quarta-feira, 3 de novembro de 2010

VOLTANDO PARA CASA




imagem editada de Alice no país das maravilhas


Continuação...

De resto, talvez exista sim em mim alguma fantasia de agressão sexual, ou talvez isso esteja ligado ao momento da perda da minha virgindade, algo que eu não me julgava de toda preparada ou desejosa que acontecesse, embora tenha consentido.

Donde poderia surgir esse tipo de fantasia um tanto masoquista?

A agressão sexual é tortura e, portanto, inaceitável. A tortura realizada por humanos contra qualquer ser vivente neste planeta indignifica a espécie. A agressão sexual é resíduo de incivilidade e rompe com a base da civilidade conquistada pela raça humana nos lançando nos caminhos da obscuridade e da selvageria. Um comportamento invasivo extremo, devastador, emocional e psíquico, e revestido de suposto prazer infligido pelo torturador. É tipo de conduta que merece toda a atenção e severidade crítica contra qualquer sinal de banalização de sua gravidade.

Quando o individuo se permite ser violentado, deve ser respeitado no seu direito, mas precisa também ser alertado de que romper limites extremos pode representar ultrapassar véus que protegem a sanidade psiquica lançando-o em perigo iminente. A consciência é conquista humana recente, considerando o tempo de evolução da espécie, portanto, uma estrutura frágil que merece delicadeza no trato como forma de proteção de sua configuração. Romper determinados lacres pode representar serias ameaças ao equilíbrio e à harmonia psiquica, ou indicação de que a estrutura ja se descompensou.

Fantasias representam cenários e imagens, mas não espelham a realidade cruel e devastadora do acontecimento. Podem vir recheadas de imaginário e até de prazer, mas não conseguem reproduzir a intensidade destrutiva do acontecimento. O poder destrutivo do acontecimento dentro da realidade pode aniquilar um individuo por toda uma vida.

Neste aspecto, as fantasias induzem referências que atendem a ressentimentos, vinganças, respostas reativas e servem para retroalimentar a necessidade de respostas destrutivas contra o outro ou contra si mesmo e acionador da aglutinação de energias que permite a formação de conteúdos autônomos no inconsciente que tendem a se manter intactos interferindo autonomamente no individuo como centro de comando à parte do individuo, como parasitas energéticos, com vida própria, no comando do individuo.

Funcionam mais ou menos assim:

Como os conteúdos autônomos originados em algum momento no individuo fragilizado, rompem os filtros de segurança e defesas da consciência elas invadem a consciência através de imagens que reavivam no indivíduo mágoas e ressentimentos e mobilizam respostas emocionais reativas. Dessa forma focalizam a atenção e sugam energias através das emoções mobilizadas e acionadas. Assim se mantêm vivos.

Quando enfraquecidos e ameaçados de dissolução, inundam a consciência com perturbações conturbando-a através de imagens e pensamentos para se fortalecerem. Quando fortalecidos deixam de ameaçar e desestabilizar o equilíbrio emocional. Assim esses conteúdos autônomos seguem se mantendo ativos.

O indivíduo se torna refém desses conteúdos de inconsciente. E quando esses indivíduos são incautos, indiferenciados, além de reféns, passam a retroalimentar esses núcleos, dando-lhes sobrevida, quando associam as perturbações, imagens e pensamentos com sensações de prazer, realizando a conexão através das imagens com sensações eróticas, grande canal e fonte de energia do corpo.

Na adolescência, momento crucial e de grande instabilidade decorrente do amadurecimento sexual e da configuração do amadurecimento da estrutura pensante do individuo, a psique induz a formação do imaginário acionado pela vontade, ou intento pessoal, para favorecer a formação e tomada de consciência pelo pensamento criado. Evento que favorece o afloramente de um período de grande profusão de fantasias. Essas fantasias irão permitir o foco de atenção interno do individuo e sua formação, construção da sua gestalt do pensamento, para que consolidada essa estrutura passa a mediar a relação do individuo com a realidade de forma mais ordenação e consistente.

Com a passagem da adolescência, o pensamento consolidado,os recursos da fantasia são abandonados e o individuo definitivamente introduzido na realidade. Mas muitos são aqueles que não conseguem se desprender desta estrutura de criação de fantasias, a estrutura não evolui para a consolidação do imaginário e ficam apenas nos princípios infantis de fantasia do real.

Neste caso, em períodos de instabilidade, e devido à imaturação da estrutura mental e emocional que intermediam a relação com a realidade o sujeito passa sistematicamente a ser invadido por conteúdo autônomos de origem inconsciente perturbadores que podem definir a condução e o modo como o individuo se comporta.

Por isso as possibilidades são várias. Desde desejos secretos que revistam a necessidade de autopunição, autodestruição, vitimização, até uma forma sofisticada de culpabilizar o outro pelo abandono, por teu sofrimeto. Que podem também induzir comportamentos mórbidos ou pervertidos decorrentes de elevada agressividade reativa.

Isso poderia ter ligação com a perda da virgindade que acabou ocorrendo sem minha real disponibilidade?

Pode ser. De forma geral você se permitiu ser possuída. A disponibilidade foi real e física. A intenção não foi plena. O desejo poderia não existir. Você se permitiu ser possuída.

Qual a intenção?

Uma escolha pessoal resultante do desejo de agredir a família como seu gesto?

Mostrar que tinha o poder de fazer escolhas e romper com os limites?

Com qual idade? Aos 13, como a suposta mãe? Antes, depois?

O último parágrafo

“Poderia até pensar que sua grande dificuldade com sua irmã advenha da expectativa que tenha tido dela se comportar como sua mãe, e como ela não atendeu essa expectativa você acabou desenvolvendo e projetando uma relação transferêncial negativa com ela”.

Bem, A mensagem do inconsciente parece-me foi decodificada com acerto, e se eu falava numa dimensão simbólica, a possibilidade real de maternidade mostra que essas relações podem ser ainda, mais complexas e profundas. E é sua a escolha de desvendar esses segredos.

Neste momento considerando que sua irmã não seja a sua mãe ou considerando que ela o seja, faz alguma diferença para você? Faz diferença para você saber a sua verdadeira origem materna? Se esta informação lhe é importante, já passa da hora de eliminar este ponto obscuro em sua história, procure informações, e acabe com suas dúvidas.

Veja que interessante: O seu Pai (ou avô) português sinaliza uma via de mistérios na vinda dele para o Brasil e da família deixada em Portugal. E agora, em sua geração a roda da vida parece repetir o passado, colocando mais mistérios na suas origens de maternidade e paternidade. Considerando que sua irmã seja a sua verdadeira mãe. Ela repete o pai construindo mistérios e segredos na história familiar.

A mensagem decodificada advém do inconsciente como acontecimento simbólico, mas é evidente que a verdade pode estar além do simbolismo e em relação direta com a realidade, anunciando-lhe a importância de colocar luz nestes segredos familiares, se eles existirem.

Uma dica: descubra o hospital do nascimento, em geral o cartório do registro tem o documento e procure os registros de internação. É seu direito como cidadã conhecer suas origens. Se existem dúvidas, procure informações oficiais.

OBS.: as observações acima são resultantes de humilde tentativa de explicitar em forma mais sintética e simples o funcionamento do isstema da máquina da fantasia psíquica. Mas como o tema é espinhoso, perdoe-me se  a compreensão não foi favorecida e, portanto, que não tenha sido bem sucedido em minha intenção.

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