sexta-feira, 18 de junho de 2010

PROJEÇÕES

   



           
CH 91
Depois sonhei que eu estava andando em um parque com minha mãe quando ela viu um homem de meia idade segurando uma grande fruta verde amarelada. Ao aproximar ele mostrou varias outras no pé não muito alto e descobrimos que eram abacates. Eles eram do tamanho de uma bola de futebol, embora houvesse outros menores e mais verdes no pé. O homem deu a fruta que segurava para minha mãe e nos levou até um coqueiro donde retirou vários cocos para nós. Eles já estavam com a casca escura e pensei que a castanha deveria estar bem grossa, no ponto de ser saboreada. Não lembro se cheguei a ajudar minha mãe a segurar as frutas, mas creio que sim. Nisso veio um segurança com ar irritado, mas o homem não se intimidou dizendo que tinha permissão para fazer o que estava fazendo. Também me lembro de estar jantando à mesa com minha mãe, sobrinha e um menino (de nove ou dez anos) que no sonho era meu sobrinho adotivo. Haviam outras pessoas também, mas não sei quem eram e nem lembro quantas exatamente estavam ali. Não sei sob qual motivo disse-lhe brincando que falaria para minha irmã devolvê-lo. Ele ficou emburrado (não aparentou estar com medo, irritado ou triste, mas apenas emburrado comigo). Desfiz a fala dizendo que estava brincando e que minha irmã não o daria nem mesmo a nós (tia e mãe). Nisso a minha sobrinha pediu para falarmos mais baixo e alguém comentou que ela fazia aquilo igual a mim quando criança: uma vez que não conseguia se meter na conversa dos adultos, fazia o possível para atrapalhá-la. Não lembrei do fato, mas fiquei surpresa por descobrir isso de mim mesma. Nós não estávamos falando tão alto, mas não senti que ela com seus três anos estivesse fazendo aquele pedido por más propósitos. Era como se a conversa não estivesse lhe agradando ou como se ela estivesse mal por algum motivo. Para mim o educado pedido não era uma atrapalhação, mas talvez uma suplica de atenção pela não interação. Talvez cada um tivesse um palpite e nenhum deles coincidisse com o verdadeiro motivo da criança.

O inferno está cheio de pessoas bem intencionadas ou com bons propósitos.

Boas frutas, bons frutos, carnudos, suculentos. Como já disse, em algum momento, é o símbolo da cornucópia da vida, símbolo mitológico da fortuna, da riqueza e de felicidade.

O sonho reforça a ideia contida no último, com alguns acréscimos que merecem um olhar, e o reforço sistemático na projeção:

1. Há projeção na intimidação no momento de prazer e usufruto. A intimidação projetada, agora, na figura masculina que serve como blindagem para a sua proteção. Esse é uma das características dos conteúdos masculinos na psiquê feminina.

Essa blindagem é o fortalecimento da capacidade de assimilação de impactos da realidade sobre a sensibilidade feminina, do principio de realidade, da lógica masculina, da capacidade de responder à realidade sem sucumbir ao impacto de ameaças, diminuição do pensamento fantasioso ou mágico, etc.

É verdade que a postura firme e protetora pode ser uma compensação de sua necessidade de proteção pela figura masculina. É o que de imediato podemos pensar. Mas quando penso na dinâmica do seu inconsciente, sinto que é mais plausível como resultante da incorporação à dinâmica da psiquê dos conteúdos que antes afloravam de forma ameaçadora. À medida que você vai incorporando e abrindo espaço para agregar conteúdos de origem de sua alma masculina à sua vida, os conteúdos antes ameaçadores afloram como proteção, pois ampliam a construção de seu projeto pessoal como personalidade e aparece como sinal de seu movimento de transformação e maturação.

Você não precisa ser homem, mas integrando masculino ao feminino favorecerá o processo de desenvolvimento de sua individualidade. Se não integrá-lo favorecerá a divisão, conteúdos distintos produzindo conflitos de interesse e lhe deixando no meio de um cabo de guerra.

Por isso no primeiro momento o sonho é como um reforço da ideia contida no sonho anterior.

A presença da culpa que, intrinseca, aflora em situações de prazer pode estar ligada à escolha do papel de vítima. Como vítima você promove a incompatibilidade com o prazer, já que vivendo o prazer deixa de sustentar a justificativa como vítima sofredora, no sacrificio. Esta é a armadilha que vivem os que escolhem o papel de vítima: precisam renunciar ao prazer, já que vivendo o prazer precisariam renunciar ao papel de vítima. Assim se escolhem o papel de vítima acabam se tornando vítimas delas mesmas, ainda que queiram imputar ao outro a responsabilidade pelo que vivem.

2. Há projeção da rejeição na criança. Novamente vemos o mesmo mecanismo aparecendo. Aquilo que estava introjetado e agarrado como gosma, agora já aparece projetado no outro, no órfão símbolo do abandono e da rejeição. E você ainda se permite a morbidez ameaçando rejeitar o rejeitado (veja que isso reforça a conclusão do parágrafo anterior). Ele é você com seu emburro, seus caprichos ou suas dificuldades, quando não consegue, como narcisista, ser o centro das atenções, se impinge a rejeição. Mas sua dinâmica muda, o sentimento de rejeitada já aparece em forma de elaboração, de transformação, projetado no conteúdo representado, mas já diferenciado.

Quando tomamos consciência de nossos jogos infantis, podemos abrir mãos deles. Eles já não se prestam aos novos momentos.

E essa consciência aparece denunciando a menina que chama a atenção para si. Quando não consegue participar, egocentrada e manipuladora, objetiva concentrar a atenção nas suas carências, como pedinte de atenção. A criança é bem intencionada, e o que você quer acreditar, se justificar na sua inocência, mas levando essa atitude para a vida adulta, renuncia à independência e acaba se percebendo rejeitada quando não consegue controlar todos os eventos e exigências da realidade, e quando não consegue estabelecer níveis de interação adequados à sua vida enquanto adulta.

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