sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ADÃO E EVA
















No terceiro sonho eu estava saindo com minha mãe quando peguei minha chave. Fomos à casa de um casal conhecido nosso e que há muito tempo não sabemos notícia. Eles davam um curso aqui perto de casa. As duas filhas do casal também participavam do estudo e no sonho encontrei-as dormindo. Lembro que ficamos um tempo conversando na sala, mas não sei nada da conversa em si e nem das pessoas que realmente ali estavam. Só lembro que, quando fomos embora do local, as meninas acordaram para dar um recado à mãe sobre a escola na qual ela estava esperando uma vaga para lecionar. De fato essa mulher é professora. Em seqüência foram as duas que saíram, pois a mais nova ia à natação. No sonho, tanto uma quanto a outra estavam cerca de uns cinco anos mais jovens. Em verdade nem sei por que sei que aquelas pessoas eram as que eu conheço na realidade, pois dentro do sonho a aparência era diferente em todos. No que fui sair verifiquei que estava com dois molhos de chaves iguais. Ganhei meu chaveiro de uma tia quando me formei e ele tem meu nome grafado. Achei estranho ver outro chaveiro idêntico ao meu, mas soube diferenciá-los pela quantidade de chaves. Um deles, o que certamente não era o meu, havia uma chave a menos. Fiquei sem entender aquela confusão e imaginando de quem seria o outro molho de chaves. No que saí com minha mãe ela quis passar em um supermercado e então me dei conta de que estava nua. Era como se ela não houvesse me aguardado vestir a roupa. Embora constrangida eu reagia normalmente, pois em todos os sonhos de nudez, sempre penso dentro deles que existe de fato pessoas que culturalmente adotam esse estilo de vida ‘sem roupa’ e, sendo assim, o problema seria dos outros se me achassem uma louca, despudorada, esdrúxula, etc. De tempos em tempos sonho que estou em locais públicos e me encontro nua, por vezes enrolada num cobertor ou toalha, ora só com a parte superior ou inferior e, até mesmo, só com peças intimas. Por mais chato que isso possa ser, nos sonhos eu sempre me forço a agir normalmente como se isso de fato fosse super normal. Parece que o pensamento influencia em sentir mais ou menos vergonha. Sei que sonhei mais coisas, porém novamente as lembranças ficaram apenas nisso. Ah, e quanto ao sonho das lesmas que comentei outrora?O simbolismo da nudez pode ser relacionado em dois aspectos que estão intrínsecos no mito cristão da criação. A nudez pura de Eva e Adão se transformam na ponte para o pecado, na descoberta do prazer a partir da transgressão e do rompimento das fronteiras do conhecimento. Pode-se pensar que este aspecto religioso se afigura como distante de nossas vidas, mas veja bem: Quando criança experimenta-se a nudez com naturalidade e espírito desarmado, puro, inocente, sem “maldade”, mas a partir da adolescência, bebemos da árvore do conhecimento e somos relançados no universo do prazer originado nas carícias táteis, gustativas, olfativas, com o “outro”. Nasce o pecado, o proibido, a vergonha (mesmo que no processo de desenvolvimento a repreensão cultural já tenha se manifestado). Daí a duplicidade de significados: o natural, o encontro, o amor, a troca e a vaidade, as paixões, o realce dos sentidos, o corpo sedutor que atrai os olhares e os desejos. O corpo que aprende a seduzir para manipular, dominar, que instiga o desejo do outro, as compulsões, as fragilidades, as carências, o sonho do prazer, da comunhão, da integração para tomar posse do outro. Mas também para saciar sua sede de prazer arquetípica, já que somos mobilizados por pulsões e compulsões instintivas registradas na Matrix de nossas origens. Acrescenta-se a necessidade de se exibir, o que é manifesto natural na sociedade Narcisa-conservadora, que não deixa de ser ambivalente e cínica: abre as portas para os exibidos mas responde com dubialidade cobrando, execrando, exaltando, consumindo, desejando e repudiando moralmente.


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