domingo, 8 de agosto de 2010

RELAÇÕES NATURAIS

CARLA 138

Tive mais sonhos que creio ser compensatórios, pois eu estava sem reservas, sem defesas. Num deles eu estava chegando num local donde havia um rapaz saindo. Quis despedir-me dele com um abraço e também trocamos um beijo no rosto, mas ficou claro que, na pressa de sair, ele só se despediu de tal modo porque eu fiz a venha de uma despedida mais afetuosa. Aliás, por super incrível que pareça, foi automático para mim aproximar-me dele com tal intenção. Depois disso comecei a conversar com outro rapaz que estava sentado comendo algo. Nisso veio uma senhora que falou algo e interrompeu a conversa. Quando ela se retirou, tanto ele, quanto eu, já não lembrávamos o assunto discutido. Ele perguntou se eu lembrava e disse que esquecera, sendo sincera, embora estivesse por um triz de lembrar. Daí afirmei que não estava fazendo pouco caso do seu relato, pois estava interessada em tudo o que ele tinha para me dizer.

Em tais sonhos parece que a minha real necessidade de ser apreciada se transforma numa preocupação de apreciar o outro, de valorizar a companhia, a conversa ou a necessidade alheia. Eu seria exatamente assim se conseguisse não ser tão focada exclusivamente em meu próprio ser, nos meus próprios defeitos, naquilo que em mim condeno. É muito boa a sensação de entrega sem bloqueios, mas esta apresenta um gigante contraste com relação à vida real. Creio que tenho um longo caminho para seguir nessa infindável busca pessoal de ser um pouco daquilo que por vezes me apresento sendo dentro dos sonhos.

Também sonhei que estava num outro local, parecia uma mansão, cujo jardim era repleto de muitas variedades de flores bonitas. Haviam rosas coloridas, perfeitas e lírios brancos em grandes quantidades. Interessante que eu estava sem máquina fotográfica, mas como se não quisesse aceitar o fato, chegava perto das flores e tirava foto ilusoriamente. Eu quase conseguia crer que, de algum modo misterioso, eu ia conseguir ter cada uma daquelas fotos comigo posteriormente. Houve um momento em que fui ajudar alguém a encher um vaso de uma planta com areia branca. Parecia areia de praia e estava molhada. Além disso, creio que nesse mesmo local, havia várias piscinas e um tanque donde fomos fazer um ensaio de uma dança, ou qualquer coisa do gênero, com um golfinho. As lembranças são embaralhadas e pouco consigo relatar dessa parte. Qual o simbolismo desses sonhos?

Frente à suas dificuldades de aproximação ou de manifestação afetiva, pode ser compensação, mas pode ser a psique mobilizando seu intento afetivo que define na realidade essa manifestação natural de afeto. Sabemos que a questão não é de falta de afetividade, mas de dificuldade de expressar, principalmente porque, sua resposta diante de sua realidade sempre foi a de solicitar afeto, ser amada, ser atendida em suas necessidades afetivas, em sua carência. Quem solicita não dá, porque não tem para dar, tem para receber e acumular. Portanto, a compreensão e as mudanças que empreende leva-a à uma nova disposição diante da realidade, novas atitudes, novos comportamentos. Isto se aprende através do exercício. Diminuindo o medo, a ânsia de receber, se descobre a possibilidade de expressar.

Olha que interessante: quanto maior a demanda para receber, maior a carência, as expectativas, os riscos de frustrações. Quanto mais expressa mais se recebe. Quando o sujeito deixa de esperar e vai de encontro à sua necessidade ele a sacia. Ele não precisa ficar esperando o beijo, ele vai e da o beijo, beija, sacia a necessidade do contato, da troca. O sujeito pode ter a carência por ficar esperando que o outro sacie o seu desejo. Assim se oferece para que o outro a utilize como objeto que saciará o seu desejo. Equívoco e confusão. Tá com fome? Corre atrás do seu desejo e sacie sua fome ao invés de ficar esperando que o outro descubra a sua fome para te dar a comidinha na boquinha.

A segunda parte do sonho envolve o seu foco de atenção, sua seletividade de foco. “... necessidade de ser apreciada se transforma numa preocupação de apreciar o outro, de valorizar a companhia, a conversa ou a necessidade alheia.” Você que ser o foco do outro mas faz do outro o seu foco, para que ele te faça o foco dele. Você quer ser o foco do outro, quer seduzir o outro, conquistar sua atenção, dominar a atenção dele, e mostra isso entregando ao outro sua atenção. Será que você acaba passando a ideia de pegajosa? Melosa? Pare o disco! Ponha outro. Tente outra tática. Relaxe! Usufrua o prazer de conviver, sem pré-intenção, sem querer ser Don Juana. Deixe o outro te conquistar.

O paradoxo parece-me este, você fica tão focada na sua intenção que não presta atenção no outro, no entorno, no acontecimento.

A continuidade do sonho parece-me a sequência da mensagem. Tem sutiliza nesta continuidade ou na relação entre você e o seu mundo. Reflita! Quando você se encanta com a beleza da flor você tenta seduzi-la?

Sua intenção é apreender o momento, deseja fotografá-lo, tomar posse, possuir. Mas não tem a máquina e descobre que você não precisa do instrumento, basta apreender com a visão. Você não tem que ter, tomar posse, não tem que possuir.

Talvez essa seja uma diferença, onde não tem que haver diferenças. Aprenda a relacionar-se com as pessoas da forma como você se relaciona com a natureza, sem precisar tomar posse. Aprenda com a espontaneidade na relação com a natureza para aplicar essa espontaneidade na relação com os homens e com as pessoas.

Parece-me que seu Incs. indica-lhe esse caminho na mensagem: Seja espontânea, natural, que se tornará ampla, tão ampla, pois natural. Plante flores, colha beleza, perfumes. Plante afeto colha prazeres, emoções, sinta-os e depois... Plante mais... Cuide... Para colher mais frutos. A dança pode estar relacionada a esta espontaneidade que se faz necessário, outra referência de trato, a necessidade de movimentos mais harmônicos e a areia, bem... A areia é a passagem, o pó, o transitório à beira do oceano primordial que nos ensina que tudo é passageiro, que a posse é ilusão, a necessidade de purificação e regeneração, absorve a água, mas não a aprisiona.

A armadilha do desejo

 é querer aprisionar a SENSAÇÃO,

 e a sensação é fugidia

 como o universo,

que é... Impermanente.

bye.

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