terça-feira, 2 de novembro de 2010

CRIANÇA CARENTE, ORFANDADE ADULTA.


 
Sonhei que estava deitada nos braços de minha avó, a qual acariciava meus cabelos. Estávamos ambas nuas. Depois disso era um senhor desconhecido e por fim era minha mãe. Embora o sonho tenha sido agradável por haver uma afetuosidade e proximidade inexistente na vida real, também o achei um tanto estranho. Depois eu estava com uma mulher que me levou para conhecer o filho da vizinha. Fiquei um tanto irritada e pensei comigo que se ela soubesse que eu não gostava de criança, não teria me levado lá exatamente para conhecer uma. Geralmente sou apática e insensível perto de crianças, ou seja, não tenho interesse de brincar ou pegar no colo como a maioria das pessoas fazem. Entretanto, uma vez que havia ido lá apenas para isso, eu tentei disfarçar e agachei ao ver o menino vir andando na minha direção. Ele tinha idade apenas para engatinhar, mas surpreendentemente já andava. Conversei com ele e surgiu uma certa empatia. Ele era muito risonho e parecia conversar comigo através do riso. Peguei-o no colo e disse umas duas ou três vezes que ele era muito fofo. Deu vontade de ficar mais tempo com ele, mas como fora uma visitinha rápida apenas para conhecê-lo, não tive como demorar-me. Ao entregá-lo nos braços da mãe, notei que ele estava menor ainda. Fiquei olhando sua mãozinha que muito firme segurava o meu dedo.

A nudez pode anunciar sua condição original de ser, independente da visão clássica do nudismo exibicionista. Esse estado original de nudez, de como somos, ou nascemos. A verdadeira pele da loba. E as carícias indica essa sua necessidade do afeto, do aconchego, do colo, da proteção. Como se aprisionada na necessidade do aninhamento.

Sua avó viva, ou desconhecida? ´

A mudança da avó para a figura masculina pode ser indicio de conteúdos opostos contidos na representação incorporada por sua mãe (pai/mãe). Sua demanda é afetiva, você ainda é prisioneira dessa necessidade, que define o tamanho de sua carência. E possivelmente fixada nessa relação com a mãe. Você não a liberta nem se liberta do passado frustrante.

Poderia ser manifestação da velha sábia, mas não creio. Parece-me mais o inconsciente dizendo-lhe que como criança, repousa no colo da velha. Não a velha sábia, mas a velha que é oposta à criança vitalizada, pronta para descobrir o mundo.

Chama-me a atenção a sua dificuldade de se permitir lidar com as crianças sendo criança, ou um adulto tolerante. Quando não assume suas dificuldades você se disfarça para lidar com a situação, finge, age em cima de uma suposta idealização. Trabalhe mais sua naturalidade. As crianças são espontâneas e abrem espaço para a sua naturalidade, ser o que você é. A criança dentro de você mercê essa espontaneidade.

E você no meio entre a criança que rejeita, agindo como velha.

Talvez a mensagem inserida seja: Quando você se permite o contato pode descobrir um mundo novo e afetivo. E se permitir esse contato sem precisar fingir ou dissimular poderá encontrar nessa relação, neste toch, o afeto que supra sua carência.

A ambivalência, defesa pessoal, medo de se expor e demanda social, mostra a inadequação e dificuldades em sintonizar pensamentos, escolhas, atitudes, dentro do contexto social ou frente à sua necessidade de aceitação e de inclusão social.
Seria bom que pudesse experimentar mais, que se permitisse avançar nos seus limites de descobertas afetivas. Aumentando o seu repertório de respostas, ainda que possa sofrer o impacto de críticas e julgamentos. Quem sabe assim possa se aceitar e se respeitar um pouco mais.

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