sábado, 15 de janeiro de 2011

DESEJO, INCESTO E VINGANÇA






Depois sonhei que chegava numa casa e meu pai veio me recepcionar. Disse-lhe que eu não podia demorar e ainda assim vi ele trancar o portão e guardar as chaves. Enquanto adentrávamos pelo quintal em direção a casa, pensei em como reagiria se ele quisesse fazer sexo comigo. Eu não saberia definir se havia algum interesse proibido em mim. Entretanto, numa sequência de pensamentos, eu já estava em dúvida e não sabia se tudo o que acontecera de incesto fora verdade ou apenas criação mental. Logicamente dentro do sonho o que estava em minha mente não era a vida real, mas os vários outros sonhos de conteúdo sexual tidos com meu pai. Era como se houvesse ocorrido uma sabotagem onírica.

O pai pervertido havia sido real mesmo dentro dos sonhos, teria alguma conotação com a realidade, ou tudo não passava de fantasia mental?

Quem ou qual tipo de pai era aquele?

Seria o pai real ou o pai interno pervertido projetado nos sonhos?

Enquanto pensava ele me deu um rádio antigo para segurar (igual a um rádio que meu pai teve na vida real) dizendo que o havia consertado. Realmente a música estava limpa, sem chiados ou ruídos. Ao invés de entrarmos na casa, a qual parecia estar trancada, meu pai pendurou o rádio num galho de árvore e começou a podar a mesma. Nesse momento contemplei o local e agradei-me de ali estar. Era um terreno bastante inclinado com uma construção de fundo, na parte mais alta. Interessante que só me dei conta da inclinação ao estar lá no topo, ou seja, não senti a subida em si. De lá até o portão havia um gramado com duas fileiras (no sentido atravessado do terreno) de arvores. Havia muito mato e as arvores realmente estavam precisando de poda. Não entendi o fato de justamente naquele momento ele ir serrar os galhos das árvores e remexer naquilo me deixando um tanto perdida sem saber o que fazer ou pensar. E mais um detalhe: lá embaixo havia um banheiro e observei duas mulheres adentrando nele, mas não dei importância ao fato, embora achasse curioso ter aquele banheiro lá.
Em principio a sua relação com seu pai não pode em tese ser separada da relação entre sua mãe e sua irmã. Desta forma seus desejos incestuosos seriam uma forma de estabelecer um pacto de proximidade e de cumplicidade com seu pai, satisfazendo um certo desejo mórbido de se vingar de sua mãe e de sua irmã sendo a amante de pai, a que rouba o homem da mãe e que estabelece uma relação mais profunda do que sua irmã poderia ter estabelecido com sua irmã.

Nesta ótica, o pai criado internamente é aquele que realiza o seu desejo mórbido e a perversão é do tamanho do ressentimento originado na exclusão da relação entre a mãe e a irmã e na necessidade de punir a mãe por ter-lhe entregue ao domínio da irmã.

Quando a mãe abre mão de ser a mãe que te conduz entregando-lhe ao poder de sua irmã, sua mãe consegue se safar da relação de competição e do embate travado e criado por você.

Quando você se envolve na competição com a mãe, num processo, até um certo limite, natural de diferenciação de sua individualidade você antecipa o seu processo de maturação sem estar devidamente preparada para essa ascensão. Você define, de certa forma, a atitude de sua mãe de renunciar à autoridade materna e de entregar essa responsabilidade à sua irmã.

No jogo das relações parece-me que você nunca aceitou este desfecho dado pela mãe, através da renúncia ao jogo competitivo. Ela não suportou o seu confronto e pediu socorro, ela precisava te "salvar" e se salvar.

Assim a presença do pai torna-se a sua possibilidade de vingança, frente ao resentimento que poderia estar te consumindo, decorrente da revolta, de ter ganho o jogo mas não ter levantado a taça da vitória.

Faço esta associação e considero sua negação de ocorrência real de um pai incestuoso.

O rádio é a ampliação da capacidade de perceber aquilo que instrumentalmente somos incapazes. Você ligada ao mundo, às ondas do mundo.

Enquanto seu pai realiza a poda, o corte dos excessos, o direcionamento do crescimento, a limpeza das árvores você já se encontra no topo.

A árvore é símbolo feminino e materno, referência da fixação na terra. Podemos pensar que este lado masculino do lenhador ou do castrador seja aquele que controla e administra a fecundidade, ou que impede a plena expansão do seu lado feminino. Ainda que possa ser o principio de realidade que a mantém ligada ao mundo.

As mulheres “lá embaixo” podem ser referência à sua irmã e à sua mãe, já que elas fazem irremediavelmente parte de um triangulo da qual participa junto delas, elas que são seu foco e referência de mãe.

O sonho ainda pode ser o encontro com o pai falecido. Neste caso, ele vindo do mundo dos mortos, pode estar lhe indicando a necessidade de focar sua ação em projetos mais definidos dentro da realidade, ou a importância de realizar em sua vida a poda dos excessos, a limpeza do campo no seu entorno, à importância de trabalhar a construção através da manutenção daquilo que é de sua responsabilidade cuidar e sua vinculação com a natureza.

Há o detalhe do seu incômodo  causado pelas mudanças que vão sendo realizadas, processadas, inicialmente tira-lhe as referencias e a deixa paralisada. È preciso assimilar essas novas mudanças, digerí-las e incorporá-las à sua vida. 
Além disso, a certeza de que na vida precisamos abrir mão de galhos para colher no futuro os frutos do renascimento.

Ψ

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