sábado, 21 de agosto de 2010

SONHOS LÚCIDOS



Carla150

Em terceiro eu caminhava por uma rua quando tomei consciência do fato de estar apenas sonhando. Eu podia sentir meu corpo na cama e, ao mesmo tempo, sentia estar naquela outra dimensão que se fazia tão viva como a real. Eu precisava de muita cautela, pois se eu tomasse muita consciência da realidade do corpo dormente, podia me desconcentrar da outra dimensão e, se mergulhasse muito naquele contexto onírico, podia esquecer que tudo não passava de um sonho. Essa consciência de estar ali em sonho, ou seja, dentro de uma vida fictícia, fez-me ter a sensação de que tanto o perigo quanto a condenação moral eram simbólicos. Sonhando havia menos liberdade do que se estivesse apenas pensando, porém havia em mim mais liberação para fazer escolhas e tomar atitudes. Tentei experimentar essa consciência e essa sensação de liberdade. Parei perto de um bêbado e olhando-o fixo tentei rezar por ele. Ali poderia ter a liberdade de dar consolo a um bebum se eu quisesse. Sentindo-se incomodado ele levantou da sarjeta e começou a ficar nervoso dizendo um monte de coisas que eu não entendia, exatamente por ele estar muito bêbado. Pedi-lhe desculpas, mas ele continuou seu falatório. Apareceu um outro homem dizendo ser irmão dele e pedi desculpas a este também. Percebi que eu tinha liberdade para agir, que me sentia livre para tal, mas o cenário não respondia a meu bel prazer apenas por eu ter consciência de que tudo era um sonho. Eu não podia escolher a reação dos outros como se estivesse meramente pensando. Mesmo que os outros fizessem parte de mim mesma numa espécie de projeção inconsciente, eu não os sentia como uma criação mental minha e não tinha meios de atuar através deles ou escolher com quem eu queria entrar em contato. Virei noutra rua e escolhi uma casa simplória que me chamou a atenção. Fui aproximando dela e quando apareceu uma mulher, disse que estava fazendo uma pesquisa e demonstrei meu interesse de conversar com ela. Perguntei quantas pessoas moravam naquela casa. Ela respondeu enquanto acompanhava uma visita até a rua. Era uma família negra e, embora ela tenha se mostrado receptiva, percebi que ela deveria estar ocupada para me atender. Eu não estava fazendo nenhuma pesquisa e nem sabia ao certo o que poderia perguntar. Em verdade eu estava apenas testando até que ponto eu poderia agir livremente, dominar os fatos, cenas e contexto. Tendo mais certeza de que eu não tinha controle de manipular o meio esterno, disse que outra hora retornava, pois não queria atrapalhá-la. Senti que não podia escolher com o quê sonhar e, ao mesmo tempo, não entendia por que estava naquele local tendo plena consciência de que estava vivendo numa dimensão irreal. Esse foi o porém: não tinha noção de qual utilidade buscar. Eu me sentia numa experimentação, dentro de um mundo além do real, mas não sabia qual o sentido, o que eu deveria exercer ali dentro. Ter consciência ampliou tanto as possibilidades que me senti perdida: o que exatamente eu devia fazer? Continuei sonhando, mas não lembro o resto.

De todos os sonhos aparentemente lúcidos que já tive (se é que isso é um sonho lúcido), esse foi o mais natural e tranquilo. Eu sentia como se estivesse com a consciência acordada embora meu corpo estivesse dormindo. Não houve nenhum pânico, nenhuma sensação de medo ou desespero para acordar como até então acontecia. É estranho e bom ter sonhos assim. Entretanto, a dúvida que tive dentro da outra dimensão acordou comigo na realidade também: ou seja, o que devemos fazer dentro deles? Não sei quando vou ter outro sonho desse tipo, mas espero estar mais preparada se por acaso acontecer outras vezes.

Qual a finalidade de sonhos lúcidos?

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