quarta-feira, 17 de março de 2010

TORMENTOS I






Charlot36
Como sonhei muito essa noite! Obviamente não lembro de tudo, mas vou tentar resgatar algumas partes. Lembro de estar dentro de um carro, que estava estacionado, conversando com um amigo muito querido. O clima era muito agradável e me sentia muito bem até que um carro colidiu exatamente ao lado. Uma vez que a rua era muito movimentada, senti que correríamos perigo se ficássemos dentro do carro e dizendo isso fui saindo desesperada do veículo, inclusive descalça e pesarosa por deixar meu tênis novo para trás. Não sei por que eu não estava calçada. Não tenho certeza se meu amigo conseguiu sair também, pois tudo foi muito rápido e outros veículos, incluindo ônibus e enormes carretas foram literalmente passando por cima de todos os carros que estavam na frente, inclusive os estacionados. Foi um massacre total e me deram como morta. Eu fui tentar convencer minha mãe de que eu não morrera e, dentro de um ônibus, observei que ela levava flores e alguns sapatinhos de crochê (que faço para doar a mães carentes) a fim de colocar dentro do meu caixão em representação minha. Cheguei até ela e disse que eu não havia morrido, mas ela não acreditou que eu fosse eu. Achei estranho e fiquei desesperada pensando que tinha de fazer algo. Nisso me falaram o nome de uma amiga que estava ajudando casos semelhantes e corri até ela cheia de esperança. Ela estava incorporada de preta velha e encontrei junto dela algumas outras pessoas conhecidas, inclusive, se não me engano, o amigo do carro que não sabia se houvera sobrevivido. Perguntei a preta velha se era verdade que eu morrera (mesmo tendo certeza de que estava viva) e ela confirmou que eu ainda não havia morrido. Pedi ajuda e ela disse que ia fazer sua mandinga. Não lembro muito dessa parte.
Desci do ônibus com o suposto amigo.
Nos pusemos a caminhar e outra vez sentia-me muito bem por estar ao lado dele. Ele não me passava sensação de segurança ou paixão (embora desse um excelente namorado), mas sim de cumplicidade. Algo nele me atraía bastante e me fazia ficar encantada e alegre. Fomos caminhando até a casa de uma pessoa conhecida dele. Entramos e sentamos na sala. Fiquei observando para meus pés que estavam calçados com algo improvisado e, embora não me agradasse muito, estava sem outra opção melhor. Ele trabalhava com arrumação de festas para a mulher que morava na casa em que estávamos e relatou-me que para algumas festas era convidado, mas para outras, como a daquela noite, infelizmente o convite não era feito. Ficamos conversando amigavelmente, mas também não recordo muito dessa parte. Sei que depois eu estava andando pela rua normalmente quando começou a acontecer um verdadeiro caos. Explosões, tiros, um enorme avião que foi decolar e caiu assim que saiu da pista provocando uma torrente de fogo que começou a se alastrar nos carros e casas, uma loucura sem tamanho. Pus-me a correr e tinha que tomar cuidado para não ser atingida pelas tampas dos bueiros que saiam fortemente voando enquanto jatos de ar eclodiam por debaixo da terra. Nisso adentrei num local e me escondi com uma jovem. Estávamos bem até que entraram duas mulheres e, desesperadas, nos vendo como sinal de ameaça (não sei por que) tentaram nos matar com facas. Em defesa, mesmo me machucando, enfrentei a briga e consegui matar as duas com a ajuda dessa amiga. Nisso desci para a parte de baixo pulando por uma grade. Parecia um deposito e havia varias caixas. Escondi-me entre elas tentando não ser vista pelas pessoas que já estavam ali escondidas, pois não queria ter de matar mais ninguém. De repente vieram alguns homens investigadores e saí fugida entrando numa sala de aula universitária. Eu estava desesperada achando que estavam me procurando por causa das mulheres que eu havia matado. Nisso a jovem que estava comigo deu-me cobertura e falou para me esconder embaixo do banco no qual ela estava sentada e assim, escondeu-me com sua saia rodada. Continuaram na procura e eu não cabia totalmente em baixo do banco. Desconfiado começaram a espetar um ferro passando-o pelo chão. Eu levantava o corpo apoiando apenas nas mãos e fazia de tudo para dar a impressão de que não havia nada ali. Insatisfeitos, mas sem poder levantarem a saia da jovem, pegaram um rodo e aí conseguiram me descobrir. Achei que eu fosse ser levada presa ou até que fossem me matar, mas unicamente avisaram que eu ia ser deportada. Fiquei aliviada. Abracei a jovem feliz pela nova amizade tão necessária naquele momento desesperador. Ela me consolou sobre a deportação e eu disse que estava tudo bem, até porque, o que mais queria era sair daquele caos. Deixaram-me reclusa até o dia seguinte dentro da suposta universidade e, durante a madrugada, encontrei um casal de assaltantes querendo roubar o local. Novamente tive que enfrentar mais duas pessoas e, correndo risco de vida, mas sem matar nenhum dos dois, eu consegui rendê-los (também usando facas e facões) até a chegada da policia que, não sei como foi avisada, não demorou a cercar o local. Isso pareceu me dar crédito. Ao menos pessoalmente eu me sentia favorecida com aquela segunda situação de enfrentamento corporal.
Depois disso eu caminhava com alguém que chamava de mãe, mas não se parecia com minha mãe, por um corredor cheio de variadas espécies de plantas. Tinha jeito de viveiro misturado com passagem de esconderijo secreto. No caminho, perto de uma parte que parecia uma gruta, encontramos dois sujeitos e um deles disse que me conhecia. Embora ele também me parecesse conhecido, eu tinha certeza de não conhecê-lo e desvencilhei-me com custo dele. Não estava nos planos encontrar ninguém ali e não sabia por que aqueles dois sujeitos passavam por ali. Ao final entramos numa espécie de laboratório de plantas e começamos misteriosamente a analisar e pegar algumas sementes. Entretanto, deixei minha mãe fazendo o serviço e fui analisar o local melhor. Saindo daqueles dois cômodos que eu conhecia bem, encontrei outros desconhecidos. Alguns cômodos pareciam abandonados, embora fossem amplos e de construção bem conservada, enquanto outros estavam bem mobiliados. O local era bonito e agradável, mas tudo ali parecia ser-me uma incógnita.
O resto eu não lembro. Por que essa mistura de pessoas tão amigas e outras tão ameaçadoras? Por que a diferença de ambientes torturantes e outros agradáveis? O que faz um sonho ter essas características contrastantes? Por que sonhar com tantas pessoas que só as conheço dentro do sonho?

3 comentários:

  1. Feed back
    Foi muito preciso tudo o que escreveu e adorei a imagem do túmulo. A cada sonho me impressiono com a “inteligência” oculta que existe em nosso inconsciente. Sinto que sempre fugi para me esconder na idealização do que queria parecer, mas atualmente tenho me esforçado para mudar isso. Claro que ainda acho um bocado difícil, mas o melhor é a exata compreensão dessa necessidade tão real que me é interiormente cobrada. Hoje tenho consciência de que a permanência de tormento existe além dos sonhos, pois se estende na realidade da vida. Ninguém cresce se não enfrentar os próprios tormentos a que tem medo. O sonho é uma parábola perfeita a mostrar-me que a vida nos força sempre, cedo ou tarde, a sermos fortes usando nossa parte de pessoa madura, integra, plena e capaz de crescer, vencer, superar limitações, se defender impondo respeito e autonomia moral. O desfecho final de tal sonho pode significar um começo de sucesso no caminho certo em retratação da vida real em si?

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  2. Nas ultimas noites tenho a sensação de não estar sonhando e, quando sei que sonhei, não consigo ter lembranças claras. Essa noite teve um pedaço que guardei em mente: eu estava numa casa que era da minha irmã (nada a ver com o apartamento no qual ela reside). Primeiro eu carregava a bolsa dela para verificar se as duas passagens aéreas estavam em sua carteira. Ela e meu cunhado iam viajar e fui atender o seu pedido de verificar se as passagens estavam guardadas. Eu passei pelo jardim que, ao invés de plantas, tinha pedras lisas e pretas bem grandes (batiam no joelho) e a bolsa dela estava muito pesada (devia pesar de seis para sete quilos). Eu não podia deixar a bolsa no jardim, pois facilmente algum ladrão poderia pegar. Não suportando o peso pedi ajuda para minha mãe e entreguei-lhe a bolsa para ela colocar dentro da casa. Nisso eu fui tomar banho e já estava despida quando vi vultos passando pelo jardim. Fiquei preocupada com a bolsa da minha irmã, mas não podia sair correndo nua. Chamei a atenção da minha mãe e depois minha irmã reconheceu que eram dois sujeitos que ela chamara para verificar algo que não escutei exatamente o que era. Todos já haviam tomado banho e eu ficara por ultimo, de modo que estava apressada em fazê-lo e, assim, despreocupei-me com o resto, ou seja, com o que estaria acontecendo fora do banheiro.
    No que me despi e abri o chuveiro, a água estava praticamente fervendo de tão quente e, de repente, apareceram dois homens (um jovem e outro velho) para conservar o chuveiro. Enquanto isso meu cunhado dava auxilio de conserto olhando por cima (era como se ao invés de teto houvesse uma parte superior de madeira, algo que nem sei explicar). Constrangida me cobri com a cortina que separava o boxe, mas ela era praticamente transparente. Ao mesmo tempo eu tentava não ligar muito para o fato de verem o meu corpo desnudo (eu me sentia a vítima e isso me tranqüilizava), mas queria retirar-me do local para que eles não aproveitassem da situação a fim de ficarem me observando (eu não queria ficar apenas como vítima). Eu estava interiormente acanhada por não saber como reagir e irritada por eles terem entrado de supetão no banheiro e invadido minha privacidade. Sem alternativa eu saí de trás da cortina e, agindo com naturalidade (um tanto forçada), peguei meu roupão e vesti. Depois me vi vestida com um vestido por baixo do roupão e parecia ter dado o banho por encerrado. Creio que já ficara indisposta a ter que voltar para o chuveiro que estava tão difícil de ser consertado.

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  3. Continuação
    Depois de finalmente consertarem o chuveiro, os dois homens e eu começamos a conversar. Não sei exatamente como foi esse inicio de conversa, mas sei que eu estava olhando fixo para os olhos ora de um e depois do outro quando me detive examinando a boca do homem mais velho. Ele tinha os dentes tortos e uma barba meio grisalha com partes ainda pretas e outras já completamente brancas. Comecei a pensar que ele mais parecia um mendigo do que um encanador quando ele, julgando de maneira errada o meu olhar, se aproximou segurando no meu braço em procura de mais intimidade. Mandei ele largar o meu braço e dava tapas na mão com que ele que me segurava, mas estes batiam nele de leve como se eu não tivesse a mínima força física para o movimento. Depois de três fracos tapas eu resolvi usar a entonação de voz e sendo completamente imperativa ordenei que ele me largasse enquanto fuzilava ele com um olhar direto. Imediatamente ele me soltou e, pelas minhas costas, disse numa tentativa de me amedrontar: ‘Você vai ver’. Era como se ele quisesse dizer ‘você ainda me paga por me recusar’. Muito corajosa eu voltei a encará-lo e perguntei muito séria e num tom mais nervoso: ‘Eu vou ver o quê? Você está me ameaçando?’ Ele pareceu assustado e nada falou. Voltei a insistir: ‘Fala homem, o que é que eu vou ver? Acha que eu tenho medo de você?’ Eu não podia saber ao certo se ele estava sem graça ou irado com minha reação, mas vendo que ele não tinha o que responder, eu fui para o quarto guardar o roupão. Minha irmã me olhava de lado com cara de reprovação e eu não entendia como tivera tanta liberdade para me defender daquela maneira ali, na frente dela. Neste momento me dei conta de que não eram apenas dois homens contratados para consertar o chuveiro, pois por certo, deveriam ser também dois conhecidos ou amigos dela e do meu cunhado que, inclusive, iam ficar para o jantar. De toda forma isso não mudava minha opinião de que o sujeito mais velho fora abusado tentando me agarrar em pleno corredor.
    Quando voltei percebi que todos já estavam na mesa jantando e, outra vez, estava eu ficando por último (assim como acontecera com o banho). Eu não estava com fome, mas sabia que precisava comer para depois não ter dor de cabeça (isso me aconteceu durante o dia). Quando ia entrar na copa o sujeito com o qual eu discutira veio me pedir desculpas. Disse-lhe com sinceridade que tudo bem, pois por mim nada acontecera e daria o caso por encerrado. Contentei-me pela possibilidade do entendimento, entretanto, bastante amuado, ele passou para o quarto e sem acender a luz, sentou-se na cama. Eu não sabia se ele estava se fazendo de coitado, mas aquilo não me agradou e disse-lhe: ‘Você não precisa ficar aí deprimido com o que aconteceu se auto-culpando, é só entender que não gostei da sua atitude e ter capacidade de assumir quais foram suas intenções sem joguinho de vingança’. Apesar da minha fala, ele continuou cabisbaixo como se quisesse que eu me sentisse culpada pelo seu estado de tristeza. Saí de perto dele demonstrando que não ia ficar acalentando ou consolando seu mal-estar. Longe de sentir culpa, pensei que ele ainda podia resolver se vingar de verdade e somente então tive uma ponta de medo, mas interiormente eu estava tranqüila comigo mesma e essa era minha força de coragem. Exatamente nesse ponto eu acordei. Parece um sonho tão longe da realidade, mas ao mesmo tempo provoca em mim um estado de animo feroz em busca dessa coragem de equilíbrio para agir com naturalidade e reagir com maturidade tendo pulso firme em minha própria defesa. Será que foi um bom sonho?

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