quarta-feira, 7 de abril de 2010

QUESTÕES



No sonho eu poderia induzir a morte do bebê como uma maneira de receber atenção ou ter que reagir ao confronto da falta de atenção?

Essa é a idéia. Existe uma intenção consciente e uma intenção por “detrás” em tudo que nós fazemos, ou seja, não somos tão “puros” como possamos nos imaginar. Não é atoa que o “inferno” está cheio de gente bem intencionada. Essa intenção subjacente, mascarada ou mobilizada por forças de inconsciente (núcleos autônomos, estruturas que têm acesso à consciência, e nos sonhos, estruturas de psique, conteúdos arquetípicos ou não). Neste caso é preciso compreender que essa “carência” não é apenas abstracta, uma falta ou ausência, mas um conteúdo que tem vida própria, autônoma, dentro de você, e que sobrevive se alimentando da energia disponível que a cada momento eclode nas brechas (reatividade emocional) de consciência que você abre de espaço.

Veja: como um conteúdo autônomo sobrevive dentro de nós, se ele para não se dissolver precisa de se sustentar em estrutura? Estimulando seu comportamento reativo e se apoderando da energia que você coloca disponível na mobilização psicosomática de suas manifestações emocionais explosivas e intensas.

Dizer que a irritabilidade não é intencional, mas reativa, seria o mesmo que dizer que, se algo do meio externo me irrita ou entristece, é sinal de eu ter deixado de agir em função de mim para apenas reagir em função do meio?

Perfeito, assim se comporta o reativo. O estímulo desencadeia a pulsão, a explosão emocional, descontrolada. Mesmo que acreditemos que possa haver uma “Loucura Controlada” onde o indivíduo reaja “sob” controle ou com “um certo controle”, ele se induz permanentemente a um comportamento reativo a partir de um estímulo externo que desencadei os eventos, o cenário, o comportamento.

Essa “tristeza” pode ser apenas uma resultante de núcleos autônomos manifestando caprichos, intenção manipulativa, sedução, domínio, mobilização da atenção do “outro”. E a irritabilidade é suscetibilidade. O individuo não possui filtros de defesa, resistência a estímulos e ao impacto dos eventos externos, desencadeando reações defensivas ao ser contrariado ou ao se sentir ameaçado. Falta de flexibilidade, etc. Nesta ordem o individuo funciona a partir dos acontecimentos no meio em que esta inserido.

Percebo que quando isso acontece abro brecha para preocupações tolas e arrogâncias descabidas. Ao agir uso a intenção premeditada, mas ao reagir sob o foco da tensão uso o impulso irracional, seria essa a diferença que molda a maturidade e a imaturidade?

Em principio, sim, é uma das diferenças, já que o espectro que envolve o processo de maturação é mais amplo, considerando todos as possibilidades de eventos que definem a dinâmica de formação da personalidade.

Preciso agir buscando o prazer pessoal ao invés de ficar esperando situações externas que me levem a reagir duramente contra a postura alheia, é isso?

Este é um bom começo. Você deixa de ser resultado ou resultante do meio e procura ser um individuo pró-ativo, que tem consciência de suas possibilidades, realiza escolhas, não se esconde na omissão, intervém interfere e atua no seu meio. Posteriormente, o indivíduo descobre que para ir alem, se faz necessário navegar entre as possibilidades de ação e as de “não ação”. Interferirá ou observará, dependendo das peculiaridades de cada momento. Mas definitivamente já terá se distanciado da indiferenciação, estará significativamente diferenciado do “outro”, tendo rompido os limites de resistência e da tendência que carregamos de sustentação da imaturação ( a manutenção do estado original).

eu me paraliso escondida atrás do julgamento crítico e das lamentações que faço dos outros usando disso como uma desculpa ou essa paralisação é autônoma?

Quando nos escondemos, nos omitidos na procura de uma situação mais confortável e que pouco nos exija.

A neurose é uma paralisia. Não é necessário colocar a carapuça, pois não estou fazendo referência a você, seria indelicado, grosseiro. Quero apenas aproveitar a sua reflexão para aprofundar a resposta.

Um dos graves sintomas da neurose é a prostração, a paralisia. A neurose tende a paralisar o indivíduo. A doença vai aos poucos apoderando-se das energias do individuo que vai ficando travado, sem ação, sem mobilidade, funcionando apenas na fantasia dos desejos não realizados. Neste aspecto a paralisia é decorrência de uma dinâmica que se faz viva e autônoma.

é possivel saber como e porque eu me moldei a essa postura justiceira e corretiva?

Defesa, idealização, facilidades, compensação de autoestima, caprichos, vaidade, competição, carências, inveja, etc. Mas existe no processo de desenvolvimento humano, um momento que é coletivo, um momento em que isso fica mais possível. São momentos em que somos (todos passamos por isso) levados a agirmos de forma arrogante e prepotente. Eu penso em momentos mais favoráveis, quando superamos objetivamente estados de dependência ou conquistamos espaços dentro da sociedade. A arrogância, a falta de humildade, o fascismo eclodem, o ditador em nós aparece. São momentos em que precisamos reavaliar nossos conceitos, em geral eles compensam estados anteriores de submissão e de inferioridade.

O presidente Lula não é mais ou menos arrogante, petulante, prepotente do que foi o Presidente FHC, ou daquele Collor de Melo caçador de marajás, todos compensam um complexo de inferioridade inerente ao biotipo brasileiro e que faz de nossa sociedade coletivamente uma sociedade onde o complexo de inferioridade é tão arraizado levando-nos a uma construção hipocrita como sociedade permissiva, onde enganosamente tudo é permitido pelo arbítrio. 
Fora da fase (coletiva) desta conquista de independência, a manifestação é apenas pessoal e compensatória ligado a pessoalidade.

até então eu pensava que isso fosse bom...

Todo caminho em principio é um “Bom” caminho... O seu, até hoje, lhe fez,  bem sucedida... Mas, num determinado momento precisamos mudar já que as respostas que desenvolvemos não respondem mais às expectativas do que queremos, aí... o caminho passa a indicar perigos, sofrimentos, e insucessos à vista.

...desvenciliar desse jeito de ser não me parece muito simples. Deixar minha criança renascer quer dizer me tornar uma pessoa mais serena, com menos cobranças, expectativas e julgamentos?

Nesta vida a simplicidade é uma conquista, merecida.

Exatamente!
...mas e se eu me perder ainda mais dentro da minha própria infantilidade?

Seu maior risco é se perder nesta aparente “maturidade”.

*****

      Em princípio, parece-me que você está pegando o “Espírito da “Coisa”“. 

BYE

Um comentário:

  1. Sinto que quando agimos e mentimos por medo, damos mais força ao medo e as ilusões em nós do que a nossa coragem que precisa ser desenvolvida. Encarar o medo ou ignorá-lo é difícil, parece comprometedor demais, chega a parecer uma irresponsabilidade como se não estivéssemos dispostos a nos autodefender. Mas percebo que muitas vezes queremos nos defender de neuroses que só existem em razões de nós as mantermos em nossa mente por conta de nosso ego disfarçado. Muitas vezes nos complicamos numa perdição completa ao tentarmos apenas nos defender de um medo imaginário que nem sabemos se um dia se fará de fato real. Nos boicotamos sem nem termos ciência disso. Não é a toa que somos nosso pior rival, nosso principal inimigo. Mas eu quero ser a minha mais sincera amiga, a minha melhor amante. Eu quero ter a simplicidade de uma criança que inocentemente não se atormenta pensando em perigos daqui ou dali, que não se exige masoquistamente pensando que não é boa o suficiente perante o mundo, que não se culpa quando faz uma travessura. Eu quero me sentir segura por saber que sou protegida pelas leis da vida, eu quero me deixar livre para viver o que gosto com o senso de responsabilidade de ter optado por isso conscientemente, mesmo que minhas escolhas não satisfaçam as expectativas alheias e os outros me critiquem ou se apiedem de mim. Eu quero ser mais mocinha do que vilã de mim mesma. Eu quero apenas ter a certeza de que estou agindo de maneira correta perante os meus princípios e sentimentos, de que estou crescendo, amadurecendo, deixando as ilusões e carapuças para trás. Eu quero apenas me encontrar no autodescobrimento e apaixonar-me pelo que sou em essência, pela criança que existe dentro de mim. Quero apenas ter a pureza de coração que é inseparável da simplicidade e da humildade, que exclui todo pensamento de egoísmo e de orgulho...

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