domingo, 30 de maio de 2010

O LÁPIS PRETO


CH 77

Pouco antes de acordar sonhei que estava numa piscina fazendo uma espécie de nado sincronizado e havia uma parte donde eu era empurrada para fora da água e depois caia nela indo até o fundo da piscina. Eu não sabia como eu conseguia fazer aquilo, mas eu fazia e isso era o importante. Nisso minha mãe chegou e, pela expressão nervosa de seu rosto, achei que ela fosse me dar uma bronca na frente de todos, mas calmamente ela disse que não estava brava por eu ter saído, mas sim por tê-lo feito sem avisá-la, sem deixar ao menos um bilhete para ela saber meu paradeiro. Embora nunca tenha gostado de dar satisfações, entendi o lado materno e preocupado dela ainda surpresa por sua fala tão mansa. Ao contrário disso, o professor foi até a sala do escritório e começou uma discussão com uma jovem que saiu falando alto até o local da piscina. O bate boca foi rápido, eu não sabia quem era ela, o que ela era dele e nem preocupei em entender o motivo da briga. Ao ver que ele ia embora, também quis fazer o mesmo e chamei minha mãe para irmos. Eu houvera saído no carro dela e, uma vez que ela estava ali, deixei-a dirigir no trajeto de volta. Na vida real minha mãe não tem carro, eu não sei dirigir e nem tenho carteira de motorista, mas no sonho, minha mãe tanto tinha carro como eu sabia dirigir, embora não tivesse ainda a minha habilitação. É estranho e interessante sonhar fora da perspectiva real da vida.

Ao chegar em casa, o professor colocou os dois carros dele dentro da garagem e a jovem entrou com o mine carro dela passando por debaixo dos outros dois carros normais. Achei aquilo o máximo e pensei que talvez aquele carrinho não precisasse de habilitação. Nisso minha mãe perguntou se cabia o carro dela na lateral do segundo carro e analisei o espaço respondendo que não. Era a garagem aqui de casa e minha mãe não tinha como guardar o carro dela na própria garagem. Não sei por que eles estavam guardando os carros aqui em casa e não lembro do desfecho, pois em seguida, eu estava num supermercado com minha mãe. Depois de olharmos várias coisas, ela encontrou um escritor e ele começou a fazer propaganda de um dos seus livros. Minha mãe foi com ele até a sessão de livros dizendo que estava pensando de comprar um livro tal e, embora eu admire os escritores, adore ler e olhar livros, no sonho eu me desinteressei por aquilo e larguei os dois indo até a sessão de produtos de beleza. Eu não ia comprar nada, mas queria experimentar as amostras gratuitas. Procurei um lápis preto para passar nos olhos e não encontrei. Fiquei muito indecisa e gastei um tempo escolhendo outra cor até que experimentei o marrom. Nisso veio uma atendente. Pensei que ela fosse achar que eu estava abusando no consumo dos produtos, já que eu estava ali a algum tempo e, preocupada, perguntei se não havia lápis de olho na cor preta. Parece que o sonho veio me mostrar que, embora eu esforce para não mentir, ainda tento omitir a verdade. Eu não estava interessada em comprar nada, apenas queria passar o tempo me distraindo naquela sessão e aproveitando a imensa variedade dos produtos expostos. O sonho também parece mostrar que sou uma pessoa oportunista e sei que sou, embora não goste de assumir isso.

A atendente chamou uma outra, falou algo e depois essa outra veio trazendo um produto que parecia ser ultimo lançamento. Ela incitou-me a experimentá-lo. Olhei para o produto sem entender se aquilo era de passar nos olhos, na boca ou no cabelo. Olhei o rotulo, mas estava tudo escrito em outra língua do tipo mandarim misturado com francês. Sem jeito de perguntar que tipo de produto era aquele, perguntei se era preto já me achando uma tola. Claramente vejo meu disfarce. Outra vez ela mandou eu experimentar para ver se gostava. Fiquei preocupada pensando em minha mãe, pois não havia avisado-a de que estaria na sessão de produtos de beleza (e ela acabara de conversar comigo sobre isso no sonho anterior). Pensei de fazer disso uma justificativa para sair daquela insistência desconfortável. Sem conseguir ter uma definição de escape e, necessitando esconder o problema de não saber que tipo de produto era aquele, perguntei qual era o preço daquilo enquanto fazia força para entender o rotulo do produto misterioso. Enfática ela falou para eu experimentar. Disse que não podia fazer isso, pois talvez não fosse ter dinheiro suficiente para levá-lo e aquele produto não parecia ser do mostruário. A atendente respondeu que eu não era obrigada a comprar nada do que eu experimentasse ali. Eu sabia disso, mas não queria ser abusada, embora quisesse sim experimentar os produtos de graça. Foi então que ela ofereceu-se para passar em mim e colocou as mãos sobre minha cabeça dando a entender que era um produto para o cabelo. Aliviada percebi que ela estava mais interessada de me mostrar o produto do que de me fazê-lo comprar. Soltei meu cabelo dizendo que ele estava super embaraçado e ela, como se quisesse testar o produto, pareceu achar ótimo o meu cabelo estar em tal condição.

Essa segunda parte foi muito esclarecedora! Embora tenha me dito para deixar a analise por sua conta, acho importante deixar claro o que senti dos mesmos enquanto um espelho a mostrar de forma mais nítida o que acontece comigo de 'errado'. É como se o sonho me mostrasse que o meu pensamento pode em nada condizer com a realidade. Vivo situações do gênero na vida real donde eu imagino o pensamento e a postura do outro e fico me camuflando com vergonha e medos que podem ser desnecessários.

Eu tive vergonha do meu oportunismo e tive medo de expressar que eu estava usando os produtos descompromissadamente apenas para passar o tempo enquanto minha mãe fazia as compras dela.

Eu perguntei sobre o lápis de olho preto apenas para disfarçar, pois embora preferisse tal cor, pouco me importava se havia dele na loja ou não. Quando me foi dado um produto estranho, não tive coragem de perguntar do que se tratava, embora tenha deixado claro que não queria abusar da generosidade da loja em oferecer o mostruário sem compromisso. Usar os produtos de graça sem intenção de comprá-lo para mim já era abusar, mas eu não queria que a moça me visse como uma abusada.

Nitidamente o sonho me fez perceber que eu sou minha própria juíza crítica. Eu me vejo mal e tento fazer com que os outros não tenham a mesma impressão que eu já tenho a meu respeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário