sábado, 17 de abril de 2010

ACONCHEGO


  
CH49

Das lembranças dessa noite, sonhei que estava deitada com a cabeça no colo de um homem que era casado. Haviam outras pessoas também sentadas no mesmo sofá, mas não lembro quem ou quantas eram. Eu folheava um álbum de retratos ou algo parecido enquanto ele remexia em meus cabelos agradavelmente. Eu tinha receios de que ele pudesse se interessar por mim (e até eu por ele) ou que alguém falasse algo sobre aquela intimidade, tanto que depois eu lembro de estar comentando com uma das jovens sobre o fato de que, na minha opinião, uma traição só existe quando envolvem sentimentos profundos entre ambos os envolvidos e mentira para uma terceira pessoa ou mais. Disse-lhe que até mesmo um beijo selinho eu seria capaz de dar e nem por isso poderia configurar o caso como traição. Também disse que, quando um homem pensa em trair a esposa (ou visse e versa), em verdade ele está traindo a si mesmo em primeiro lugar. Interessante que eu estava com a cabeça no colo dele e só via suas pernas vestidas na calça jeans comprida, ou seja, não vi o rosto dele, mas sentia o carinho, não sei com qual nível de interesse, com que ele remexia em minha cabeça massageando o couro cabeludo.

Na vida real eu já tive envolvimento com homens casados (cada um completamente diferente do outro) e, embora soubesse da minha posição apenas de amante e não ousasse querer nada além disso, por vezes gostando da liberdade que usufruía pelo não compromisso, cheguei à conclusão de que pouco me satisfazia e, mesmo que existisse sentimento envolvente de ambas as partes, preferi excluir da minha vida relacionamentos do gênero. E por incrível que pareça, acho que tenho a sina de atrair homens casados... ou tinha, pois hoje em dia minha postura perante os mesmos são outras e, apesar do discurso do sonho (o qual revela verdadeiramente o que penso), acho que na vida real não daria liberdade para a cena sonhada, muito menos para um selinho ‘inocente’. Atualmente prefiro me esquivar completamente da posição de amante.

O sonho realça dois aspectos:

1. A carência. Quando a demanda afetiva é muito intensa ela impede a sustentação dos conceitos e dos princípios e define nossas escolhas;

2. Sua relação com homens casados lhe favorece a sua dificuldade de envolvimento afetivo, e lhe favorece continuar se escondendo de um encontro amoroso autêntico.

O medo de se interessar pelo homem ou dele se interessar por você, esconde o desejo de encontrar um homem que lhe favoreça este conforto afetivo, a segurança de um colo, o cafuné e a intimidade de um momento onde se possa se afastar de suas defesas. Seu desejo mais profundo.

Veja o sonho, a imagem é típica de um intimismo de ninho amoroso, aconchego. O nível de tensão no sonho é reduzido, e a questão é apenas conceitual. Mesmo que suas defesas não impeçam suas vivências, em conceito você vive o que se dispõe a negar. Contradição e ambivalência. O sonho parece confrontar os conceitos que definiram suas atitudes na realidade, o que é natural porque a psique lhe favorece a reafirmação e consolidação de suas escolhas. Mesmo que neste cenário encontre uma certa satisfação sexual ou afetiva, em princípio, você se enquadra no papel de mulher secundária e amante. Naturalmente se satisfazia se protegia de envolvimentos mais consistentes, mas pagava o preço de ser a “outra”, a que faz o papel de se submeter ao cafajeste, ao mulherengo, ao traíra, o compromissado apenas com o próprio prazer, e encontra a justificativa de que os homens não merecem um comprometimento afetivo, fechando o circulo e justificando se papel de descompromisso. Obviamente sustentando o sentimento de fracasso e frustração.

Enquanto você é chamada para satisfazer sua demanda pessoal e afetiva, é confrontada com o vazio de viver uma relação insatisfatória e insegura. O afetivo fica a meio caminho entre a satisfação e a pouca profundidade.

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