sábado, 11 de dezembro de 2010

MÃE DRÁSTICA, MÁ DRÁSTICA

 A Bruxa - 1640 -
 Salvator Rosa - Milão -
Pinacoteca Privada

Depois eu estava na casa da minha prima, pois não estava mais tendo condições de morar em casa (não sei por qual motivo, pois não recordo muito bem dessa parte). Nisso minha prima e eu fomos para a casa donde minha mãe estava e, muito nervosa não lembro por que, mamãe maltratou até mesmo a própria sobrinha.

A casa é símbolo do corpo, nossa casa, nosso templo, o repouso, a intimidade, a privacidade, o lugar do recolhimento, o espaço da pessoalidade, extensão da individualidade.

Uma hora a pessoa cresce, abandona o casulo materno e parte para a construção do seu casulo. O movimento é natural e manifestação da expansão, do crescimento, é projeção da separação, origem da necessidade de diferenciação, que faz de cada um uma dimensão da singularidade da matéria.

É o fim do longo processo de simbiose iniciado na casa do corpo materno, no útero. A consolidação da separação da mãe, do pai, da casa grande, da família. É o início da projeção de formação da individualidade diferenciada e conquistada. É o princípio da conquista da libertação.

Muitos poderão perguntar: fim da simbiose? Sim, fim da simbiose iniciada no interior do corpo materno, consubstanciada na fase oral, na indiferenciação corporal, sustentada ao longo do desenvolvimento infantil, da adolescência e finalizado a partir do inicio da vida adulta para uns, e ao longo da vida adulta para outros. Neste longo processo muitos são os que não conseguem se libertar do poder presencial e permanente da MÃE.

Já lhe disse anteriormente: Precisamos matar a mãe, o pai, eliminar as amarras que nos condenam a viver a eterna repetição dos dependentes. Matar simbolicamente sem cometer suicídio. Matar para que morra o infantilóide em nós, para permitir a morte do filho, da criança carente, amedrontada, sem recursos, sem poder de defesa para que se possa postar-se diante da realidade com individuo maturado.

A mãe madrasta já desvia o olha punitivo para o outro. Você não é mais o foco de sua repressão, condenação. Mas a mãe ainda é madrasta, “maltrasta” a prima. O seu olhar ainda a teme, mas essa mãe em você é fonte de sua reatividade, do seu “nervosismo”, da pulsão agressiva e destrutiva. Essa agressividade você projeta na mãe ou a ela projeta em você?

Há o confronto e há o recuo, a regressão, a volta à condição de filha submetida ao poder materno, mas há a aquisição da consciência da necessidade de se libertar, mesmo que, ainda, a filha pulse como se quisesse não crescer, se mantendo a filha criança. E essa necessidade de se libertar repousa no conceito de que o outro com sua grosseria lhe empurra para a sua decisão.

Importante é a consciência de que não se precisa de justificativas para crescer ou para se libertar da mãe. A dificuldade de avançar nesta direção pode indicar culpabilidade no ato de crescer, como se ao sustentar este cenário, esta realidade, se fizesse possível a manutenção do conforto do outro, do conforto da mãe.

Se isto existe, rompa com esse dilema.

Para as mães filhos são sempre “meu bebê”, nunca deixam de serem filhos, nunca crescem, porque é assim que mantêm o conforto de continuar lhes dedicando tempo e preocupação, sem terem que se defrontar com outras realidades em suas vidas.

Daí, filhos tendem a ser o único sentido de vida de mulheres. Como se elas tivessem nascido apenas para procriar, realizando a perpetuação da espécie. E claro, essa é uma forma de negar a maternidade pró criativa cujo sentido da vida é apenas dar vida ao outro, negando a própria vida. E este sentido lhes é confortável, protege-as do insólito da existência, de ter que encarar o não sentido da existência. Diferentemente da cruel realidade em que os homens mergulham no “Sem Sentido” da realidade.

Portanto, reavalie essa culpa ou a justificativa para recuar e não avançar no seu processo maturação. Isto não significa que abandonará a mãe. E desnecessário pensar a mãe como Madrasta para ter a justificativa de seguir o caminho da independência e poder encontrar o sentido de sua vida.

ADENDO:

Ademais, não há porque temer e se assegurar no amanhã de que um filho não a faça se sentir abandonada. Se os tiver crie-os para a liberdade com afetividade, paradoxalmente eles se mostrarão presentes, mais felizes e libertos de manipulações. Assim não precisa temer estar abandonando a mãe com medo de ser abandonada no amanhã por suas crias.


Nenhum comentário:

Postar um comentário