terça-feira, 6 de abril de 2010

IMPREVISIBILIDADE II



fantasias - carnaval2010/Rio  

“Outra vez um sonho de regressão física com criança/bebê...” Não necessariamente regressão. A imagem da criança pode ser uma representação, mas não regressiva, mesmo porque não me parece que tenha ocorrência manifesta, expressa, de comportamento regredido. Prefiro pensar na criança, incorporando o significado, a representação, e o símbolo (uma imagem simboliza um objeto, mas pode representar uma sensação, um sentimento) como seu lado infantil, puro, ingênuo, lúdico.
O sonho evidência confronto, e nós temos a oportunidade de investigação do fenômeno. De imediato associo com um momento chave que existe entre o fato, o acontecimento (como estímulo), a sua percepção e o tipo de resposta que você emite. No sonho o fato é imediato e determinado na sua construção, vamos pontuar:
. Você surge com uma babá uma criança e um bebê.
. O bebê cai da cama (evento)
Você determina a queda do bebe pela sua pré-intenção? Receio, medo, cobrança, tensão?
O “incs.” determina a mobilização do acontecimento como pré-confronto a partir da sua intenção, ou o desenrolar dos acontecimentos já estavam determinados?
Muitos são os que acreditam que o sonho já está pré-construído, neste caso nós não definimos nenhum acontecimento no sonho.
Eu tendo a pensar no sonho como uma dinâmica viva, um fenômeno acontecendo, não apenas um filminho com mensagem que passa na noite escura da alma. Como dinâmica, nós, a partir de nossas ações e reações, determinamos, dentro de certos limites, e dentro dos limites individuais de consciência, o desenvolvimento ou fechamento da gestalt do sonho em que participamos.
Para mim somos, a cada noite, convidados a um desafio, desígnio. Solicitados a desvendar ou a contribuir para a dinâmica de desenvolvimento do nosso inconsciente, a partir de seu foco, onde o inconsciente tem algo a dizer e nós a responder ou a intervir. Somos como que chamados para uma relação em que, como indivíduos da dimensão do real, somos solicitados a participar e a contribuir na dinâmica de construção de um projeto de vida onde o alvo somos nós mesmos, a realização do nosso projeto.
Nós somos, enquanto sujeitos, aqueles que têm instrumental para associar, integrar e intervir de forma objetiva no nosso destino, realizar tudo isso dentro de uma dimensão de realidade palpável que nos permite referências concretas. O Inconsciente ao contrário tem conteúdo, histórico e arquetípico, mas não tem poder integrador, a força de associar e integrar, já que é o resultado, como reserva multi dimensional e instintiva, de uma memória da origem da espécie, e da nossa linhagem. Ele é como que resultado de múltiplos e inesgotáveis conteúdos dissociados e desintegrados que a nos cabe integrar, como seres com poder de intervir.
No sonho você ficou impressionada, lábios trêmulos. Sinal do impacto que o acontecimento lhe causa, do seu temor. Alguns pensariam em desejo. Como o desencadeador do fato. Eu não! Existe o temor, o medo, não necessariamente como desejo. Independente de termos desejos projetados como medos, ou medos que camuflam desejos, temos medos como projeção de instintos defensivos.
Neste sonho tenho limites para compreender o cenário dessa construção.  O sonho foi enviado em 30 de março de 2010, no dia 29/02/2008 ocorreu a morte de Isabela Nardoni e agora, dois anos após, o casal estava sendo julgado e condenado no dia 27/03/2010. São datas próximas de uma comoção que não sei como te mobilizou emocionalmente, os conceitos com os quais se relacionou com esses fatos podem ter sido decisivos, mas que parecem podem ter servido de estímulos para sua mobilização.
Chama-me atenção a presença de sua mãe e irmã, a presença do triângulo onde você se sente excluída. Como sua expectativa é a “atenção” que elas quase nunca focam em você (na intensidade em que quer), a morte do infante não é o bastante para mobilizá-las. Sua expectativa frustrada de afeto e atenção, sua carência e sua forma de responder se punindo e julgando-as por frustrarem suas expectativas.
Em outro aspecto sua expectativa voltada para o que os outros fazem não lhe favorece sua iniciativa, sua prontidão. Esse é o que considero o ponto chave do confronto, independente da pulsão que aciona o confronto. Sua imobilidade, a paralisia, a ausência de uma ação. Vemos apenas a lamentação, a surpresa e a imobilidade, você travada.
Neste aspecto o confronto mostra que a polarização de tensão ainda é significativa, e a ação assemelha-se a ação do individuo imaturo, dependente do “outro”.
A irritabilidade é sinal dessa energia apenas reativa que responde por pulsão e não sob sua intenção. Sua nudez exposta reaparece reafirmando a necessidade de se expor e do outro a de centralizar atenção, e sua ambivalência que aflora em forma de conceitos pré-concebidos, vergonha da fantasia, máscaras, do outro sem olhar para as suas próprias fantasias, produzindo a necessidade de reavaliar seus conceitos, se reeducar na sua forma de conduzir sua vida. Ao final o nível de tensão é diminuído abaixando a polarização através de relações afetivas, lúdicas e de lazer. As piscinas podem relacionar origem de nascimento, águas primordiais, conforto, prazer e equilíbrio das tensões. Que reaparecem levemente na sua necessidade de controle, domínio e julgamento do outro. É necessário a reeducação, reaprender ou desenvolver novas formas de se relacionara com o mundo e de lidar com suas energias, pulsões e impulsos, de forma lúdica e afetiva, permitindo que sua criança renasça. Focar sua maturação e correr atrás de seu prazer, abandonar a postura justiceira e corretiva, a repressão e relaxar... Nada é tão importante que mereça o ressentimento, a mágoa e a tensão, isso é andar prá frente olhando prá trás. Não vai dar certo.

Um comentário:

  1. No sonho eu poderia induzir a morte do bebê como uma maneira de receber atenção ou ter que reagir ao confronto da falta de atenção? Dizer que a irritabilidade não é intencional, mas reativa, seria o mesmo que dizer que, se algo do meio externo me irrita ou entristece, é sinal de eu ter deixado de agir em função de mim para apenas reagir em função do meio? Percebo que quando isso acontece abro brecha para preocupações tolas e arrogâncias descabidas. Ao agir uso a intenção premeditada, mas ao reagir sob o foco da tenção uso o impulso irracional, seria essa a diferença que molda a maturidade e a imaturidade? Preciso agir buscando o prazer pessoal ao inves de ficar esperando situações externas que me levem a reagir duramente contra a postura alheia, é isso? eu me paralizo escondida atrás do julgamento crítico e das lamentações que faço dos outros usando disso como uma desculpa ou essa paralização é autonoma? é possivel saber como e porque eu me moldei a essa postura justiceira e corretiva? até então eu pensava que isso fosse bom... desvenciliar desse jeito de ser não me parece muito simples. deixar minha criança renascer quer dizer me tornar uma pessoa mais serena, com menos cobranças, expectativas e julgamentos? mas e se eu me perder ainda mais dentro da minha própria infantilidade?

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