quinta-feira, 17 de junho de 2010

BEIJOS


CH90


Sonhei que estava na casa da mãe de um rapaz que era meu namorado (ou talvez um recém marido). Lá havia um pé de manga bem alto e de grande copa com muitas pencas de bananas ainda bem verdes. Achei interessantíssimo aquela novidade. Depois de admirar a arvore eu fui para dentro e estava escrevendo algumas coisas no computador quando o rapaz chegou. Estava com saudades dele e larguei o que fazia porque queria um beijo. Ele pareceu um tanto esquivo. Eu poderia pensar que ele não estava afim, mas preferi crer que ele estivesse constrangido. Na primeira tentativa de beijo ele disfarçou e me beijou no rosto, mas carinhosamente eu o beijei nos lábios. Embora eu pudesse inicialmente me sentir rejeitada ou super desconfiada, fiz opção de pensar que ele estava se sentindo inseguro. Depois do agradável beijo disse que ele podia colocar a mão no meu corpo, pois ele parecia ressabiado como se não estivesse acostumado ao envolvimento ou como se temesse o mesmo por causa da minha reação. Não me senti ousada por dizer aquilo como se estivesse a ensiná-lo, pois sentia ser positivo de minha parte dizer-lhe o que eu aceitava e confidenciar-lhe aquilo que me agradava. Talvez isso o constrangesse ainda mais ao invés de ajudar, mas foi a minha reação natural, não de cobrança, mas como um pedido indireto de que ele me tocasse, o que daria liberdade dele fazer se também fosse de sua vontade.

Eis um sonho que parece sair dos padrões de sonhos antigos: ao invés de esperar ou me frustrar (conforme muito já me aconteceu na realidade), eu tive a iniciativa de revelar minha vontade e tentar aumentar a segurança dele comigo. Creio que essa inação do rapaz seja um reflexo de mim mesma em muitas situações, algo que venho mudando aos poucos. Não lembro o resto dessa parte.

Veja a importância desse sonho! Há mudança significativa sua enquanto sujeito. Deixa de ser o foco do padrão para ver o desafio, o embaraço, projetado no outro, na figura masculina. Considero algumas possibilidades:

É o mesmo conteúdo apenas espelhado no outro (sua percepção);

É o mesmo conteúdo só que com a sua origem na repressão do masculino;

É o conteúdo reprimido projetado na autoridade do masculino;

Esquecendo as possibilidades de manifestação de sua linha de defesa, como sublimação ou deslocamento, parece-me que você projeta o outro como reprimido, o masculino como sujeito que incorpora a repressão; e você enquanto mulher rompe com a sua repressão para se transformar em agente promotor com poder de ação. O masculino é passivo e dominado.

É patente a mudança na dinâmica, considerando os sonhos anteriores neste último ano. Seria apenas para lhe mostrar o foco da repressão? Ou para lhe confrontar com a projeção de seu poder repressivo? Independente da resposta, prefiro evitar a precipitação apontando-lhe a “a mudança” mas continuar a focar o olhar na “Dinâmica”, que não é apenas funcional mas de tendência.

O sujeito é receptor de sua projeção, porque a sua postura repete a atitude de pensar para outro, com a diferença de que antes você pensava para o outro para justificar seu sentimento de rejeitada ou para aplicar suas defesas e suas repressões bloqueando atitudes pró-ativas. E agora você se defronta com a o outro “contido” e encontra a justificativa para agir pelo que conclui serem as dificuldades do outro.

Há diferença? Sim! No primeiro caso você se reprime, se anula, se paralisa. No segundo caso você age concluindo para o outro. É melhor! Há avanço! Pode ser melhor?

Pode! Parar de antecipar, na realidade, os acontecimentos para encontrar justificativas de comportamento. É como se sua seletividade funcionasse somente para agir quando têm controle do mundo. Antes de viver você racionaliza o mundo. Falta-lhe o tempo para permitir que a vida flua, que as coisas aconteçam, que a espontaneidade aflore.

Posso considerar como avanço a projeção da repressão no fora de si. Você não se enforca mas enforca o outro. Mas a atitude é praticamente a mesma, mesmo que não o seja e que haja mudança.

Por outro lado, o sonho é você e o outro é você. No primeiro caso a possibilidade do confronto levou-me a observações considerando a sua atitude em relação “ao mundo”. Mas agora vamos ver em relação a si mesma.

A ATITUDE

Esse é um aspecto  relevante: A presença da figura masculina reprimida. O elemento chave, símbolo daquilo que é referência e parâmetro e que define sua relação com a realidade. Este mesmo elemento que apareceu dezenas de vezes como a figura (masculina) ameaçadora (de arma em punho, agredindo, ameaçando, subjugando pela força física), agora se manifesta silencioso, e aparentemente contido. Mas toda a imagem do cenário foi construída por suas deduções, pelas suas conclusões precipitadas. Você conduz a situação, conduz o masculino sem lhe abrir espaço ou tempo de manifestação. E parece que assim você faz com seus conteúdos internos, age como uma autoridade repressora que não abre espaço/tempo para que este lado masculino se manifeste. Ou mais do que o lado masculino, a repressão atua em todo o seu contexto psíquico, sentimentos, emoções, pulsões, desejos, intenções,etc.

Se na realidade a insegurança leva-lhe a antecipar a crítica ou o julgamento alheio, como forma de defesa, fazendo-a recuar nas relações sociais, em sua dinâmica interna você começa a aceitar a ocorrência de desejos e começa a mudar a forma como você se relaciona consigo mesma, diminuindo a severidade e se permitindo desejos e atos voltados para a sua satisfação.

Detalhes:

Pé de manga que dá banana. Abre suas possibilidades de frutificação; Será que há distorção da realidade?A imagem reforça o olhar sobre aquele seu lado seletivo de interessar-se pelo surpreendente, pode ser a pega do inconsciente para “chamar sua atenção”, o seu interesse pelo inusitado, te focar, te alinhar; Há dispersão? falta-lhe concentração? 

Abandonar o computador, o lado virtual, pela relação viva, presença física, envolvimento. Sinal e mudança de postura e de escolhas de foco na sua vida.

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