quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O MITO DE SÍSIFO

Sísifo na tarefa de se repetir

Astúcia e sabedoria foram duas das qualidades com que se adornou o lendário herói Sísifo. O seu nome provém do étimo grego «sofos» que significa «sábio». Para tudo encontrava solução e remédio, graças às suas habilidades e manhas. A ele era atribuída a fundação da cidade de Corinto; e como ela encontrava-se situada num istmo, estreito, Sísifo tapou-o para assim controlar todos os que necessitassem de passar por aquele território e cobrar-lhes uma espécie de direito de passagem. Em outra ocasião, contam os narradores de mitos, que as nascentes de Corinto secaram por falta de chuva; então Sísifo dirigiu-se ao deus-rio Asopo para que esse fornecesse água a Corinto. Como esse estivesse constrito por causa do recente rapto de sua bela filha Egina, mal se apercebeu da petição de Sísifo. Porém, o astuto rei de Corinto revelou ao angustiado pai o nome de quem havia roubado a sua filha: tratava-se nada menos do que o poderoso Zeus. Asopo, agradecido pela informação que Sísifo lhe prestava, fez brotar uma nascente de água cristalina no lugar que, desde então ficou conhecido por «fonte de Pirene». Logo em seguida, Asopo dirigiu-se ao bosque assinalado pelo seu informante e encontrou abraçados sua filha Egina e Zeus. O rei do Olimpo transformou-se numa rocha para fugir à ira do pai e quando lhe foi possível, recuperou o seu poder e os seus raios e lançou-os contra o deus-rio Asopo. Desde então, o seu caudal ficou minúsculo e as suas águas arrastam restos de carvão queimado, quais incômodos testemunhas de batalhas depositadas no seu leito.

VARIAÇÕES DE RELATOS
Sísifo tinha por vizinho Autólio, um personagem muito esperto e que dava mais valor ao furto e ao engenho do que a quaisquer outras qualidades. Certa ocasião, roubou vários animais da estrebaria do rei de Corinto e assim demonstrou qual dos dois era o mais astuto. Passou um tempo e Autólio quis repetir a proeza e levar de novo parte do rebanho de Sísifo. Desta vez, porém, o astuto Sísifo tinha marcado todas as patas dos seus animais com a legenda: «fui roubado por Autólio." Deste modo, demonstrou ao seu vizinho que as reses que lhe reclamava eram suas. Autólio, admirado com a artimanha aplicada por Sísifo não hesitou em oferecer-lhe um presente especial, sua filha que, naquele momento, estava comprometida com Laertes.

Porém Autólio trabalhava assim no seu próprio interesse, pois se propunha ter um neto perspicaz e vivo como Sísifo. Existem outras versões dos fatos narrados segundo os quais, um dia antes de Laertes tomar a futura esposa, ela foi seduzida por Sísifo. Com a cumplicidade do pai da virgem, ou seja, Autólio. A lenda conta que o fruto da irregular união foi o herói Odisseu. A tradição clássica fala-nos também das más relações entre Sísifo e seu irmão Salmoneo. Odiavam-se tanto que Sísifo foi consultar o oráculo para que lhe mostrasse a maneira mais eficaz de inflingir-lhe um cruel castigo ou até de matá-lo. A pitonisa do oráculo informou-o que deveria deitar-se com a esposa do irmão, depois de seduzi-la.

A PUNIÇÃO
Os eventos até aqui expostos são provas da culpabilidade de Sísifo. Por isso, enquanto este gozava dos encantos da sua cunhada, era condenado a um duro trabalho: deveria carregar para sempre uma enorme rocha e empurrá-la até ao cume de uma montanha situada no Tártaro. Ao chegar ao cume, a rocha resvalaria montanha abaixo e Sísifo teria que descer para tornar a empurrá-la até o cume. O resultado seria sempre o mesmo, pois quantas vezes Sísifo subisse com a rocha, tantas seriam as que desceria a montanha em busca da mesma rocha; Sísifo estava assim condenado a um trabalho inútil. A tradição explica que este doloroso processo foi interrompido por ocasião de visita de Orfeu ao mundo subterrâneo, chegando ao Tártaro em busca da sua querida Eurídice por quem estava completamente apaixonado, e entoou um canto melodioso. Outras versões explicam que esse castigo foi idealizado por Zeus. O poderoso rei do Olimpo, quando se inteirou de que Sísifo o tinha denunciado ao deus-rio Asopo como raptor da sua filha — a bela ninfa Egina— condenou Sísifo a carregar a grande pedra até o cimo da montanha. Em todo o caso, diz-se que Zeus havia enviado Sísifo perante Tânato — filho da Noite e mensageiro ou até mesmo personificação da Morte— para dar contas dos seus atos. Contudo, o ousado fundador da rica cidade de Corinto acorrentou a Morte e Zeus teve que acudi-la e libertá-la. Durante o tempo em que Tânato permaneceu acorrentado por Sísifo, a Morte não sobreveio a nenhuma criatura e semelhante façanha nunca fora igualada por ninguém. Por uma vez pelo menos, pode dizer-se que o engenho e o atrevimento de Sísifo promoveram um bem para a humanidade, porque, amarrada a Morte, prolonga-se a Vida.

 

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