sexta-feira, 4 de junho de 2010

OBSERVAÇÕES FENOMENOLÓGICAS II



O SEGUNDO

“Cheguei num local que tinha dois portões e um gigantesco muro. Parecia não existir nada do outro lado e então fiz como as demais pessoas que ali chegavam: atravessei uma pilastra de parede. Enquanto atravessava observei que o concreto da mesma parecia flocos de gelo condensado que fazia pressão para dentro e para fora. Para entrar era preciso coincidir com a pressão para dentro e sair era ainda mais fácil sentindo lá dentro a pressão para sair. Foi uma sensação muito intrigante e divertida mergulhar no interior da pilastra.”

Neste “Momentun”, sequência do primeiro, ocorre o bloqueio, a retenção, O MURO, do outro lado o NADA, mas ela se referencia no que os outros fazem para superar o obstáculo, faz o impossível, atravessa o concreto, rompe o obstáculo.

Uma das técnicas de aprendizagem é aprender com a experiência alheia. Se o outro pode realizar eu também posso realizar. A experiência alheia se torna referência, modelo e desafio para aumentar os limites pessoais.

Em esporte especializados se sabe que quando o esportista ascendeu ao Top, e não tem ninguém mais a superar ele acaba sendo superado pelo sujeito que o persegue. É mais difícil se manter na vanguarda do que chegar a ela.

A postura do sonhador rompe com o obstáculo criado, não sei se pela construção psíquica ou pelo sujeito. Se anteriormente o sujeito define a existência do obstáculo (e não a psiquê), na continuidade ele define a construção do PORTÂO GRANDÃO.

Não sabemos se na elasticidade de voltar ao seu tamanho natural, aquele que temos de nós mesmo como referência interna, e que é fundamental para que o corpo calcule suas dimensões (imagem corporal) frente à realidade para que não sai por ai batendo a cabeça e esbarrando ou trombando nas coisas e pessoas. Como dizia: saindo da experiência do degrau deformado, a imagem onírica é alterada, neste caso o mecanismo onírico pode ter introduzido uma nova imagem (upload) como forma de finalizar a impossibilidade criada pelo sujeito no sonho. Toda a dinâmica do sonho foi alterada quando o sujeito interfere com sua dificuldade. A psiquê introduz a nova imagem, fecha a anterior e o travamento e reinicia seu intento. O sujeito mudando o foco para a nova imagem continua criando, vendo o obstáculo, o cenário intransponível, e a psique lhe dá a referência para aprender a romper com o obstáculo, focando o seu olhar no modelo que lhe é apresentado. E o sujeito realiza o imponderável: confiando em si atravessa a parede de concreto. Fenomenal.

Naturalmente, não sei dizer se este era o foco do sonho ou se este é o evento que surge decorrente de outro, a resposta do sujeito como evento fora de controle que interfere na dinâmica onírica, se colocando numa situação de impedimento. Mas a psiquê consegue atualizar o sujeito inclusive fazendo retomar sua referência de ordenação e tamanho, ainda que através da realização de uma ação “mágica”.

Quero dizer que essas reflexões são porque acredito numa dinâmica onírica construída a cada momento no sonho a partir da interação da consciência com o inconsciente. Muitos são os especialistas que acreditam na passividade da consciência, como sujeito que recebe a intervenção. Eu acredito que a consciência, como sujeito, recebe essa ação, essa intervenção e pela sua capacidade de resposta interfere na realidade onírica, pelo pensamento, pelas atitudes e a partir da interação vivida entre essas duas naturezas distintas e mediadoras: a consciência mediando a relação com a realidade e o inconsciente mediante a relação com o universo, mantendo viva a nossa conexão com esse universo.

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