quarta-feira, 21 de julho de 2010

MINHA CASA

Imagem de apartamento em São Paulo

Carla 120

Tenho algumas recordações superficiais.
Primeiro eu estava chegando com minha mãe num apartamento enorme que houvera acabado de ser pré-decorado. Minha mãe disse que antes de terminarem o serviço não aceitavam visitantes, mas eu adiantei-me para pedir ao funcionário que lá estava e ele deixou-nos entrar para ver o apartamento. Parece que era o primeiro andar. Tudo era muito amplos e cada cômodo possuía dois ambientes, um mais sofisticado e outro mais usual. Entretanto, num deles minha mãe já não era ela, mas sim um homem que perguntou se naquele cômodo (era uma espécie de sala escritório) não daria para inverterem os ambientes, ou seja, trocarem a mobília de lugar. Achei estranha a pergunta, pois não tínhamos interesse de comprar um apartamento daqueles. Nisso olhei para o exterior. O prédio fora construído num local que possuía uma antiga mansão, a qual fora demolida, mas ainda se podia ver a piscina velha de azulejos azuis não desmanchada. Pensei que talvez eles fossem apenas reformá-la ou deixar aquela mesma, mas isso seria muito descabível. Ver um apartamento novo tão bem decorado com uma piscina velha e feia fez-me ter uma má impressão dos responsáveis daquele projeto.

Casa nova, renovação, piscina nova. Novas formas de se divertir, de viver, novos instrumentos, novos, espaços.


Uma renovação chama outras, ou exige que outras sejam realizadas. Caso contrário, renovamos o conceito, mas mantemos a mesma conduta, a mesma postura, o mesmo tipo de atitude diante da realidade.

O novo exige uma nova repaginação. Casa nova, cabeça nova, novas formas de ver o mundo, novos conceitos, novas atitudes, novas respostas.

A casa, o apartamento, a morada, diz respeito a nós, nosso corpo, nossa vida, nossa forma de postarmos no mundo. Como um projeto arquitetônico. Deus Cria, nos decoramos, eliminamos o lixo, os excessos, escolhemos a disposição dos móveis, acrescentamos os objetos e os conteúdos que espelham nosso prazer, o cuidado, a proteção, o estilo pessoal, nossa marca.

A sociedade de massa é complexa e tende a nivelar pelo mediano. O individuo tem chances iguais diante do mundo, informações básicas, conhecimento básico, vida padronizada, sofre percalços como qualquer outro mortal, encontra as mesmas dificuldades, corre os mesmos riscos... estamos no mesmo mundo, vivendo a mesma vida e diferenciados apenas por cenários, fantasias, posses que facitam certas realidades. Mas no frigir dos ovos estamos na mesma encrenca.

Apesar disto o mundo moderno permite ao mortal comum uma distinção magistral: Somos uma unidade Única, e se quisermos podemos nos diferenciar além da media geral, criar o seu estilo pessoal, romper com o padrão e o comum, o mediano.

Especialmente, agora me lembro de Ludwig Rei da Baviera que construiu castelos belíssimos a partir de conceitos que espelhavam sua forma de ver a vida. A elite tinha essa possibilidade de realizar o idealizado. Hoje, guardados os limites, cada vez mais, o anônimo pode ter este prazer de materializar sua criação, provando que constrói sua maior riqueza, sua individualidade.

Isso é o primordial, hoje se pode ter acesso ao que é essencial para construir a nossa casa, a vida pessoal. Hoje podemos nos construir melhores, diferenciados, plenos, realizados, independente de ter ou não ter grandes posses ou de exibi-las.

O sonho parece dizer isto. No lugar de uma antiga mansão, construiu-se a morada moderna, mas a piscina ainda é a velha piscina, manteve-se uma linha do passado, o padrão . O empreendedor pode estar economizando, sendo pão duro, ou tendo pouca visão na aplicação de seus recursos por economia ou falta de visão.

É preciso transformar o velho, renovar, renascer com o frescor do novo ou apenas para repetir o velho, o passado. O processo da renovação foi iniciado, mas não plenamente completado, a necessidade da transformação continua. Não adianta puxar os olhos, esticar a pele, tingir os cabelos, usar roupa nova, comprar carro novo, ficar peituda, bunduda, ou botocar os lábios e as bochechas, se a piscina continua a velha piscina. É preciso acondicionar bem o recheio, cuidar do principal, a postura que desenvolvemos diante da magnitude da vida. Cuidar integralmente do Ser. Esta coisa de ir para o salão repaginar o visual é fantasia do simplismo. Não há perfume que supere o cheiro do bolor, do passado esquecido nas sombras, das roupas guardadas. As transformações precisam ultrapassar os limites da casca.



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