quarta-feira, 17 de novembro de 2010

PÃO E ESPÍRITO

   Cesto de pão - Antes a Morte Que a Mácula
   Corbeille de pain - Plutôt la mort que la souillure
Salvador Dali 1945


Sonhei que eu estava no quintal de uma casa que era minha e, com o desmatamento da região próxima, dois tucanos lá estavam a se abrigar. O tucano menor que parecia filhote tinha a penugem de uma coruja, enquanto o maior tinha penas verdes como de um papagaio. Por vezes eu levantava a mão e o tucano maior, que por certo seria a mãe, vinha pousar no meu braço. De leve ele bicava-me como a dizer que estava com fome e eu o alimentava com pedaços de pão. Foi um sonho muito bom, pois era como se eu pudesse dar não apenas abrigo e comida, mas também consolo àqueles animais. Eu senti os tucanos desolados por terem perdido o habitat natural, por estarem emocionalmente machucados com a realidade de se sentirem inadaptados à existência e ao todo, exatamente como geralmente me sinto, por sentirem falta dos seus amigos iguais de espécie.

Os sonhos são assim, às vezes se revestem de múltiplos conteúdos que dificultam a sua compreensão, ou espelham o momento pelo qual passamos, momentos confusos e atormentantes... Sonhos inquietantes. Outras vezes os sonhos se mostram límpidos e transparentes, e a leitura é imediata e a compreensão instantânea. Essa é a graça que se pode receber quando focamos o olhar no interior, quando consideramos o eixo interior que nos guia. Ficamos mais próximos de nosso espírito e o diálogo se faz natural.

A leitura já compreendida por você é direta e transparente, sua identidade com os excluídos, com os marginalizados, com os sofredores, perdidos, isolados, lançados no desolamento. Encontrando-se no abandono. Mas este é apenas uma face do conteúdo.

EU LHE APRESENTO OUTRA FACE DESSA MOEDA.

Você no quintal de sua casa – seu interior, sua vida, seu templo, sua alma.

O pássaro é o espírito – seu espírito santo, livre. O filhote é o espírito renovado. O pássaro adulto e o velho espírito que se transforma com o tempo.

A fome do pássaro é saciada com o pão – Assim como o pão é o alimento do espírito. Símbolo do alimento essencial. “Nem só de pão vive o Homem”, Pão é o nome que se dá ao alimento espiritual. Símbolo do corpo de cristo na eucaristia, “o pão da vida”. O Pão combina com a vida ativa, mas também se relaciona com os mistérios da consagração.

A fome do espírito é saciada com o alimento espiritualizado, com o Sagrado, Consagrado.

O trigo debulhado, a matéria bruta, é refinada e assim unida a água e ao princípio ativo, o fermento, o conteúdo que dá liga, aciona a alquimia, a conjunção dos elementos. Assim se metamorfoseia a matéria, e ela cresce como que fecundada, se transforma em repouso.

E no momento seguinte ao milagre da transformação ainda se faz necessário a união com o Fogo. o calor da vida, a vibração Elemental que aquece e mais uma vez transforma a matéria e finalmente realiza o milagre do pão.

O alimento está pronto, para o corpo e para o espírito. O pássaro se aproxima e pousa no seu braço, não tem medo de você. Solicita-lhe o alimento e você o alimenta, alimenta o seu espírito. Dá-lhe vida com o alimento sagrado. Abriga o seu espírito no templo consagrado.

Não há porque focar o negativo, o abandono, a tristeza. Quando estamos sintonizados como o nosso espírito, estamos juntos ao eixo do mundo, ao eixo da vida, estamos unidos, em conexão com o Divino. Olhe para frente e abandone o olhar do passado. Você está chegando em casa.

Em casa não existe solidão. A solidão é o sofrimento gerado pela expectativa não vivida. O sofrimento é imagem do desconforto por não participar do que se credita essêncial. Já nascemos na solidão, mas quanto mais nos aproximamos do eixo mais nos afastamos desse desconforto.
Ah!  abandone o seu isolamento ao invés de lamentar abandono alheio. Corra atrás de sua TCHURMA!    Sua tribo!   Encontre uma. Confie em sua natureza. Confie em sua vida. Se dê uma chance de conviver, aceitando o outro e permitindo ao outro que a aceite como és. Nada há a se perder!



  photo do Blog Jornada Alma -  acesso restrito

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