segunda-feira, 29 de novembro de 2010

NAVEGAR NO MAR DA VIDA


   
Lembro apenas de dois dos sonhos que tive essa noite. No primeiro eu segurava algo nas mãos, acho que era uma foto ou algo parecido, e nisso me transportei mentalmente para o ambiente da mesma. Sei que existe um nome para esse tipo de fenômeno, mas não recordo agora. Acho que eu estava ajudando a investigar sobre alguém ou recorrente a algum fato acontecido. Fui parar dentro de um quarto de um navio. O quarto era muito pequeno, a cama mais parecia um berço e a janelinha era minúscula. Pensei comigo como a pessoa teria conseguido ficar ali dentro. Não sabia ao certo se ela estivera ali fazendo uma viagem conforme era de se imaginar, pois aquele navio não oferecia nenhum conforto com cabines tão apertadas. Arredei a cortina que tampava a janela e então vi que o navio se afastava do cais. Nesse momento pude trazer para mim ou ligar-me as sensações e sentimentos que a suposta pessoa ali sentira. Eu me sentia eufórica como se fosse fazer a primeira viagem dos sonhos. Lá fora um homem acenava para o navio e parecia dizer varias coisas. Tive a sensação de que ele estava acenando tanto para o comandante do navio quanto para mim, mas estaria ele me vendo ali naquela pequeníssima janela? Fiquei confusa e tentei identificar o que ele falava, mas não consegui. Por fim deduzi que ele deveria estar apenas se despedindo, pois mandou-me beijos. Eu sabia, não sei como, que era comigo aqueles gestos, ou melhor, com a pessoa que ali estivera outrora. Assim devolvi-lhe o beijo como se estivesse repetindo exatamente o que a pessoa investigada fizera. Conforme o navio foi se afastando do cais e as águas foram se movimentando atrás daquela janelinha, o local foi se transformando e logo em seguida o navio ganhou rodas e a água se tornou em ruas sólidas. Foi muito estranho e não recordo o que sucedeu depois.

REPRESENTAÇÃO, CONTEÚDOS E SIMBOLOGIA.

O sonho me dá uma oportunidade singular de esclarecer conceitos como representação, conteúdo e símbolo, de forma simples, objetiva, veja porque:

Foto é registro de imagem do passado. Mas não apenas da imagem, porque ela não se esgota na representação de um tempo, de um espaço ou de um cenário registrado.

Quando vista pela primeira vez uma imagem permite a sua caracterização e o registro associado aos conteúdos que desperta. Essa caracterização poderá, dependendo do tipo de resposta do individuo se fazer fechada ou aberta. Quando fechada o registro se torna inviolável e não atualizado. Quando aberto, o sujeito se permite a possibilidade de ampliar os seus significados ou até preservar o primeiro registro e criar imagens associadas, advindas da imagem original, registradas com outros sentidos, significados, decorrentes de novas emoções, sentimentos e sensações.

Como escrevi acima, a imagem do sonho não é apenas uma imagem, uma representação, uma cópia de um cenário, imaginário ou real. Essa imagem é simbólica, pois contem conteúdos, indica conteúdos, sejam eles, emoções, sentimentos, sensações, registro de memória arquetípica, impressões, interação.

O SONHO

Independe a denominação do fenômeno que a transporta para dentro da imagem, já que denominação varia com a abordagem, mas a imagem te captura e esse é um evento significativo.

O que pode indicar suscetibilidade imaginária, tendência de se deixar-se prender a fantasias já num nível diferenciado da suscetibilidade do “encantamento” frente a um objeto.

Quando ocorria o encantamento por um acontecimento, paisagem, objeto, ou pessoa, a relação direta a envolvia de forma indiferenciada, sua resposta ocorria em decorrência de uma fantasia pré-existente, de uma predisposição em decorrência de fantasia, produzindo um universo de sentimento e sensações que atendia às suas expectativas de uma realidade mais interessante ou excitante.

No sonho acima, diferentemente, a sua captura pela imagem ainda pode decorrer de padrões estéticos ou de anseios juvenis, mas independem de um encantamento, mesmo que possa indicar forte tendência ainda existência de se deixar levar por pensamentos, imagens, fantasias, ou seja, de se deixar levar pelo imaginário.

voce diz: “acho que era uma foto ou algo parecido, e nisso me transportei mentalmente para o ambiente da mesma.” Me transportei. Você conduz. A nisso uma condição sutil de aumento do poder pessoal de focar e intervir na realidade onírica. Essa é, aliás, uma das possibilidades que temos de alterar a realidade de um sonho transformando-os em sonhos lúcidos, com consciência pessoal capaz de realizar alterações em sua dinâmica e resultante do aumento do poder pessoal de consciência.

Na dimensão simbólica, você se transporta para a sua Nau. Você está sobre as águas, navegando no oceano primordial, não nada, ou flutua, mas navega em um navio.

Seu espaço ainda é “apertado”, e o navio não lhe oferece muito conforto. Você ainda está contida, limitada, mas... Navega dentro do seu quartinho. Seria o quarto o seu navio que lhe permite navegar pelo mundo?

Bem... Já você avança, afastou os véus e cortinas que escondiam seu olhar, já consegue ver ao seu redor, olhar e perceber o seu em torno. Até consegue se separar, afastar, se distanciar da margem de segurança do seu universo afetivo.

A libertação provoca uma excitação, a sensação de euforia. É a conquista pessoal da viagem pessoal, o amadurecimento.

A escotilha pequeníssima pode indicar, ainda, a pequena consciência conquistada, o reduzido grau de percepção ou a atitude diante do mundo, no sentido do retraimento, do recuo, do distanciamento.

O sonho reforça visão dada anteriormente sobre o momento de mudança de margem. E viagem é sinal de mudanças. Neste sonho o tema central é a saída, a partida o movimento de separação, o distanciamento da margem. Você navega para outra margem ou lugar, para a viagem de seus sonhos. Você viaja a viagem de sua vida, no seu movimento, na sua dinâmica, no seu processo de amadurecimento, de libertação e de encontro ao seu destino.


Para navegar nas ondas da vida basta nascer.
Para navegar em sintonia com nossos anseios
Precisamos crescer,
 Aprender a renunciar quando necessário
 e nos libertar de  "Portos Seguros"
 Para descobrir novos desafios, lugares, pessoas.


Enquanto vivos,

Somos como flexas lançadas,

Viajando, num espaço desconhecido e misterioso.

 Se não nos lançamos neste mar da vida

 Ficamos aprisionados na margem dos esquecidos.




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