sábado, 24 de abril de 2010

A BRUXA NO ESPELHO

      Ticiano Vecellio, 1514, Amor Sacro e Amor Profano
Galeria Borghese, Roma
“MdeLON”

sonhei que entrava numa casa pela porta dos fundos,ao entra me vi numa biblioteca, comecei a procurar livros quando surgiu uma mulher que parecia uma pessoa muito sabia,que me falou que se era conhecimento que eu queria deveria sair da casa dar a volta e entrar na casa pela porta da frente.Imediatamente fiz o que falou. Ao abrir a porta da frente, havia um pequeno corredor ao entrar a minha direita na parede tinha um espelho o qual me olhei vi refletida a imagem de uma bruxa com os olhos cor de fogo, corredor que dava acesso a uma sala que mais parecia um consultório.Tinha varias pessoas com capuz todas de cinza,e a primeira pessoa se levantou sem capuz veio em minha direçao e vi que era meu filho e me dizia :
- Mãe eu te perdôo.

O sonho parece-me instigante, mas alguns detalhes não favorecem:

A leitura de um sonho pode ser feita independente do tempo em que ocorreu, mas tem relação com aquele momento específico, com o cenário em que o sonhador estava inserido, com as atitudes desenvolvidas pela pessoa para as exigências da realidade naquele tempo. Portanto considere estas variáveis para tirar proveito de algum conteúdo que ainda se mantém ou que ainda se repete no seu repertório de respostas dentro de sua realidade. No caso de existência de conflitos a referência é o passado passado, não diz respeito à realidade presente. Realço pela citação: ‘...na época desse sonho eu fazia...”.

Outro detalhe: Identifico-me com os estudiosos que acreditam que o inconsciente nada tem a esconder, e que, portanto nâo se esconde em imagens, subterfúgios ou símbolos para dizer alguma coisa. Ele diz dentro de seus limites, o que aponto como primordial para que o individuo reavalie a rota de sua vida previna-se com mudanças necessárias e evite desastres e sofrimentos desnecessários. Neste aspecto o sentido do sonho é funcionar como instrumento de atualização, reestruturação, compensação e em situações de urgência, Confronto. Estes, os confrontos, podem surgir de forma suave ou intensa e dependerão da posição, em estágio de desenvolvimento, em que o individuo se encontra. Quanto maiores se anunciam os perigos do individuo atravessar a faixa de segurança definidas pela psiquê a partir de referências instintivas e codificadas geneticamente mais intensas as evidências, maiores os confrontos. Como se o rompimento das margens de segurança fortalecessem conteúdos autônomos ameaçadores à psiquê.

Considerando estes detalhes, sua reflexão deverá levar em conta as variáveis citadas na sua avaliação e busca de compreensão.

Entrar pela casa pela porta dos fundos é exatamente escolher portas secundárias de entrada na sua casa, subterfúgios, dissimulações, máscaras. Entrar por trás. A mulher que surge parece-me imagem arquetípica que te orienta a refazer sua entrada, seu comportamento, referenciada no eixo de sua vida. Disse-lhe parece-me porque pode ser um lado pessoal que conduz e referência moral, de princípios, de ética, e que lhe aponta   a nova entrada para não incorrer em erros que possam ser devastadores na tua vida.

Voce aceita a condução deste princípio, deste lado e refaz sua entrada pela frente.

Você entra se depara com um corredor, transição, instabilidade, período de travessia, de mudança de margem. E aí...SURPRISE!!!!

Você vê um espelho com a imagem de uma bruxa. Você se depara com seu lado sombra, a bruxa espelhada. Seria ela narcísica? Possivelmente pode ser uma evidência de um momento narcísico, egocentrado. Um momento em que poderia estar voltada para vivências de grupo, ou coletivas que espelhassem, Exoterismo, Hermetismo, Privacidade, segredos inconfessáveis, buscas que poderiam contrariar princípios severos de formação. Por exemplo: Uma pessoa de formação familiar, cristã, ortodoxa, poderia desenvolver conflitos ou ser confrontada de acordo com a rigidez da formação, se passasse a buscar grupos religiosos alternativos. Captou?

E do meio do grupo surge o filho te perdoando. Cristãos em geral já nascem do pecado, carregando a culpa, mas mulheres tendem, em decorrência da pressão social histórica, a carregar mais culpas do que os homens. A culpa da mulher nasce na ambivalência do conflito entre a os conceitos e a imagem de pureza virginal e sagrada e de pecadora e fonte de prazer do profano e do pecado.

Ou seja, a mulher se liberta na maternidade. Vive a luxuria, peca é fecundada, e a gestação, imagem exposta do pecado é sacralizada na maternidade. Aí minha cara, a mulher passará a vida frente ao produto do pecado sacralizado. Inevitavelmente e dificilmente as mulheres conseguem se libertar da culpa, principalmente porque não abrem mão da ideia mítica do sagrado. Dificilmente a mulher se torna humana e, portanto carrega pela vida a culpa quando foca a construção de sua individualidade e de sua maturação. Correm o risco de fortalecer conteúdos psíquicos do imaginário, ilusórios e infantis, não atingindo a plena maturação.

O sonho pode espelhar essa ambivalência, o conflito entre suas buscas no presente e seu passado, o seu fortalecimento enquanto pessoa, a sua maturação humana como individuo pleno e o seu papel maternal e sagrado, mas aprisionador porque apenas fruto de expectativa ancestral. Neste aspecto o trabalho no presente pode transformar esses conteúdos míticos que anseiam se transformar e se realizar.



Alguns trechos da leitura será post na reflexão do Blog Aeternus Femininus

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