sábado, 7 de agosto de 2010

ORNAMENTO DIVINO

  imagem da BBCBrasil.com
CARLA 137


Essa noite sonhei com um homem que queria cortar meu cabelo. Corri dele e subi numa árvore. Nisso caiu um livro que eu segurava e meus documentos estavam dentro do mesmo. Gritei muito enquanto ele tentava puxar pelo meu pé e remexia nos meus documentos. Depois disso continuei a fuga até que pulei o muro e consegui entrar pelo teto num barraco (espécie de depósito). Interessante que todas as portas de madeira do mesmo estavam trancadas com cadeados do lado de dentro, mas imaginei que seria fácil arrombar uma daquelas portas quando eu pudesse fugir. Olhando por uma fresta da lona lateral percebi que naquele momento eu não ia poder sair dali, pois do outro lado havia uma mulher fazendo algo num enorme caldeirão. Ela olhou para onde eu me escondia como se houvesse escutado ou sentido algo diferente e murmurou 'que Deus proteja meu barraco'. Ali senti-me tranquila, pois ninguém jamais me encontraria.

Os cabelos, localizados na cabeça, simbolizam a força superior e pessoal, a manifestação energética, as linhas de força de sua vida. A força vital, a alegria, poder e determinação pessoal. Mas hoje, o cabelo cada vez mais supera o seu significado simbólico, como força mística, para se transformar num símbolo do narcisismo e da vaidade, como ornamento de um cérebro encantado consigo mesmo.

O ornamento se torna mais importante que o cérebro, na busca por uma imagem que satisfaça as expectativas do outro funcionando como instrumento para sobressair como sujeito. O ornamento se torna mais poderoso que o criador. A criação supera o seu criador. Ornamentar o corpo sempre foi um forma humana de ritualizar e simbolizar a sedução, mas hoje é a propria sedução.

Compensa-se a eliminação  dos pelos pubianos para exibir os orgãos sexuais com a valorização dos cabelos localizados no nível superior do corpo. Mas ainda somos os mesmos primitivos do passado com poucas e raras diferenças.
Seus fantasmas continuam a lhe assombrar. O sonho é de confronto, surge como ameaça para tirar-lhe a força pessoal, castrar sua vontade, seu poder, sua energia, seus movimentos. Naturalmente a castração de sua força implica na perda da identidade tanto como a perda da identidade, dos documentos simboliza a perda de suas referências pessoais, de individualidade, pessoalidade, como singularidade.

Mas veja:

A árvore é a matriz, a raiz, o lado feminino plantado no chão, a fecundidade que se fertiliza com a chuva, a árvore da vida, a referência de suas origens como mulher. Eva colhe o fruto e o oferece a adão, o fruto do pecado, a consciência do pecado. Neste caso a árvore significou a origem do fruto do confronto, a árvore do conhecimento, que ambos por simplismo experimentaram, não porque o conhecimento não era bom, mas por que experimentá-lo significou transgredir a determinação divina, antecipar o desígnio divino. O tempo da ação precisa ser administrado, a espera é exercício, o respeito à lei comum é fundamental.

Aqui neste BLOG você está simbolicamente num galhinho dessa arvore. Experimenta o sabor de se repensar, uma dose do sabor da árvore do saber. Toma consciência de seus pecados e de suas transgressões, e naturalmente constrói ou reconstrói novas referências de identidade. Novos conceitos são incorporados e novos frutos te alimentam e naturalmente, internamente, a psyquê reconfigura-se.

Frente às ameaças você se socorre subindo na árvore da vida, na árvore onde se dá adeus à velha Carla e abre espaço para a nova Carla. Você sobe a arvore com o livro, símbolo do conhecimento que contem sua identidade. Ele cai da mão como o fruto cai da árvore, na terra onde pisamos na realidade. Mas ele puxa teus pés, pés que pisam a realidade e remexe seus documentos, remexe em você.

E você continua a fugir, do homem, da ameaça do homem, com medo de que? De morrer? Da realidade? Da castração? Da autoridade a que não quer se submeter? Do apego, do Orgulho? Daquilo que se faz imprescindível? Pense!

Para budistas, e zen budistas, e outros mais, o corte do cabelo é o símbolo de renúncia da vaidade. Corta-se o cabelo como ato de humildade e renúncia. Se bem lembro, e se não me engano, há no candomblé um ritual de corte do cabelo para oferecimento do corpo desnudo no seu nível superior (a cabeça raspada) à divindade, como símbolo de humildade.

   imagem do filme "O segrêdo"

Foges, corres ou tenta evitar o inevitável? Enfrentar as mudanças que se fazem necessárias!

Você pula o muro e... Encontra refúgio, proteção, na “humildade” de um barraco. Ali você encontra a tranquilidade, naquela humildade.

Na casa do Senhor, ou da Mãe Divina, o mal não nos encontra, pois ficamos blindados com sua proteção. Ela olha e roga “que Deus proteja meu barraco”, minha vida.

Nessa jornada da vida, que muitas vezes se mostra penosa, quanto mais leve seguimos mais longe chegamos. Torna-se imprescindível abandonar os excessos, aquilo que pesa, a mala sem alça, os caprichos, a vaidade, os orgulhos, a arrogância, os medos, a petulância, a violência, a auto importância e tudo aquilo que se mostrar inútil. Seguir com humildade, mesmo que com os cabelos em desalinho, ou sem eles.

Por isso, por todos nós, o rogo:

Que Deus proteja nosso barraco.

QUE DEUS NOS PROTEJA DE NÓS MESMOS

 
    imagem do filme "O Segrêdo"
             
 

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