quarta-feira, 17 de março de 2010

TORMENTOS II




Charlot36

Desastre,
 “enormes carretas foram literalmente passando por cima de todos os carros” Foi um massacre total e me deram como morta.” “eu não havia morrido, mas ela não acreditou que eu fosse eu.”... Fiquei desesperada...  Tinha de fazer algo. Perguntei a preta velha se era verdade que eu morrera... Eu ainda não havia morrido. Pedi ajuda.
Um acontecimento que ronda a fantasia de muita gente, é morrer e ser enterrado vivo. Ou seja, morrer para os outros, ter a consciência de estar vivo, mas ser considerado como morto. Não é apenas morrer, mas morrer sabendo que morreu sem morrer. No caso de ser enterrado o desespero aumenta porque o enterro define a impossibilidade de escape da situação, o que implicará em ter que morrer novamente, o que pode significar muita punição. No seu sonho é morrer sem ter morrido. O que nos remete a morte em vida. Esse o grande risco que corremos: estarmos vivos, mas simbolicamente não representarmos mais do que uma lembrança para os outros, e principalmente, independente do outro, viver sabendo que na vida estamos mortos, que a nossa dinâmica está paralisada, que pouco representamos, pouco realizamos, que nada somos. Vivos mortos, mortos vivos.
Veja que interessante: Após o “Grande Desastre” nas imagens iniciais do sonho, ocorre uma pausa e a mensagem parece clara: “Fiquei OBSERVANDO para meus pés que estavam calçados com algo improvisado...”.

 Duas possibilidades:
            1. Insatisfação pessoal. Você gostaria de estar calçada (diante da realidade) com outro calçado. Sua realidade é precária e te deixa insatisfeita. Seu foco é estético e não é funcional, te faltando pragmatismo, objetividade, pés na realidade;
            2. Há ocorrência de inadequação entre suas atitudes e os instrumentos que você utiliza para  se apresentar dentro do que lhe exige a realidade. Você observa, “O Olhar” para sua realidade, “seus pés”, e se percebe usando instrumental improvisado.

“... e relatou-me que para algumas festas era convidado, mas para outras, como a daquela noite, infelizmente o convite não era feito.” 
Lembre-se da música de Cazuza: “Não me covidaram para essa festa pobre que os homens armaram para me convencer... quero ver quem paga prá gente ficar assim”. A festa tá rolando e você não foi covidada, não se Sente covidada a participar. Eu pressinto mudanças de autoestima frente a este confronto: A necessidade de festas como demanda para aliviar seu elevado nível de tensão (ocorrências em sonhos anteriores) deixa de ser o foco e você independente dos fatos consegue manter-se diferenciada continuando o diálogo amigavelmente.
E aí, volta a confusão:
“...eu estava andando pela rua normalmente quando começou a acontecer um verdadeiro caos. Explosões, tiros, um enorme avião que foi decolar e caiu”
A mudança é que você apresenta postura, e PRONTIDÃO, iniciativa, se mobiliza para a sua proteção corre, se esconde, se protege. Mas... Sonhos são assim... Enquanto não nos diferenciamos em consciência a profusão dos acontecimentos nos envolvem de forma tão avassaladora que passamos para um estágio em que não sabemos o que fazemos, nem porque fazemos. Perdemos o fio da meada. Ocorre relação com a realidade? Sim, na vida, no dia a dia é assim, se não nos diferenciamos e se não mantemos nossas referências, os acontecimentos podem ser tão avassaladores que esquecemos a razão de nossas respostas, perdemos o fio da meada, perdemos a compreensão para o sentido de nossas respostas. Passamos a agir e a responder sem saber por que assim fazemos, sem termos a conexão com o fato determinante. Nos perdemos na profusão dos acontecimentos, passamos a ser apenas a reatividade, a resposta sem conexão com o evento desencadeador.
Você Foge. De que Foge? Porque foge? Você apenas foge para se proteger de uma ameaça abstrata, de uma realidade desfavorável. Foge para evitar ter que se mostrar, para não encarar o que você realmente é, e não sua idealização. Foge para se esconder na idealização do que quer parecer.
“Nisso a jovem que estava comigo deu-me cobertura e falou para me esconder embaixo do banco no qual ela estava sentada e assim, escondeu-me com sua saia rodada. Continuaram na procura e eu não cabia totalmente em baixo do banco.” Você se esconde por debaixo na barra da saia de uma mulher jovem. Frágil e ameaçada. Mas você é confronta até o seu limite de angústia e descoberta, desmascarada.
“Achei que eu fosse ser levada presa ou até que fossem me matar, mas unicamente avisaram que eu ia ser deportada.” Esse o seu medo: Se mostrar e ser marginalizada, excluída do meio, condenada, deportada para o desterro, lugar ermo, solitário, solidão. Condenada sem crime, culpada, submissa e escapista por medo de sofrer o degredo.
O aprisionamento em seguida dá mostra de que nem aprisionada você se livra do confronto e da ameaça.

A FUGA APENAS ADIA O ENCONTRO INEVITÁVEL COM O DESTINO



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