terça-feira, 25 de janeiro de 2011

VACA SAGRADA








Eu estava passando pelos fundos de uma casa com uma conhecida quando notei vários sacos de quitandas que estavam começando a mofar. Outra vez o simbolo do mofo que, nessa época de chuva, pode estar ligado a minha casa, a qual que não tem condições favoráveis de ventilação e iluminação do sol. Então eu pensei que iam jogar as mesmas no lixo e juntando tudo numa sacola resolvi pegar para mim a fim de esmigalhar e alimentar os passarinhos. Parece apenas uma recorrência do sonho anterior. Nisso minha conhecida comentou que havia gente sim na casa. Até então eu não notara ninguém para pedir aquilo e naquele momento vi uma criança e uma mulher na janela. Ambas choravam provavelmente achando que eu ia roubar-lhes as quitandas. Como esta não era a minha intenção, mostrei-lhes que as mesmas já começavam a mofar e perguntei se poderia levar. Outra mulher apareceu não me dando permissão e pedindo-lhes desculpa expliquei outra vez a situação dizendo que não tivera intenção alguma de ofender ninguém. Um homem fortão veio conversar comigo e outra vez pedindo desculpas perguntei se poderia deixar tudo reunido na sacola ou se deveria devolver exatamente da maneira como estava. Ele não respondeu, mas pela sua expressão percebi que era melhor optar pela segunda alternativa. Voltei a distribuir as quitandas sobre a bancada e depois sentei-me sem jeito de ir embora, pois a mulher e a criança ainda choravam. Varias pessoas foram saindo para a área e aquilo me pareceu uma reunião. Interessante que me sentia íntima daquelas pessoas mesmo sem conhecê-las. Quando procurei pela minha conhecida ela houvera ido falar com uma senhora e somente então notei que eu estava num terreiro cujo atendimento se finalizava. Foi então que constatei que aquelas quitandas realmente estavam naquele local para mofar, pois eram oferendas. Como eu não sabia disso, não havia sentimento algum de culpa. Comentei com uma pessoa que estava sentada do meu lado que, se soubesse de tudo antes, teria ido conversar com alguma entidade também, mas logo em seguida concluí dizendo que não me importava, pois já trabalhara em um terreiro e já me cansara de tanto fazer as coisas para mim e para os outros, de lidar com banhos, velas, oferendas, etc. Eu estava sendo completamente sincera e isso estava relacionado a minha realidade fora do sonho. Novamente a recorrência com os aspectos religiosos.

Ao sair dali fui com um rapaz a um rodeio. Entramos na arena donde haviam vacas e porcos enormes. Mais uma vez a recorrência com tais animais. Esse rapaz que estava comigo subiu num banco para beber leite da vaca, que deveria ter uns dois metros de altura, e o leite não saia de suas tetas e sim de seu lombo, cerca de uns três palmos atrás dos enormes chifres. Verifiquei o esguichar do líquido indo muito longe como se fosse um jato de água saindo de uma torneira. Fiquei impressionada com aquilo, mas ao mesmo tempo achei tão complicado beber do leite que perdi a vontade. Nisso eu subi num porco, que assim como os demais estava muito limpo, e passeei com ele como se estivesse cavalgando até chegar do outro lado da arena, donde havia uma arquibancada interna. Pegando uma cadeira eu e esse rapaz fomos procurar lugar para sentar mais no fundo. Vale dizer que tal arquibancada era no mesmo plano da arena, ou seja, não era mais alta, algo que dificultaria a visão do espetáculo. Enquanto tentávamos localizar onde era melhor de sentar, alguém pegou nossas cadeiras e, quando fui pegá-la novamente, uma jovem grosseiramente puxou a mesma dando a entender que o assento era dela. Só que ao fazer isso ela acabou arranhando minha mão. Disse-lhe que não precisava ser sem educação e antes que ela dissesse qualquer coisa, completei dizendo que a perdoava e me retirei. Não me importando de ficar sem cadeira, voltei para a parte da frente disposta a ver o espetáculo em pé. Interessante que essa arquibancada interna era coberta com uma parreira, formando um pátio agradável e fresco.

Sonhos apesar de serem sonhos e refletirem uma dimensão diferente e surpreendente, constituída em naturezas de tempo e de espaço fora dos padrões que nos formamos e nos condicionamos, não envolvem um “SER” diferente de nós. Ao contrário disso, eles são espelhos daquilo que somos, pensamos, agimos, reagimos. Espelham um espectro e a forma como respondemos à realidade, como respondemos ao mundo.

A tendência é de se pensar o contrário, e de nos confundirmos. Como a realidade onírica surge num vácuo de consciência, em um cenário que escapa ao nosso “controle”, constituído como uma dimensão onde o tempo possui outra natureza e o espaço se constitui a partir da bidimensionalidade, somos induzidos ainda pelo baixo e sutil nível de uma consciência fugidia a funcionar com uma lógica que nem sempre atende às nossas necessidades e que sempre pode se apresentar ilógica. Somos levados a acreditar que todo aquele “mundo” é apenas um acontecimento bizarro de nossa existência real e mental.

Neste aspecto a tendência de não se reconhecer no sonho é mais forte e serve como defesa frente aos confrontos a que somos submetidos.

Mas não tenham dúvidas, o sonhador é a essência nua e crua do que ele é na realidade, ainda que se desconheça.

O sonho confronta-a com situações das quais mentalmente busca escapar: O Constrangimento; a vergonha; o mal entendido; a distorção dos fatos; a crítica e o julgamento alheio; o desconforto de viver situações que fogem ao seu “Controle”; o desconforto de cometer erros;, o perfeccionismo; a severidade consigo mesma; a culpa de não se mostrar enquadrada na expectativa alheia; a sensação de exclusão do coletivo; a severidade da cobrança; as dificuldades que a realidade lhe apresenta e que lhe exigem esforço e determinação; etc.

A figura masculina nos últimos sonhos vem se apresentando como grande aliado. Te acompanha e te dá suporte. Há integração e equilíbrio. Ele a puxa para a realidade extraordinária dos sonhos e a acompanha em sua sina e desafios.

O rodeio, de vaca e porcos, te coloca frente à possibilidade de sugar o leite sagrado, o alimento afetivo, vindo da mama. Mas a mama não existe, o leite esguicha do lombo. Acho interessante a sua renúncia ao leite, pode significar crescimento. Abandonar a mama, renunciar à mama. É muito complicado depois de grande continuar a beber o leite na mama, o crescimento exige mudanças de hábitos e a realidade cobra.

Por fim o confronto agressivo, e a renúncia à reatividade. Você abandona a resposta agressiva, a competição e segue seu caminho. Isto é diferenciação diante do mundo, da realidade da vigília e do mundo onírico. Você encontra uma nova resposta e frente ao confronto faz a sua escolha.

Neste sonho é possível perceber que frente aos confrontos nasce um novo repertório de respostas diante do mundo. As atitudes pensadas, o cenário observado e avaliado, mas é preciso avançar nessas transformações, avançar experimentando, não se repetir, na descoberta de novas formas de ser diante das pessoas, diante dos acontecimentos que nem sempre ocorrem como se gostaria que ocorressem.

Mas cuidado! Você cavalga o porco. O porco simboliza as tendências obscuras em várias formas: compulsões, egocentrismo, luxúria, gula, cegueira, obsessão. Vigiai seus princípios para não abrir mão deles nas horas decisivas e para que sirvam como referência de conduta. A verdade, a generosidade, a compaixão e... a Mansidão.

E a vaca que é sagrada simboliza a fertilidade, a renovação, a esperança, a mansidão, a terra mãe, que nutre e alimenta a leveza, a vida. No Egito o amuleto Ahat - a cabeça de vaca com um sol entre os chifres – era utilizado para refletir calor para os corpos mumificados.

Lembra-se do sonho anterior? A energia passa a circular inundando de luz o corpo adormecido, amortecido pelo bloqueio do fluxo de energia, travado pelas defesas, pela rigidez e pelos limites a que se impõe.

A vida renasce. Ainda que para isso seja preciso morrer e enterrar os resíduos.



Ψ

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