sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

APARIÇÃO E LIBERTAÇÃO

   A Aparição - Gustave Moreau
 1874 - Paris, Musée Gustave Moreau
Depois eu estava apartando a briga de um tio, que já morreu, com um outro homem. Quando consegui aproximar do meu tio pedi a um ajudante que segurasse o outro homem. Nisso, muito serenamente, segurei nos dois lados de sua cabeça, encarei-o de modo a fazer com que ele também me olhasse nos olhos e, como se estivesse hipnotizando-o e, ao mesmo tempo, invocando uma força maior, perguntei se ele estava vendo Jesus. Quando ele disse que sim, senti-o desaparecer e constatando que ele fora socorrido disse: “ele já foi”. Também só recordo disso.

Faltam-me dados de representação desse tio. Não sei o que ele representa, representou, significa, significou para você. Qual a história dele em tua vida. Assim perco essência e significados do afloramento dessa imagem em seu sonho. Uma leitura envolve a vinculação entre acontecimentos reais que definem realidades psiquicas, e acontecimentos psiquicos que definem acontecimentos reais, intermediando estes dois universos, envolvendo-os e conectando-os estão os sentimentos, as emoções, as construções simbólicas, os códigos associados, os pensamentos.

De forma genérica é possível apreender do cenário uma pequena compreensão,  em dois tempos:

1. A presença de um conflito representado a partir de um lado familiar pela figura desse tio dá mostra de ser finalizado e de desaparecimento. A vinculação religiosa por ser decorrente da ausência de conteúdo religioso que é corrigido com a introjeção, assimilação, de conteúdos cristãos manifestados pela visão do salvador;

2. Considerando o mundo dos mortos, a vivência religiosa dos vivos acresce e em sua evolução aprimora o desenvolvimento da atitude cristã na família completando a formação de um familiar morto e lhe favorecendo a incorporação de conhecimento e dessa atitude cristã, libertando-o do aprisionamento na dimensão ateia e da origem de seus conflitos.

Considerando estas duas vertentes, repare que uma envolve a dimensão do inconsciente pessoal e outra o inconsciente familiar e coletivo.

No lado pessoal você se liberta de conflitos originários na sua formação e diante de acontecimentos ocorridos na sua história.

Na questão coletiva, sua ação, desenvolvimento e aprimoramento liberta o antepassado falecido de seu aprisionamento por falta de desenvolvimento espiritual e religioso.

Poderia também pensar, considerando a dinâmica psíquica, em conteúdos que refletem conflitos ou confronto constituído de manifestação possessiva ou estado de obsessor, de qualquer forma a atitude diante do confronto foi pró ativa e dissolvem os conteúdos constituídos pelas figuras masculinas polarizadoras. Mas estas são apenas considerações.

Neste caso, resta finalmente uma abordagem final: A sua relação com Jesus e com o cristianismo. Parece-me que você professa o espiritismo e a abordagem espírita está assentada no pensamento cristão, portanto a sua referência é cristã. A sua ação religiosa é idealizada ou existe um exercício prático desta cristandade em sua vida? Há algum aspecto com o qual encontra dificuldades de realizar a sua prática religiosa? Reflita.

Um aspecto muito interessante é a Fixação de Foco que realiza na representação do masculino, voce fixa a atenção do conteúdo e ele dissolve-se. Essa fixação de foco em geral dissolve obsseções e compulsões, paraliza a descompensação, e coloca o sujeito no seu eixo, ou dissolve a dispersão. De qualquer forma ocorre o direcionamento da atenção e a definição de centralização do intento do conteúdo produzindo a vinculação com o esquecido, com o dissociado e realizando a ligação, plugando o conteúdo no eixo central dos acontecimentos.

Vou lhe contar, fico perplexo e encantado com o fenômeno. Quanto a você, espero que tenha entendido. Por isso fiz a associação com  a imagem que postei para representar o acontecimento.

Na obra de arte retratada a mulher aponta para a aparição. Qual a diferença entre o sujeito em conflito com a dama semi nua? Em principio ambos enfentam o mesmo desafio, estão envolvidos em condições das quais precisam se libertar, armadilhas, aprisionamento, subjugo, etc. E mesmo que a imagem do cristo seja apenas a projeção do estado de sacrificio em que se encontram, é tambem a indicação do caminho da libertação.

É o que consigo ver neste fragmento e sem dados que me permitam associações mais abrangentes.

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