quarta-feira, 3 de março de 2010

ORALIDADE II




  


Inicialmente aparece a inadequação, tensão, ansiedade, perda da espontaneidade. O sonho parece compensador de sua necessidade de comunicação. Você precisa romper o compromisso de não falar porque as pessoas não merecem te ouvir, romper o medo de falar, superar a severidade de sua crítica e de seu julgamento, encontrar sua natureza espontânea, sua naturalidade.
Você se defronta com a “neurose”. A neurose é a perda da espontaneidade. Supera-la é o reencontro com sua natureza original, espontânea, autêntica. Mas para reencontrar essa naturalidade é necessário se desvencilhar das armadilhas, ou você acabará sendo arrastada para dentro da patologia revestida de outras manhas, artimanha, máscaras. Neste caso você aparentemente rompe com a neura instalada, mas acaba envolvida pela neura que se reconfigura em novo formato para permanecer ativa, viva, atuando e te comandando com manifestações autônomas de inconsciente.
Eu costumo dizer que as doenças são vivas. Em geral as pessoas pensam na doença como uma manifestação estática, apenas sintomática de um desarranjo. Mas, não! As doenças são vivas, querem permanecer vivas, porque conquistaram uma forma de viver, ainda que seja como uma entidade invasora no corpo em que se formou e instalou.
O fenômeno me parece excepcional. A patologia resiste de todas as formas possíveis e se faz MUTANTE, oportunista, abandonando uma configuração constituída para se rearranjar de outra forma. Nesta hora, a máxima cristão se faz presente: Orai e Vigiai. Não se iluda rompa paradigmas, evite a mesmice, o caminho simplista e aniquile o dragão, a patologia, transforme essas energias densas e as incorpore à sua dinâmica, não perca de vista a possibilidade de ser autêntica.
Como? O seu momento é de reconceituar sua relação com a realidade, não escapar para respostas comuns. Evite a repetição de hábitos, se permita se redescobrir, retire essas carapaças que te envolviam e se permita livre. O que fazer? Compartilhe, divida, escute quando tiver que escutar, fale quando sentir vontade de falar e principalmente: não saia de um extremo para se exigir em outro. A uma longa estrada para você percorrer; Não se apoie em conceitos deformados, refaça-os; Não se escore em modelos, você blindará novamente sua liberdade.
Houve um momento em sua vida que para se proteger você encontrou uma forma que lhe permitiu se relacionar com relativo sucesso com o mundo. O tempo passou, e suas respostas já não se mostravam mais tão eficientes como no passado. Surge um novo momento. Descobrir como responder às exigências do mundo, às suas demandas pessoais, ao seu novo momento, à sua nova idade, realidade. Um trabalho hercúleo, onde você será exigida. Mas as perspectivas são favoráveis. Só não caia na armadilha da enganação, de se forjar dessa ou daquela forma. Se permita “Ser”. O Ser esta além do certo ou do errado. A referência são os princípios e a ética, assim você se forja com uma consistência maturada. Não precisamos nos moldar em uma armadura. Não se permita imaginária, se fazendo parecer, resultado de idealização, da sua fantasia de seduzir e dominar os outros. Você não precisa de justificativas para expressar seus sentimentos, emoções, pensamentos, crenças, conceitos, visão do mundo, percepções, descobertas, conhecimento, informação. Você não precisa de se esconder na fala para desviar o foco dos outros de seus constrangimentos ou inadequações. Você precisa de leveza... Apenas levemente Ser. Somos todos índios, humanos, todos em processo de aprender a viver de forma mais autêntica para que possamos expressar a riqueza que carregamos em nosso espírito do tempo, na alma.

Se nunca realcei, um detalhe cada vez mais foi ficando saliente e se soltando ao olhar, sua dificuldade em relação à fala intrinsecamente pode estar ligada não apenas ao processo de repressão, por você vivenciado, mas a algum desacerto gerador de distúrbio vivido na sua relação com sua mãe em fase de amamentação. Já havia lhe sinalizado sobre a recorrência de imagens de alimentos e de sua relação de constrangimentos com foco em alimentos em seus sonhos. Possivelmente existe algum nó formado e desenvolvido a partir do período da relação simbiótica vivida no primeiro ano de vida da criança com a mãe. É interessante, caso não saiba, que busque informações sobre sua fase de amamentação, quanto tempo durou, se foi amamentada, como sua mãe viveu este período, se teve depressão pós parto, a relação com o pai, o pai com a mãe. Investigue o que rolou no seu primeiro ano de vida.


Pela boca, após o corte com o cordão umbilical, estabelecemos a manutenção da vida. A criança estabelece vários tipos de conexão com a mãe: pelo olhar o contato visual; identificando e codificando sons maternos e os diferenciando de sons ameaçadores; pelo tato no sutil toque das mãos com os seios, rosto, e outras partes do corpo; pelo olfato na identificação dos cheiros primordiais da mãe associados ao prazer, ao conforto; pelo paladar com o sabor do leite, textura e posteriormente com os outros sabores, etc. Nos alimentamos não apenas de soro materno,  mas de amor, proteção, segurança, confiança, aconchego e inundados com esses alimentos, nesse universo sensorial de prazeres e êxtase, construímos nossos vinculos, a conexão com a realidade e a relação com o mundo.

A fala é antes da comunicação o resultado da construção do simbólico e do desenvolvimento da relação do indivíduo com a mãe. Essa dinâmica se espelhará, se projetará, na relação com o mundo. É neste ponto, nestaa conexão é que aparece a maioria de seus embaraços. Nesta ponte entre a margem do imaginário, do simbólico, de codificação com a realidade que aparecem as interrupções, defesas, resistências, ou seja, o fluxo é descontínuo, e instável que vives. Captou?

Eu sinto que foi um sonho mais do que interessante, um sonho transformador e elucidador. Sinto que o inconsciente responde favoravelmente ao seu esforço de transformação.

DETALHE:   o yogurte  é em tese o leite coalhado, o que nos remete à relação do soro materno. Héracles suga o leite da Imortalidade no seio de Hera. O  leite é simbolo lunar, feminino, ligado à renovação, abundancia, fertilidade, caminho da iniciação e simbolo do conhecimento. 

Caetano Veloso já cantava:



 "Inscrevo, assim, minhas palavras
Na voz de uma mulher sagrada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada...
...Dona das divinas tetas
Derrama o leite bom na minha cara
E o leite mau na cara dos caretas"

Todos querem sarver o leite bom, para voce ele é a sobremesa, que sentes não ter direito de consumir, o que te deixa encalacrada, defensiva poi acuada, como se o direito não houvesse.


 
                                                                       BYE 

3 comentários:

  1. olá, é eu de novo. Sonhei inúmeras coisas, mas agora acho impossível colocar na seqüência certa. Vou descrever o que mais facilmente ficou registrado. Lembro de estar vendo minha avó completamente esclerosada junto de uma outra senhora de idade também. Elas mal conseguiam ficar sentada e, por um descuido de minuto, ambas caíram no chão, pois pareciam não terem forças para se manterem na posição em que haviam sido colocadas. Por incrível que pareça isso não me causou sentimentos desagradáveis. Eu sabia que aquilo era natural da vida e, junto de um médico, mãe e tias, aceitava o fato de nada ser possível fazer para reverter à situação da velhice. Também sonhei que segurava um passaro amarelo (parecia uma mistura de canário com um passarinho normal). Ele era muito manso e não fugia da minha mão, uma vez que eu o segurava de maneira livre. Eu alisava a cabecinha dele e ele abria as asinhas demonstrando que estava gostando do carinho. Dei rosquinha para ele comer e ele bicou as migalhas parecendo faminto. Tudo estava bem, mas nesse meio tempo, alguns outros passarinhos que por certo deveriam estar pousados na calha da telha, fizeram caca e esta caiu em cima da minha cabeça. Enojada eu saí e entrei numa espécie de escola (que também lembrava o interior de um shopping) e procurei por um local donde pudesse lavar a parte superior da cabeça. Assim eu fiz (mesmo que completamente enojada) em um lavatório, e saí dele jogando os cabelos molhados de um lado para outro a fim deles secarem logo. Eu estava parecendo uma exibida jogando os cabelos daquela forma, mas não estava preocupada com o que poderia estar ou não aparentando. Essa despreocupação me dava sensações de domínio interior, pois sentia que podia fazer o que bem me permitisse fazer.
    Nisso entrei numa salda de aula donde ia ter uma orientação de trabalho em grupo, se não me engano com uma professora de biologia e sobre um assunto relacionado a flores. Eu estava preocupada porque ainda não havíamos nem se quer começado a fazer tal trabalho. Nesse momento eu tinha a sensação de estar numa escola normal, mas fazendo um curso superior. Ao certo nem uma coisa e nem outra se encaixa no meu real contexto de vida, pois apesar da sensação, o sonho nada tinha a ver com minha época de escola ou de faculdade, muito menos com o que eu vivo agora. Enquanto a professora orientava outro grupo, fui ao banheiro, fiz minhas necessidades, analisei como ficara o cabelo e retornei. Quando cheguei de volta à professora estava olhando dois livros que eu havia pegado na biblioteca e então comentei que lia dois livros por semana e ela disse que tal hábito era muito bom. Começamos a conversar dos livros quando uma jovem sentou-se inesperadamente atrás de mim no banco comprido de madeira e, mantendo a parte da frente do peito encostada nas minhas costas, começou a passar as mãos nas minhas pernas. Eu achei aquilo meio estranho, mas como não me incomodava, continuei tentando procurar uma passagem do livro que queria mostrar para a professora.

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  2. Continuação...
    Não lembro exatamente como o assunto continuou, apenas recordo do momento em que a professora comentou com essa jovem que ficara sabendo sobre o fato dela estar grávida. Ela confirmou e disso que queria aproveitar a oportunidade para perguntar se era verdade que, conforme o médico havia falado, ela teria complicações relacionadas ao colostro. Como não entendia do assunto, não sabia o que era colostro e nem era eu a grávida, não dei muita atenção. A professora confirmou dando algumas explicações e, quando acabou de falar, eu entrei no assunto brincando num tom de cinismo: ‘está vendo, eu que sou a melhor amiga dela pareço estar sendo a ultima a saber’. Eu de fato não sabia que ela estava grávida pela segunda vez. Até aqui eu pergunto: isso pode ter alguma referencia entre eu e minha mãe? Questionei-a sobre meu período de amamentação e ela não me deu informação nenhuma que fosse indicio de ter tido algum problema relacionado ao fato. Minha irmã que nasceu prematura e nunca mamou no peito fala até o que não precisa, mas eu que, pelo visto mamei muito e de forma natural, cresci tímida e recatada. Não entendo...
    Na seqüência eu fui procurar o resto do pessoal do grupo, uma vez que a professora nos aguardava. Eu era a maior responsável de todos, algo que, independente de sonho, sempre foi uma verdade em relação aos estudos e trabalhos acadêmicos. Creio que tivemos a orientação, mas não lembro dessa parte muito bem. Sei que, logo após, aproximei-me de um rapaz colega de classe e disse que precisava lhe falar uma verdade. Abertamente falei que, de todos os alunos novatos da classe (isso excluía apenas um aluno cuja amizade já mantinha anteriormente), ele era o que eu mais achava bonito. Retrucando ele se referiu ao aluno excluído (que expressamente eu dissera estar acima dele em quesito de beleza): ‘é o Danone não é?’ O outro rapaz não tinha nome e nem apelido de Danone e isso me soou como um termo pejorativo que demonstrava inveja ou ciúme, algo que compreendi. Entretanto, depois de acordar, me perguntei se essa palavra não poderia ter contexto oculto assim como o iogurte do sonho de noites atrás. Eu ri não querendo desviar o assunto para o ‘Danone’. Completando a fala, quis deixar bem claro que não estava com pretensões de namorá-lo e dissera aquilo apenas para que ele soubesse de minha admiração por sua beleza. Pensei que ele fosse dar uma de convencido e pronto, mas o que aconteceu foi o contrário, ele não soltou mais minha mão, ficou meloso, me acompanhou para fora da sala de aula e tentou me beijar. Durante esse processo de sair da sala de aula, eu vi o rosto dele ir se transformando em muitos rostos masculinos que de fato achei belos durante o decorrer da vida e, no exato momento do beijo, o rosto dele era a imagem do meu rosto em formato masculino. Eu não o beijei porque realmente não estava interessada nele, por mais que o achasse bonito. Se ele me parecia atraente, isso se perdeu uma vez que se tornou um meloso oferecido. Mas ainda pior foi quando eu me vi estampada nele, como se estivesse diante de um espelho a mostrar-me como eu seria se tivesse um corpo masculino. Por incrível que pareça, acho que analisar os sonhos está me fazendo entrar num mundo onírico cada vez mais ligados ao contexto da própria significação dos mesmos.

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  3. ultima continuação:
    Mas o impressionante de tudo veio na lembrança onírica seguinte. Eu estava numa casa (conhecida apenas dentro do sonho) e, de maneira jamais desejada em contexto real, eu naturalmente beijava uma outra jovem e havia uma intensidade de desejo e prazer imenso. Já estou perdendo as contas dos sonhos embasados em envolvimento sexual com pessoas do mesmo sexo. Isso me incomodou nos primeiros sonhos (se não me engano há uns dois ou três anos atrás), mas agora já é super natural, não apenas por eu respeitar a diversidade sexual que existe (inclusive se me descobrisse sendo bissexual), mas também por entender que a significação disso pode ser vasta. Uma outra lembrança muito embaçada que ficou é de eu estar andando na rua com um resto de leite dentro de uma vasilha. Eu ia levar esse leite para alguém, mas depois me lembrei que estava muito cedo e voltei para casa. Isso parece totalmente sem sentido e só estou contando por lembrar do que me disse sobre algum distúrbio que sofri na fase de amamentação. Não sei o que aconteceu depois e nem se meus sonhos prosseguiram por muito mais tempo até eu acordar. Em todos eles eu me sentia bastante à vontade, tranqüila e no meu natural. Até mesmo a caca de passarinho na minha cabeça, algo que no momento foi chato e nojento, foi rápido de ser resolvido. Será que de toda essa baboseira onírica há algo relevante para ser verificado?

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