terça-feira, 22 de junho de 2010

SAGRADO E PROFANO

CH 96
Sonhei que estava num recanto ao lado (ou aos fundos) do que parecia ser uma oficina de conserto de algo (não tenho certeza disso). Eu fechei o portão de ferro enferrujado e tentei encontrar alguma manga das que estavam caídas no chão, mas elas já estavam em processo de apodrecimento. Eram mangas da casca amarelada. Nisso, ainda agachada procurando uma manga boa, vi que havia alguém me olhando por baixo do portão. Peguei uma das mangas meio podre (não havia nenhuma boa) e joguei na direção como se dissesse 'quer manga, tome isso'. Como notei que a pessoa não saiu de trás do portão, ou seja, não parou de espiar-me nem com a manga podre que lhe joguei, fui na direção do portão e abri-o constatando que ali estava apenas uma cabeça e, embora pareça absurdo, ela parecia viva, mesmo que também em estado de apodrecimento. Fiquei um tanto com medo, mas pensei comigo que apenas uma cabeça não me faria mal algum e com um misto de revolta chutei-a varias vezes torcendo para que a alma dela nunca me encontrasse. Desprezei aquela cabeça com raiva. Depois eu já estava num local donde houvera tido um acidente e, embora não tenha visto, tive a impressão de que alguém, talvez uma criança, morrera atropelada. Havia uma mulher chorando muito e uma multidão de curiosos. Embora tranquila por não ter ligação direta com a cena, fiquei chocada pela dor que o momento e o fato expunham.
Por fim, pouco antes de acordar, sonhei que ia escrever algo no computador quando abri uma propaganda de dança do ventre ou de artigos para tal. Varias moças apresentaram dançando em imagens rápidas e dentre as belas roupas e adereços, fiquei atraída por uma de veludo estampado em tom verde musgo com pedrarias grandes. Para mim todas as roupas eram lindíssimas e foquei na verde porque ela combinava com a decoração do local e havia um tapete cuja estampa tinha daquela mesma tonalidade de cor. Essas são as pequenas lembranças que tive dessa noite.

No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás. Gênesis 3:19

Os sonhos, por vezes, nos permitem traduzí-los numa mensagem. Além de sua possível significação, que se referencia em critérios. Ultrapassa o formal. Neste sonho por exemplo me permito traduzir-lhe numa mensagem que me veio de imediato:

A Dinâmica de expansão do universo nos coloca num sistema inexorável e impermanente, que divinamente anunciado pela religião e contextualizado cientificamente por Lavoisier que enunciou o princípio de conservação da matéria: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

No sonho você esta defronte à matéria orgânica em transformação, não apenas uma fruta ou uma cabeça, mas o que você é, o que nos somos. Matéria em transformação permanente. Hoje vivo, amanhã putrefato. Porque o desprezo? Porque a raiva? Negação deste destino trágico a que estamos submetidos.

Somos finitos, nascemos, vivemos e seremos, quando não pulverizados, transformados.

Se não nos transformamos naquilo que desejamos ou sonhamos, se não nos aprimorarmos, dia chegará em que a transformação definitiva finalizará aquilo que ansiamos conservar. Se aprimorarmos o que somos ou se não aprimorarmos, o fim será definitivo para todos. O que então muda? Porque então a busca do aprimoramento?

Se nos aprimorarmos temos mais chances de realizarmos uma jornada da vida mais harmoniosa, ou mais realizada, consistente e construída em bases e princípios universais.

Se não nos aprimorarmos, escolhemos a negação da impermanência, contrariamos os princípios de expansão do universo, sintonizamos o principio da retração, ficamos prisioneiros da negação, do retrocesso, da energia densa e bruta.

Portanto, elimine, se existir, os excessos: o controle presunçoso; a arrogância; a petulância dos egocentrados; a raiva dos desesperados; os medos; a ansiedades; o domínio; todo o excesso que carrega nos ombros. E principalmente purifique seu coração, tenha piedade e se afaste do mal. A maldade é viva e contamina. Purifique seus pensamentos, escute seu coração e busque o simples, o autêntico, a generosidade, a bondade, a amorosidade e caminhe em sintonia com o universo, o melhor de sua vida. E caminhe em direção à luz, e tenha compaixão e busque aplicar seus sonhos que na realidade seus sonhos, suas esperanças e pratique o que gostaria que praticassem com você.

É simplismos acreditar que não seremos encontrados. Todos pagam pelas consequências de seus erros. Não há escape para os equívocos, há apenas a conquista e a harmonia para os acertos. Para esses, a vida como que oferece a compaixão, negada para os que escolhem a escuridão. E cuidado com o “Belo” ele pode encantar pelo imediatismo, pelo foco estético, e cegar pelas aparências.

A imagem Visual ou Sonora pode esconder o que nos aprisiona, as amarras das quais precisamos nos libertar.

O sonho revela a sua forma de responder à essa dinâmica, profanando o sagrado, pois morto ou acabado. Ou sacralizando o profano com o simplismo dos descompromissados.

Veja: quando se defronta com a cabeça a desconsidera como representação de uma vida, de uma história, mas ao ver a mulher sofrida se condói, pois consegue enxergar a dor da perda. È capaz, a partir do lamento, de abstrair e compreender o sofrimento, mas deixa de perceber o sofrimento quando há silêncio na dor. Ou seja, sua visão só se completa quando associada ao lamento sonoro. Em leitura anterior relatei sinal de que fosse mobilizada pela visão. O inconsciente mostra que a audição é seu foco seletivo, a sua audição, o estimulo sonoro mobiliza sua compaixão e seus pensamentos de forma imperativa. É necessário que passe a pontuar seu pensamento para despertar outros sentidos e emoções.

Não podemos esquecer que os sons são imagens ou evocam imagens, tanto quanto imagens evocam sons.

É uma boa hora de rever seus conceitos idealizados e de passar a aplicá-los no seu dia a dia.

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