quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O OLHAR



          

Sonhei que procurava olhar nos olhos das pessoas e o fazia não só com dificuldade, mas com curiosidade, algo a mais do que o sentimento inicial que sempre me inibiu de encarar as pessoas olho no olho. No sonho esse contato pareceu mais fácil e eu brinquei com isso. Ao olhar para um jovem levantei as sobrancelhas e ele fez o mesmo como se fosse um espelho. Vi o outro sendo um reflexo não por se parecer comigo, nem por me imitar, mas por ser um ser humano como eu, alguém que, por mais que diferenciasse nas características pessoais, não deixaria de ter sido feito e criado exatamente como eu, do mesmo princípio e para o mesmo fim. Lembrei da história dos bebês que sorriem quando alguém lhe olha nos olhos, pois eles se “refletem” no outro.

O olhar é portal que nos permite passagem para contato e conexão com o exterior, o scaniamento, identificação e registro do observável. Mas também é portal para que o “outro” possa penetrar e me “VER”.

Esse Penetrar é interessante, pois várias são as formas que o mundo nos penetra para que possamos incorpora-lo; Os sons nos penetram e nos tocam com as ondas sonoras; As imagens vislumbradas, incorporamos, espelhamos, reproduzimos e registramos; Os aromas nos penetram pelas moléculas que identificamos quando as capturamos; Os sabores incorporamos depois das reações químicas que sofremos; E a sensibilidade nos favorece identificar energias, campos suaves, densos, vibracionais, etc.

O olhar é revelador. Nos leva ao longe, nos transporta e desnuda aquilo que que se revela, mas abre as possibilidades para que sejamos vasculhados pelo olhar do observador.
Para mim a consciência passa pelo olhar e pelo olhar retemos a consciência e apreendemos o mundo. Pelo olhar no situamos no presente ou o abandonamos. Pelo olhar nos protegemos de ser arrastados para o passado dissolvido ou para o não acontecido, o futuro, fantasias e ilusões.

Ou seja, o olha definindo o presente, define o Tempo, o momento, a forma de estar ao mundo e no mundo. Conecta o individuo com as realidades que o envolvem, e o lança de consciência amplificada de si mesmo e em si mesmo na ralidade que nos contem.

Para olhar é preciso primeiro estar no presente. É preciso que a autoestima esteja fortalecida para que se possa experenciar o confronto que o olhar do outro representar, a cobrança, a criticidade, o julgamento.

Para o individuo enfraquecido o olhar se abaixa, por que se submete à força da presença do outro, ao poder externo. A realidade passa a representar ameaça e a exigir mais do que o sujeito é capaz de dar. Assim o sujeito se entrega como quem não apresenta estatura ou postura para o encontro.

A realidade exigi-nos certa dose de agressividade para enfrenta-la. Precisa ser uma pulsão focalizada para transpor os limites que não estão na realidade mas em nós. O primeiro desafio é superar as próprias dificuldades.

No passado a realeza impedia o olhar do outro. Essa realeza não se submetia à criticidade dos que consideravam inferiores. Tinham muito a esconder. E escondiam pelo subjugo

Essa força do outro necessariamente não é a força que ele tem ou apresenta, mas o poder que “projetamos” nele, o nosso temor.

***

O sonho indica o fortalecimento de sua autoestima, ou a construção dessa estima que lhe faltava para sustentar a sua relação com o mundo.

A curiosidade que antes aparecia quando o encantamento lhe assombrava, acontecimentos excepcionais, agora encontra espaço na redescoberta do mundo, em acontecimentos naturais. O extraordinário abre espaço para o extraordinário do natural, da descoberta do mundo ao redor. Aquilo que o julgamento crítico definia como banal, insignificante.

É assim que a coisa funciona , o extraordinário é o que vivemos, não o que vive o outro.

E a descoberta do mundo é assim lúdica, nos permitimos experimentar, sentir, descortinar mistérios, igualdades.

O grande ego inflacionado diminui, porque não é tão grande, e o pequeno cresce, porque não é insignificante. A percepção se transforma, a forma de perceber o outro se aproxima mais de uma realidade comum, de um senso comum. Ninguém é mais do que qualquer outro.

A inferioridade, em forma de complexo, inicia seu processo de dissolução. Essa a desconstrução fundamental que precisamos realizar. Enfrentar nossas dificuldades, superar aquilo que depende de apenas de nós, romper os obstáculos que impedem a nossa expressão maior. Fechar cada etapa para que sejamos mais livres, confiantes, seguros. Antes que as dificuldades existam no mundo elas existem dentro de nós.

O sonho é isto; sua configuração mental se consolida e você começa a descobrir o seu verdadeiro tamanho, nem mais, nem menos qualquer outra pessoa, o seu tamanho diante do mundo.

E isso é BÁRBARO!

Sem conhecer o seu tamanho, você não tem tamanho.

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