sábado, 3 de abril de 2010

CALDEIRÃO DE EMOÇÕES

   
CH41
Essa noite eu sonhei muito!
Primeiro sonhei que estava numa casa muito grande e bonita, que inclusive parecia um palácio, na companhia de uma jovem e de seus dois irmãos mais velhos. Creio que eu não morava ali e, portanto, devia estar apenas de visita. Tenho certeza de que não foi à primeira vez que sonhei estar em tal lugar. Eu conversava com a jovem tranqüilamente enquanto mexia com massinhas sobre uma peça de ferro cor de bronze. Não sei se eu enfeitava a peça ou se a utilizava como um molde, mas estava gostando do trabalho, achando-o interessante e bonito. Não sei se a massa de modelar era biscuit ou daquela massinha infantil. Num certo momento apareceu uma mulher e todos desviaram o foco da minha pessoa para ela, a qual começou conversar alguma coisa que não recordo bem, mas creio que o assunto era tenso. A conversa entre eu e a jovem interrompeu-se abruptamente.
Depois disso foi pior. Eu estava em casa, a mesma que moro, enquanto minha mãe e irmã (não sei se havia mais alguém) haviam ido para a casa da vizinha dos fundos, embora no sonho a vizinha fosse outra pessoa. Ela havia contratado uma professora de dança ou ginástica e eu podia escutar a música e algazarra da minha casa. Eu me sentia enclausurada, não pelo fato de não poder sair, mas por ter que me contentar em ficar sozinha no meu quarto sem ter nada para fazer. Senti-me muito irritada e melancólica, tanto por não ter sido convidada, bem como por todos terem ido e eu ter ficado para trás completamente abandonada. Eu sentia todos se divertindo enquanto eu sofria uma espécie de indignação invejosa. Na vida real eu costumo lidar com isso dizendo para mim mesma que não preciso mendigar a atenção e o carinho de pessoas que não gostam de mim o suficiente para desejarem ou valorizarem a minha companhia, mas no sonho o sentimento negativo aflorou em proporções gigantes, tanto que comecei a falar sozinha esbravejando e esmurrando um armário da cozinha. Eu não estava descontrolada, apenas muito possessa de um total mal-estar perante a situação. Eu não tinha nada para fazer, mas mesmo que tivesse, a insatisfação era tanta que eu praticamente não ia conseguir fazer nada mediante aquela ira interior. Era um misto de desespero com profunda tristeza que se convertia numa raiva total. Eu me sentia desprezada e inferiorizada.
Essa indignação invejosa também está presente na minha vida quando sinto que os outros, por milhares de motivos que justos ou tolos, possam estar sendo mais felizes, se divertindo ou aproveitando mais a vida do que eu. Sem dúvida é um sentimento cruel, masoquista e que luto para não deixar me martirizar.
O que tal sonho está querendo me advertir com todo esse sentimento de profunda revolta?
Depois sonhei que uma conhecida da minha avó havia morrido e, logo após acordar pela manhã, minha avó pegou uma banana e jogou no meio do mato dizendo que era para a alma da falecida comer. Achei o cúmulo do absurdo pois, para mim, aquilo significava apenas o desperdício de uma banana. Aqui se repetiu o conflito com alguém mais velha do que eu, de modo que eu nada podia fazer além de respeitar. Depois o conflito voltou a ser com minha mãe e irmã. Por serem duas pessoas conhecidas, sem dúvida, elas são as que me causam piores pesadelos. Nós discutíamos, mas minhas palavras de nada valiam, pois embora elas não soubessem argumentar, a força da sentença mais velha tinha mais peso. Meus sentimentos pouco importavam perante a postura imponente e a vontade soberba das duas. Horrivelmente tive a sensação da minha irmã me sojigar numa luta injusta de níveis de forças diferentes. Cheguei quase a dizer para minha mãe: Um dia eu desapareço da sua vida e você vai morrer a mingua. Minha raiva dava para executar tal ameaça, mas minha coragem de filha não. Depois eu estava numa espécie de camarim de artistas penteando com os dedos uma peruca de cabelo liso, comprido e loiro quase branco. Não sei de quem era e nem quem a usaria. De todo modo eu parecia estar responsável por aquele apetrecho. Em seqüência eu acordei. Ainda estava de noite.

Para não considerar o conceito de energia em psicologia, vamos partir do princípio einsteiniano: existe uma equivalência entre massa e energia (E=mc²), Em 2008, fisicos do Centro de Física Teórica de Marselha, com o auxílio do supercomputador Blue Gene, confirmaram pela primeira vez na prática, que a massa do próton provém da energia liberada por quarks e glúons, provando que a massa provém da energia, conforme teorizado por Einstein há mais de cem anos.
Ou seja, não é demais considerar que: somos seres luminosos e energéticos, energia em forma de matéria. Consequentemente possuímos em formas diversas, diferentes fenômenos, em diversos níveis, ocorrendo no mesmo momento em nós, desde matéria sendo transformada em energia, energia sutil emanada, energia sendo consumida. Incorporação, transformação, trabalho e projeção.
Tudo isso para dizer que seu sonho é você, seu produto, seu resultado, sua manifestação. A forma como você vive, responde e o resultado desse processamento, dinâmica, metamorfose e transformação da libido.
Senão vejamos:
·         Massinha de modelar – fôrma de ferro cor de Bronze. A idade do ferro precede a idade do bronze, e sinaliza mudança, transição e evolução. Consolidação de formato, modelagem, construção;
  • ·         “Eu me sentia enclausurada, não pelo fato de não poder sair”;
  • ·         “Irritada”;
  • ·         “melancólica”;
  • ·         “abandonada”;
  • ·         “excluída”;
  • ·         “indignação invejosa”;
  • ·         “eu não preciso da atenção do outro”;
  • ·         “esbravejando” “Esmurrando”;
  • ·         “não descontrolada... mas possessa”;
  • ·         “insatisfação”;
  • ·         “Ira”;
  • ·         “desespero, tristeza e raiva”;
  • ·         “desprezada e inferiorizada”.

O caldeirão fervente das energias pulsantes e emocionais. E tudo isso por que se sentiu excluída e marginalizada. Excluída, Marginalizada, por quem? O sonho evidencia dois aspectos de grande importância:
·         O poder pessoal e individual de escolha e de resposta às exigências e acontecimentos da vida;
·         As consequências que sofremos pelas escolhas que fazemos.
No sonho o inconsciente te confronta com a profusão emocional que você produz por não ser o foco de atenção no cenário em que está inserida. Isto lhe remete para a sua dimensão narcísica, caprichosa, e autopunitiva. Você se marginaliza, se exclui da participação coletiva por que você é muito competitiva, compete com as pessoas e com os acontecimentos.
 Ser o centro das atenções não é o bastante.Busca ser o centro do mundo quando abre mão de sua vida pessoal, renuncia a si mesma e espera receber em contrapartida a renúncia dos outros à VIDA. Como eles não se renunciam, sua expectativa é frustrada e você entra num Looping, essa profusão emocional e de sentimentos que não consegue administrar.
Este é o preço que pagam aqueles que negociam suas vidas pela satisfação da demanda de afeto que supre suas carências. Já lhe indiquei em sonhos anteriores que a resposta a esse enigma não é o preenchimento desse vazio. Você nunca preencherá esse vazio, esse vácuo, esse buraco de fundo “fundo”. Ele é pessoal e coletivo. É cósmico. É arquetípico.
Esse “momentum” eu o considero especial e um ponto Fractal que surge como enigma que precisa ser superado e rompido.
A grande armadilha desse momento é que a sua configuração é paradoxal: Quanto mais você corre para satisfazer a carência, mais ela cresce. Quanto mais busca satisfazer sua demanda afetiva mais ela cresce. E o pior, como o vazio cresce, menos os outros parecem lhe dar, menos você sente receber, o que aumenta sua necessidade e sua cobrança e insatisfação. Um monstro voraz carente de afeto cresce dentro de você, aumenta a solidão, a dor, o sofrimento, as angústias. Looping fractal.
A solução é renunciar ao vazio afetivo, abandoná-lo e focar a satisfação no fortalecimento de sua individualidade. Nas mínimas coisas, nas mínimas ações. Descobrir o que lhe dá prazer e buscar a sua realização, para não ser engolida pela sua boca. Você imagina? Sua boca te comendo?

Para finalizar sua avó dá alimento para a falecida. Fantástico.  Precisamos alimentar nossos ancestrais, ter compaixão pelos mortos. Amanhã seremos nós os mortos. Precisamos alimentá-los, de saber, de afeto, de generosidade. A avó é arquétipo da Velha Sábia, ancestral arquetípico que se prepara para tomar lugar na condução de sua vida substituindo o “Puer aeternus”. Em geral esta substituição ocorre na metade da vida a partir de um período de transição e ocupa o seu lugar se o preparamos devidamente, caso contrário envelhecemos repetindo hábitos e comportamentos infantis. Daí a necessidade de amadurecermos. É relevante que reavalie seu comportamento lógico. Pessoalmente acredito que ele é fundamental como aquisição de consciência, mas você enquanto mulher tem sentidos fundamentais e fenomenais que precisam ser considerados e que não devem ser relevados ou esquecidos. Mantenha a sua lógica como referência, mas não abra mão de seus sentidos extras, eles definitivamente enriquecem sua vida.
A vida é absurda, 
muito mais absurda do que nossa vã consciência
 é capaz de enquadrar.
Neste sonho há recorrência de indicação da sua importância e necessidade de realizar escolhas e de não esperar que o outro te “conduza”. Tome atitude, vá em frente, corra atrás e busque o teu prazer ao invés de ficar na amargura invejando a felicidade dos que são capazes de buscar o que você não faz.


Um comentário:

  1. Interessante essa questão de competitividade. Somente agora me dou conta de como isso está presente em minha vida. percebo que tenho dificuldade de fazer algo ou me envolver com algum trabalho, pois no fundo a verdade oculta é que não me satisfaz constatar que posso ser substituível nesse algo que for fazer ou trabalhar. Daí eu fico buscando meu talento, um dom do qual ninguém vá me humilhar ou, mesmo que exista quem faça melhor, não terá quem o faça exatamente como eu, ou seja, serei útil por completo, terei minha função, a qual dificilmente outro fará no meu lugar. Assim serei lembrada, requisitada, jamais substituída. Isso mais me atrapalha do que ajuda. É como se inconscientemente eu me dissesse: ‘Se outro pode fazer isso em meu lugar, para que eu fazer? No fim não vou ter reconhecimento nenhum’. Que automanipulação horrível! Isso me paralisa muito, me leva ao sentimento de insatisfação em tudo que vou fazer ou ao desanimo e desistência. Esse desejo de reconhecimento de fato é um vazio, uma carência que só agora começo a entender mais profundamente. Então o melhor é desconsiderar essa necessidade infinita, tola e limitadora? Parece tão difícil!

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