segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

SÍMBOLO



Coroa Real Inglesa



SEGUNDA LEVE E LIVRE

Às segundas feiras venho postando conteúdos que possam enriquecer conceitualmente os que buscam informações. Hoje, um pouco da visão de Jung sobre os símbolos, estes que são os grandes mediadores entre a  matéria e a sua natureza específica de reproduzir o registro de si mesma, essa característica da matéria de condificar, integrar, registrar, configurar e evocar conteúdos que constituem o seu poder de gerar a consciencia de si e do universo, essa singularidade que faz do universo algo tão especial e sofisticado e auxiliam sua compreensão de si mesmo.

O conteúdo abaixo pode ser encontrado no Dicionário Crítico de Analise Junguiana de A. Samuels, B. Shorter, e F. Plaut da editora Imago Edição de 1988.


“O rompimento, no que tange ao componente teórico, de Jung com Freud, foi, em parte, sobre questões do que se deve compreender por "símbolo"; o conceito, sua intenção ou propósito e conteúdo. Jung explica a diferença conceituai da seguinte forma: Aqueles conteúdos conscientes que nos dão uma chave para o substrato inconsciente são chamados por Freud incorretamente de símbolos. Entretanto, não são símbolos verdadeiros, uma vez que, de acordo com sua teoria, têm eles meramente o papel de sinais ou sintomas dos processos subliminares. O verdadeiro símbolo difere essencialmente disso e deveria ser compreendido como uma ideia intuitiva que ainda não pode ser formulada de outra forma, ou de uma melhor forma (CW 15, parág. 105). Antes havia escrito como uma definição de símbolo: "Um símbolo sempre pressupõe que a expressão escolhida seja a melhor descrição ou formulação possível de um fato relativamente desconhecido, que, não obstante, se sabe existir ou se postula como existente"(CW 6, parág. 814).

 Em outro ponto, porém sem referência específica a Freud, expressa consideração pela sutileza e desafio implícito do símbolo, que, para ele, é muito mais que uma expressão da sexualidade reprimida ou de qualquer outro conteúdo definitivo. Falando de obras-de-arte, que são sem dúvida simbólicas, diz ele: Sua linguagem prenhe de sentido grita para nós que elas significam mais do que dizem. Podemos indicar o símbolo de imediato, muito embora não sejamos capazes de desvendar seu significado, para nossa plena satisfação. Um símbolo permanece um desafio perpétuo para nossos pensamentos e sentimentos. Isso provavelmente explica a razão por que um trabalho simbólico é tão estimulante, por que nos domina tão intensamente, mas também por que raramente nos propicia um prazer puramente estético (CW 15, parág. 119).”

de Jung com Freud; na PSICOLOGIA ANALÍTICA o debate continua. A disciplina como um todo demonstra um espectro de grande abrangência teórica e prática com respeito a conceitualização, propósito e conteúdo simbólicos. Entretanto, mesmo quando alguém é mais literal na interpretação de uma imagem preponderante ou propenso a ver o simbolismo como manifestamente sexual, é possível descobrir uma amplitude e uma diversidade de implicações compatíveis ainda com a definição de jung, desde que o símbolo não seja confundido com seu conteúdo e, por causa disso, considerado como tendo uma função intelectual expositiva e alegórica, ao invés de ser visto desempenhando um papel psicológico mediador e propiciador de transição. No que concerne à intenção última do símbolo, Jung o via como tendo objetivos que, embora funcionando de uma maneira definida, são difíceis de verbalizar. Os símbolos expressam-se por analogias. O processo simbólico é uma experiência de imagens e por imagens.

Seu desenvolvimento é compatível com a lei da ENANTIODROMIA (isto é, de acordo com o princípio de que uma dada posição eventualmente se desloca na direção de seu oposto; ver OPOSTOS) e dá prova da existência de uma COMPENSAÇÃO em ação (isto é, de que a atitude da CONSCIÊNCIA está sendo equilibrada por um movimento originado no INCONSCIENTE). "Da atividade do inconsciente emerge agora um novo conteúdo, constelado por tese e antítese em igual medida e mantendo-se em relação compensatória com ambos. Portanto, forma o espaço intermédio em que os opostos podem ser unidos" (CW 6, parág. 825). O processo simbólico inicia-se com a pessoa sentindo-se paralisada, "suspensa", poderosamente

obstruída na busca de seus objetivos e termina por uma elucidação, "introvisão" e de capacidade de avançar em um curso modificado. Aquilo que une os opostos participa dos dois lados e pode facilmente ser julgado se de um lado ou de outro. Porém, se assumimos uma ou outra posição, simplesmente reafirmamos a oposição. O próprio símbolo aqui presta auxílio, pois, embora não seja lógico, contém a situação psicológica. Sua natureza é paradoxal e representa o terceiro fator ou posição que não existe na lógica, mas fornece uma perspectiva a partir da qual se pode fazer uma síntese dos ele mentos opostos. Quando confrontado com essa perspectiva, o EGO fica liberado para exercer uma REFLEXÃO e uma escolha. Portanto, o símbolo nem é um ponto de vista alternativo nem uma compensação per se. Ele atrai nossa atenção para uma outra posição que, se apropriadamente compreendida, amplia a personalidade existente, além de solucionar o conflito (ver FUNÇÃO TRANSCENDENTE). Resulta que, embora sem dúvida existam símbolos da totalidade, são de uma ordem diferente. É possível que todos os símbolos se tornem símbolos da totalidade, de certo modo (ver SELF). Os símbolos são expressões pictóricas cativantes (ver NUMINOSO; VISÕES). São retratos indistintos, metafóricos e enigmáticos da realidade psíquica. O conteúdo, isto é, o significado dos símbolos, está longe de ser óbvio; em vez disso, é expresso em termos únicos e individuais, e ao mesmo tempo participam de imagens universais. Quando trabalhados (isto é, recebendo reflexão e articulação), podem ser reconhecidos como aspectos daquelas IMAGENS que controlam, ordenam e dão SIGNIFICADO a nossas vidas. Portanto, sua fonte pode ser buscada nos próprios arquétipos que, por meio dos símbolos, encontram uma expressão mais plena (ver ARQUÉTIPO). O símbolo é uma invenção inconsciente em resposta a uma problemática consciente. Daí, os psicólogos analíticos muitas vezes falarem de "símbolos unificadores" ou símbolos que reúnem elementos psíquicos díspares, "símbolos vivos" ou que estão entrelaçados com a situação consciente do indivíduo, e "símbolos de totalidade" que são pertinentes e imanentes à realização do self (ver MANDALA). Os símbolos não são alegóricos, pois então seriam mais ou menos algo já familiar, porém são expressivos de alguma coisa intensamente viva, poder-se-ia dizer "excitante", na ALMA. Embora normalmente se suponha que os conteúdos simbólicos que aparecem em uma análise individual sejam semelhantes àqueles de outras análises, não é esse o caso. Padrões psíquicos regulares e recorrentes podem ser representados por múltiplas e diversas imagens e símbolos. À parte esta aplicação clínica, os símbolos podem ser amplamente interpretados a partir de um contexto psicológico histórico, cultural ou generalizado.


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