Voce o diz: “... fiz questão de provar a maçã. Embora estivesse cautelosa pensando que algo trágico pudesse ocorrer, ainda assim o fiz e com bom apetite.”
A primeira associação que faço é com a A Branca de Neve “Bela Adormecida”. Eu escolheria não me referenciar nesta associação, mesmo que a pensasse, mas sua observação registrada não me permite desconsiderar que o temor pode ocorrer por associação interna de medo de morder a maça envenenada. Medo, desejo ou consciência?
Não há, portanto, como não fazer as duas associações básicas:
1. A Eva que prova a fruta da árvore do conhecimento, se deliciando pelo prazer da descoberta;
2. A Branca de Neve que provando da fruta envenenada cai em sono até que possa realizar o destino de ser acordada como A Bela Adormecida pelo beijo de amor dado pelo príncipe, decorrente do encantamento que o subjugou e o fez beijar a bela jovem morta, acionando o sopro vital que a traz de retorno à vida.
O amor rompe barreiras, supera sacrifícios, dá vida aos mortos, realiza o milagre divino da existência.
Vemos portanto dois movimentos, duas dinâmicas:
1. Ao provar o gosto prazeroso do saber, você é inundada pela consciência, organização racional (número 4) e inundada de prazer, alegria, júbilo e encantamento
Provar o gosta da fruta da árvore do conhecimento, e o pecado original que todos carregamos, é a aquisição da consciência. Perde-se a pureza, a inocência, a ingenuidade. Passa-se a ter a consciência do pecado.
Sinal de crescimento, da chegado ao mundo adulto, ao mundo dos pecadores, ao mundo do prazer, do gozo, dos sabores, das paixões, dos desejos.
Mas Eva é também representação dos instintos e da sexualidade. E a base do desenvolvimento, a saída do paraíso paterno, que nesse caso pode ser relacionado com o paraíso materno, pois na escala do desenvolvimento ontológico, nós saímos do útero materno para o nascimento da consciência. Quando aceitamos simbolicamente o nascimento, ou nos fartar da consciência do prazer, nos libertamos do paraíso materno e assumimos as responsabilidades por nossas escolhas, abandonamos o paraíso uterino. Mas esse é apenas o primeiro grau da dinâmica da tomada de consciência, outros virão e se farão necessários no processo de aprimoramento.
No início essa consciência é indiferenciada, e fica, portanto, suscetível às forças que atuam na preparação do seu desenvolvimento. Assim o sujeito tem que se defrontar com uma consciência do “Real” e com outra que é do “Imaginário”. Avançar na consciência passa pela diferenciação dessas nuances de realidade, o que é um desafio fenomenal. O imaginário nos chama, atrai, encanta, mas aprisiona, mistura e promove o indistinto, não nos diferencia da massa amorfa.
2. Ainda que você haja como a branca de neve ingênua que prova a fruta envenenada, Há uma diferença. Você já não é tão tola ou ingênua quanto a Você tem consciência do perigo, sabe dos riscos e rompe com a fantasia infantil, mesmo sabendo do risco ou temendo repetir o conto infantil.
Aqui reside possivelmente a dinâmica que se contrapõe ao seu desenvolvimento pleno, ainda que você avance e rompa com o aprisionamento no imaginário. Você já não é mais a desavisada (o louco do Tarô) com um pé na realidade e outro no abismo, agora já tem a consciência do medo, sabe dos riscos, tem o saber, mas ainda é suscetível ao encantamento, se entrega. Você se encaminha em direção aos abismos dos prazeres.
Mas... Não há como evitar essa etapa. Esse é o seu próximo dragão: se entregar aos prazeres da carne. Se souber fazer uso da consciência, poderá viver o prazer com o mínimo risco, se relevar essa pequena consciência só o tempo poderá libertá-la depois das amarguras, das frustrações e do sofrimento.
O número quatro é o quadrado, os pontos cardeais, a cruz, o número das realizações tangíveis. Símbolo da terra, do espaço terrestre e da organização racional. Simboliza a plenitude e a universalidade, é totalizador.
Para Jung a quaternidade representa o fundamento arquetípico da psique humana, a totalidade dos processos psíquicos conscientes e inconscientes.
De forma geral para esotéricos e exotéricos, a quaternidade representa ao longo da filogênese humana o axioma fundamental na jornada da alma, na busca e no encontro do do sentido pleno da vida e da realização como existência Totalizada.
Acredito que o sonho tenha sido uma experiência excepcional de satisfação e prazer, a vida é assim, acima e abaixo. E estar sob a força de arquétipos pode ser uma experiência Numinosa. O sonho indica essa dinâmica de transformação e de crescimento. A evolução e o aprimoramento exigem a dinâmica da expansão, de avançar e conquistar transformações ou ficar parado na beira da estrada implorando carona prá Deus.
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