domingo, 7 de novembro de 2010

AFETO E RECONCILIAÇÃO



Primeiro sonhei que estava triste e chorando quando meu pai se aproximou para me dar um dinheiro. Depois que ele colocou as moedas na minha mão, num impeto eu o abracei. Eu não estava necessitada do abraço em si e nem daquela proximidade com ele, mas algo repentino dentro de mim me moveu a abraçá-lo. Era como se eu quisesse demonstrar que precisava mais dele do que ele poderia imaginar, ou então que precisava mais do afeto do que do dinheiro dele. Ele que até então parecia insensível com a minha tristeza, acolheu-me num abraço reconfortante. Eu não me senti bem pelo abraço em si, mas pela minha capacidade de tomar tal atitude e conseguir abraçá-lo.

A dinâmica foi observada em sonhos passados: Reconciliação com o Pai, com as origens. E, naturalmente, essas dinâmicas psíquicas não se dão de forma acelerada. O corpo possui o seu tempo próprio de resposta e a psiquê possui seu ritmo suas frequências, seu “time” e seus pré-requisitos.

A prioridade é a proteção da estrutura psíquica, e a proteção antecede as mudanças. Por isso as configurações são alteradas por etapas e os ciclos podem ser longos.

Como dizia, a dinâmica de transformação foi observada e as mudanças foram iniciadas. A imagem do PAI se consolida, se restabelece como referência e importância afetiva. E esta é a base para que o principio masculino se estabeleça:

O Princípio de Realidade

Você abraça o pai, mas não apenas o pai que é referência e origem, você abraça o significado, representação, conceitos, princípios, força, prontidão yang. Em síntese: você abraça o masculino em si. Reestabelece o vínculo afetivo, não o vínculo, anterior, de submissão, mas da relação de troca, do partilhamento, da comunhão entre Pai e filha, entre masculino e feminino.

Os opostos se encontram e define a proximidade pela humildade, o valor subjetivo e não o material, a importância da vinculação, o código afetivo: o encontro... O abraço.

O processo de atualização da autoestima continua sua reconstrução. Fortalece o poder pessoal de promover intervenções, de definir escolhas inteligentes emocionalmente, de decidir por atitudes independentes.

Pode parecer-lhe um simples abraço.
Não o é!
É "O" abraço!
 E a sua escolha parece definida:
O caminho do afeto, do amor, da comunhão, do ser amoroso.


A D E N D O:

O dinheiro possui valor vasto simbólico além do seu valor de compra ou do poder que representa. Em decorrência do poder que o dinheiro representa, cada vez mais a tendência das elites de substituir o afeto pelo dinheiro contamina todas as camadas sociais. Esse processo coletivo que  transforma a afetividade num valor quantificável, se por um lado favorece o descompromisso entre as pessoas que se interrelacionam, diminuindo culpas e responsabilidades, por outro favorece aqueles que têm dificuldades em expressar afeto, através de toque ou como expressão verbal.

Um aspecto negativo é que a sociedade moderna vem transformando o padrão social da família Nuclear Afetiva, em familia nuclear materialista. trasnsformando a caracteristica que permitia aos mais pobres se aglutinar em torno do afeto e superar as dificuldades materiais existentes. Essa mudança de afeto integrador para conforto desagregador facilita a dissolução familiar colocando em foco o dinheiro, e não o afeto, como prioridade, o que invariavelmente determinará o rumo de uma sociedade  menos agregada  e mais focada no acúmulo material,  asociado à ideia do prazer mas representando apenas uma ilusão e a sobrevivência dos menos privilegiados.

Os indivíduos caminham

Para viver em função da fantasia

 De um "futuro" que não se realiza,

E não do afeto

Que consolida as interações humanas.

O que quero dizer é que os pobres abandonam a referência afetiva que representava a variável básica da aglutinação familiar e parte para a referência material e consequentemente para uma agrupamento mais dissociado e fragmentado.

No caso do sonho a relação direta mostra que verdadeiramente o dinheiro pode até ser uma forma moderna e difundida de representar a afetividade mas não supre a necessidade de sua significação na constituição de um indivíduo. Veste o individuo mas não o Aquece, não favorece sua consolidação, promove-o a uma possibilidade de EGO CENTRADO,  enredado no isolamento.  


SOBRE O AFETO



A sociedade moderna globalizada chegou para todos, excluindo os margeados, os alienados que não participam dessa Onda global. Os incluídos sofrem o impacto de uma civilização em permanente e acelerado processo de transformação. Os caminho muitas vezes são confusos, as referências ambivalentes, os princípios mutantes, os valores osciláveis, e tudo isso promove uma conturbação devastadora na vida de todos. Muitas vezes sem que os envolvidos percebam para onde são levados.

Tudo é hiper realçado, acelerado, devastado. E a cada dia os indivíduos são obrigados a se readaptarem, a não ser que escolham o caminho do Escape, enfiando a cabeça no buraco de terra, fechando os olhos e ouvindo apenas o que interessa, perdidos no conforto das sensações.

Nessa balbúrdia global o Afeto se sobressai como uma referência fundamental, um Banker que sustenta o equilíbrio pessoal e alimenta o espírito em busca de sobrevivência.

Tudo o mais se mostra perecível, insustentável, inconsistente.

E mesmo que a loucura coletiva avance devastando diferenciadamente os incautos, o afeto se mostra uma resistência a essa onda desconstrutiva que envolve a modernidade devastantando os filtros psiquicos.

É a referencia que fortalece a humanidade que ainda resta em nós. O resto, infelismente, é ilusão, fantasia insustentável de uma civilização que naúfraga na ansiedade, na velocidade e na sua ânsia destrutiva.

O afeto acolhe, humaniza, comunga, proteção, alimenta, alegra, compartilha, acompanha, sustenta, enriquece, acrescenta, norteia. Não se engane, a ilusão invade e devasta. Só o afeto nos permite inexpugnável, frente à invisível modernidade avassaladora. Sem o afeto nada mais vale a pena, porque torna a alma pequena.




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