sábado, 19 de junho de 2010

DESÍGNIOS



CH93

Assim que comecei a dormir, parece que no estado de torpor da consciência, sonhei que estava incorporando (naquele momento mesmo de sono) por algo desconhecido como se fosse uma força estranha e forte que eu temia, talvez por não saber se teria controle sobre o que estava se passando comigo. Senti calor e parecia estar acordada mesmo dormindo, pois podia enxergar mesmo de olhos abertos. Acordei com a sensação de pavor experimentada por relutar com tal força que parecia eclodir de mim ou para dentro de mim.

Seria vivencia transpessoal? Saída do corpo astral? Quem avançou na pratica meditativa sabe que a transparência do mundo é real. A física fala nos espaços que existem entre os átomos, e Lao Tse já anunciava (Tao the king) há mais de 3000 anos antes de cristo a Invisibilidade do mundo. Mas mesmo assim a experiência pode assustar os incautos, ou os que tentam manter o controle do mundo em suas cabeças. É como disse William Shakespeare: Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã philosofia.

Depois de voltar a dormir sonhei com um casal de gatos e um gatinho filhote. Nisso olhei ao lado nuns trapos e meio escondido encontrei uma outra gata com um monte de gatinhos recém-nascidos que mamavam. Estranho que achei aquilo nojento ou repulsivo e me afastei, algo que com certeza não faria na vida real. A gata com os gatinhos eram de cor cinza rajado e os filhotes estavam tão pequenos que me pareceram ratinhos. Eis a recorrência dos mesmos animais.

O que foi que achou nojento e repulsivo? Os gatinhos mamarem? A ninhada esfomeada enroscada nas tetas? A gosma do líquido amniótico? O cenário? Não sei se a referência a “nojo”, a repulsão, é ao incomodo causado pela animalidade, a reprodução animal, a fome ou a carência dos bichanos, ou se essa repulsão é apenas a projeção da rejeição que aprendeu a refletir.

Penso em duas variantes:

1. Sempre que saímos da fantasia para a realidade precisamos de fortalecimento de nossa resistência mental e sensorial para suportar o impacto da realidade. Neste aspecto, quanto mais diferenciados somos menos repulsão ou nojo sentimos e o oposto é verdade, quanto mais indiferenciados mais são os estímulos que puxam para a realidade terrena e sensorial mais despertam essa repulsa.

Paradoxalmente, esta reação pode ser indicativo de estado, ou nível, de maturação. Quanto mais maturados mais o sistema nervoso resiste ao impacto de realidades “repulsivas” e quanto menos maduros mais o estimulo é capaz de mobilizar reações psico somáticas de descarga ou enjoo.

Muitas vezes não ocorrem respostas somáticas e as respostas são apenas defensivas, já que apenas imagens (nível visual) já podem produzir a resposta negativa, a repulsa e o afastamento. Neste caso uma única imagem é capaz de evocar estímulos associados ao negatico: Cheiro; Liquido pegajoso; Gosmento; Sensação de sujeira, etc. Assim o estimulo visual mobiliza a propriocepção e o sujeito, mesmo sem contato físico, age como se imerso ou inserido no contexto – na indiferenciação.

Você indica: “algo que com certeza não faria na vida real”, Mas conta a postura. Há atitude de repulsa em relação à realidade? Em relação à sua forma de interagir com as pessoas ou com os acontecimentos.

É necessário fortalecer sua resistência aos eventos que busca evitar e que lhe levam ao ao comportamento de escape, à fuga, à evasão. É necessário aumentar essa resistência para que possa suportar os trancos da vida que ainda virão, fazendo isso você ficará menos suscetível, menos à flor da pele, com um sistema nervoso mais resistente e menos frágil. Considere essa mensagem.

Por fim sonhei que conversava com uma mulher que estava incorporada com uma entidade que provavelmente deveria ser de uma pomba-gira, mas ela não era espalhafatosa e tinha um jeito sério de falar. Eu não entendia direito o que ela falava por causa de seu linguajar. Ela falava que eu não podia passar para (ou por) debaixo da terra sem cumprir alguma coisa. Na minha cabeça eu raciocinava o meu desejo de um envolvimento conjugal, mas não entendi se ela estava falando disso e nem sabia se passar para debaixo da terra se referia a morrer. Imaginando e querendo que aquilo tivesse ligação com a preocupação que eu mantinha em mente sobre a possibilidade de um futuro envolvimento amoroso, tentei descobrir do que ela estava falando através da seguinte pergunta: 'mas como eu vou conseguir isso?' Ela respondeu: 'você consegue tudo o que quer' e calou-se como se tivesse dado todo o recado. Disse-lhe que nem tudo dependia apenas do querer e perguntei se eu não teria uma ajuda do destino, mas nisso chegou um homem também incorporado e ambos começaram a conversar de forma que acordei ficando sem uma resposta. O que me diz sobre essas lembranças?

Quanto mais avançamos nossa compreensão da linguagem dos sonhos, quanto mais consideramos o nosso universo interno, mais ele se ordena e mais nos aproximamos de um diálogo com o nosso inconsciente. Os sonhos tendem a ficar menos assustadores, pois os conteúdos vão se realizando na sua dinâmica de transformação e as mensagens mais claras são como sinalização de que a psiquê se ordena. Só podem se comunicar os que têm disposição e disponibilidade para empreender um diálogo, e para isso é precisso escutar, refletir, comunicar. É necessário entendimento, e quando a consciência faz seu movimento e mostra sua disponibilidade o inconsciente também mostra sua tendência voltada para o encontro e sua linguagem também se transforma, amadurece.

É o caso desse sonho, a mensagem é o que é: “Ela falava que eu não podia passar para (ou por) debaixo da terra sem cumprir alguma coisa. ...'mas como eu vou conseguir isso?' Ela respondeu: 'você consegue tudo o que quer' e calou-se como se tivesse dado todo o recado.”

A maturidade é a resultante da configuração de inúmeros eventos psíquicos, entre eles a mudança de postura, de atitudes, de escolhas, de referências, da consistência dos princípios pessoais diante da realidade.

Todos somos capazes. Conquistamos o direito à vida e temos que honrar os compromissos diante dela. A vida não nos pertence. Por isso precisamos “dizer a que viemos” e cumprir com nossos desígnios.

A mensagem é essa: Cumpra e realize os desígnios de sua vida. Pare de esperar tudo nas mãos. Corra atrás da realização desses desígnios. Cresça. A lei básica é essa: Nascer, crescer, se desenvolver, amadurecer e morrer em paz. Enquanto ficar fixada na realização do sonho de casar você esquece que precisa se tornar uma mulher adulta, capaz de cuidar de si e de dirigir a sua vida. Cumpra se destino.

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