, dos desejos.

Mas Eva é também representação dos instintos e da sexualidade. E a base do desenvolvimento, a saída do paraíso paterno, que nesse caso pode ser relacionado com o paraíso materno, pois na escala do desenvolvimento ontológico, nós saímos do útero materno para o nascimento da consciência. Quando aceitamos simbolicamente o nascimento, ou nos fartar da consciência do prazer, nos libertamos do paraíso materno e assumimos as responsabilidades por nossas escolhas, abandonamos o paraíso uterino. Mas esse é apenas o primeiro grau da dinâmica da tomada de consciência, outros virão e se farão necessários no processo de aprimoramento.

No início essa consciência é indiferenciada, e fica, portanto, suscetível às forças que atuam na preparação do seu desenvolvimento. Assim o sujeito tem que se defrontar com uma consciência do “Real” e com outra que é do “Imaginário”. Avançar na consciência passa pela diferenciação dessas nuances de realidade, o que é um desafio fenomenal. O imaginário nos chama, atrai, encanta, mas aprisiona, mistura e promove o indistinto, não nos diferencia da massa amorfa.

2. Ainda que você haja como a branca de neve ingênua que prova a fruta envenenada, Há uma diferença. Você já não é tão tola ou ingênua quanto a Você tem consciência do perigo, sabe dos riscos e rompe com a fantasia infantil, mesmo sabendo do risco ou temendo repetir o conto infantil.

Aqui reside possivelmente a dinâmica que se contrapõe ao seu desenvolvimento pleno, ainda que você avance e rompa com o aprisionamento no imaginário. Você já não é mais a desavisada (o louco do Tarô) com um pé na realidade e outro no abismo, agora já tem a consciência do medo, sabe dos riscos, tem o saber, mas ainda é suscetível ao encantamento, se entrega. Você se encaminha em direção aos abismos dos prazeres.

Mas... Não há como evitar essa etapa. Esse é o seu próximo dragão: se entregar aos prazeres da carne. Se souber fazer uso da consciência, poderá viver o prazer com o mínimo risco, se relevar essa pequena consciência só o tempo poderá libertá-la depois das amarguras, das frustrações e do sofrimento.

O número quatro é o quadrado, os pontos cardeais, a cruz, o número das realizações tangíveis. Símbolo da terra, do espaço terrestre e da organização racional. Simboliza a plenitude e a universalidade, é totalizador.

Para Jung a quaternidade representa o fundamento arquetípico da psique humana, a totalidade dos processos psíquicos conscientes e inconscientes.

De forma geral para esotéricos e exotéricos, a quaternidade representa ao longo da filogênese humana o axioma fundamental na jornada da alma, na busca e no encontro do do sentido pleno da vida e da realização como existência Totalizada.

Acredito que o sonho tenha sido uma experiência excepcional de satisfação e prazer, a vida é assim, acima e abaixo. E estar sob a força de arquétipos pode ser uma experiência Numinosa. O sonho indica essa dinâmica de transformação e de crescimento. A evolução e o aprimoramento exigem a dinâmica da expansão, de avançar e conquistar transformações ou ficar parado na beira da estrada implorando carona prá Deus.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ANIMUS - DOMÍNIO E SUBMISSÃO


 DOMINADORES E DOMINADOS

“Vivemos um tempo onde ainda prevalece a necessidade de domínio nas relações entre indivíduos e com o mundo. No cenário contemporâneo existem dominadores, dominados e, felizmente, aqueles que não querem dominar nem ser dominados. Em uma sociedade de supremacia onde se luta por migalhas, dominados e dominadores fazem parte do mesmo modelo, da mesma natureza e do mesmo tempo. São prisioneiros uns dos outros e brincam de guerrear, como generais, no cenário das relações pessoais. É o modelo comum. Chama a atenção àqueles que não são dominados nem se interessam em dominar. Este tipo acredita nas diferenças qualitativas entre seres, mas se sofisticaram na prática do ideal de Igualdade, Fraternidade e Liberdade, que antes de ser ideal francês é realização de evolução da espécie.” Do livro, “Manto Verde Jade”

A sociedade humana pode ser patriarcal ou matriarcal. Mas mesmo em sociedades definidas não se exclui as possibilidades de variações na forma do estabelecimento do domínio nas relações.

O fato do meu animus ser submisso ocasiona esse tipo de preferência por homens mais femininos?

Não compreendo essa possibilidade de submissão do seu animus. Primeiro porque o conteúdo puro não se molda nestes padrões de contaminação e segundo porque, quando procura por homens passivos você busca maior possibilidade de domínio sobre ele. O animus é uma figura, uma representação do conteúdo, do arquétipo. E o conteúdo é o que é, no caso, é um conteúdo masculino, que independe de sexualidade, de submissão ou domínio, não é homem ou mulher, é masculino. E masculino é masculino.
Quando a mulher subjuga esse masculino, o animus, ou o homem subjuga o femino, a ânima, o conteúdo pode aflorá em forma deformada, ou imponde-se como conteúdo através de configurações possíveis, como por exemplo, em forma de desvios ou prevalecendo como característica sobre a personalidade.

A sua família é constituída de mulheres dominadoras, castradoras, impositivas e condutoras, mulheres fálicas. Isto quer dizer que a natureza é de mulheres que apresentam na sua conduta uma atitude Yang diante da vida, diante das relações. São mulheres que apresentam a forte presença do conteúdo masculino dentro delas. Esta forte presença do masculino se manifesta no comportamento em atitude de domínio. Elas são Dominatrix. Mulheres que mantêm seu lado feminino sob custódia da força do masculino nelas e projetam esse domínio, a que estão submetidas, como visgo, imperativo sobre os outros.

Naturalmente muitas são as mulheres que facilmente encontram em homens flexíveis e tolerantes mais facilidades de exercer esse domínio, já que suas relações, de mulheres dominadoras, com homens não passivos podem favorecer o confronto e o embate entre macho e fêmea quanto ao rumo e ao domínio dos cenários em que vivem.

Variáveis são os motivos, emocionais ou racionais, que levam homens a se apresentarem como passivos e mulheres como dominadoras, bem como múltiplas são as formas de domínios que estabelecidas ficam subentendidas nas relações. O certo é que a ideologia do dominado não é diferente da ideologia do dominador, cada um possui um ingrediente que o leva a se entregar e submeter ou ser submetidos a esse tipo de relação.

A vida moderna foi abrindo espaços para que as mulheres pudessem manifestar seu lado Yang, e espaço aos guerreiros masculinos para que se aceitassem ser conduzidos por fêmeas dominadores.
Quanto à fantasia de se entregar a um homem forte, buscar um homem onde possa descansar no seu peito, parece-me a fantasia da maioria das mulheres dominadoras e castradoras. Assim elas revivem a feminilidade perdida, a alma feminina desencontrada e de forma idealizada, tentam resgatar essa feminilidade já abandonada no tempo, entregando ao macho idealizado o poder de conduzir a vida.

Mas isso é apenas ilusão e compensação. Assim continuam a viver o conto de fadas do encontro de um príncipe encantado que as salva dos tormentos da vida. Ainda que, quando encontram algum homem que se enquadra neste perfil, elas o massacrem com selvageria até destruí-los ou reduzi-los a um fantoche, afastando-os como insignificantes. Produzem relações destrutivas, competitivas e de insatisfação.

O preço que, como adultos, pagamos pelas nossas escolhas sempre é um preço alto e muitas vezes sem o saber vendemos a alma eterna para satisfazer os desejos temporários de poder, domínio e conquista.

Desejos de domínio sempre são formas de aniquilar o outro, num processo de canibalismo social e de autofagia.

Mas não tenhas dúvidas, o caminho não é o domínio, muito menos a submissão. O encontro, na igualdade, é sempre o melhor. O encontro sem a necessidade de dominar, ou de se permitir dominado. Mas para isso é preciso que sejamos mais maduros. E quando o somos, além da igualdade, somos agraciados e encontramos a liberdade de sermos mais plenos, permitindo ao outro a mesma experiência.

Para isso é preciso RESPEITO, mas... Enfim, esta é outra conversa.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ARQUÉTIPOS

   Meu raciocínio tem lógica?


Hoje, ao longo do dia,  farei outras postagens para tentar responder as questões do post anterior. Vamos tentar ordenar e compreender o significado de suas questões.

Iniciemos pelo fim. Você finaliza sua reflexão com a questão Meu raciocínio tem lógica? Bem... Se, tem lógica é conteúdo de “animus”, como principio masculino e como princípio de ordenação. Porque o princípio masculino é referência de realidade, e a lógica é a ordenação que nos permite navegar nessa realidade na qual estamos inseridos e eu lidamos.

O animus é o espírito masculino na mulher, a figura do animus, atuando na mulher, é uma imagem psíquica, uma configuração que emana de uma estrutura arquetípica básica. Como componente psíquico é subliminar e se manifesta a partir do inconsciente. Como conteúdo atua influindo sobre o princípio psíquico dominante e não como contraparte psicológica contrassexual feminina.

O animus é um conteúdo que se manifesta no individuo determinando ação, movimento, comportamento, resposta. Se manifesta em forma de crenças, inspiração, disposição de comprometimento. É um canal que permite ao sujeito tomar consciência de sua natureza, e daquilo que é espontâneo e significativo para a vida psíquica.

Esse canal funciona como uma conexão que permite que através de uma configuração original, ocorra fluxos de impulsos, que promovam uma condição ideal que permite ao individuo formar um estado de consciência que lhe favoreça responder a si mesmo e à realidade de forma referendada em sua natureza, em sua tendência, ou a partir daquilo que é constituído e que foi herdado.

A parte herdada da Psique é o arquétipo, os padrões de estruturação do psicológico, ligados aos instintos. Considere como uma entidade hipotética, ainda difícil de ser representada, que se faz visível através de suas manifestações. É um conteúdo que une o corpo e a psique, instinto e imagem. Jung não considerava a psicologia do individuo e imagens como correlatos ou reflexos de impulsos biológicos. Para ele imagens evocam o objetivo dos instintos e precisam ser considerados no mesmo grau de importância nessa diferenciação.

Os arquétipos são perceptíveis nas experiências externas que coletivamente reproduzimos, nas vivencias básicas e universais, como casamento, maternidade, nascimento e morte, união e separação. E nas vivências internas definindo tendências, comportamentos e se manifestando por meio de figuras como Anima/Animus, Sombra, Persona, etc. Teoricamente podem existir um número indefinido de arquétipos.

Há poucas postagens atrás fiz explanação sobre a importâncias de certos conteúdos e imagens que merecem ser revistos.
  • Naturezas Opostas - faces de uma moeda
  • Viagem a Paris

continua...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

FEED BACK




FEED BACK em SPECTRU E SCORPIONE":

Sim, existe essa preferência e fui criada numa família assim, donde existe a predominância do feminino sobre o masculino, ao menos nos relacionamentos conjugais externos. Minha avó mandava no meu avô, minhas tias em meus tios, minha mãe em meu pai e até minha irmã fala mais alto que meu cunhado. Dizem que o masculino sobrepõe ao feminino, mas isso parece contradizer o que sempre vivenciei em minha família, donde os homens parecem ser os submissos na história. Da minha parte, apesar dessa preferência, sempre existiu uma outra vontade que é àquela ligada a busca ilusória de um homem que tem poder, que pode proteger, enfim, isso já foi bem visível nos sonhos. É como se existisse um desejo de ser comodamente submissa (de ser a frágil) e uma postura de autoridade oculta. Isso parece uma contradição que não sei explicar. O fato do meu animus ser submisso ocasiona esse tipo de preferência por homens mais femininos? Creio que os homens de minha preferência sempre pareceram ou me proporcionaram uma projeção desse meu lado masculino. Buscar um homem afeminado é como afirmar a crença interior de que apenas um homem mais sensível saiba fazer feliz ou compreender uma mulher de fato. Por outro lado, a busca de um homem que não deixe de ser homem afirma a outra crença ilusória de que uma mulher precisa da proteção masculina, forte, ativa. Daí parece que acabo ficando no meio termo, mas sem dúvida a preferência é ligada aos valores e características femininas. Se o mundo é tão governado pela predominância do masculino no poder, porque no meu caso isso parece ser contrário e o masculino se faz passivo e empobrecido? O que ocasiona isso? Ah, quando digo que as mulheres da minha família possuem voz ativa sobre os homens, creio haver uma diferença delas para comigo: minha avó, tias e mãe realmente parecem ter um lado masculino interior predominante. Ao meu contrário, já não tenho essa fibra de impor, ordenar e decidir, a menos que esteja escondido de mim mesma. Uma vez tão feminina e inclusive tendo supostamente meu lado animus feminizado, fica essa sensação de precisar da proteção e atitude de um homem externo para garantir o equilibro, entretanto, a afinidade se dá numa projeção interna fazendo-me preferir os homens mais femininos. Meu raciocínio tem lógica?


terça-feira, 24 de agosto de 2010

DESEJOS, CARÍCIAS E EROTISMO


Carla 151

Sonhei que estava com meu marido e ele era negro. Meus sogros também estavam no local (acho que estávamos na cozinha da casa), mas não os vi. Beijei meu marido e ele, muito assanhado (como uma criança que está prestes a ganhar um brinquedo), disse que ia me esperar no quarto. Antes que ele se retirasse fui dizendo que não era momento para sexo, pois eu ia ajudar minha sogra a preparar a janta. Ele voltou e compreensivo perguntou se mais beijos eram permitidos. Respondi que sim e ia lhe ressaltar algo que já cansara de explicar que não gostava (ele estivera acariciando minhas partes intimas durante o beijo) quando ele demonstrou que já sabia do que se tratava (ele levantou as mãos num gesto de desculpa e depois abraçou-me de modo comportado). Continuamos a nos beijar num cima muito agradável. Eu o sentia mais como um amigo-marido do que como um marido-amigo e isso gerava uma entrega muito tranquila, pelo menos da minha parte. Eu sentia como se estivéssemos há anos casados e gostava de fazer viver aquele clima não de marido e mulher, mas de amizade, romance e respeito mútuo.

De todo modo, acho que ainda há algo não esclarecido por trás da minha resistência interna de entrega sexual. Se a química dos beijos era tão boa, porque a severidade da minha parte de não permitir algo além? É como se eu estivesse testando minha parte masculina (na sua submissão) ou estivesse com meu lado feminino bloqueado por algo que não sei definir.

Essa negação parece-me a forma aceitável como você, no seu estado tradicional e conservador, idealiza  o comportamento social aceitável. Naturalmente isso funciona como um verniz que encobre o desejo erótico.

Qualquer adulo consegue localizar aquilo que lhe é fonte de prazer, no envolvimento sexual, e quanto mais detectamos essa fontes de prazer mais aumentamos as possibilidades de tirar da sexualidade o sumo do prazer, do erotismo e dos orgasmos, mesmo porque essas carícias quando afloram se mostram envolvidas por uma aura de mistérios, magia, cumplicidade no enamoramento e muitas vezes funcionam como preliminares do ato sexual propriamente dito.

O oposto é verdade, quanto menos abrimos possibilidades para esses envolvimentos, essas trocas, a cumplicidade dos apaixonados, e a manifestação dos desejos, mais empurramos a experiência da sexualidade para os quartos escuros restritos ao contato Pênis X Vagina, para os limites das castrações e para uma visão do sexo como pecaminoso, vergonhoso, e aceitável dentro de restrições morais.

Claro que essas trocas de carícias fora do quarto e da cumplicidade que envolve aproximam os enamorados de uma fronteira delicada entre o contato íntimo e pessoal e a manifestação coletiva, uma fronteira entre o desejo e a transgressão moral. E longe de mim querer incentivar o sexo explícito. Como o universo da sexualidade envolve uma complexidade moral, religiosa, ética, política e de direitos, é melhor que se tenha cuidado e cautela com esses limites, mas isso faz parte dos jogos amorosos, e é uma porta que pode ser aberta, mas que precisa ser administrada com perspicácia e inteligência.

Acredito que essas carícias como partes do jogo são aceitáveis e favorecem o despertar de uma sexualidade mais sadia do que outras mais tradicionais que apenas escondem sob o manto da rigidez a formação e o desenvolvimento de traços de perversões.

O sonho parece indicar o conflito entre o desejo e o medo de se soltar, a postura tradicional e conservadora e a necessidade do prazer. O um lado que lhe empurra para a realização do desejo e um que a puxa para a repressão moral aceitável. Escondendo a sexualidade você esconde o desejo e esconde a mulher adulta que existe em você. Dessa forma fica apenas a menina pura à espera do sonho, que nunca se realiza.

A imagem do homem negro, não precisa ser vinculada ao arquétipo sombra, mas reflita sobre a presença e significado do homem negro na sua vida. Pelo aspecto da reconciliação com o masculino é um grande avanço, como conteúdo oposto. Mas sem esquecer que é um oposto carregado de afeto e de sexualidade e reprimi e castrado pela força do feminino moral.

Você está precisando relaxar e... Aproveitar melhor as oportunidades de viver a vida adulta. A sexualidade é conteúdo que envolve o universo adulto, deixamos as bonecas e as brincadeiras de criançinhas e descobrimos as brincadeiras  e os jogos adultos. Ser adulto e não viver isso é cumprir com as obrigações, pagando o preço da responsabilidade do mundo adulto sem desfrutar o prazer e provar o manjar na noite da existência.

domingo, 22 de agosto de 2010

SONHO E REALIDADE



O Presente do Presidente J.F.K

Foto Time/Life 1966

Cick na imagem para ampliá-la.





Elação Coletiva

 
Competição e  ilusões






Silêncio e Quietude

A busca do presente absoluto,
estar acordado.




sábado, 21 de agosto de 2010

SONHOS LÚCIDOS



Carla150

Em terceiro eu caminhava por uma rua quando tomei consciência do fato de estar apenas sonhando. Eu podia sentir meu corpo na cama e, ao mesmo tempo, sentia estar naquela outra dimensão que se fazia tão viva como a real. Eu precisava de muita cautela, pois se eu tomasse muita consciência da realidade do corpo dormente, podia me desconcentrar da outra dimensão e, se mergulhasse muito naquele contexto onírico, podia esquecer que tudo não passava de um sonho. Essa consciência de estar ali em sonho, ou seja, dentro de uma vida fictícia, fez-me ter a sensação de que tanto o perigo quanto a condenação moral eram simbólicos. Sonhando havia menos liberdade do que se estivesse apenas pensando, porém havia em mim mais liberação para fazer escolhas e tomar atitudes. Tentei experimentar essa consciência e essa sensação de liberdade. Parei perto de um bêbado e olhando-o fixo tentei rezar por ele. Ali poderia ter a liberdade de dar consolo a um bebum se eu quisesse. Sentindo-se incomodado ele levantou da sarjeta e começou a ficar nervoso dizendo um monte de coisas que eu não entendia, exatamente por ele estar muito bêbado. Pedi-lhe desculpas, mas ele continuou seu falatório. Apareceu um outro homem dizendo ser irmão dele e pedi desculpas a este também. Percebi que eu tinha liberdade para agir, que me sentia livre para tal, mas o cenário não respondia a meu bel prazer apenas por eu ter consciência de que tudo era um sonho. Eu não podia escolher a reação dos outros como se estivesse meramente pensando. Mesmo que os outros fizessem parte de mim mesma numa espécie de projeção inconsciente, eu não os sentia como uma criação mental minha e não tinha meios de atuar através deles ou escolher com quem eu queria entrar em contato. Virei noutra rua e escolhi uma casa simplória que me chamou a atenção. Fui aproximando dela e quando apareceu uma mulher, disse que estava fazendo uma pesquisa e demonstrei meu interesse de conversar com ela. Perguntei quantas pessoas moravam naquela casa. Ela respondeu enquanto acompanhava uma visita até a rua. Era uma família negra e, embora ela tenha se mostrado receptiva, percebi que ela deveria estar ocupada para me atender. Eu não estava fazendo nenhuma pesquisa e nem sabia ao certo o que poderia perguntar. Em verdade eu estava apenas testando até que ponto eu poderia agir livremente, dominar os fatos, cenas e contexto. Tendo mais certeza de que eu não tinha controle de manipular o meio esterno, disse que outra hora retornava, pois não queria atrapalhá-la. Senti que não podia escolher com o quê sonhar e, ao mesmo tempo, não entendia por que estava naquele local tendo plena consciência de que estava vivendo numa dimensão irreal. Esse foi o porém: não tinha noção de qual utilidade buscar. Eu me sentia numa experimentação, dentro de um mundo além do real, mas não sabia qual o sentido, o que eu deveria exercer ali dentro. Ter consciência ampliou tanto as possibilidades que me senti perdida: o que exatamente eu devia fazer? Continuei sonhando, mas não lembro o resto.

De todos os sonhos aparentemente lúcidos que já tive (se é que isso é um sonho lúcido), esse foi o mais natural e tranquilo. Eu sentia como se estivesse com a consciência acordada embora meu corpo estivesse dormindo. Não houve nenhum pânico, nenhuma sensação de medo ou desespero para acordar como até então acontecia. É estranho e bom ter sonhos assim. Entretanto, a dúvida que tive dentro da outra dimensão acordou comigo na realidade também: ou seja, o que devemos fazer dentro deles? Não sei quando vou ter outro sonho desse tipo, mas espero estar mais preparada se por acaso acontecer outras vezes.

Qual a finalidade de sonhos lúcidos?

SONHOS LÚCIDOS II

        O Presente da Águia


Vivemos em uma sociedade agressiva e, infelizmente, em uma civilização que mesmo que tenha avançado sob determinados primas em outros se mostra estagnada e estúpida. Uma sociedade que frente às suas contradições severas empurra os indivíduos para o sono, seja através da ignorância ou da mediocridade, ou para o amortecimento através do álcool, das drogas lícitas e ilícitas, ilusões, compulsões sexuais, comportamentos narcísicos, fantasias de riquezas e poder.

Tudo nesta civilidade favorece o escape, fugir do confronto definitivo entre nós e a existência. Um confronto que tem tempo definido para se realizar porque o sono eterno a cada menos dia se aproxima sorrateiro para nos engolfar.

A sua questão me leva a outra questão primordial na existência:

Qual a finalidade de sermos lúcidos?

O que me leva inevitavelmente a conceitos de psicologia profunda, que nos remetem a estados de supra consciência, condição de Iluminado, Self, Selbest, estados de consciência ampliada, existência, transcendência, despertar e harmonia, Individuação.

O estar acordado significa ACORDAR para a vida, evoluir para realizar a existência, sem mais dormir, sem apagar, sem se desligar. Um estado “ligado” onde não temos mais os vazios de consciência, os lapsos, os brancos, os surtos, a ausência, o sono. A consciência se torna um “Contínuu”. E a matéria  anseia por esta evolução.

Diferentemente dos alucinados modernos que ficam “ligados” permanentemente, aplicando ao corpo a tortura da exaustão, o estado do “acordado” permite o repouso ao corpo, já que a mente em estado de atenção funciona em, permanente, meditação, portanto, sem promover a hiperatividade compulsiva da função mental, que é desequilíbrio.

Acordar para a consciência das dimensões, da percepção plena da existência, para a multiplicidade dimensional do universos, para manter-se conectado com o divino.

Este é um estado que merece ser atingido, que faz a vida valer mais a pena do que riquezas materiais, ouros e tesouros, poderes e domínios, fugazes ilusões que não abrem portas e nem portais, não preparam para o desconhecido nem para o inominável, apenas iludem e inundam o espíritos de ilusões etéreas.

Estar desperto é o estado que define uma preparação mental para podermos olhar no olho do divino.

O sono eterno se anuncia, enquanto temos tempo e o corpo fenomenal, que nos permite aprender a saída desse labirinto, desse enigma, mais inteligente priorizar o essencial, o despertar do espírito... Acordar, do que fingir de cegos.


Obs.: como ja pode ter percebido, me dispus a responder-lhe sua questão, partindo de sua avaliação de sonho lúcido. Mas como em sonhos não podemos desconsiderar as possibilidade fica a indicação de que se o sonho não for lúcido, é porque o Incs. lhe chama a atenção para o seu sono dentro da realidade.

SONHOS LÚCIDOS III

olhar de Tigre acordado

Portanto minha cara, qual a finalidade de acordar?
Bem, se continua com sua questão,
reproduzo abaixo um trecho do livro Sonhos Lúcidos para voce:

“Em relação à eletricidade, uma "curiosidade científica" do século XVII, diz-se que uma mulher perguntou a Benjamin Franklin: “Mas para que serve?” A resposta é famosa: "Madame, para que serve um bebê recém-nascido?” Se neste estágio fosse feita a mesma pergunta em relação a sonhar lucidamente, uma "curiosidade científica" do século XX, poderia ser dada a mesma resposta. Embora por enquanto possamos apenas especular, o nosso trabalho em Stanford e as descrições de outros sonhadores lúcidos sugerem que, como a eletricidade, os sonhos lúcidos também podem ser aproveitados para nos ajudar a desempenhar inúmeras tarefas com uma facilidade muito maior. Ás aplicações dos sonhos lúcidos, tal como me parecem hoje, caem de modo geral em quatro áreas amplas: exploração científica; saúde e crescimento interior; solução de problemas criativos, ensaios e tomadas de decisão; satisfação de desejos e recreação. Visto que já foram apresentados os usos e vantagens de sonhar lucidamente na exploração científica do estado de sonho, vamos nos ocupar apenas com as três últimas categorias.”

“Até que ponto os conceitos de sonhar lucidamente são relevantes para a vida acordada? A resposta é que as atitudes que caracterizam o ato de sonhar lucidamente têm certos paralelos com uma abordagem de vida que poderia ser denominada "viver lucidamente". Para adquirir um conceito mais claro do que esta expressão curiosa sugere podemos continuar a raciocinar por analogia, examinando algumas atitudes e suposições contrastantes associadas com a comparação entre sonhar lucidamente e sonhar não lucidamente1. O modo mais básico de diferenciação entre as atitudes do sonhador lúcido e do sonhador não lúcido provém justamente da própria definição de lucidez. Enquanto você está tendo sonhos não lúcidos, supõe que está acordado; quando está tendo um sonho lúcido, sabe que está dormindo e sonhando. Creio que no estado acordado o par de atitudes. correspondentes é o que passarei a expor. De um lado, você poderia estar fazendo a suposição (não lúcida) de estar sentindo objetivamente a realidade. De acordo com este ponto de vista parece que a percepção é pura questão de olhar pela janela dos olhos e simplesmente ver o que há lá fora. Infelizmente parece que esse ponto de vista tradicional, de "bom senso", é claramente incoerente com os resultados obtidos pela psicologia e neurofisiologia de hoje. O que você vê não é "o que está lá fora"; de fato, o que vê nem está "lá fora". O que você vê dentro da cabeça é só um modelo mental do que percebe ou acredita que está "lá fora". A compreensão lúcida da natureza da percepção provém do conhecimento moderno do funcionamento do cérebro. Se você quiser seguir essa abordagem, recomendo adotar a seguinte hipótese de trabalho: as suas sensações são necessariamente subjetivas; são o resultado do que você mesmo construiu baseado no estado de motivação em que está no momento e na parte da realidade que está vendo (e na qual está acreditando). Em termos de percepção visual este ponto de vista explica a ilusão de óptica que pode aparecer como resultado do que esperamos do mundo; também explica como as emoções podem distorcer a percepção, fazendo com que, por exemplo, alguém que esteja acampando veja "todas as moitas como se fossem um urso" e alguém que esteja amando veja "em cada árvore o ser amado". Resumindo, a melhor (ou seja, a mais certa) análise de percepção é que não sentimos a realidade diretamente e sim por intermédio de modelos do mundo, que nós mesmos fazemos. Por isso, antes que você consiga ver o que está "lá fora", as informações visuais dadas pelos olhos atravessam uma legião de fatores subjetivos, a saber, expectativas, sentimentos, conceitos, valores, atitudes e metas. É inevitável que os nossos modelos do mundo limitem o que sentimos da realidade; quanto mais distorcidos os mapas, mais distorcido o território parece.”

“Sonhar lucidamente pode ser um ponto de partida para entender como poderíamos não estar completamente acordados, pois o sonho comum está para o sonho acordado como o estado acordado comum poderia estar para o estado completamente acordado. Essa capacidade que os sonhos lúcidos têm de nos preparar para despertar mais completamente pode vir a demonstrar que é o maior potencial que o sonho lúcido tem para nos ajudar a ficar mais vivos na vida.”

Do livro Sonhos Lúcidos de Stephen LaBerge
( São Paulo - Edições Siciliano 1990)
págs 179/180, 287/288, 293.




sexta-feira, 20 de agosto de 2010

VIAGEM A PARIS


PARIS
CARLA 149

Em segundo sonhei que minha irmã havia me dado uma viagem para Paris. Nós duas íamos para lá. Eu estava muito feliz como se estivesse vivendo um sonho... e era apenas um sonho.

PEQUENAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Para compreender a leitura do sonho

Uma imagem possui uma representação, um significado ou uma simbologia específica. Mas a imagem é mais do que isso. Através das imagens oníricas somos conectados com o universo psíquico, nosso lado mais profundo e desconhecido, nossa origem, nossa alma. Pelas imagens somos, como seres visuais, sensíveis e perceptivos, conduzidos através do nosso foco de atenção para aquilo que o espírito interior define como o melhor para nós, somos mobilizados, lançados, conduzidos e resgatados para o eixo, para o ponto central que possuímos, aquilo que nos distingue como sujeitos.
Portanto, a imagem é essencial, para que o Intento Psíquico, o comando interior, possa se realizar e para que nós como seres simbólicos possamos nos referenciar nos significados, aproximando ou nos distanciando das experiências na realidade.

Cada imagem que é codificada possui uma carga energética, um conteúdo, uma polarização produzida pela psiquê, uma referência psíquica ou uma polarização produzida por nós a partir de nossa experiência na existência, no dia a dia, na vida. Digo produzido por nós quando definimos e elaboramos o significado ou como o resultado do processamento e dos acontecimentos naquele momento específico. Quando a imagem é arquetípica ela já vem codificada e polarizada da origem.

Não se pode também esquecer que quando herdamos o conteúdo, a configuração está codificada pela imagem. Temos de concordar que uma imagem vale mais do que mil palavras, sendo portanto mais sintético e mais sábio armazenar imagens do que conteúdos de imagem.A imagem define o conteúdo assim como um conteúdo pode ser sintetizado numa imagem.

Com o nascimento as imagens são resgatadas do arsenal herdado e recodificado quando necessário a partir do desenvolvimento do individuo. Quanto mais informações mais resgatamos conteúdos e mais podemos usufruir do conhecimento humano herdado.

Muitas vezes quando existem diferenças entre o conteúdo produzido pela psiquê e o conteúdo produzido pela experiência pessoal e incorporado nos centros psíquicos, essas diferenças podem indicar o surgimento de conflitos.

Quando não existem diferenças entre o conteúdo produzido pela psiquê e o seu similar, aquele que produzimos, os conteúdos se acoplam em representações mais significativas e consistentes.

Se os conteúdos não se integram é porque existem diferenças entre a significação arquetípica, e a significação produzida pelo sujeito a partir de percepções ou julgamentos equivocados.

Um exemplo, para tentar clarear na vida diária:

Em várias religiões a sabedoria, alerta:

NÃO JULGUES PARA NÃO SER JULGADO.

Desconsidere a questão religiosa. Quando o sujeito se arrisca a julgar o outro, ele produz um conteúdo que vai ser incorporado como definido, se a percepção for correta ela encontrará respaldo psíquico que incorporará a avaliação final, definindo as possibilidades de resposta do individuo frente às situações que forem originadas na realidade. Se o conteúdo for incorreto ele será incorporado, mas não se integrará ao seu espelho já construído anteriormente pela psiquê, e receberá uma polarização diferenciada para que possa ser distinguido quando este conteúdo for invocado pela consciência.

Assim pode ser a origem de um comportamento ambíguo e ou conflituoso, conteúdos de polarizações opostas.

Outro exemplo: Uma pessoa que mente se transforma em grande produtor de conteúdos que serão incorporados promovendo um grande desacerto psíquico. Na verdade promoverá a construção de uma realidade interna imaginária diferenciada e polarizada distintamente, em desacerto com os conteúdos referenciais da psiquê. Esses desacertos serão devastadores.

Outro exemplo: Há pouco tempo abordei no Blog aeternus femininus a questão da formação da Personalidade do Sociopata no desenvolvimento humano. Assim que nasce, a criança é indistinta da mãe. Se o biótipo materno é de uma Mãe Abandônica o comportamento distanciado, pouco afetivo, promoverá reatividade no individuo, se esta natureza reativa for acelerada, ressentida, agressiva ela gerará a formação de uma representação negativa da mãe como objeto promotor de desconforto.

Ora, o arquétipo da mãe é um arquétipo poderoso e fundamental na formação e no desenvolvimento humano, portanto o conteúdo introjetado conflitará com a imagem arquetípica da mãe como objeto protetor. O sujeito já nasce tendo que lidar com a rejeição, tendo que negar um lado seu que o frustrante. Neste caso, haverá a formação de conflito e consequentemente a formação de conteúdos autônomos de defesa. Como resposta o indivíduo desenvolverá respostas pouco ou nada afetivas, pragmáticas, manipuladoras, no sentido de obtenção de recompensas que o compensem de uma cisão psíquica entre a realidade negativa experimentada e o código herdado da imagem de mãe boa.

Isto tudo para dizer que:

Continua...

ADENDO

Quem leu a reflexão até aqui merece esta observação: Ontem à noite fiz a leitura do sonho e realizei  a reflexão acima, nesta noite sonhei com uma  mulher que estava sentada, com uma saia rodada, acolhendo em seu colo diamantes e pérolas, e eu  ajoelhado catava, no colo dessa mulher os pequenos diamantes, aproximadamente 100 pedrinhas, e as pérolas, apenas duas. acordei pensando que tinha a ver com a reflexão acima que, para mim, enriqueceu-me a compreensão, realizá-la.

VIAGEM A PARIS II

  PARIS
A LEITURA DO SONHO

No sonho se a imagem incorporada de sua irmã, no real, é negativa, a compensação surge para regular a dissociação entre aquilo que sua irmã realmente é e aquilo que você “pintou” que ela é. Neste caso trabalhe suas dificuldades e resignifique o significado de sua irmã, para que se processe a sua reconciliação interna e este resultado possa ser projetado nas transformações que você busca dentro de sua realidade. O sonho é indicação de uma tendência de proximidade ou de caminho a ser seguido.

O significado de irmandade se apoia nos laços consanguíneos, mas estes não bastam, porque na vida adulta a irmandade o significado se amplia da família para o coletivo levando-nos à compreender que a irmandade supera o sanguíneo e nos aproxima da unidade coletiva, e essa passagem é dinâmica de amadurecimento e de transcendência. Neste momento se os laços familiares se fortalecem no afeto, na confiança, no partilhamento, as relações se consolidam e seguem em laços mais fortes. O momento portanto, é propício para esta proximidade, mas para isso é preciso resignificar seus conceitos de irmandade.

Se considerarmos a representação de Paris como cidade Luz, o sinal é de que você caminha, ou voa, para cidade das luzes, reconciliada com a sua irmã. Claro que junto da sua irmã pode ser prenúncio de amadurecimento da relação, a eliminação das arestas que possam impedir o aprofundamento da relação. A indicação de viagem das duas é sinal de aproximação entre você e a representação. A relação se resolve inicialmente dentro de você, na proximidade que acontece com os conteúdos, entre as duas irmãs.

Não há como pensar Paris sem pensar em Torre que pode ser um dado a acrescentar. Se pensar em torre de Babel é a vaidade e a ganância gerando distanciamentos no diálogo. Se pensar na tradição cristã é o símbolo de vigilância e ascensão. Mas como a torre não apareceu pode ser que o conflito solucionado promova o seu aparecimento. Portanto cuidado com as diferenças de linguagem, porque essas diferenças criam abismos, distâncias e o silêncio forma torres que nos aproximam da ascensão que nos leva a Deus.

No caso da viagem ela surge também como compensação, fuga da realidade, necessidade de mudança interior, desejo de transformação, compensação de anseios e desejos, espelho de insatisfações com a sua realidade.  E  a generosidade da sua irmã, lhe dando a viagem, compensa o conceito dela ou sinaliza a sua expectativa de que ela satisfaça seus sonhos... como dever de irmã.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

AFETO... LEITE SAGRADO - I



CARLA 148
Primeiro sonhei que estava chegando em casa quando vi o carro da minha madrinha estacionado na garagem. Como não gosto de visitas e sabia que aquela em específico era para mim, fui insatisfeita direto para o banheiro limpar meus óculos de sol. Conforme eu limpava a lente ela ia clareando como se realmente saísse a cor. Nisso minha mãe foi me chamar tentando dar a entender que eu não percebera ainda a presença da minha madrinha. Sem solução fui cumprimentá-la. Ela abraçou-me e já foi chorando, dizendo que sentia muita falta de mim, do meu abraço, e foi falando um monte de coisas. Pude notar com o sonho que, embora tenha meu lado carente, não tenho coragem de expressá-lo como fez minha madrinha no sonho. Achei a postura dela exagerada, muito carente, quase me colocando num pedestal. Eu não me sentia nada do que ela falava. Eu não me sentia como alguém que pudesse provocar tanta saudade e, ademais, por mais falta que ela me fizesse, eu não estava derramando nenhuma lágrima por ela, pois isso em nada mudaria a realidade da nossa distância.



O sonho traduz que sou uma pessoa fria, distante, com minhas reservas e, ademais, posso ser carente, mas não gosto de gente carente em volta de mim.

Madrinha é mãe substituta. Parece que apesar de sua carência,  não é a carência de mãe o foco do dilema. Isto pode reforçar a compreensão de que a existência do triangulo familiar, Filha X Mãe X Irmã, não envolve a questão da carência do seu afeto, e nem faz de sua mãe uma “Mãe Abandônica”. Já que o problema não é a carência o nó pode estar na competição que voce projeta e nos conteúdos ligados a essa disputa com sua irmã: inveja, egoísmo, caprichos, birra, vaidade, possessividade, ciúme, insegurança, fragilidade, infantilidade, etc.

Perceba a lucidez psíquica, mas não a pense como consciência. Essa lucidez é o senso do espírito do universo que nos chama permanentemente para a possibilidade de nos agregar ao seu eixo. Este espírito do universo que em nós pode ser traduzido como alma, necessita daquilo que desenvolvemos: A consciência, que quando agregada a esse espírito favorece a evolução e o sentido da existência. Sua psiquê amplia a indicação de sua questão primordial, aquele que pode estar definindo seu destino. E amplia essa compreensão quando nos clareia, num grau mais abrangente, a indicação do alvo onde está localizado o NÓ, independente dos outros que existam.

Naturalmente uma pessoa carente se alimenta de afeto e do carinho que lhe chega, se você escolhe uma fonte do afeto e despreza outras fontes, o problema “carência” se mostra pouco provável. Então essa suposta carência pode estar servindo para que você tenha sempre justificativas para sustentar determinados comportamentos, atitudes, caprichos, inseguranças, indisponibilidade, falta de afeto, distanciamento. Ou seja, serve para que você se esconda atrás desta máscara de carência. Serve para que você manipule as pessoas com esta suposta fragilidade.

É claro que se essa leitura estiver sintonia com a mensagem do seu inconsciente você pode parar de rodar ao redor do seu umbigo e encontrar um caminho, uma referência para sustentar suas mudanças. O caminho onírico é assim nos tateamos enquanto o Inc. vai nos indicando o rumo.

No momento seguinte você limpa seus óculos. Veja só: os óculos são protetores visuais e ampliadores de imagens. Você limpa os seus óculos de sol, não são óculos ampliadores, são protetores, e a cada limpada mais claros ficam seus óculos, o verniz é retirado, a defesa é retirada, a proteção excluída e o que acontece? Sua visão esta se ampliando, clareando.. Sem defesas você vai ao encontro da sua mãe substituta para receber e dar o abraço, que você nega. Ela realça a sua importância, valoriza a sua existência, e você que tem duas mães é que se dá ao direito de dispensar o amor e o carinho de uma delas.

A sequência do sonho é singular porque espelha a “carência” que você usa como instrumento e com a qual não se identifica, até mesmo se incomoda.

Bem, aqui pode aparecer uma incoerência: Geralmente tendemos a nos incomodar com o nosso espelho. É fatal: Se o outro te incomoda em alguma característica é muito provável que o outro seja aquilo que você é, e que te incomoda. O carente não suporta o carente, não suporta a carência de outro carente.

É possível que o surgimento da mãe postiça venha para suprir aquilo que sua mãe não lhe dá, mas sua obsessão só foca sua satisfação na sua mãe biológica. A vida muitas vezes nos ajuda a solucionar nossas carências por varias vias que não a original. É inteligência saber distinguir este apoio e aceitar a oferta para que possamos abandonar estes miasmas de um passado mal resolvido.

Sendo assim, não se pode descartar uma das possibilidades, elas podem estar corretas. Uma característica é autêntica e a outra pode ter sido uma produção incorporada como defesa. Quando construímos defesas a partir do idealizado, nós incorporamos aquilo em que acreditamos.

Vou citar um exemplo, sem segundas intenções, faço uso do exemplo para mostrar o raciocínio e não quero dizer que é o seu caso:

O mentiroso produz um grave problema. Cada vez que produz uma realidade imaginária para atender sua necessidade de manipulação dos eventos, aquilo que vai transformá-lo numa pessoa emocionalmente inconsistente é que com o passar do tempo ele vai incorporando suas mentiras, acreditando nelas, até que chega num ponto sem retorno quando perde as referências do real e do irreal, produzindo uma dinâmica de instabilidade e de insustentabilidade, a neurose.

Voltando ao tema: possivelmente você pode ter incorporado essa suposta carência como uma “verdade” que hoje não te larga. Uma referência de fragilidade, de falta, de ausência. E aquilo que era apenas um artifício, um instrumento se transformou numa encrenca, num conteúdo autônomo que hoje define sua forma de responder à realidade mas que não atende sua necessidades.

AFETO... LEITE SAGRADO - II



PEQUENA  MENSAGEM ONÍRICA


Mas se existe uma mensagem neste sonho ela pode ser um aprendizado: Antes de querer receber aprenda a dar, aprenda a amar independente de ser amada. Aprenda a abraçar, a distribuir carinhos e carícias, e também a aprenda a receber, seja de quem for. Não abrace apenas o belo, o jovem, o novo, o bonito, a estrela. Um dia a beleza acaba, a saúde acaba, a juventude vai embora, mas o amor, para aqueles que aprenderam a ser amorosos, fica.

Abrace com amor, como se estivesse distribuindo riquezas. Abrace de verdade, com autenticidade, com disponibilidade. Distribua amor. Quando tocar no outro toque com carinho, delicadeza, toque solidária, com compaixão.

Neste mundo hoje, onde há tanto sofrimento, dor, dificuldades, angústias, seja afetuosa com os menores, com os pobres, com os carentes, com os que sofrem, porque essa é a melhor forma de termos compaixão, de aliviar a dor dos necessitados. Estamos todos no mesmo barco, e a existência é uma jornada que muito exige de todos, e cada vez mais perceberemos o sofrimento ao nosso redor. Por isso procure ser leve, com carinho a gente consegue. Dê um pouco de si. O universo agradecerá lhe inundando de amor, suprindo suas carências. Deus é madrinha.

Quando ficamos muito focados na falta que vivemos, na falta do que temos, o sofrimento que sofremos parece que cresce, a dor aumenta, a solidão não cabe no coração, mas quando doamos um pouco de carinho, nossa dor se alivia, e a jornada se torna mais suave. É assim que me sinto.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

À FLOR DA PELE

imagem do livro 1000 Tatoos
Ed Henk Schiffmacher - Taschen
Carla

Sonhei que estava em casa quando surgiu na minha pele um monte de tatuagem de pequeninas flores coloridas e fiquei com a pele toda coberta com os desenhos. Quando cheguei perto da minha mãe as tatuagem começaram a surgir nela também. Comentei que aquilo deveria significar algo que ficara marcado dentro de nós e que, por algum motivo qualquer desconhecido, estava exteriorizando de modo anormal. Seria isso mesmo?

O comentário surge dentro ou fora do sonho? Fora este detalhe significativo, vamos passar o olhar e passear pelo conteúdo:

Lembrei-me de uma música do excepcional Chico Buarque:

Tatuagem

Quero ficar no teu corpo Feito tatuagem

Que é prá te dar coragem Prá seguir viagem

Quando a noite vem... E também prá me perpetuar

Em tua escrava Que você pega, esfrega

Nega, mas não lava... Quero brincar no teu corpo

Feito bailarina Que logo se alucina

Salta e te ilumina Quando a noite vem...

E nos músculos exaustos Do teu braço

Repousar frouxa, murcha Farta, morta de cansaço...

Quero pesar feito cruz Nas tuas costas

Que te retalha em postas Mas no fundo gostas

Quando a noite vem... Quero ser a cicatriz

Risonha e corrosiva Marcada a frio

Ferro e fogo Em carne viva...

Corações de mãe, arpões Sereias e serpentes

Que te rabiscam O corpo todo Mas não sentes...

A vida é assim, naturalmente tem príncipe que nasce para ser Ob, e tem gente que nasce para ser príncipe, e outros querem ser tatuagem no corpo da amada, do amado, para ficar encravado na pele do corpo do prazer.

Mas a música não fala apenas da paixão, mas do amor que carregamos, sendo o que somos, o produto do amor, a cicatriz consentida e exposta do amor.

Você está tatuada de seu pai e de sua mãe. Eles estão registrados nas suas entranhas, e nas linhas deste órgão exposto que nos protege do impacto da realidade. E se agora, flores afloram na sua pele e mostram a sua natureza de origem materna singela, perfumada, em forma de uma das mais belas criações divinas, elas que representam a feminilidade exposta, a flor, podem simbolizar a emersão deste seu lado. Você chega à estação das flores. Se isso indica sua origem, indica um lado feminino, de renovação, símbolo do princípio passivo. Símbolo do aeternus femininus.

A floração é o resultado de uma alquimia interior, a união dos elementos fogo e água, essência e sopro, o retorno o eixo, o elixir da vida, o retorno ao centro à unidade, à origem. A flor também pode representar a alma, o arquétipo do espírito, o centro espiritual.

Se hoje do interior afloram flores, que elas venham para compensar as tristezas ou para te lembrar das origens perfumadas de nossas vidas: o amor. Que o amor aflore na tua pele para que possas viver o sabor do perfume. E hoje, se ainda, como moça desvirginada, quem sabe amanhã, como matriz da vida, proliferando a força do amor. A sensibilidade aflora.

Para finalizar, somente lembrando outro poeta em forma de música, Zeca Baleiro:

Ando tão à flor da pele,

Qualquer beijo de novela me faz chorar...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

FEED BACK




carla

Feed back em autonomia:



A interpretação faz total sentido e sinto que há uma criança carente dentro de mim que tem suas recusas de crescer e se libertar da dependência cômoda. Não sei por que razão me desmotivo julgando minhas atitudes como desimportantes, mas isso de fato ocorre e talvez esteja ligado ao sentimento de insignificância perante a vida ou o mundo. Não existe culpa relacionada à aborto, mas sim ao fato de não desejar ser mãe e julgar que isso é uma 'obrigação' na vida de toda mulher.

Se eu pudesse identificar um ponto comum aos brasileiros diria que é  Baixa Auto Estima, associada a um Complexo de Inferioridade coletivo que atinge a sociedade como um todo. Muitos que dizem por aí que não tem problemas com a auto estima, em geral apenas compensam a baixa estima com uma alto superestima. Uma compensação que não resolve o problema na essência, mas paenas na compensação.

O oposto pode ser encontrado na sociedade americana do norte. o Norte americano tambem apresenta problemas de auto estima, mas no caso deles pela presença do Complexo de Superioridade. Eles se superestimam, tanto que acabam se mostrando, no geral, mediocres. O que era de se esperar, já que aquele que se considera muito bom ou superior não precisa se superar, já se acredita maior.
No nosso caso, apenas com a maturação, como personalidade, individuo, socio-político, independência, podemos conseguir superar essa encrenca. É como viver fora do eixo tendo permanentemente que compensar o desvio.

PRECISAMOS ENCONTRAR O NOSSO TAMANHO,
PARA SERMOS DO TAMANHO QUE SOMOS. 
NEM MAIOR, NEM MENOR,
MAS DO NOSSO TAMANHO.


Mas como encontrar o tamanho que somos? Essa, para mim, é a grande questão da psicologia dos brasileiros, superar o Complexo de Inferioridade. O inicio do caminho é nunca abrir mão da cidadania, da dignidade, da verdade e o mais rápido abrir mão do orgulho, da vaidade, dos capichos.

 Mas é uma longa jornada de paciência.



segunda-feira, 16 de agosto de 2010

SPECTRU E SCORPIONE

carla

Sonhei que estava com uma equipe quando chegamos a uma casa que diziam ser mal assombrada. Não fui a primeira a entrar, mas o fiz sem receios. O interior estava sujo e não havia iluminação artificial. Já passara do anoitecer e enquanto do lado de fora ainda parecia ser dia, lá dentro o ambiente de penumbra já dificultava bastante a visão. Comentei que meu único medo era de algum bicho peçonhento e citei de exemplo o escorpião. Sentei numa mesa muito empoeirada e tentei entrar em contato com os 'fantasmas' do local. Senti que haviam forças fortes naquele ambiente e rezei caminhando ao redor da mesa com as mãos levantadas ao alto. No mesmo cômodo que eu havia uma outra pessoa que ora tinha a fisionomia de homem e ora de mulher. Provavelmente era meu animus feminilizado. Depois de algum tempo retirei-me do local, pois ali dentro no meu sentir não havia nenhum 'fantasma'. Interessante que embora aquela casa tivesse aspecto de abandonada, todo o seu redor estava muito bem conservado. Haviam pés de plantas medicinais como alecrim e manjericão cujas flores perfumavam o ambiente. Também havia canteiros de hortaliça super verdes. A terra estava bastante adubada e molhada como se alguém houvesse acabado de aguar os canteiros. Abracei uma jovem como se estivéssemos a comemorar o fato da casa não estar assombrada. Depois disso ela apanhou um ramalhete de flores de alguma das plantas medicinais e me deu para eu segurar. Cheirei-as e depois entreguei ao rapaz que estava dentro do carro nos esperando. Era o sujeito que por vezes tinha a fisionomia de mulher. Eu queria abraçá-lo também, mas sentia que ele parecia irritado, triste e sentindo-se frustrado, talvez por ter achado perda de tempo termos ido numa casa assombrada que não era assombrada. Ajoelhei-me do lado de fora do carro e da janela acariciei o rosto dele, que nesse momento realmente tinha a fisionomia de uma mulher, e disse que estava aguardando ele se declarar. Sentia que havia um amor lindo entre nós e coloquei-me aberta para um envolvimento maior. Isso é tudo o que lembro.

O universo e espantoso e inimaginável energeticamente. A profusão de energia que nos envolve é colossal, e é evidente que é fundamental termos cautela para lidar com a multiplicidade de dimensões superpostas em que estamos inseridos.

O sonho focaliza sua atenção em pontos que merecem essa cautela. Você parece-me mais a vontade com a realidade extra dimensão, além do materializado, do que com o concreto. Você lida bem com as forças, com os campos energéticos espectrais, do que com escorpiões.

Tudo bem que o aracnídeo seja de hábitos noturno e peçonhento, mas há dificuldades para lidar com o perigoso materializado como não ter cautela para lidar com o imaterializado?

O escorpião encarna como animal noturno, o perigo, o espírito belicoso, mal humorado, dissimulado, ágil, imprevisível; Como animal diurno simboliza a abnegação, o sacrifício materno. Na mitologia grega é o vingador de Ártemis (Diana) a virgem vingadora eternamente jovem, fugidia. Ofendida por Orião que tentou violentá-la a deusa providenciou para ele fosse picado por um escorpião e como agrado transformou o escorpião em constelação. Na astrologia é símbolo de resistência, luta, dinamismo e morte. Em síntese: Um canto de amor no campo de batalha e um grito de guerra no campo de amor, como natureza vulcânica seu elemento sãos as tragédias e as tormentas.

Veja que esse medo do escorpião pode ser o medo desta força interior que mobiliza em você a impulsividade, a agressividade, a reatividade, mas o medo projetado no animal é apenas o símbolo de sua dificuldade para lidar com este elemento abstrato e simbólico.

Há o receio mas pode lhe faltar cautela para lidar com o conteúdo mental, essas forças internas.

Tudo bem sua casa já não está tão assombrada mas ainda precisa de cuidados limpeza, a parte externa, aparente, visível, está cuidada mas a interna precisa de atenção, luz, cuidados, limpeza.

Apesar do Animus ser um conteúdo puro, pode aparecer contaminado. Essa contaminação aparece nesta manifestação de irritabilidade, frustração do sujeito dentro do carro “ele parecia irritado, triste e sentindo-se frustrado, talvez por ter achado perda de tempo termos ido numa casa assombrada que não era assombrada.” Parece-me bastante caprichoso e pouco consistente, um comportamento muito parecido com o seu tédio manifestado quando não há algo de extraordinário para alimentar sua necessidade do especial.

Mas fica a dúvida: o que existe é uma mulher se comportando como homem ou um homem com cara de mulher? Para avançarmos mais é necessário que você seja menos pão dura nos seus feed back e possa participar dando mais retorno com suas percepções e informações. Neste aspecto o conteúdo scorpionino é mais masculino, e à medida do seu temor pode representar um achatamento no conteúdo masculino que acaba promovendo desvios para se manifestar de alguma forma frente à sua repressão, temor ou relevância diminuída.
Isso pode ser o vento que define suas relações afetivas com o masculino. Há  preferência, em você, na escolha de homens mais femininos e passivos?