sábado, 1 de maio de 2010

O GRAN CANYON E O BREJO

Aquarela de Antoine de Saint-Exupéry
do livro "O Pequeno Principe"
CH57


“O amadurecer parece mais difícil do que imaginava a princípio.
 Essa noite sonhei que estava num local que identifiquei como cânion, mas ele era diferente, pois ao invés de ter pedras rochosas, todo o terreno era de barro. A parte baixa formava um brejal com valas fundas donde havia extensa e natural plantação de um bananal, mas era uma espécie de banana cujo pé não crescia muito e cujas folhas reluziam como se tivesse uma camada de verniz. Embora fosse um local turístico famoso, eu não gostei do mesmo e pensei comigo que se o terreno fosse meu, mandaria um trator acertar todo o solo e depois mandava replantar as bananeiras. Achei perigoso a permanência das pessoas naquele local. Alguém comentou comigo que só era possível estar ali na época da seca, pois somente em tal época a terra ficava compacta e sólida permitindo a caminhada naquela parte superior. Quando voltei para o hotel havia um beija-flor perto da porta do quarto e ele pousou na minha mão. Quis tirar uma foto dele e o levei para dentro do quarto, mas quando fui tirar a foto ele se transformou em um gato e então reparei que havia uma ninhada de gatinhos dentro de uma caixa bem ali perto. Encantada tirei várias fotos deles.

Outra vez volto a sonhar com bananeiras e gatos, essa repetição é sinal de que ainda não estabeleci progressos?”

A coisa parece mas não é tão simples. Vivemos em um universo em dinâmica de expansão, mas que sofre uma força da retração. Evoluímos enquanto forças em sentido contrário atuam e intervêm nessa expansão, ou regredimos enquanto forças atuam nos empurrando para a expansão, para o futuro. E nós? Bem... seguimos tentando escapar enquanto vivos, mantendo a saúde mental, para não sermos devastados ou devorados pelo devorador de almas: o tempo.

No sonho anterior abordamos a natureza da transição e do espaço e agora surge o beija-flor se metamorfoseado em gato. Nos sonhos os pássaros surgem como símbolos da personalidade do sonhador. Neste caso vemos uma representação de sua ambivalência como beija-flor e ninho de gatos. O pássaro mediador entre o céu e a terra, frágil, que paira no ar como quem resiste à força gravidade (lembra o sonho anterior?), mas que se metamorfoseia no gato animal tinhoso, seu preferido, dissimulado, egoísta do tipo que mantém relações por oportunismo, ainda que sejam ternos, mansos e escorregadios.

O gato é um predador. É felino. Não é um tigre, mas tem suas qualidades como caçador de primeira grandeza. No budismo o gato é aquele que não se comoveu com a morte do Buda (falta de afeto ou sabedoria de não envolvimento?). Na Cabala como no budismo é associado à serpente é indica o pecado, o abuso dos bens neste mundo.

“O Buda faz da Bananeira o símbolo da fragilidade, da instabilidade das coisas e que não merecem por conta disso absorver o interesse... “as construções mentais assemelham-se a uma bananeira”. É o símbolo da impermanência e da imprevisibilidade da vida.” Trecho de leitura anterior.

Se os abismos representam estados da existência sem forma definidas, o fundo sem fundo, lado das sombras, evocando o inconsciente, para Jung ele surge como uma indicação de uma natureza interior a ser explorada, para ser iluminada e conhecida. Uma aventura de libertação da alma para afastá-la de seus fantasmas, de suas sombras.

Nada mais natural que sua natureza seja de barro, de onde surgimos moldados do barro das origens divinas. Dei-lhe essas referências para que possa entender minha percepção:

Se este cânion é representação de seu inconsciente sua ação é uma tentativa de reconfigurá-lo,

“se o terreno fosse meu, mandaria um trator acertar todo o solo e depois mandava replantar as bananeiras.”

Eis a mão humana cumprindo o seu dever, realizando o que veio realizar, aprimorar aquilo que é aprimorável, mudar o moldável, iluminar as sombras, plantar para colher o frutificado.

Há bom senso na indicação de cautela com o terreno. É necessário cautela ao investigar, ao explorar, ao descobrir o desconhecido. Quando o solo não é firme, anda-se sobre terreno pantanoso, brejo, perigo, inconsistência, instabilidade. O terreno seco e firme é sólido e seguro. Se você em sonho andava em terreno sólido e seco e compacto a indicação é de que o caminho é um bom caminho de investigação. No fundo desconhecido a necessária cautela, no nível superior o terreno compacto de acesso aos níveis mais inacessíveis.

E aí, na volta o encontro com o beija flor e sua metamorfose em gato. Mas ele pousa na sua mão. Teu espírito tua alma pousa na tua mão, seu sopro de vida. De imediato, pensei na metamorfose, mas há um detalhe: O espírito a gente não fotografa, é inacessível ao registro posto que sutil, fugidio e sopro divino. Nem sua esperteza de querer fotografar foi tão veloz, já que consegue apenas registrar-se no espelho da lente transparente. Você sem o saber mergulha numa viagem às profundezas de sua alma, numa jornada Mítica e espiritual.

Lidar com o sagrado é assim, enquanto somos puxados para o acesso imediato na superficialidade e da materialidade, somos como que obnublados  da dimensão sagrada que vivemos e não conseguimos detectar as placas indicativas de nossa existência excepcional. Somos como prisioneiros de nossas ilusões e do que vemos fora de nós, e ficamos extasiados vendo afogados em êxtase girando ao redor de seus umbigos adornados de Ouro e riquezas, e deixamos de "ver" o essencial.
Bem o disse

 Antoine Exupéry em “O Pequeno Príncipe”:

“-Adeus – disse a raposa-
Eis o meu segredo.
É muito simples:
só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível aos olhos.”

Eu acrescento:

O essencial é visível ao Olhar. Mas precisamos buscar esse essencial e direcionar o Olhar.

E aí?... Será que não estabeleceu progressos?

Bye.

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