domingo, 30 de maio de 2010

O LÁPIS PRETO 2ª parte


CH77  2ª Parte
Me pergunto: por que eu não tive coragem de brincar com meu jeito oportunista e assumir de cara que estava aproveitando dos produtos sem intenção de comprar nada?

É uma boa questão. Mas seria falta de coragem? Ou a armadilha dos que escondem seus desejos? Esconder pode ser traduzido por dissimular.

Por que fiz perguntas indiretas?
Despistar, dissimular, fingir interesse para esconder suas intenções originais. Mas a essa pergunta você tem munição para responder.

Por que temi levar uma rala da atendente se, embora pessoalmente me julgasse uma abusada pelo que fazia, não estivesse fazendo nada de errado uma vez que a compra não era obrigatória?

Você se esconde daquilo que você realmente é. Você se culpa por que não se aceita, e não quer que os outros saibam que é oportunista, fica por trás da imagem idealizada que construiu e que vende para os outros.

A sua referência no “outro” também lhe tira a consistência para enfrentar situações corriqueiras, já que a fragiliza e abre espaço para a sua inferioridade se manifestar. Você já entra na situação inferiorizada, derrotada, pelo que fantasia ser o julgamento ou crítica alheia. Possivelmente, se a sua condição financeira não for favorável, lhe tira os seus direitos como pessoa, como cidadã. O conceito pode ser: tem direito quem tem poder, quem tem posses, ou então a falta de direito decorre da anulação que exerce sobre sua personalidade.

Quando fui dizer que talvez não tivesse o dinheiro suficiente para levá-lo, pensei que ela fosse dizer 'não se preocupe, se gostar do produto, quando tiver condições, você volta e compra'. Percebi que o problema não estava em fugir da compra naquele momento, mas sim em fugir da verdade que era o meu desinteresse em comprar qualquer um daqueles produtos.

A leitura que faz é carregada de sentido. Você foca o alvo.

Fui no sonho exatamente o que sou na realidade. Meu incomodo ali, assim como na vida real, não era em ser oportunista, mas sim em não conseguir revelar, assumir e expor meu jeito de ser.

Identifico-me com essa leitura, ela feita por você amplia a força do que venho tentando mostrar: que os sonhos nada mais são do que o que somos e o inconsciente faz o papel de nos mostrar o que precisamos aperfeiçoar e transformar, enquanto atualiza o sistema.

O comportamento é de quem que aproveitar da situação, o oportunista, mas pouco importa as justificativas para o tipo de comportamento que se pratica, ele existe porque faz parte do repertório que o individuo desenvolveu para se relacionar com a realidade em que está inserido. O conflito se origina quando o sujeito tenta negar ou dissimular aquilo que ele é. Aquilo que não quer que o outro identifique ou diagnostique, porque ele próprio condena em outros, porque esconde de si mesmo.

Esse jogo de esconde/esconde leva o sujeito a construir um estereótipo idealizado de individualidade, quando deveria trabalhar as mudanças de seu comportamento. Enquanto se sufoca, se marginaliza e se distancia de si mesmo, passa a sofrer as consequências dessas duas forças que tentam sobreviver dentro dele: o “EU” idealizado e aquilo que realmente é.

O intolerável não é ser o que sou, mas sim tentar ocultar meu jeito de ser. Por que não consigo ser mais flexível e humilde para comigo mesma?

Perfeito! Carlota, fortalecendo o que realmente acredita ser, consolidará a construção de sua personalidade, sua individualidade, sua manifestação única e singular como sujeito de sua vida, dissolvendo o estereótipo idealizado infecto e “perfecto”. Tornando-se mais humana, com possibilidades de acertar, errar, corrigir seus equívocos, consolidar seus acertos, uma pessoa mais integrada, mais afetiva, generosa e inevitavelmente mais feliz.

Inicialmente o idealizado surge como um projeto que funciona como referência para o desenvolvimento da individualidade, mas essa idealização passa a ser confundida com a personalidade constituída, subjugando-a devido à sua necessidade de maturação. Fica mais fácil construir a personalidade no idealizado do que consolidá-la no processo de maturação. Essa construção idealizada passa a servir como refúgio onde o sujeito se protege de suas contradições, e passa a funcionar como mediador entre o sujeito e a realidade e os confrontos internos efetuados pelo inconsciente, através dos sonhos, dos pensamentos livres e das lembranças. Esse mecanismo se transforma na armadilha dos que se enganam.

O sonho levanta questões significativas, como a sua relação com a vaidade e com a beleza. Sua escolha é voltada para os produtos de beleza. Lembro-me de fazer referência aos produtos que sua irmã lhe passa quando ela renova ou realiza mudanças. Parece-me que à carência de produtos básicos no seu dia a dia. Sempre ocorrem referências a situações em que procura usufruir de situações que lhe favoreçam a posse de objetos que não tem acesso. Neste caso me impressiona o foco, ou a dificuldade, ser em um lápis preto que não podes adquirir. Parece que alem das questões que levantou, existem outras significativas como dificuldades de inserção no mercado, na sociedade de consumo, a marginalização, a exclusão econômica, e... Dificuldades para lidar com a sua vaidade, seus cuidados, suas possibilidades de ampliar seus instrumentos de sedução e atrativos como mulher. E... Mais, com a questão do mandarim misturado com Frances registrado como lápide no rótulo, a sua Habilitação para dirigir o seu carro e a sua vida, e os cabelos embaraçados... Mas fica para outra oportunidade.

De qualquer forma é sonho de confronto que lhe chama a atenção e abre a possibilidade de refletir sobre a sua postura, suas atitudes, seus focos, suas escolhas, a forma como você responde às exigências da realidade. É hora de exercitar e experimentar novas formas de respostas.

Ah! Um detalhe: Lápis é pedra, referência a refratário, lage, lápide, defesa, proteção.

APRENDENDO A DECIFRAR SONHOS

“Embora tenha me dito para deixar a analise por sua conta, acho importante...” Não sei identificar quando posso ter te dito isso, em principio não é minha característica, antes pelo contrário, procuro dar informações o máximo de informações sobre os mecanismos para que o outro possa aprender a fazer a leitura de seus sonhos, e inclusive em seções de analise antes de me manifestar solicito a visão ou interprestação de meus clientes. Considero-as importantíssimas para minhas observações. Se em algum momento você entendeu o contrário desconsidere. Posso ter-lhe dito da dificuldade de autoanálise. Sinceramente não tenho nenhuma dúvida dessa dificuldade, ela já foi relata por muitos, é histórica e em geral cheia de armadilhas. Posso ter lhe sugerido que em caso de fechar o Blog, e já estive para encerrá-lo, que você procure o suporte de um especialista para continuar sua jornada que considero rica e determinada, sua tarefa será menos difícil. Mas enquanto aqui, por favor, não deixe de acrescentar sua visão, seus sentimentos considero-a importantíssima.

Quando acrescento informações dos mecanismos da psiquê, o meu objetivo é transferir conhecimento para que outros possam usufruir dessa possibilidade de autoconhecimento e para que possam fazer essa leitura independente de qualquer pessoa, só não tenho a ilusão de que seja um aprendizado fácil mesmo que possível. Senão já não estaria aqui, pois brincaria de decifrar sonhos.

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