domingo, 5 de dezembro de 2010

INTIMISMO E REJEIÇÃO

Nunca Mais - Paul Gauguin -
Courtauld Institute Galleries, Londres

Numa outra parte de sonho eu estava com um outro sujeito (ou seria o mesmo?) e o beijava quando ele colocou a mão por dentro da minha roupa e pedi-lhe que não fizesse aquilo, mas ele simplesmente já o fizera. Acabei fazendo o mesmo com ele e pedi-lhe para fazer amor comigo, mas ele se recusou. Não entendi o motivo de sua resposta negativa, mas respeitei. Embora meu desejo não fosse ser satisfeito, não me entristeci nem me enraiveci com sua resposta, pois era direito dele de recusar e aquilo não soou em mim como um esquivo permanente, mas apenas temporário.

O sonho reafirma e clareia o tema do sonho anterior e a confronta com o dilema: a repressão ou a intimidade; A escolha entre se entregar aos prazeres ou frear a realização do desejo.

Agora já existe uma escolha, ainda tímida, recuada, medrosa, cheia de dúvidas e de desejos reprimidos.

Você ainda busca a aceitação do outro: “Faça amor comigo?” Quem pede dá ao outro o direito da negação. Há uma tentativa de ordenar racionalmente os acontecimentos dentro de uma realidade confortável e de pré-requisitos que lhe aumentem a segurança diante de suas escolhas, diante dos outros.

Existem fatos, acontecimentos, que nascem de origens que seguem fluxos próprios que independem de nós, que não esperam esta aceitação, que não exigem aprovação. E que só precisamos aceitar... Viver.

Não compreenda que essa característica possa lhe dar a permissão para ser invasiva, já que o outro pode anunciar a sua recusa de participação. Mas para você a aprovação do outro, dá a ele um domínio excessivo sobre o evento e lhe empurra para uma condição de submissão que o evento não lhe exige. Pare de correr atrás da aprovação do outro para que possa realizar a sua satisfação.

Quero dizer: cuide de você, dos seus desejos, da satisfação de seus anseios. Não espere o outro aprovar a sua solicitação, sua escolha, ou a sua intenção de busca de prazer. Não há porque investir o outro de uma autoridade que não precisa, nem deve, existir numa relação de interação. Vá lá e faça amor com ele.

Se o outro não quiser recue. Respeite os limites, é educado e civilizado. E nos protege... De nós mesmos.

Ao investir o outro de uma autoridade que aprova ou reprova, você quebra o fluxo natural dos acontecimentos, e o enquadra dentro de um padrão, de uma normatização na busca do conforto de um controle que castra a dinâmica natural do movimento.

Ao buscar esta aprovação, você talvez queira o conforto e a certeza de não ser rejeitada, mas quase implora pela rejeição. Porque essa rejeição reforça a sua negação de si mesma.

-Tá vendo! Eu sou uma pobre coitada! Nem para isso eu presto! Ninguém me quer! Ninguém me deseja!

Saia dessa neura. Você não a merece!

No sonho, o grande avanço é a sua diferenciação.

Bela conquista!

No passado você sairia arrasada, diminuída, inferiorizada, devastada. Hoje você já adquiriu prontidão para não levar a rejeição, ou a negação de sua expectativa, para o lado pessoal. Dramatizando o “não” e justificando-se na negação do outro para se rejeitar e consolidar uma realidade de inferiorizada.

Permanecem presentes conteúdos autônomos que lhe empurram para a inferioridade. Não embarque. É assim que dissolvemos esses conteúdos, enfraquecendo-os ao retirar-lhes a fonte de energia que sustentam sua ação psíquica.

Essa diferenciação também aparece na inexistência de respostas emocionais, respostas reativas induzidas pelo confronto.

A resultante é a resignificação conceitual do acontecimento e a sua significação restrita ao fato. O “não” é apenas um “não”, um limite imposto que precisa ser aceito e ponto final, e vamos pra frente que atrás vem gente.

O fato acontecido se esgota por que o presente, aquilo que se apresenta, é mais importante. Isto significa priorizar a sua saúde mental protegendo-a de ameaças e da desestabilização, sem chorôrô, sem lamuriação, sem autocomiseração e sem drama e sem vitimização.

É assim que aprendemos a ser guerreiros,
 Aceitando a tragédia do nosso destino
 Enquanto  refugiados na lucidez
 Tentamos transformá-lo.

BY...

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