sábado, 21 de agosto de 2010

SONHOS LÚCIDOS III

olhar de Tigre acordado

Portanto minha cara, qual a finalidade de acordar?
Bem, se continua com sua questão,
reproduzo abaixo um trecho do livro Sonhos Lúcidos para voce:

“Em relação à eletricidade, uma "curiosidade científica" do século XVII, diz-se que uma mulher perguntou a Benjamin Franklin: “Mas para que serve?” A resposta é famosa: "Madame, para que serve um bebê recém-nascido?” Se neste estágio fosse feita a mesma pergunta em relação a sonhar lucidamente, uma "curiosidade científica" do século XX, poderia ser dada a mesma resposta. Embora por enquanto possamos apenas especular, o nosso trabalho em Stanford e as descrições de outros sonhadores lúcidos sugerem que, como a eletricidade, os sonhos lúcidos também podem ser aproveitados para nos ajudar a desempenhar inúmeras tarefas com uma facilidade muito maior. Ás aplicações dos sonhos lúcidos, tal como me parecem hoje, caem de modo geral em quatro áreas amplas: exploração científica; saúde e crescimento interior; solução de problemas criativos, ensaios e tomadas de decisão; satisfação de desejos e recreação. Visto que já foram apresentados os usos e vantagens de sonhar lucidamente na exploração científica do estado de sonho, vamos nos ocupar apenas com as três últimas categorias.”

“Até que ponto os conceitos de sonhar lucidamente são relevantes para a vida acordada? A resposta é que as atitudes que caracterizam o ato de sonhar lucidamente têm certos paralelos com uma abordagem de vida que poderia ser denominada "viver lucidamente". Para adquirir um conceito mais claro do que esta expressão curiosa sugere podemos continuar a raciocinar por analogia, examinando algumas atitudes e suposições contrastantes associadas com a comparação entre sonhar lucidamente e sonhar não lucidamente1. O modo mais básico de diferenciação entre as atitudes do sonhador lúcido e do sonhador não lúcido provém justamente da própria definição de lucidez. Enquanto você está tendo sonhos não lúcidos, supõe que está acordado; quando está tendo um sonho lúcido, sabe que está dormindo e sonhando. Creio que no estado acordado o par de atitudes. correspondentes é o que passarei a expor. De um lado, você poderia estar fazendo a suposição (não lúcida) de estar sentindo objetivamente a realidade. De acordo com este ponto de vista parece que a percepção é pura questão de olhar pela janela dos olhos e simplesmente ver o que há lá fora. Infelizmente parece que esse ponto de vista tradicional, de "bom senso", é claramente incoerente com os resultados obtidos pela psicologia e neurofisiologia de hoje. O que você vê não é "o que está lá fora"; de fato, o que vê nem está "lá fora". O que você vê dentro da cabeça é só um modelo mental do que percebe ou acredita que está "lá fora". A compreensão lúcida da natureza da percepção provém do conhecimento moderno do funcionamento do cérebro. Se você quiser seguir essa abordagem, recomendo adotar a seguinte hipótese de trabalho: as suas sensações são necessariamente subjetivas; são o resultado do que você mesmo construiu baseado no estado de motivação em que está no momento e na parte da realidade que está vendo (e na qual está acreditando). Em termos de percepção visual este ponto de vista explica a ilusão de óptica que pode aparecer como resultado do que esperamos do mundo; também explica como as emoções podem distorcer a percepção, fazendo com que, por exemplo, alguém que esteja acampando veja "todas as moitas como se fossem um urso" e alguém que esteja amando veja "em cada árvore o ser amado". Resumindo, a melhor (ou seja, a mais certa) análise de percepção é que não sentimos a realidade diretamente e sim por intermédio de modelos do mundo, que nós mesmos fazemos. Por isso, antes que você consiga ver o que está "lá fora", as informações visuais dadas pelos olhos atravessam uma legião de fatores subjetivos, a saber, expectativas, sentimentos, conceitos, valores, atitudes e metas. É inevitável que os nossos modelos do mundo limitem o que sentimos da realidade; quanto mais distorcidos os mapas, mais distorcido o território parece.”

“Sonhar lucidamente pode ser um ponto de partida para entender como poderíamos não estar completamente acordados, pois o sonho comum está para o sonho acordado como o estado acordado comum poderia estar para o estado completamente acordado. Essa capacidade que os sonhos lúcidos têm de nos preparar para despertar mais completamente pode vir a demonstrar que é o maior potencial que o sonho lúcido tem para nos ajudar a ficar mais vivos na vida.”

Do livro Sonhos Lúcidos de Stephen LaBerge
( São Paulo - Edições Siciliano 1990)
págs 179/180, 287/288, 293.




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