quinta-feira, 19 de agosto de 2010

AFETO... LEITE SAGRADO - I



CARLA 148
Primeiro sonhei que estava chegando em casa quando vi o carro da minha madrinha estacionado na garagem. Como não gosto de visitas e sabia que aquela em específico era para mim, fui insatisfeita direto para o banheiro limpar meus óculos de sol. Conforme eu limpava a lente ela ia clareando como se realmente saísse a cor. Nisso minha mãe foi me chamar tentando dar a entender que eu não percebera ainda a presença da minha madrinha. Sem solução fui cumprimentá-la. Ela abraçou-me e já foi chorando, dizendo que sentia muita falta de mim, do meu abraço, e foi falando um monte de coisas. Pude notar com o sonho que, embora tenha meu lado carente, não tenho coragem de expressá-lo como fez minha madrinha no sonho. Achei a postura dela exagerada, muito carente, quase me colocando num pedestal. Eu não me sentia nada do que ela falava. Eu não me sentia como alguém que pudesse provocar tanta saudade e, ademais, por mais falta que ela me fizesse, eu não estava derramando nenhuma lágrima por ela, pois isso em nada mudaria a realidade da nossa distância.



O sonho traduz que sou uma pessoa fria, distante, com minhas reservas e, ademais, posso ser carente, mas não gosto de gente carente em volta de mim.

Madrinha é mãe substituta. Parece que apesar de sua carência,  não é a carência de mãe o foco do dilema. Isto pode reforçar a compreensão de que a existência do triangulo familiar, Filha X Mãe X Irmã, não envolve a questão da carência do seu afeto, e nem faz de sua mãe uma “Mãe Abandônica”. Já que o problema não é a carência o nó pode estar na competição que voce projeta e nos conteúdos ligados a essa disputa com sua irmã: inveja, egoísmo, caprichos, birra, vaidade, possessividade, ciúme, insegurança, fragilidade, infantilidade, etc.

Perceba a lucidez psíquica, mas não a pense como consciência. Essa lucidez é o senso do espírito do universo que nos chama permanentemente para a possibilidade de nos agregar ao seu eixo. Este espírito do universo que em nós pode ser traduzido como alma, necessita daquilo que desenvolvemos: A consciência, que quando agregada a esse espírito favorece a evolução e o sentido da existência. Sua psiquê amplia a indicação de sua questão primordial, aquele que pode estar definindo seu destino. E amplia essa compreensão quando nos clareia, num grau mais abrangente, a indicação do alvo onde está localizado o NÓ, independente dos outros que existam.

Naturalmente uma pessoa carente se alimenta de afeto e do carinho que lhe chega, se você escolhe uma fonte do afeto e despreza outras fontes, o problema “carência” se mostra pouco provável. Então essa suposta carência pode estar servindo para que você tenha sempre justificativas para sustentar determinados comportamentos, atitudes, caprichos, inseguranças, indisponibilidade, falta de afeto, distanciamento. Ou seja, serve para que você se esconda atrás desta máscara de carência. Serve para que você manipule as pessoas com esta suposta fragilidade.

É claro que se essa leitura estiver sintonia com a mensagem do seu inconsciente você pode parar de rodar ao redor do seu umbigo e encontrar um caminho, uma referência para sustentar suas mudanças. O caminho onírico é assim nos tateamos enquanto o Inc. vai nos indicando o rumo.

No momento seguinte você limpa seus óculos. Veja só: os óculos são protetores visuais e ampliadores de imagens. Você limpa os seus óculos de sol, não são óculos ampliadores, são protetores, e a cada limpada mais claros ficam seus óculos, o verniz é retirado, a defesa é retirada, a proteção excluída e o que acontece? Sua visão esta se ampliando, clareando.. Sem defesas você vai ao encontro da sua mãe substituta para receber e dar o abraço, que você nega. Ela realça a sua importância, valoriza a sua existência, e você que tem duas mães é que se dá ao direito de dispensar o amor e o carinho de uma delas.

A sequência do sonho é singular porque espelha a “carência” que você usa como instrumento e com a qual não se identifica, até mesmo se incomoda.

Bem, aqui pode aparecer uma incoerência: Geralmente tendemos a nos incomodar com o nosso espelho. É fatal: Se o outro te incomoda em alguma característica é muito provável que o outro seja aquilo que você é, e que te incomoda. O carente não suporta o carente, não suporta a carência de outro carente.

É possível que o surgimento da mãe postiça venha para suprir aquilo que sua mãe não lhe dá, mas sua obsessão só foca sua satisfação na sua mãe biológica. A vida muitas vezes nos ajuda a solucionar nossas carências por varias vias que não a original. É inteligência saber distinguir este apoio e aceitar a oferta para que possamos abandonar estes miasmas de um passado mal resolvido.

Sendo assim, não se pode descartar uma das possibilidades, elas podem estar corretas. Uma característica é autêntica e a outra pode ter sido uma produção incorporada como defesa. Quando construímos defesas a partir do idealizado, nós incorporamos aquilo em que acreditamos.

Vou citar um exemplo, sem segundas intenções, faço uso do exemplo para mostrar o raciocínio e não quero dizer que é o seu caso:

O mentiroso produz um grave problema. Cada vez que produz uma realidade imaginária para atender sua necessidade de manipulação dos eventos, aquilo que vai transformá-lo numa pessoa emocionalmente inconsistente é que com o passar do tempo ele vai incorporando suas mentiras, acreditando nelas, até que chega num ponto sem retorno quando perde as referências do real e do irreal, produzindo uma dinâmica de instabilidade e de insustentabilidade, a neurose.

Voltando ao tema: possivelmente você pode ter incorporado essa suposta carência como uma “verdade” que hoje não te larga. Uma referência de fragilidade, de falta, de ausência. E aquilo que era apenas um artifício, um instrumento se transformou numa encrenca, num conteúdo autônomo que hoje define sua forma de responder à realidade mas que não atende sua necessidades.

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