sábado, 23 de outubro de 2010

ESTRANHOS CAMINHOS ONÍRICOS




Depois disso tive um segundo sonho estranhíssimo. Eu estava dormindo na cama de casal da casa donde nasci e cresci na primeira infância. Entretanto eu não estava criança no sonho, mas sim na minha idade atual. Ao me despertar do sono senti que havia alguém deitado na cama comigo e que estava esperando eu acordar para me dar uma espécie de “bote”. Pensei que a casa houvesse ficado aberta e que algum estranho tivesse entrado. Pensando que fosse ser violentada, fingi estar dormindo enquanto tentava pensar calmamente o que fazer. A coberta estava sobre meu rosto de forma que eu não conseguia ver quem estava ali e, ademais, começava a me sentir sufocada.

Não encontrando opções simplesmente espreguicei dando a entender que estava despertando. A pessoa movimentou-se apressada ao meu redor e reagindo rápido segurei-a.

Para minha surpresa era minha mãe e não um homem tarado conforme imaginara. Entretanto, no sonho, eu considerei minha mãe como uma tarada e arrastei-a para a sala mandando minha irmã chamar a polícia. Minha mãe segurava algo perigoso nas mãos e, embora não lembre o que fosse, consegui retirar das mãos delas antes que ela se machucasse ou machucasse alguém. Eu segurava forte nos pulsos dela. Desesperada ela começou a chorar como se estivesse dentro de uma crise de loucura, como se fosse uma doente mental e não tivesse culpa. Senti pena e confusão, mas para o bem dela e de todos afirmei para minha irmã que podia chamar a polícia sim. Dentro do sonho eu parecia ter mais consciência do que estava acontecendo do que agora ao tentar descrevê-lo.

Só que no instante seguinte minha mãe se transformou num menino de mais ou menos um ano de idade. Segurei-o no colo e comentei que íamos cuidar dele e que já não seria preciso chamar a polícia, pois íamos educá-lo e, quando ele crescesse, esqueceria tudo aquilo. Entreguei-o a minha irmã e nisso ele começou a urinar. Daí ela largou-o e ele foi urinando à caminho do banheiro.

Quando acordei não lembrava do sonho, apenas tinha a sensação de que houvera tido um mega pesadelo. Só depois de algum tempo é que o sonho do nada me veio em mente. Realmente não consiguiria entender sozinha o significado de um sonho desse.

Seria interessante avaliar suas fantasias sobre ser vítima de violência sexual, já que disse nunca ter sido alvo de tal fato. Numa visão clássica esse medo poderia esconder um desejo de ser violentada. Mas como não tenho informações sobre sua vida sexual, a não ser que é um tema delicado, que envolve repressão moral e dificuldades de relacionamento. Fico como que limitado nesta leitura.

Naturalmente em caso de existência desse suposto desejo, podemos ir um pouco além e compreender como uma forma da psique contrapor a força da repressão com o oposto que rompe os padrões morais aceitáveis.

Neste caso o “Desejo” não seria o fruto de uma intenção pessoal mas o resultado de uma pulsão que incrementa uma polarização capaz de promover mudanças no seu comportamento, promovendo transformações que não exija que a energia seja deslocada para desvios morais que possam romper e superar a muralha da sua repressão, do seu controle.

Mas... Avancemos! Há mudanças na dinâmica de sonhos semelhantes acontecidos anteriormente. Você já não se perde nas fantasias dos medos, na “nóia” das ameaças, e consegue encenar uma resposta frente ao perigo e às ameaças. A resposta é mais adulta e mais adequada para a sua realidade. Tem a altura de sua condição. O que sinaliza fortalecimeto da segurança e da auto estima. Ainda que os medos persistam.

A indicação de você adulta dormindo na cama de criança pode ser a criança que ainda sobrevive em você. Não o aspecto lúdico da criança, mas a criança insegura e cheia de medos. Você continua carregando aquela criança na sua vida adulta.

Num segundo momento você descobre que seu oponente é sua mãe e que a batalha é com ela. Simbolicamente você distingue a ameaça e não a imagem ou a representação da mãe. Essa batalha diferencia a relação de simbiose, sua diferenciação de mãe. A mãe quando presença forte deixa de ser proteção e passa a representar ameaça à privacidade, à integridade. É quando o momento indica a necessidade de separação.

Novamente sua referência de limites define sua postura e suas atitudes no sonho. Independente da representação e do símbolo você não abre mão de controle da ameaça nem se deixa levar por sentimentos de culpa. A figura de autoridade sobressai.

Essa mãe vive dentro de você e só você pode transformá-la, discipliná-la, curá-la, amadurecê-la. Para que tenha a possibilidade de integrá-la ao seu universo psíquico. Integrando o melhor dela e se desfazendo do pior de sua origem.

A mãe regride à condição de criança. É como dissolver sua significação ou se defrontar com um lado pouco amadurecido dessa representação materna. Associo que essa relação se dá a partir da construção na sua infância. Você pode ainda viver na expectativa de ter uma mãe, ou uma irmã protetora, ou relacionar-se com essa mãe/irmã, que na sua expectativa proteja e sustente sua imaturidade (falta-lhe até o controle dos esfíncteres).

Poderia até pensar que sua grande dificuldade com sua irmã advenha da expectativa que tenha tido dela se comportar como sua mãe, e como ela não atendeu essa expectativa você acabou desenvolvendo e projetando uma relação transferêncial negativa com ela.

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