quinta-feira, 22 de julho de 2010

MORANGOS SILVESTRES


Em relação à postagem anterior, gostaria de avançar na reflexão sobre a força do desejo. No livro Zorba o Grego, o autor(Nikos Kazantzakis) conta que Zorba se sentia incomodado, ainda criança, quando  ia para a escola, ao passar por um comércio e ver umas frutinhas que lhe pareciam deliciosas. Passava o dia pensando nas frutinhas,. Um dia, furtou do pai umas moedas e comprou uma grande caixa daquelas frutinhas e comeu até sentir dor de barriga, e nunca mais sentiu-se incomodado com o desejo de comer aquilo. Esta lembraça me veio em decorrencia de uma questão humana fundamental em nossas vidas: Nossa relação com o Desejo.

Muitos são os caminhos para lidar com os desejos, entre esses caminhos dois se mostram especiais pelo extremo que buscam: Há os que se entregam à saciedade; Há os que renunciam a eles.


  • Os que mergulham no mar dos desejos podem descobrir muito tarde que  é um caminho ardiloso. As compulsões são mobilizadas, acionadas e o sujeito pode sair detonado de seu mergulho na busco do prazer. É um caminho perigoso e que aparece na sociedade moderna como o grande caminho a ser seguido. Neste caminho, em geral, o individuo descobre tarde que a saciedade pode ser um buraco de insaciedade. Ele se liberta da pressão do desejo mas fica aprisionado pela insaciedade;
  • Há os que renunciam, ou tentam, aos desejos. Guardadas as diferenças de natureza, geralmente aplicam a disciplina severa no controle das pulsões. O que não significa um caminho apenas de força e determinação, principalmente porque a força dos tormentos confrontará o sujeito permanentemente. Dois tipos chamam a atenção. O religioso abstêmio de sexo, poderá ser atormentado por imagens compensatórias e tentações poderosas, que tenderão a subjuga-lo, lançando-o em fantasias e desejos alucinantes que tenderão a promover o surgimento de desvios sexuais, como os que hoje em dia são denunciados pelo mundo afora. O vaidoso, ou  narciso, tentará subjugar o desejo da fome com dietas severas que colocará a questão alimentar como a questão prioritária na sua vida. Tenderá a passa a vida pensando em comida, comer ou não somer.
Tendemos a querer subjugar o corpo independente de sua necessidade, ou abrir as portas para saciar seus desejos. Como mediadores, a tarefa é gigante, e maior se faz quando associada a ansiedade. Quanto mais formos ligados à consiciência das sensações mais próximos estaremos do aprisionamento sensorial ou da disciplina da renúncia. A solução, provavelmente seja a libertação na consciência.

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