quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

MORTE E VIDA




Morte e Vida - Gustav Klimt
- Sammlung Rudolf Leonard

Sonhei que tanto eu quanto minha mãe havíamos tido um pressentimento sobre a morte da minha tia mais velha. Abracei minha mãe e disse que estava com medo. Minha própria tia havia predito sua morte e senti mais medo de possuir a informação da morte com antecedência do que da hipótese de morte em si. Ela sofreria uma morte trágica e acordei bastante assustada no meio da noite.

Pessoas próximas, familiares ou não, envolvem representações fundamentais na vida de um individuo e, portanto, possuem representações associadas à sua pessoalidade. Como não enviou dados, proximidade, histórico de relação, de acontecimentos, envolvimento afetivo, etc. sobre sua tia, considerarei apenas o tema central sem a especificidade ou associações.

O tema envolve questões básicas e fundamentais, a morte, perdas, tragédia e separação, aceitação ou a dificuldade, o poder  do premonitório, custos e responsabilidades, medos e angústias.

Se o sonho é premonitório, não tenho como falar, mas você o saberá. A questão que me chama mais atenção não é a premonição em si, mas as consequências do conhecimento e da consciência do futuro.

De certa forma estamos blindados no presente, tendo acesso ao passado, com o qual podemos aprender para não ressuscitá-lo no inferno do Sansara. Temos acesso restrito ao futuro, o bastante que nos permita a cautela e a prevenção de erros e dissabores, coisa que a transcendência humana nos permite. E nunca se pensa que a premonição antes de ser uma dádiva pode ser uma tempestade antecipada de dores e sofrimentos. A carga de quem “Vê” o futuro pode ser uma pesada mão do destino colocando, nas costas do indivíduo, a carga da tragédia e do drama humano. Muitos podem enxergar uma aura de magia e poder na premonição desconsiderando as implicações e responsabilidades que isto possa implicar.

Chama-me a atenção a ocorrência dos medos.

Numa análise tradicional a morte da tia poderia ser traduzida como o desejo de sua morte, ou por deslocamento, o desejo de morte da mãe. Pessoalmente não me sinto atraído por essa vertente de compreensão e análise.

Penso mais na morte de representação familiar, um lado que representa a família que chega ao limite da existência, que caminha para a dissolução em decorrência das transformações operadas por você. Neste aspecto prefiro pensar nas mais significativas identidades, ou parecenças, com sua tia, que você repete na sua vida e que agora podem ficar reservadas ao passado.

É importante que também entenda a necessidade de trabalhar o desligamento de sua mãe, porque sendo a morte definitiva, hora chegará de sua despedida nesta dimensão.

Há também a necessidade de trabalhar e de aprimorar o sentido natural de trânsito entre essas dimensões transpessoais no tempo, principalmente no preparo para lidar com o conhecimento antecipado dos fatos nesta vida.

Não é tarefa fácil. “Antever” e “prever” são apenas variações da sensibilidade aprimorada do “VER”, estado em que o Presente é referência e onde Passado e Futuro se encontram. Quanto mais estiver preparada menos sofrimento viverá e o seu destino mais tranquilamente se realizará.

Já lhe disse: frente ao nosso destino só nos resta realizá-lo, cumpri-lo, e sofrimento, medos, angústias, desesperos existem quando não há compreensão nem aceitação da impermanência da vida.

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