sábado, 20 de novembro de 2010

RAMALHETE

      Homenagem


À noite sonhei que um homem se aproximou de mim e entregou-me um ramalhete que não era volumoso, mas comprido, com algumas rosas vermelhas, alguns lírios brancos e umas espadas de são jorge. Admirada e surpresa perguntei se ele tinha certeza de que elas eram para mim, se por acaso não seriam para minha mãe. Ele respondeu que tinha certeza de que era para mim e então peguei-as alegre. Ele não era o tipo de homem que primeiro conquista a sogra e o fato das flores serem para mim deixou-me encantada.

O sonho parece repetir aquela velha questão de que, ao ser surpreendida, ao ficar encantada, fico mais aberta, mais propícia aos fatos, fico alerta aos acontecimentos. Além disso, também parece reforçar a ideia de que tenho mais facilidade e disponibilidade de dar afeto quando de antemão sou aceita, desejada ou algo do gênero.

Não lembro direito, mas me parece que ele era negro e tinha um pano cobrindo parte do seu rosto do topo até o nariz. Nos beijamos e eu senti que podia suprir minhas carências mais beijando-o do que sendo beijada. Eu conseguia me saciar independente dos beijos dele, pois eu conseguia beijá-lo sem recriminação, vergonha ou bloqueio. Eu era correspondida pelos beijos dele, mas sentir-me à vontade para beijá-lo era a melhor correspondência, a melhor satisfação e prazer que eu tinha. O pano no rosto dele parecia um simbolismo de que eu não me importava com sua aparência, com o seu passado ou algo misterioso que ficou indefinido, algo que não me incomodou. Era como se eu quisesse me satisfazer e aproveitar o momento unicamente com a disponibilidade dele de também fazer o mesmo, independente do que ele era por trás daquela venda, ou seja, mesmo sabendo (ou mesmo ficando na dúvida) que ele não era o meu tipo de homem idealizado.

O sonho, se não for compensatório, ou além de o ser, parece reforçar e prosseguir a união ou reconciliação do masculino com o feminino em mim.

Basicamente é isso ou há algo mais a ser acrescentado?

Possivelmente há um pouco mais.

Há sempre mais significados nos sonhos

Do que percebemos ou apreendemos.

A impressão que em mim registro em imagem, é a de um lago, transparente, onde nós, acima e à margem, só conseguimos perceber um pouco do todo que seu significado pode ter.

Por isso, nunca se dê por satisfeita, e mesmo que extraia várias leituras saiba que outras mais poderá haver tão significativas quanto as anteriores.

Às vezes as águas parecem turvas, mas são nossos olhos que ficam embaçados, outras, quase apreendemos todo o sentido, e quando isso acontece a sensação é mágica, extraordinária. Nestes momentos rendo homenagens ao sagrado e agradeço a generosidade de me permitir vislumbrar e sentir um pouco dos mistérios da vida. Ao contrário da vaidade alimentada, me sinto humilde frente à grandeza e sabedoria do Divino.

O SONHO

Você é agraciada com um Feixe de flores, por um homem negro.

A rosa não é rosa , é vermelha...

Em OXUM escrevi:

ROSAS VERMELHAS E AMARELAS Representam a manifestação das águas primordiais, simboliza a taça da vida, a alma o coração, o amor. Pode ser considerada como um centro místico, e contemplá-la como uma mandala. Símbolo de regeneração, é o primeiro grau de regeneração e de iniciação aos mistérios. A rosa vermelha simboliza o objetivo da Grande Obra ( na alquimia). Neste aspecto é possível que a rosa amarela seja referência ao self, me chama a atenção a relação com a oferenda ao pai falecido. Naturalmente é a oferenda ao pai pela sua regeneração (dele) em outra dimensão, mas pode estar sinalizando para a sua relação com o masculino e a necessidade de restaurar esse elemento como princípio de realidade e de união, sua regeneração. Como símbolos de metamorfose da libido, você planta roseiras para colher rosas, você planta atitudes para colher resultados, amor prosperidade, religiosidade”


Em LEVEZA DE SER, escrevi,

“A rosa é símbolo mandálico, entre o vermelho e o branco reside a cor rosa, entremeada entre significados alquímicos de purificação da matéria, nem tão puro ou purificada, nem tão matéria sacrificada, ou plásmica como o sangue. Espinhos podem indicar o inevitável ou a proteção e as defesas que ainda protegem conteúdos autênticos e originais, sua essência”.

obs.: para ver as posatagens completas click na palavra rosa no Indicador Temático, ao lado.

O Lírio é brancura que representa a virgindade, a pureza celestial e a inocência. Pode indicar a etapa final do processo de metamorfose. É símbolo do amor intenso e ambivalente, paradoxal, polarizado e tenso e devido a isso pode levar a irrealização, A repressão ou sublimação. E glorioso quando sublimado, isto é transformado da passionalidade, do amor instável e emocional no amor sublime.

Em síntese, trata-se de um símbolo de realização das possibilidades de realização do Ser, de transformar-se.

Em Mateus 6,28
 “Observai os lírios do campo, como eles crescem, não trabalham, nem fiam” Está mais realizado porque conectado com Deus do que aquele associado ao poder. É o símbolo do da renuncia e da entrega mística à graça de Deus.

Espada de São Jorge – veja a postagem sequencial amanhã -

Não podemos desconsiderar o oferecimento do ramalhete com todos os sentidos acima descritos. Ramalhete pode ter origem em ramo de alho  como forma que popularizou o termo Ramália -Festa da agricultura e da vinha, em honra de Ariadne e Baco, em que se levavam cepas de videira carregadas de cachos. ou em ramália. De qualquer forma indicação celebração e homenagem.

Você o recebe pelo seu trabalho interior e pessoal, por suas conquistas, por suas transformações, pela intenção, valor e consideração à Via Interior, à jornada que empreende.

A Reconciliação, foi bem percebida, e principalmente porque o homem revestido na cor negra pode vir de símbolos e conteúdos que precisavam ser transformados e posteriormente incorporados na sua configuração e estrutura psíquica.

Há algum tempo atrás lhe perguntei se queria amar ou se queria ser amada. Naturalmente que o gostoso e amar e ser amado. Mas um pré-requisito fundamental é descobrir se queremos ser amados ou se queremos ama. Muitos pensam que querem ser amados quando o que querem é amar. E sempre que são amados fogem como se o diabo da cruz.

O seu caso era singular: a carência confundia a sua necessidade como a de quem gostaria de ser amada, mas procura era a possibilidade de amar, paralisada esperando ser escolhida pelo amor que escolhia na idealização.

Parece-me que agora se inicia o seu movimento espontâneo, a intenção daquele que quer amar, gostar, querer, beijar, conquistar, saciar seu desejo. Neste momento o outro é apenas o objeto em quem projetamos afeto e assim aceitamos usa-lo aprendemos a ser utilizados na libertação do outro.

Poderia ser o oposto, o de querer ser amada. Mas parece que não é. E este é o movimento inicial do adulto que escolhe o que quer, a partir da detecção interna do seu desejo. E este é o que chamo de pré-requisito para que possa se preparar para receber o amor do “outro”.

Vencido o preconceito que aprisiona e limitadas as escolhas, parece-me que você abandona o conceito de maculada para reencontrar a virgindade e se dar a chance de romper com as vivências negativas do passado para experimentar o admirável mundo novo do afeto e da sexualidade.

O sexo não é coisa suja. Sujos podem ser os pensamentos, ou o comportamento daqueles que não respeitam o ato sagrado do encontro, ou aqueles que só percebem o sexo como uma possibilidade de transgressão, estes encontram prazer na morbidez.

Como em quase tudo nesta vida também a sexualidade pode nos lançar no lago das águas sagradas ou no borburinho das noites nos inferninhos profanos. Mas independente de onde estejamos, somos nós quem definimos o tom da sinfonia sexual que realizamos, escolhendo entre a margem dos sagrado e a margem do banal, a diferença é apenas no sabor e na intensidade: um parece intenso e animal mas é primário, o outro parece inocente e puro mas pode nos levar ao êxtase pleno.

Quando em harmonia o sexo é o encontro natural de seres que se dão o direito de amar e ser amado, pois descobriram que assim se alimentam e alimentam o outro no encontro através da afetividade, uma forma singular de realizar os desígnios do divino.

O sonho parece-me um celebração que homenageia o reencontro com sua natureza interior, celebrado com flores.
O homem ainda mascarado indica que longo ainda é o caminho para desvendar alguns véus que nos encobrem, mas já é um grande passo pessoal, abandonar a repressão, a vergonha e os bloqueios e seguir em superando acontecimentos que precisam ser superados em direção a outros que precisam ser vividos.

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