quarta-feira, 3 de março de 2010

ORALIDADE


  

O sonho dessa noite: Eu desci do carro com minha irmã e cunhado (não sei se minha mãe e sobrinha estavam juntos) na porta de um restaurante e, logo na entrada do mesmo, encontramos com alguns amigos deles que jantariam conosco. Depois de arrumarmos uma mesa fomos nos servir. Eu peguei o prato e me servi com uma rodela de pepino, outra de tomate e então notei que não havia mais nada natural, apenas vidros com conservas. Nem mesmo o básico arroz com feijão havia no local e fiquei por entender que tipo de restaurante era aquele. Sem encontrar mais opção para por no prato, coloquei mais rodelas de tomate com pepino e uma colherinha de um creme branco que estava misturado numa conserva de pimenta. Nisso servi-me de iogurte, mas logo em seguida verifiquei que aquele iogurte fazia parte da sobremesa e eu não devia levá-lo para a mesa uma vez que o combinado era ir para uma sorveteria quando dali saíssemos. Dentro do sonho eu não pensei em confrontar os acompanhantes e fiquei olhando para o iogurte pensando no que fazer. Deixá-lo esquecido ali não seria o correto. Enquanto pensava um tanto apurada, a mulher que pesava os pratos pareceu perceber que algo estava errado comigo e sugeriu que, caso eu quisesse lavar algo, havia uma pia no cômodo da cozinha. Mais do que rápido eu fui para a cozinha e encontrei lá dentro um rapaz que terminava de lavar algumas louças e uma mulher que fazia um recheio de bolo com leite condensado cozido. Expliquei a situação para o rapaz e calmamente ele disse que eu podia despejar o iogurte num copo descartável e lavar a vasilha, amenizando a situação com a explicação de que depois comeria o iogurte ou colocaria-o em alguma sobremesa. Enquanto lavava percebi que estava me sentindo muito constrangida e pensava no quanto àquela situação me faria ficar mal-vista e mal-falada pelos dois ou por todos os funcionários do restaurante. Também pensava que minha irmã já devia estar sentindo minha falta na mesa e isso me deixou ainda mais tensa. Uma vez já estando encrencada na visão do meu próprio lado emocional, percebi que podia ser mal-vista de duas formas: 1. Por transparecer a imagem de pessoa calada e cheia de vergonha pela situação desconfortável que criara; 2. Por transparecer a imagem de uma pessoa extrovertida e meio estabanada, sendo o mais verdadeira possível, ou seja, eu não tinha intenção de usar mascara para aparentar o que não era, mas sim tentar ser o que não era e gostaria de ser naquele momento. Pensei comigo: ‘tem pessoas que extravasam suas tensões falando incansavelmente e outras como eu, se bloqueiam por completo’. Resolvi que ia dar uma de louca e extravasar meu constrangimento falando um monte de besteiras (já que em verdade eu não tinha nada sério a dizer naquele momento) e, realmente me sentindo uma doida, fui falando tudo o que vinha em mente. Comentei que trabalhar na cozinha de um restaurante deveria ser ótimo para ficar provando de tudo, disse que adorava tortas mas infelizmente não tinha boas receitas, falei que aprovava recheios com leite condensado cozido contando que quando criança minha mãe costumava cozinhar leite condensado para comer puro e, em cada fala, eu ria bastante de mim mesma naquela ousadia maluca de tanta besteira falar e, por incrível que pareça, eles também riam como se estivessem me adorando ou, no mínimo, me achando super divertida. Transformando a sensação inicial de desconforto em alivio e um feliz estranhamento de mim mesma, aproximei-me da mulher e elogiei as duas pequenas verrugas de seu rosto dizendo que não pareciam ser verrugas e sim duas sardas que faziam seu rosto ficar bonito e diferente. Eu não estava mentindo e nem tão pouco sendo verdadeira, estava apenas comentando aquilo que vinha em minha mente como se não quisesse mais parar de falar, pois, quanto mais falava, mais destravada e livre de mim mesma eu me sentia, além do que, percebi que se alguém fosse falar de mim posteriormente, não seria pela besteira cometida com a sobremesa, mas sim pelas besteiras que ali houvera falado. Eu sentia que eles estavam se agradando do meu jeito comunicativo (embora disfarçadamente forçado), mas o melhor era sentir que eu estava me amando enquanto uma maritaca.
Não sei se os meus sonhos estão se formando baseados nos meus pensamentos e sentimentos, ou se são estes que estão influenciando meus sonhos. A questão é que por várias vezes tentei me visualizar sendo comunicativa e, para tal, eu teria que agir idêntico ao sonho, ou seja, falar sem pestanejar (mas com bom-senso, claro) e ter de suportar a minha sensação inicial de estar me comportando como uma doida que não sabe de qual hospício saiu. Um ponto do sonho é muito real: geralmente a timidez é mantida por receio da desaprovação alheia e, daí, uma vez que ser tímido também é visto de forma negativa por praticamente todo mundo, por que não arriscar sofrer uma desaprovação por ser alguém desinibida e um tanto extrovertida? A principio qualquer tanto de palavras vai me fazer sentir uma tagarela, mas com o tempo, o equilíbrio do que dizer ou não e a espontaneidade perante uma conversa serão itens naturalmente conquistados. Foi sem dúvida um sonho bem interessante! O que acha?

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