domingo, 14 de novembro de 2010

DESTINOS

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Gosto muito de lidar com a terra. Desde criança aprendi a plantar com minha avó e ainda encontro muito prazer em dar vida as minhas plantinhas e receber vida destas. Gostar de lidar com a terra é algo familiar e a única que não gosta é minha irmã, pois diz não levar jeito e prefere cidade grande como São Paulo. O gosto é tamanho que eu e minha mãe, bem como minhas duas tias, possuímos nossos pedaços de terra. O sonho não retratava a chácara que tenho, pois parecia um local menor e diferente. Ter uma chácara com dois hectares, toda plantada, com casa, energia, água de mina e frutaria, parece ser maravilhoso, mas sempre me foi uma dor de cabeça por ficar a dezessete quilômetros de distância da cidade, por ficar praticamente abandonada e por cobrar de mim uma responsabilidade além das minhas capacidades, algo que nunca me agradou. Na época da seca é um poeirão e, na época da chuva, é lama e mato de um metro de altura. Para chegar lá é preciso pegar três ônibus e nisso gasta-se umas duas horas de cansativo trajeto e espera nos terminais. Não é nada fácil cuidar do local, ainda mais sendo a proprietária uma jovem que não sabe o que quer do futuro e não tem expectativas nenhuma além da própria sobrevivência. Eu teria coragem de morar lá, mas a vida toda escutei todos dizerem que é perigoso uma mulher morar sozinha num local como aquele. A vizinhança é boa, mas no meu anti-socialismo pouco adianta haver vizinhança.

O pior é que, além do gasto financeiro com a manutenção, algo que fica por conta da minha mãe, ainda existe a dificuldade de arrumar quem capina, quem faz isso e aquilo. Lá tem serviço para um batalhão de homens, já que para mulher a lida seria praticamente inviável. O local é uma lembrança, praticamente uma presença do meu pai, pois ele comprou e colocou no meu nome quando eu ainda era criança. Portanto, além de ser apaixonada com tudo o que lá foi investido, como frutas de tudo quanto é qualidade já produzindo, o local ainda guarda uma lembrança emocional fortíssima como uma herança familiar, até porque minha mãe não será eterna e também a encontro representada em cada pé de árvore lá plantado. É difícil ter um local como aquele e não poder usufruir. Lá tem um fartura imensa, mas nem temos condições de colher e trazer para a cidade. Já cogitamos muito de vender o local, mas fica só na conversa, pois a coragem míngua de ultima hora. Aquilo é uma dor de cabeça e uma bênção ao mesmo tempo. Aquilo é um pesar e uma esperança, dois pesos que ficam vacilando em lados opostos de uma mesma balança. Ser fazendeira seria ótimo, mas sozinha realmente acho impossível, pois não sinto ter estrutura para tal. Na prática manter uma chácara não é nada fácil e dá muita despesa, principalmente quando não se tira nenhum lucro comercial. Todos os concelhos, opiniões e sugestões alheias a respeito daquilo parece simples só na mente, pois na vida prática aquilo apenas é um problema sem solução. A vida toda me questiono se espero uma solução mágica cair do céu ou se me desapego de uma vez por todas do local e o vendo carregando o arrependimento para o resto da existência. Seria muita ousadia minha pensar na possibilidade de desenvolver-me a ponto de ter a capacidade de cuidar sozinha de um local como aquele...

 
 

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