domingo, 12 de dezembro de 2010

ALTA TENSÃO




Depois um vizinho apareceu desmontando os fios de eletricidade do padrão para ver como eles estavam ligados, pois na sua casa estava sem energia e provavelmente os fios deviam ter se soutado. Logo veio a mãe dele com uma conhecida e a filha. Essa conhecida ficou me interrogando sobre Portugal, se eu já fora muito lá e contando de suas constantes viagens ao exterior me fez sentir humilhada e triste com minha dupla nacionalidade que em nada me favorece, já que eu nem viajo para lá. Eu estava na casa dos fundos, a qual estava alugada, quando notei que havia na varanda da casa superior, a qual também estava alugada, cinco vacas na varanda e dois porcos. As vacas pulavam na porta de vidro como se fossem cachorros. Elas mal cabiam no espaço. Achei aquilo um absurdo e não entendia como minha mãe dera sua permissão para tal. Nisso um dos porcos filhotes pulou para baixo e começou a correr atrás de mim. Comecei a correr pedindo para que tirassem aquele porco de trás de mim, mas era só brincadeira, pois depois eu mesma agachei e passei a mão nele não me importando com seu corpo melecado de sujeira. Notei que dois ou três homens estavam tentando colocar uma caixa de correio no portão da garagem e já haviam retalhado (na minha visão estavam destruindo) o portão praticamente todo. Subi a escada que dá acesso ao sobrado e encontrei minha mãe e irmã dormindo, cada uma deitada para um lado e dividindo o mesmo sofá improvisado. Também sem local de ficar, elas estavam dormindo na casa superior junto com os inquilinos. Fechei a porta com cuidado para não acordá-las, e desci as escadas enquanto o tapete de retalho com figuras de mosaico que cobria toda a extensão da mesma escorregou e de péssimo humor recoloquei-o no lugar. Haviam uns cobertores que também rolaram escada abaixo e sem paciência apenas os joguei para cima. Eu queria desabafar, contar minhas tristezas para alguém, falar que estava detestando não dormir em casa, que era péssimo durante o dia ficar num local tão conturbado, mas ninguém podia me ouvir naquele momento. Não segurei as lágrias e chorei sozinha.

A vaca é a nutriz do mundo, símbolo da Terra Nutriz, ama de leite que amamenta tanto a sua cria como as crias humanas. Mas não alimenta apenas com o seu sumo, seu soro leite, mas é o animal que alimenta com sua carne, com o seu corpo a fome humana dos carnívoros.

Na índia é a vaca sagrada, e em muitos lugares é o símbolo da fertilidade, da riqueza, e da renovação. Mãe Celeste.

Animal pacífico, símbolo celeste e da iluminação representa a natureza humana e a sua capacidade de aprimoramento e transformação.

O Porco simboliza a comilança, a voracidade, ele é um sorvedouro. È símbolo das tendências obscuras, ignorância, gula, luxúria e egoísmo. È libidinoso e a ingestão de sua carne representa a estimulação da sensualidade. O seu significado oposto em algumas sociedades é a representação da abundância e prosperidade. Porcos charfudam na lama.

Corra “Lola”, corra para que a bestialidade não se apodere de você.

Existem conexões energéticas que estão sendo refeitas, religadas. Neste sentido a imagem e auspiciosa. Conexões de rede sendo plugadas podem sinalizar amadurecimento neurogenético e consequente liberação energética. Você pode precisar de energia.

Em contraposição, a falta pode ser sinal de que está gastando mais do que possuis. Se isto acontece pode ser indicação de sintomas de angústias ou depressão aflorando. Se observe no seu funcionamento para ver se não está se levando ao limite do desgaste.

O desgaste pode favorecer o afloramento de conteúdos e pulsões incontroláveis (o porco), já que caracteriza a suscetibilidade e quebra de filtros de defesa e proteção.

A sequencia do sonhos mostra que há tensão elevada. Severidade consigo mesma. Elevado grau de exigência e tentativa de controle do seu entorno. E preciso diminuir esta tensão, pelo gasto de energia, pela tensão que ocasiona, pelo desgaste do corpo e da saúde.

Uma caixa de correio é uma boa indicação de comunicação, mas na atual circunstâncias ainda pode ser pouco. Se faz necessário avançar nesta comunicação, se abrir para o mundo, abrir possibilidades de descoberta e de cotatos, sair do isolamento e se entregar ao envolvimento social, para que realize o destino coletivo que anseia se comtemplar.

E uma questão importante:

“Eu queria desabafar, contar minhas tristezas para alguém, falar que estava detestando não dormir em casa, que era péssimo durante o dia ficar num local tão conturbado, mas ninguém podia me ouvir naquele momento. Não segurei as lágrias e chorei sozinha.”

Indica que o sonho é catártico, que a tensão está elevada, que o choro regula o equilíbrio, mas que a resposta pode ser de autocomiseração.

Tudo bem! Existem momentos em que o choro é livre, que uma angústia pode tomar conta e choramos nossa solidão, porque somos pequenos diante do universo, por que somos sós, porque o esforço é excessivo, porque a vida muito nos exige, e nem sempre os projetos se realizam e ficamos impacientes, esperneamos... Mas a vida é isso e mais um pouco.

Precisamos permanentemente ir de encontro aos nossos propósitos, e nem sempre somos fortes, ou quase sempre somos frágeis, delicados e também precisamos de colo. E... se cada um está envolvido com sua vida, porque cada um tem o seu momento, e esse é o seu tempo de se descobrir cansada.

Abandone a auto piedade, seu momento de ficar com pena de si mesma passou... É hora de levantar a cabeça e seguir porque assim é o nosso destino. E mesmo que não pareça... Tenha a certeza, nós não estamos sós, há sempre um caminho ou algo para partilhar com alguém que vive ou que já viveu este mesmo momento. Porque isto independe de nós, isto faz parte das forças poderosas que nos envolvem este universo e nos tocam para que amaciemos nossa arrogância, para que possamos no amanhã sermos um pouco melhor do que conseguimos ser no hoje.





sábado, 11 de dezembro de 2010

MÃE DRÁSTICA, MÁ DRÁSTICA

 A Bruxa - 1640 -
 Salvator Rosa - Milão -
Pinacoteca Privada

Depois eu estava na casa da minha prima, pois não estava mais tendo condições de morar em casa (não sei por qual motivo, pois não recordo muito bem dessa parte). Nisso minha prima e eu fomos para a casa donde minha mãe estava e, muito nervosa não lembro por que, mamãe maltratou até mesmo a própria sobrinha.

A casa é símbolo do corpo, nossa casa, nosso templo, o repouso, a intimidade, a privacidade, o lugar do recolhimento, o espaço da pessoalidade, extensão da individualidade.

Uma hora a pessoa cresce, abandona o casulo materno e parte para a construção do seu casulo. O movimento é natural e manifestação da expansão, do crescimento, é projeção da separação, origem da necessidade de diferenciação, que faz de cada um uma dimensão da singularidade da matéria.

É o fim do longo processo de simbiose iniciado na casa do corpo materno, no útero. A consolidação da separação da mãe, do pai, da casa grande, da família. É o início da projeção de formação da individualidade diferenciada e conquistada. É o princípio da conquista da libertação.

Muitos poderão perguntar: fim da simbiose? Sim, fim da simbiose iniciada no interior do corpo materno, consubstanciada na fase oral, na indiferenciação corporal, sustentada ao longo do desenvolvimento infantil, da adolescência e finalizado a partir do inicio da vida adulta para uns, e ao longo da vida adulta para outros. Neste longo processo muitos são os que não conseguem se libertar do poder presencial e permanente da MÃE.

Já lhe disse anteriormente: Precisamos matar a mãe, o pai, eliminar as amarras que nos condenam a viver a eterna repetição dos dependentes. Matar simbolicamente sem cometer suicídio. Matar para que morra o infantilóide em nós, para permitir a morte do filho, da criança carente, amedrontada, sem recursos, sem poder de defesa para que se possa postar-se diante da realidade com individuo maturado.

A mãe madrasta já desvia o olha punitivo para o outro. Você não é mais o foco de sua repressão, condenação. Mas a mãe ainda é madrasta, “maltrasta” a prima. O seu olhar ainda a teme, mas essa mãe em você é fonte de sua reatividade, do seu “nervosismo”, da pulsão agressiva e destrutiva. Essa agressividade você projeta na mãe ou a ela projeta em você?

Há o confronto e há o recuo, a regressão, a volta à condição de filha submetida ao poder materno, mas há a aquisição da consciência da necessidade de se libertar, mesmo que, ainda, a filha pulse como se quisesse não crescer, se mantendo a filha criança. E essa necessidade de se libertar repousa no conceito de que o outro com sua grosseria lhe empurra para a sua decisão.

Importante é a consciência de que não se precisa de justificativas para crescer ou para se libertar da mãe. A dificuldade de avançar nesta direção pode indicar culpabilidade no ato de crescer, como se ao sustentar este cenário, esta realidade, se fizesse possível a manutenção do conforto do outro, do conforto da mãe.

Se isto existe, rompa com esse dilema.

Para as mães filhos são sempre “meu bebê”, nunca deixam de serem filhos, nunca crescem, porque é assim que mantêm o conforto de continuar lhes dedicando tempo e preocupação, sem terem que se defrontar com outras realidades em suas vidas.

Daí, filhos tendem a ser o único sentido de vida de mulheres. Como se elas tivessem nascido apenas para procriar, realizando a perpetuação da espécie. E claro, essa é uma forma de negar a maternidade pró criativa cujo sentido da vida é apenas dar vida ao outro, negando a própria vida. E este sentido lhes é confortável, protege-as do insólito da existência, de ter que encarar o não sentido da existência. Diferentemente da cruel realidade em que os homens mergulham no “Sem Sentido” da realidade.

Portanto, reavalie essa culpa ou a justificativa para recuar e não avançar no seu processo maturação. Isto não significa que abandonará a mãe. E desnecessário pensar a mãe como Madrasta para ter a justificativa de seguir o caminho da independência e poder encontrar o sentido de sua vida.

ADENDO:

Ademais, não há porque temer e se assegurar no amanhã de que um filho não a faça se sentir abandonada. Se os tiver crie-os para a liberdade com afetividade, paradoxalmente eles se mostrarão presentes, mais felizes e libertos de manipulações. Assim não precisa temer estar abandonando a mãe com medo de ser abandonada no amanhã por suas crias.


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O SUBLIME

                Caritas - 1878 - William -Adolphe Bourguereau
"Alguns sonhos:

Primeiro eu estava numa espécie de evento donde havia muitos bebês recém-nascidos e eles sorriam muito, inclusive dormindo. Por vezes algum chorava, mas a maioria estava sorrindo."

O sonho é auspicioso.

Os sonhos geralmente nos permitem várias portas de acesso. Estas portas se abrem para caminhos que em geral nos levam a um foco central, a um alvo onde existe o conteúdo mais significativo da mensagem, passando por pontos intermediários também constituídos de riquezas de conteúdos associados à mensagem principal. Por isso neste sonho poderia penetrar pelos caminhos passando pela fecundidade, pela realização da maternidade ou pela expectativa de realizar essa dimensão de sua feminilidade, essa natureza de Matriz, pela característica de regeneração, de transformação, de reatividade, agressividade, pulsão de vida e de morte, etc., mas prefiro recuar e me ater à imagem do sublime, da renovação, da transformação, do renascer.

Nascituros dormem e calmos, protegidos, repousam no colo da pureza, na imagem que cura, que perfuma esperança.

A natureza se realiza porque cumpre seu desígnio de perpetuar a criação divina.

Choros existem, porque mergulhados no universo do desconhecido, ocupando e preenchendo a matéria sutil do corpo, sofrem o impacto do universo sensorial que desperta a consciência, mas se atormenta com o desconforto e com a dor.

É assim, a dor é desconfortável, mas acorda o Ser e puxa a consciência fortalecendo-a na frágil natureza do corpo temporário, tanto quanto o conforto adormece, totaliza o prazer, amortece a consciência e a permite volátil, etérea.

Se pudesse extrair uma mensagem do seu espírito, do seu inconsciente, neste sonho, diria:

Dentro de você repousa a sua criança, que por momento descansa, mesmo que por vezes chore. Hora espera acordar, nascer em ti ou através de ti, para que possa se cumprir o destino já destinado de ser mulher madura e plena.

E... Que essa criança nasça sorrindo, como agora descansa. Porque a vida também é feita do sublime, um sublime, delicado, sensível, fraterno, afetuoso, amoroso que alivia, acolhe e liberta a todos, porque em nós reina.

Que esse Ser simbólico, ou real, nascido, ou a nascer, represente o seu Renascimento como pessoa amorosa e afetuosa, livre dos estigmas do sofrimento dos desesperançados. Que esse novo Ser nascido de seu trabalho exaustivo e muitas vezes dolorido lhe anuncie novos tempos em sua vida. Você bem o merece.

 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

VOAR... VOAR...VOAR...



 
Depois que voltei a dormir sonhei com uma jovem que ia cantar numa competição e ela já era bem afamada. Eles colocaram a música e, ainda nos bastidores, ela verificava que a plateia cantava aguardando sua entrada no palco. Sentindo-se a estrela do momento, ela começou a cantar indo em direção ao palco, mas quando lá chegou, para sua surpresa, já havia uma outra moça cantando. Não entendi se a outra moça fazia uma espécie de duble ou se o microfone da jovem que estava nos bastidores foi desligado. De todo modo percebi sua decepção quando ela me entregou o microfone e simplesmente se retirou do local. Embora ela tenha me dado apenas um microfone, logo depois eu segurava um em cada mão. Não sei por quanto tempo segurei aquilo, mas sei que em sequência comecei a voar. Primeiro voava sobre um gramado e depois já estava voando dentro de casa. Todos me olhavam como se eu estivesse fazendo algo perigoso ao subir nos móveis e mergulhar no ar, mas eu conseguia, embora com dificuldade, voar até o teto. Isso é o que lembro.

Existe em você uma ânsia de fama? Um desejo de ser famosa? Uma liderança latente que anseia um palco para dirigir e comandar multidões? E, se existe essa moça, porque ela não aparece para realizar o seu sonho? Existe ainda a necessidade de palco para exibir-se? há angústia pela falta de oportunidade de mostrar ao outro sua capacidade?

Há anseio, expectativa e frustração. O microfone pode representar grandes “Phallós”, membro viril, símbolo da fecundidade e do poder de penetração . Neste aspecto poderia pensar na minimização da força do masculino castrador e repressora e no fortalecimento do feminino e da sensibilidade representada pela musicalidade. Ou seja a mulher com grande phallós, masculina, castradora, perde força e cresce a presença da mulher feminina, sensível, encantadora, que procura o seu espaço para expressar-se.

Veja: falo como dinâmica. Há a intenção do canto, manifestação da sensibilidade, encantamento pela musicalidade e há a frustração representada pelo microfone não utilizado, entregue, objeto de renúncia, o amplificador da potencia de penetração, em suas mãos, onde controla o phallós.

Fora essaS variações podemos pensar na presença da vaidade e da força narcísica. Mas ainda a mistura, indiferenciação. A individualidade precisa ser fortalecida.

Em relação ao Vôo podemos pensar em:

1. Fuga e escape, fantasia ou compensação da inferioridade, diante da expectativa frustrada;

2. Aumento de tensões e conflitos que levam a compensação através da leveza do corpo, na elevação da condição fantasiosa;

3. Aumento da relação lúdica diante de uma realidade frustrante;

4. Aumento da confiança diante da realidade;

5. Aumento da necessidade de se expor ao outro;

6. Crescimento da necessidade de ser visível ao outro;

7. Necessidade de ariscar-se mais, de se lançar e mergulhar naquilo que lhe agrada.

Aí fico pensando: você segurando o microfone nas mãos, tendo o poder de controlar a ação lhe leva a níveis elevados de fantasia? Ou a condição de fantasiosa fica possível em decorrência da necessidade de compensar o estado de frustração que lhe impacta?

Por hora ficam essas possibilidade para refletir.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

MORTE E VIDA




Morte e Vida - Gustav Klimt
- Sammlung Rudolf Leonard

Sonhei que tanto eu quanto minha mãe havíamos tido um pressentimento sobre a morte da minha tia mais velha. Abracei minha mãe e disse que estava com medo. Minha própria tia havia predito sua morte e senti mais medo de possuir a informação da morte com antecedência do que da hipótese de morte em si. Ela sofreria uma morte trágica e acordei bastante assustada no meio da noite.

Pessoas próximas, familiares ou não, envolvem representações fundamentais na vida de um individuo e, portanto, possuem representações associadas à sua pessoalidade. Como não enviou dados, proximidade, histórico de relação, de acontecimentos, envolvimento afetivo, etc. sobre sua tia, considerarei apenas o tema central sem a especificidade ou associações.

O tema envolve questões básicas e fundamentais, a morte, perdas, tragédia e separação, aceitação ou a dificuldade, o poder  do premonitório, custos e responsabilidades, medos e angústias.

Se o sonho é premonitório, não tenho como falar, mas você o saberá. A questão que me chama mais atenção não é a premonição em si, mas as consequências do conhecimento e da consciência do futuro.

De certa forma estamos blindados no presente, tendo acesso ao passado, com o qual podemos aprender para não ressuscitá-lo no inferno do Sansara. Temos acesso restrito ao futuro, o bastante que nos permita a cautela e a prevenção de erros e dissabores, coisa que a transcendência humana nos permite. E nunca se pensa que a premonição antes de ser uma dádiva pode ser uma tempestade antecipada de dores e sofrimentos. A carga de quem “Vê” o futuro pode ser uma pesada mão do destino colocando, nas costas do indivíduo, a carga da tragédia e do drama humano. Muitos podem enxergar uma aura de magia e poder na premonição desconsiderando as implicações e responsabilidades que isto possa implicar.

Chama-me a atenção a ocorrência dos medos.

Numa análise tradicional a morte da tia poderia ser traduzida como o desejo de sua morte, ou por deslocamento, o desejo de morte da mãe. Pessoalmente não me sinto atraído por essa vertente de compreensão e análise.

Penso mais na morte de representação familiar, um lado que representa a família que chega ao limite da existência, que caminha para a dissolução em decorrência das transformações operadas por você. Neste aspecto prefiro pensar nas mais significativas identidades, ou parecenças, com sua tia, que você repete na sua vida e que agora podem ficar reservadas ao passado.

É importante que também entenda a necessidade de trabalhar o desligamento de sua mãe, porque sendo a morte definitiva, hora chegará de sua despedida nesta dimensão.

Há também a necessidade de trabalhar e de aprimorar o sentido natural de trânsito entre essas dimensões transpessoais no tempo, principalmente no preparo para lidar com o conhecimento antecipado dos fatos nesta vida.

Não é tarefa fácil. “Antever” e “prever” são apenas variações da sensibilidade aprimorada do “VER”, estado em que o Presente é referência e onde Passado e Futuro se encontram. Quanto mais estiver preparada menos sofrimento viverá e o seu destino mais tranquilamente se realizará.

Já lhe disse: frente ao nosso destino só nos resta realizá-lo, cumpri-lo, e sofrimento, medos, angústias, desesperos existem quando não há compreensão nem aceitação da impermanência da vida.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

SERPENTE E KUNDALINI


Laocoonte - El Greco (Domenikus Theotokopoulos)
Galeria Nacional de Arte - Washington - EUA


Sonhei que estava num supermercado e fui informada de que não podia sair pois havia uma cobra no rumo da entrada. Aproximei-me querendo vê-la e então deparei com um jacaré fino e comprido, parecia um filhote. Comentei que aquilo não era uma cobra e então me disseram que logo eu veria a cobra. Realmente, logo depois uma cobra de cor verde claro começou a sair de dentro do jacaré como se este tivesse uma bolsa nas costas. A cobra era enorme, muito comprida e, tanto engrossava quando afinava. Nisso ela começou a se dividir em várias e cada uma ia para uma direção causando transtorno no local. Quanto mais finas, mais elas conseguiam ficar na vertical e um delas subiu tanto que picou o meu dedão. Então segurei-a agarrada a ele e, embora chateada por aquilo estar acontecendo, não senti medo, pois de posse da cobra já morta eu podia ir até o hospital e conseguir mais garantidamente uma vacina de soro antiofídico.

Não foi um sonho muito agradável, pois embora possa haver a representação de algo ligado a sexualidade, fica em mim aquela sensação cultural de desconfiança ao associar cobra a intriga, inveja e perigo. Por outro lado, o verde da cobra também me pareceu associado ao verde de esperança. O que realmente significa esse sonho?


DINÂMICA PSIQUICA, TEMPO PASSADO E FUTURO

Pode parecer estranho, mas este era um sonho esperado. Não pelo cenário, é obvio, mas pelos eventos e símbolos que o constituem e pela dinâmica anunciada.

Neste aspecto o sonho, para mim, se mostra duplamente interessante: pelo sentido estrito na sua vida e pelo fenômeno onírico que ele ocasiona.

Explico melhor:

Apesar do inconsciente ser inacessível, um oceano de mistérios, é possível, acompanhando sua dinâmica, vislumbrar os acontecimentos sequenciais de seu movimento no futuro. Ele anuncia a dinâmica, o movimento que se processa, e nós podemos, pelo menos quando sintonizados, antever essa dinâmica antes que seja anunciada em sonho.

Eu quero dizer que quando acompanhamos a dinâmica da psique através dos sonhos, em alguns casos podemos antecipar, prever, as indicações que surgirão da demanda psíquica.

Dessa forma podemos conhecer antecipadamente a dinâmica psicobiofísica do sujeito e antecipar alterações psíquicas e disfunções orgânicas antes que se estabeleçam como patologia.



  O olho do Hidrossauro Carnívoro

O SONHO

Super Mercado podemos traduzir por “Mercado”. E algumas variáveis podem favorecer a compreensão desse significado:

Mercado- sm (lat mercatu) 1 Lugar público onde se compram mercadorias postas à venda. 2 Ponto onde se faz o principal comércio de certos artigos. 3 Centro de comércio. 4 O comércio. 5 Esfera das relações econômicas de compra e venda, de cujo ajuste resulta o preço.

Na china eram considerados os lugares das trocas comerciais, das danças, dos intercâmbios matrimoniais, da busca de soluções divinas, local de encontro.

No conceito de certas sociedades secretas é a imagem de um estado espiritual ou de um estagio na escola esotérica e de iniciação.

No pensamento de algumas religiões, mercado é onde ocorre a convivência social, a relação profana, a vida coletiva. Lugar de trocas e do ganho da sobrevivência, de perigo e de tentações.

Pois bem, você está no mercado, na vida coletiva e não pode sair porque há uma cobra na entrada/saída.

Para se retirar do mercado o seu desafio é encarar a “Cobra”.

Se os símbolos são funções e signos da energia, a Serpente é Pulsão. Energia vital, Kundaline. Encarna a psiquê inferior, o psiquismo obscuro, o raro, incompreensivo, misterioso. A serpente encarna um complexo arquetípico, ligado à noite, às sombras e aos subterrâneos de nossas origens, todas as serpentes formam, juntas, um conteúdo primordial, indivisível, que não cessa na aspiral da vida, na dinâmica de nascer e morrer. Símbolo da energia da vida que serpenteia pelo universo.

Ou seja é por excelência um símbolo Arquetípico, tanto quanto mercado é símbolo das ações coletivas, do movimento originário do inconsciente coletivo.

Não há como passar por um processo de metamorfose da libido sem a transformação decorrente do confronto com as energias primitivas, originais, representadas pela imagem da cobra.

Se hoje sabemos que somos descendentes originários do Homem Africano, a nossa origem assim como a origem de qualquer outro animal advém da mesma fonte e da mesma fonte, da natureza da matéria.

Uma digressão para refletir:

Essa não é uma questão religiosa. Quero dizer, que Deus para mim antecede o mito da criação, ele é Deus antes da criação do homem. Ele é Deus a partir da criação do universo. Ainda que pensemos que o homem só pode pensar a deus a partir de sua existência com a aquisição da consciência, mas essa consciência já podia existir em outro formato e configuração.

A cobra é o animal “incontrolável”, a energia selvagem, primeva. A energia bruta voltada para si mesma.

O Jacaré, ou crocodilo é o “portador do mundo”, divindade lunar, portanto, noturna, senhor das águas primordiais, senhor dos mundos subterrâneos.

Ele ocupa o terreno de mediador entre os elementos Terra e Água. O que faz dele o elemento que simboliza as contradições. Possui o mesmo simbolismo do Dragão, daí a força negativa de sua presença, agressividade, ameaça originária do inconsciente coletivo.

Mas se dele saem cobras, as ameaças das pulsões incontroláveis originárias do inconsciente, a sua atitude vem para regular, administrar e controlar essas pulsões, essa força, essa energia.

O uso da consciência, como força, determinação e propósito, a protege e a liberta. Com a consciência você põe luz nas ameaças e transforma o primitivo, trazendo para fora do mundo sombrio, da-lhe civilidade, essa a transformação do primitivo em civilizado. Dando aos conteúdos a direção e o domínio da consciência para que assim possa incorporar essa força como instrumental que lhe permita se situar de forma positiva dentro do seu universo.


SERPENTE E KUNDALINI

   Deusa das Serpentes - Escultura
Museu de Candia, Creta - Grécia



KUNDALINI

Jung considerava que representações de transformação e renovação por intermédio de serpentes constituem um arquétipo amplamente registrado em culturas diversas, e que o Ureus egípcio era representação visível do Kundalini elevado ao nível superior.

Sempre que se pensa em desenvolvimento espiritual a partir dos chacras se pensa na possibilidade de ascensão da energia kundaline de níveis inferiores para os superiores. A isto se chama a subida da serpente.

Este estado é tanto mais seguro quanto maior o desenvolvimento e aprimoramento do sujeito, para que a energia ascendente não promova destruição na sua passagem pelos portais neurogenéticos.

E não há como realizar essa ascensão sem aprimoramento, ou se isso ocorre há o risco de liberar um dragão destrutivo que pode levar o sujeito à sua destruição. Por isso a importância da iniciação e da preparação.

O sonho indica que a energia foi mobilizada e que sairá de sua fonte arquetípica, caberá a você administrar esse afloramento, como uma guerreira que tem consciência dos desígnios de sua vida e da importância de uma atitude impecável diante da vida.

Este não é um acontecimento infeliz que cai no seu colo, ele é parte da dinâmica de desenvolvimento do ser humano e todos passam por este desafio. A maioria sucumbe, foge, desvia o olhar, evita o confronto, finge que não vê. Mas o desafio é imprescindível e define o destino de um individuo, respondendo ou não ao desafio.
No seu caso esse é o momento em que a impecabilidade é fundamental. No sonho você cumpriu o seu destino e encarou o confronto. Mostrou que é guerreira e corajosa, que possui verve para encarar o destino de sua vida. Na realidade é o que você deve esperar de si mesma.

O desconhecido pode ser ameaçador, mas passar por um estágio de transformação sem preparo é inadequação. É preciso enfrentar os conflitos, os dilemas e aprender a sair sem ser devastada. Precisamos aprender a lidar com essas pulsões interiores, inferiores ou não, para não sermos submetidos à suas mazelas e despreparo. Assim crescemos. Infelizmente não existem caminhos fáceis.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

SÍMBOLO



Coroa Real Inglesa



SEGUNDA LEVE E LIVRE

Às segundas feiras venho postando conteúdos que possam enriquecer conceitualmente os que buscam informações. Hoje, um pouco da visão de Jung sobre os símbolos, estes que são os grandes mediadores entre a  matéria e a sua natureza específica de reproduzir o registro de si mesma, essa característica da matéria de condificar, integrar, registrar, configurar e evocar conteúdos que constituem o seu poder de gerar a consciencia de si e do universo, essa singularidade que faz do universo algo tão especial e sofisticado e auxiliam sua compreensão de si mesmo.

O conteúdo abaixo pode ser encontrado no Dicionário Crítico de Analise Junguiana de A. Samuels, B. Shorter, e F. Plaut da editora Imago Edição de 1988.


“O rompimento, no que tange ao componente teórico, de Jung com Freud, foi, em parte, sobre questões do que se deve compreender por "símbolo"; o conceito, sua intenção ou propósito e conteúdo. Jung explica a diferença conceituai da seguinte forma: Aqueles conteúdos conscientes que nos dão uma chave para o substrato inconsciente são chamados por Freud incorretamente de símbolos. Entretanto, não são símbolos verdadeiros, uma vez que, de acordo com sua teoria, têm eles meramente o papel de sinais ou sintomas dos processos subliminares. O verdadeiro símbolo difere essencialmente disso e deveria ser compreendido como uma ideia intuitiva que ainda não pode ser formulada de outra forma, ou de uma melhor forma (CW 15, parág. 105). Antes havia escrito como uma definição de símbolo: "Um símbolo sempre pressupõe que a expressão escolhida seja a melhor descrição ou formulação possível de um fato relativamente desconhecido, que, não obstante, se sabe existir ou se postula como existente"(CW 6, parág. 814).

 Em outro ponto, porém sem referência específica a Freud, expressa consideração pela sutileza e desafio implícito do símbolo, que, para ele, é muito mais que uma expressão da sexualidade reprimida ou de qualquer outro conteúdo definitivo. Falando de obras-de-arte, que são sem dúvida simbólicas, diz ele: Sua linguagem prenhe de sentido grita para nós que elas significam mais do que dizem. Podemos indicar o símbolo de imediato, muito embora não sejamos capazes de desvendar seu significado, para nossa plena satisfação. Um símbolo permanece um desafio perpétuo para nossos pensamentos e sentimentos. Isso provavelmente explica a razão por que um trabalho simbólico é tão estimulante, por que nos domina tão intensamente, mas também por que raramente nos propicia um prazer puramente estético (CW 15, parág. 119).”

de Jung com Freud; na PSICOLOGIA ANALÍTICA o debate continua. A disciplina como um todo demonstra um espectro de grande abrangência teórica e prática com respeito a conceitualização, propósito e conteúdo simbólicos. Entretanto, mesmo quando alguém é mais literal na interpretação de uma imagem preponderante ou propenso a ver o simbolismo como manifestamente sexual, é possível descobrir uma amplitude e uma diversidade de implicações compatíveis ainda com a definição de jung, desde que o símbolo não seja confundido com seu conteúdo e, por causa disso, considerado como tendo uma função intelectual expositiva e alegórica, ao invés de ser visto desempenhando um papel psicológico mediador e propiciador de transição. No que concerne à intenção última do símbolo, Jung o via como tendo objetivos que, embora funcionando de uma maneira definida, são difíceis de verbalizar. Os símbolos expressam-se por analogias. O processo simbólico é uma experiência de imagens e por imagens.

Seu desenvolvimento é compatível com a lei da ENANTIODROMIA (isto é, de acordo com o princípio de que uma dada posição eventualmente se desloca na direção de seu oposto; ver OPOSTOS) e dá prova da existência de uma COMPENSAÇÃO em ação (isto é, de que a atitude da CONSCIÊNCIA está sendo equilibrada por um movimento originado no INCONSCIENTE). "Da atividade do inconsciente emerge agora um novo conteúdo, constelado por tese e antítese em igual medida e mantendo-se em relação compensatória com ambos. Portanto, forma o espaço intermédio em que os opostos podem ser unidos" (CW 6, parág. 825). O processo simbólico inicia-se com a pessoa sentindo-se paralisada, "suspensa", poderosamente

obstruída na busca de seus objetivos e termina por uma elucidação, "introvisão" e de capacidade de avançar em um curso modificado. Aquilo que une os opostos participa dos dois lados e pode facilmente ser julgado se de um lado ou de outro. Porém, se assumimos uma ou outra posição, simplesmente reafirmamos a oposição. O próprio símbolo aqui presta auxílio, pois, embora não seja lógico, contém a situação psicológica. Sua natureza é paradoxal e representa o terceiro fator ou posição que não existe na lógica, mas fornece uma perspectiva a partir da qual se pode fazer uma síntese dos ele mentos opostos. Quando confrontado com essa perspectiva, o EGO fica liberado para exercer uma REFLEXÃO e uma escolha. Portanto, o símbolo nem é um ponto de vista alternativo nem uma compensação per se. Ele atrai nossa atenção para uma outra posição que, se apropriadamente compreendida, amplia a personalidade existente, além de solucionar o conflito (ver FUNÇÃO TRANSCENDENTE). Resulta que, embora sem dúvida existam símbolos da totalidade, são de uma ordem diferente. É possível que todos os símbolos se tornem símbolos da totalidade, de certo modo (ver SELF). Os símbolos são expressões pictóricas cativantes (ver NUMINOSO; VISÕES). São retratos indistintos, metafóricos e enigmáticos da realidade psíquica. O conteúdo, isto é, o significado dos símbolos, está longe de ser óbvio; em vez disso, é expresso em termos únicos e individuais, e ao mesmo tempo participam de imagens universais. Quando trabalhados (isto é, recebendo reflexão e articulação), podem ser reconhecidos como aspectos daquelas IMAGENS que controlam, ordenam e dão SIGNIFICADO a nossas vidas. Portanto, sua fonte pode ser buscada nos próprios arquétipos que, por meio dos símbolos, encontram uma expressão mais plena (ver ARQUÉTIPO). O símbolo é uma invenção inconsciente em resposta a uma problemática consciente. Daí, os psicólogos analíticos muitas vezes falarem de "símbolos unificadores" ou símbolos que reúnem elementos psíquicos díspares, "símbolos vivos" ou que estão entrelaçados com a situação consciente do indivíduo, e "símbolos de totalidade" que são pertinentes e imanentes à realização do self (ver MANDALA). Os símbolos não são alegóricos, pois então seriam mais ou menos algo já familiar, porém são expressivos de alguma coisa intensamente viva, poder-se-ia dizer "excitante", na ALMA. Embora normalmente se suponha que os conteúdos simbólicos que aparecem em uma análise individual sejam semelhantes àqueles de outras análises, não é esse o caso. Padrões psíquicos regulares e recorrentes podem ser representados por múltiplas e diversas imagens e símbolos. À parte esta aplicação clínica, os símbolos podem ser amplamente interpretados a partir de um contexto psicológico histórico, cultural ou generalizado.


domingo, 5 de dezembro de 2010

INTIMISMO E REJEIÇÃO

Nunca Mais - Paul Gauguin -
Courtauld Institute Galleries, Londres

Numa outra parte de sonho eu estava com um outro sujeito (ou seria o mesmo?) e o beijava quando ele colocou a mão por dentro da minha roupa e pedi-lhe que não fizesse aquilo, mas ele simplesmente já o fizera. Acabei fazendo o mesmo com ele e pedi-lhe para fazer amor comigo, mas ele se recusou. Não entendi o motivo de sua resposta negativa, mas respeitei. Embora meu desejo não fosse ser satisfeito, não me entristeci nem me enraiveci com sua resposta, pois era direito dele de recusar e aquilo não soou em mim como um esquivo permanente, mas apenas temporário.

O sonho reafirma e clareia o tema do sonho anterior e a confronta com o dilema: a repressão ou a intimidade; A escolha entre se entregar aos prazeres ou frear a realização do desejo.

Agora já existe uma escolha, ainda tímida, recuada, medrosa, cheia de dúvidas e de desejos reprimidos.

Você ainda busca a aceitação do outro: “Faça amor comigo?” Quem pede dá ao outro o direito da negação. Há uma tentativa de ordenar racionalmente os acontecimentos dentro de uma realidade confortável e de pré-requisitos que lhe aumentem a segurança diante de suas escolhas, diante dos outros.

Existem fatos, acontecimentos, que nascem de origens que seguem fluxos próprios que independem de nós, que não esperam esta aceitação, que não exigem aprovação. E que só precisamos aceitar... Viver.

Não compreenda que essa característica possa lhe dar a permissão para ser invasiva, já que o outro pode anunciar a sua recusa de participação. Mas para você a aprovação do outro, dá a ele um domínio excessivo sobre o evento e lhe empurra para uma condição de submissão que o evento não lhe exige. Pare de correr atrás da aprovação do outro para que possa realizar a sua satisfação.

Quero dizer: cuide de você, dos seus desejos, da satisfação de seus anseios. Não espere o outro aprovar a sua solicitação, sua escolha, ou a sua intenção de busca de prazer. Não há porque investir o outro de uma autoridade que não precisa, nem deve, existir numa relação de interação. Vá lá e faça amor com ele.

Se o outro não quiser recue. Respeite os limites, é educado e civilizado. E nos protege... De nós mesmos.

Ao investir o outro de uma autoridade que aprova ou reprova, você quebra o fluxo natural dos acontecimentos, e o enquadra dentro de um padrão, de uma normatização na busca do conforto de um controle que castra a dinâmica natural do movimento.

Ao buscar esta aprovação, você talvez queira o conforto e a certeza de não ser rejeitada, mas quase implora pela rejeição. Porque essa rejeição reforça a sua negação de si mesma.

-Tá vendo! Eu sou uma pobre coitada! Nem para isso eu presto! Ninguém me quer! Ninguém me deseja!

Saia dessa neura. Você não a merece!

No sonho, o grande avanço é a sua diferenciação.

Bela conquista!

No passado você sairia arrasada, diminuída, inferiorizada, devastada. Hoje você já adquiriu prontidão para não levar a rejeição, ou a negação de sua expectativa, para o lado pessoal. Dramatizando o “não” e justificando-se na negação do outro para se rejeitar e consolidar uma realidade de inferiorizada.

Permanecem presentes conteúdos autônomos que lhe empurram para a inferioridade. Não embarque. É assim que dissolvemos esses conteúdos, enfraquecendo-os ao retirar-lhes a fonte de energia que sustentam sua ação psíquica.

Essa diferenciação também aparece na inexistência de respostas emocionais, respostas reativas induzidas pelo confronto.

A resultante é a resignificação conceitual do acontecimento e a sua significação restrita ao fato. O “não” é apenas um “não”, um limite imposto que precisa ser aceito e ponto final, e vamos pra frente que atrás vem gente.

O fato acontecido se esgota por que o presente, aquilo que se apresenta, é mais importante. Isto significa priorizar a sua saúde mental protegendo-a de ameaças e da desestabilização, sem chorôrô, sem lamuriação, sem autocomiseração e sem drama e sem vitimização.

É assim que aprendemos a ser guerreiros,
 Aceitando a tragédia do nosso destino
 Enquanto  refugiados na lucidez
 Tentamos transformá-lo.

BY...

sábado, 4 de dezembro de 2010

ENLACE, AFETO E DESEJOS

        

 Satã Observando o Amor de Adão e  Eva
William Blake -Museu de Belas Artes Boston
                                                                   
Sonhei que havia entrado numa loja agropecuária na intenção de comprar (acho que) uma essência, mas eu precisava consultar minha mãe antes e nisso peguei a chave de um dos quartos do local planejando de lá dormir. Entretanto eu já estaria podendo ir dormir em casa. Parece que esta estava em reforma, mas não sei ao certo. Enquanto pensava se dormia lá e também se efetuava ou não a compra desejada, olhei para uma propaganda de lápis de cor aquarela e comecei a conversar com uma senhora que estava observando o estande de desenhos também. Disse-lhe que adorava trabalhos artísticos e não me imaginava sem lápis de cor em casa. Nisso parece que o sonho deu um avanço e logo na sequência sentei-me numa mesa aos fundos da loja. Havia um rapaz e duas moças na mesa e posicionei-me ao lado do rapaz. Nisso ele pegou minha mão e passando-a por trás das costas dele segurou-a do outro lado, de forma que fiquei abraçada a ele. No sonho ele pareceu-me um conhecido de longa data e, embora não compreendesse tal atitude de querer ficar abraçado a mim, notei que ele parecia menos arrogante e mais carinhoso. Pensei comigo no quanto é bom sermos passíveis de mudanças para melhor, pois eu também me sentia mudada: muito mais tranquila e segura de mim perante aquela situação. Vendo-me abraçada a ele pensei que os outros achariam que nós eramos um casal, já que eu usava um anel no mesmo lugar donde se usa aliança. Mas em seguida eu concluí o pensamento com a pergunta: e daí os outros e seus pensamentos?

Um vendedor veio nos atender e começou a conversar dizendo que me vira na rua quando fora fazer uma entrega e depois não parou mais de falar até o momento em que se retirou. Eu não estava interessada na conversa, apenas queria aproveitar aquela intimidade provinda do acaso. Estava aconchegante e fiquei abraçada sem saber quais seriam as reais intenções ou motivos que levara aquele rapaz a querer, inusitadamente depois de anos, ficar tão próximo. Desconfiada pensei que ele poderia estar com interesses maiores e busquei dentro de mim saber dos meus próprios interesses para com ele. Em verdade não consegui definir meus próprios interesses de antemão, pois tudo ou nada podia acontecer. Verifiquei que não poderia responder naquele momento sobre algo incerto que poderia ou não vir a acontecer no depois. Preferi deixar os fatos ocorrerem sem ficar matutando neles. Eu não queria desde tal momento dar uma de controladora da situação, nem muito menos me colocar na defensiva. Educadamente ele manteve-se abraçado a mim e sentada lado a lado, deitei a cabeça em seu ombro, coloquei pela parte da frente o outro braço em seu colo e fechei os olhos aproveitando o momento que embora misterioso parecia mágico. Nisso uma das jovens da mesa se transformou na minha avó e, em tom de crítica, comentou algo a respeito de trabalho. No sonho parece que eu estava desempregada, ou então seria o rapaz. Nisso a outra jovem respondeu que onde ela trabalhava estavam precisando de novos funcionários e num ar de sarcasmo perguntou se minha avó estava interessada de mandar um currículo para a empresa. Era como se ela quisesse dizer: se não é você quem está interessada, porque o comentário indireto? Eu estava tão bem que nem liguei para as indiretas de minha avó. Cada um com sua vida e coitada da vovó que julga os desempregados como vagabundos. Azar o dela em manter suas crenças destorcidas.

PSICOLOGIA E PSICÓLOGOS

Muitas vezes Psicólogos e Psicologia são criticados pelo tempo elástico de tratamentos. Críticas infelizes. Esse tempo terapêutico independe da ciência ou de profissionais, ele é ditado pelo “time” do sujeito que determina seu ciclo, sua dinâmica, seu movimento de mudança, o tempo de transformação. E se cada sujeito possui seu “time” a natureza tem seu ritmo em sincronia com o ritmo do mundo, do universo e determina em grande parte a consolidação das transformações que opera.

Neste sonho vemos algumas recorrências que me oferecem a chance de tentar mostrar o acontecimento, seu ritmo e intensidade.

Ainda que a sociedade humana contemporânea se caracterize pela aceleração, o “tempo” da vida não mudou, o tempo do universo continua o mesmo. Nós aceleramos nossa vida, nossos ritmos, nossas ações acreditando que mudamos a natureza. Mas o mundo e o seu Tempo permanecem o mesmo. Em equilíbrio rítmico e vibratório e quando o deixa de ser, em geral sofremos as graves consequências dessas transformações.

O corpo é lento e possui limites intransponíveis, altera-los pode significar promover desequilíbrio na delicada complexidade que sustenta os sistemas que nos dão a condição de natureza viva.

Vejamos o seu estado Onírico:

Você, ao longo desse ano vem registrando delicadas mudanças na sua configuração psy que refletem em seu comportamento em vigília e na dimensão onírica, indicam mudanças de atitudes, percepção, conceitos em decorrência de resignificação.

Pequenos acontecimentos que vão se transformando e que ao longo deste tempo já nos permite a percepção de transformações que posso qualificar como significativas. Principalmente porque não estamos em processo psicoterapêutico e com informações diminutas faço a leitura de seus sonhos indicando-lhe possibilidades, necessidades e alternativas de posturas diante de sua realidade.

Ainda assim podemos ver que ao longo destes meses seus sonhos mudaram significativamente, sinal da mudança psy.

Inicialmente uma fase superada foi a de pesadelos. Você os tinha numa recorrência preocupante, angustiante e desconfortável. Nos sonhos você sofria ameaças permanentes, inseguranças, medos, assaltos, roubos, assassinatos, sofrimento. Sempre a angústia, a ansiedade e o sofrimento. Dormir passou a se tornar ameaça de tormento e tormentas.

Mas você com inteligência, e necessitada, trabalhou para romper com esse quadro desagradável e infeliz. Soube ter paciência e humildade para considerar as indicações e realizar mudanças. Assim passou a obter resultados positivos em sua vida, administrando as disfunções e conquistando transformações, sinal significativo de sucesso.

Os pesadelos diminuíram ou praticamente desapareceram, passamos meses sem relatos de sonhos de angústia sinal de que a psique não tinha que intervir para proteger seus sistemas através de atualização, defesa e reequilíbrio.

Os pesadelos diminuíram porque a psique não precisa mais insistentemente regular os sistemas corporais, aumentar o limiar de sua capacidade de suportar as pressões internas, causadas por escolhas que a levavam permanentemente a situações de conflito, aflição e opressão, nem anunciar-lhe a iminência de situações de risco e de perigo. A instabilidade emocional foi sendo reduzida para níveis aceitáveis e você buscou estabelecer relações interpessoais mais aceitáveis e menos conflitantes.

Hoje a situação se difere do passado.

Sabemos que hoje você vive em dinâmica de transformação de símbolos, resignificação conceitual e reconfiguração na sua relação com a realidade, construindo padrões de comportamento menos reativos. E se vemos a recorrência de sinais ou temas isso decorre de:

1. Mudanças profundas exigem do sistema Psy alterações delicadas e pacientes, num ritmo que não coloque o organismo em risco ou ameaça de desconstrução;

2. Os ajustes se fazem em detalhes. Assim são as mudanças significativas. A codificação é alterada na especificidade.

3. Mudanças internas precisam ser assimiladas pelo sujeito para que se incorporem de forma consistente e sem conflitos, deixando de produzir sofrimentos em decorrência de valores e princípios resignificados.

Portanto não estranhe que uma leitura possa se aproximar de outras, isso demonstra a consistência do caminho que se percorre, tanto como pode reafirmar mensagens que precisam ser mais profundamente compreendidas. Mas não se deixe enganar, fique sempre atenta aos detalhes.

 
 
continua...

ENLACE, AFETO E DESEJOS


A Virgem - Gustav Klimt,
Galeria Narodni, Praga


O SONHO

O foco central do sonho é o afeto e a relação que estabelece com o seu desejo. Podemos pensar numa relação direta entre carência e desejo irrealizado. Quanto maior o desejo insaciado maior a carência ou a demanda por afeto. No seu caso, a força dos desejos é proporcional à força da repressão, e da expectativa de realiza-los sem precisar se comprometer. Como tudo o que envolvia relações e afeto lhe parecia confuso, maior podia ser a sensação de fracasso, a insatisfação, o isolamento e a frustração. E tanto maior a expectativa de saciar a fome do seu desejo.

Em geral quando isto ocorre, um dos desvios compensatórios pode ser a perversão o que também pode favorecer o aumento da repressão moral como forma do sujeito administrar a força de suas pulsões incontroláveis originárias do inconsciente.

No sonho você se aconchega, assume a atitude de aproximação, ainda não é capaz de assumir o seu desejo. Qual o seu desejo? Já lhe disse, distinga-o e procure a sua satisfação.

A postura defensiva se transforma, os conceitos são resignificados, mas permanecem resíduos de repressão, agora, revestido de “avó”. Velhos conteúdos, arcaicos, de referência feminina ou de mulheres do passado, que se contrapõe ao seu tempo, E você... Sem saber se segue a referência antiga, princípios de conduta social antiquados ou se liberta e assume a mulher que se permite seguir em busca da satisfação de seus desejos.

Sua tendência foi se proteger na repressão moral referendada em conceitos de gerações passadas.

Conceitos, preconceitos e novos conceitos. Esta é uma questão que envolve qualquer geração. Ser como a modernidade permite ou ser como foi a mãe, ou a avó? Arriscar a imagem pessoal e se mostrar como Devassa? Vender a imagem de Virgem Imaculada, ficando protegida socialmente mas sendo atormentada pelos desejos que corroem as entranhas?

Novamente a questão do Sagrado e do Profano.

Transformar-se no ideal de virgem santificada não acometida pela "sujeira" da sexualidade?

Arriscar-se no universo mundano, se permitindo a busca do êxtase carnal, se perdendo nos beijos profundos, na volúpia da  da carne penetrada, se entregando ao pecado e assumindo a mulher dona da própria vida, do destino e dos prazeres e da fantasia erótica?

Eu, pessoalmente, não vejo neste dilema um caminho fácil. Muitos apenas se lançam instintivamente realizando as pulsões da carne, mas para muitos isto pode significar um "suicídio". O dilema é crucial, renunciar ao pecado e viver a santidade, atormentada pelas fantasias do irrealizado? Ou se entregar à luxúria em busca de afeto, mergulhando no pecado e arriscando-se a se debater no inferno de Eros sem encontrar o caminho de volta para o sagrado? Ou acreditar que se pode megulhar na luxúria para arriscar encontrar o sagrado dentro do erotismo?

Não importa o caminho, cada um que escolha o seu, mas que seja um caminho vivido plenamente, para que no amanhã não exista o arrependimento do não vivido, que possa representar o grande fracasso e frustração. E óbvio, ter no mergulho o senso de se proteger porque o tempo é o senhor da razão, e ninguem deve ser tão tolo a ponto de acreditar que mergulhar nessa gosma de líquidos seminais e orgânicos não gera consequências indeléveis.

A questão do trabalho surge como o princípio de realidade que precisa ser considerado. É a grande referência, das conquistas pessoais: aprender a navegar nesta realidade para não morrer afogado na fantasia do irrealizado.

No sonho o trânsito pesssoal ainda indica rush, pouca luz sobre o tema, meia luz, as coisas não são muito claras, definidas. E as escolhas carregados de dúvidas ou conflitos. Comprar ou não comprar, trabalhar ou não, manifestar o desejo ou esconde-lo, etc. A estima ainda precisa ser consolidada e a libertação do julgamento alheio é o caminho para encontrar a maturidade.

A relação entre masculino e feminino vai sendo restaurada e caminha para relação interior mais harmonizada.
A jornada pelo aprioramento é assim, enquanto seguimos e rompemos as dificuldades mais suasve se torna a jornada mas mais dificeis e complexos se mostram os desafios a serem vencidos.

De resto uma certeza:

A vida é um grande desafio
para que se possa realizar os anseios do espírito.
É preciso arriscar,
É fundamental se lançar
para que possamos experimentar seus sabores e aromas,
Mas é imprescindível não se deixar morrer.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

FEMINA IN NATURA


  

Num segundo sonho eu entrei eufórica (esse parece ter sido o sentimento permanente) em casa e comecei a cumprimentar as pessoas deixando-me ser levada pelo meu ímpeto, ou seja, agindo com espontaneidade total. (Será?) Eu as cumprimentava dando um abraço e, ao chegar na minha mãe, beijei-lhe as mãos. Eu me sentia impressionada pela agilidade com que conseguia fazer aquilo, principalmente por ser uma postura desejável, mas incomum para mim. Não eram abraços de quem expressa afeto, mas de quem se faz educado. Era como se eu já não fosse a mesma pessoa e quisesse demonstrar e vivenciar isso. No entanto, minha mãe recriminou-me em voz alta dizendo para eu agir do meu jeito normal. Senti-me repreendida de maneira explícita na frente de todos e respondi que estava agindo de modo natural e que tinha meu direito de agir com espontaneidade. Senti que para conseguir ser afetuosa e educada cumprimentando a todos de uma forma satisfatória eu tinha que agir por impulso, antes que minha mente neurótica viesse à tona com suas recriminações, exatamente como minha mãe fizera. Foi o que fiz e, consequentemente, agi de modo completamente diferente e não normal para minha postura reservada que tende a cumprimentar os outros no máximo com um sorriso e um “oi”. Embora ainda houvesse dificuldade por trás daquele impeto de agir diferente, era aquela a postura idealizada dentro de mim. Se abraçando para cumprimentar os outros eu me sentia mais educada e deixava a vaidade aflorar, essa naturalidade era espontânea não do meu jeito normal de ser, mas de uma crença que produzia a idealização. Quem estaria com a razão: eu ou minha mãe? Daí fiquei em dúvida entre agir com naturalidade ou com normalidade. Acho que sempre estive em conflito com essa parte materna que reina dentro de mim.



Em princípio podemos pensar em sonho compensatório, mas é pouco. Ainda que o sonho compense a realidade não afetiva em transição para uma condição de espontaneidade e afetividade, penso que isso não contempla o significado pleno da mensagem onírica.

Mas o que?

A euforia ainda que indique polarização e presença de conflito, sinaliza um estado de elação e interação nas relações pessoais. E esta interação pode indicar a canalização de energia liberada, dos conteúdos autonômos bloqueadores, para as relações interpessoais e afetivas.

Isto não é pouco, principalmente se considerarmos que sua carência indicava, em passado recente, uma demanda por afeto, a repressão afetiva, uma certa incapacidade de interagir afetivamente, respostas reativas e de manifesto agressivas. Tudo isto podendo ser traduzido para um bloqueio afetivo associado a dificuldades de estabelecer relações baseadas no afeto. Energia Bloqueada.

Este estado de euforia é liberação de energia, manifestação e prontidão para o estabelecimento de relações de afeto, resultantes de consolidação de estado emocional estável e de segurança, de atitude e manifestação de singularidade e individualidade.

Na realidade mesmo que esta predisposição ainda não apareça no seu comportamento na realidade pessoal, é preciso entender que o sistema funciona antecipando possibilidades para que quando a espontaneidade, ou o comando interno lhe empurrar para um cenário deste tipo, que você tenha repertório de respostas e lucidez para se permitir viver ou para bloquear a ação, a interação, a atuação interior, repetir o mito de Sísifo.

Este acontecimento também lhe coloca numa fronteira entre o despertar da ação e o seu movimento de permissão ou de repressão. Bem sabemos que seus movimentos foram cerceados pela repressão decorrente de julgamento e condenação que se impôs, por “n” motivos.

O sonho te coloca nesta fronteira. Suas mudanças veem sendo realizadas e agora você se defronta com um fluxo de energia que aflora e que lhe permite a possibilidade de sintonizar e expressar a plenitude do seu afeto ou repetir o passado evitando e bloqueando este fluxo e se aprisionando na insatisfação, na negação da celebração, no impedimento de expressão do afeto, entre outras coisas.

A imagem do beija-mão é exemplar: Você humildemente se rende ao sentido simbólico da maternidade, prestando homenagem e expressando afeto, abandonando o julgamento e a condenação da “Mãe”. Esta é uma submissão respaldada na respeitabilidade pelos genitores, pela ancestralidade.

Afeto é educação, e educação é afeto social, representação formal, de respeitabilidade e referência fundamental na interação. Sem educação retornamos ao estado de primitivismo e incivilidade, portanto, de afeto indiferenciado.

A energia liberada permite o fluxo do movimento, assim como a neurose bloqueia o sujeito aprisionando sua expressão afetiva.

Antes de celebrar e comungar com o outro, precisamos nos amar, nos gostar, nos respeitar, nos permitir, nos presentear, nos acariciar. Isto significa sintonia no afeto, consigo mesmo, com tudo aquilo que te constitui e que faz de cada um uma expressão da criação divina.

Na sequência aparece o confronto, através da repressão materna, que é a mãe dentro de você, não necessariamente a sua mãe. Já que esta mãe pode ter sido a sua justificativa de projeção do ressentimento, da mágoa. Mas se ela anteriormente era uma autoridade e comando, agora você se impõe com sua individualidade, já que este conteúdo que construiu (a representação materna) se virou contra seu criador: você; Lhe impedindo de encontrar respaldo afetivo para a sua demanda emocional. E possível que a representação tenha se tornado, em decorrências da carga negativa, uma representação associada ou incorporada por conteúdos autônomos que vinha te conduzindo desde então.

O evento onírico também antecipa respostas e condutas que estão sendo reconfiguradas ou resgatadas, e o “Ser” espontâneo que nasce, ou renasce, agora se defronta com o conflito nascido na repressão imposta pela sua falta de limites na infância ou na pré-adolescência, possivelmente o momento em que a espontâneidade  foi sufocada em nome da socialização e ou sufocada pelos caprichos e pelo ressentimento.

Nem tão lá, nem tão cá. Os limites são fundamentais e definem fronteiras de conduta que o “social” exige, tanto quanto o natural é fundamental para que sigamos em sintonia com o melhor de nós mesmos, nossa essência.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

DANIEL SUN

Daniel San em "Karatê Kid"

A imagem acima é rica em simbolismos. Daniel diante do Mar, diante do Oceano Primordial, se preparando para o momento em que terá que enfrentar os desafios e confrontos que o futuro lhe reserva. Se bem se preparar, a vitória e o dever cumprido. Se subestimar os perigos e ameças, a derrota, o fracasso se anunciará.
A técnica é fundamental, mas a vitória reside na sensibilidade de se conectar ao que nesta vida é imprescindível, essencial. ao que é primordial e não se permitir encantado com o banal, futil, frívolo.



“Olá Eduardo!

Tudo bem?!

Me chamo Daniel, estou no 3º ano de psicologia, tenho 28 anos e moro no interior de São Paulo.

Lendo Jung, eu tive uma idéia de montar um pequeno grupo, por exemplo, cerca de 5/7 pessoas, para montarmos um sistema de interpretação mútua de sonhos.

Pensei em um sistema simples, inspirado nos relatos de tribos que se reunem todo dia ao nascer do sol, para compartilhar e interpretar os sonhos dos membros. Como não temos todo este tempo pensei em por exemplo, criarmos algumas regras:...

“Pensei em montar um grupo, principalmente para desenvolver e aperfeiçoar técnicas de interpretação, além do benefício de crescimento. Conforme a discussão para montar o grupo, podemos até diminuir para 2 sonhos semanais.

Gostaria de saber o que vc acha, se teria interesse em participar, ou ao menos, como tutor-orientador.

Agradeço muito, e vamos proseando!!

Daniel”

Olá Daniel! Tudo bem!

A formação de um grupo de estudo decisivamente tende a ser enriquecedora para os que dele participem. Já a Psicologia Social e de formação dos grupos mostra que a tarefa pode ser mais complexa que a realidade idealizada. Nem sempre se consegue adequar as intenções originais com o estabelecimento de relações consistentes, cooperação, participação, e administração de competição, coordenação de interesses, intenções e harmonia entre objetivos pessoais e coletivos.

Mas o exercício é excelente na formação, envolvimento e participação do sentido da vida social, e as dificuldades não devem impedi-los de experimentar a busca de propósitos comuns. Apenas exigirá mais de cada um nessa realização e na superação das diferenças e interesses pessoais. E se souberem traduzir para a realidade do encontro a riqueza dos sonhos, o partilhar, todos poderão se ajudar e crescer.
O que quero dizer é que antes das dificuldades teóricas e dos estudos em si, as barreiras serão aquelas, pessoais, que podem dificultar a estruturação e adequação dos objetivos com a predisposição, interesses e disponibilidade de cada membro. Não subestimem essa estruturação já que parece a mais fácil, mas será a mais difícil, e determinará o sucesso da empreitada.
Fora estes detalhes, antecipo algumas dificuldades que terão que ser enfrentadas:

Lidar com sonhos é um "se olhar" no espelho, se defrontar diretamente com uma das forças mais inteligentes da natureza: O Inconsciente. Uma estrutura inimaginável em poder e força. Ele é um vasto oceano desconhecido, que exige delicadeza no trato ou nos derruba com os nossos próprios equívocos, pretensões, arrogâncias, orgulhos, caprichos ou vaidades.

Sonhos espelham o interior, a dinâmica do inconsciente, a constituição da forma como o sujeito se relaciona com a realidade, sua intimidade. Neste aspecto alguns membros poderão se expor disfarçados sem se exporem, por que escondam conteúdos que possa ameaçar suas posições, condições de conforto e equilíbrio. Enquanto outros poderão apresentar resistências em expor suas dificuldades, tendências ou fragilidades pessoais. E os que se lançarem sem defesas estarão expondo conteúdos íntimos, sigilosos, se comprometendo e arriscando a integridade, ao não preservar aspectos de privacidade que deveriam ser protegidos da participação do coletivo.

Numa sociedade que desconstrói, despersonaliza e indiferencia, estes podem ser aspectos significativos e determinantes na vida de uma pessoa, já que podem promover estragos.

Mas...Avancemos, na reflexão...

Neste caso duas são as possibilidades:

- Se vocês se protegerem tenderão a ficar restritos aos aspectos técnicos do estudo. Poderão ficar aprisionados na superficialidade do não envolvimento e o encontro poderá perder sua riqueza. Eu disse poderá;

- Vocês se envolverão numa leitura que os lançará dentro de uma dinâmica Psicoterapêutica sem que o percebam. Consequentemente estarão sujeitos a transferências, contratransferências e outros eventos que envolvem as relações de inconsciente para inconsciente nas relações analíticas, dentro de relações grupais, já que estarão se submetendo à possibilidade de “atuações” de inconsciente e lidando com dados de inconsciente para os quais inevitavelmente não estão protegidos ou preparados para identificar.

Neste caso a tendência da resistência aumentará e privilegiará os que não se exponham colocando aqueles que se exponham a uma situação de inferioridade e indiferenciação dentro do grupo em decorrência do excesso de exposição ou da perda da “intimidade”, e uma série de outras dificuldades que podem advir de um encontro terapêutico no escuro.

Continua em... "ANCESTRALIDADE E VIVÊNCIA TRIBAL"



ANCESTRALIDADE E VIVÊNCIA TRIBAL



A vivência tribal é sedutora e atraente, porque nos toca na Ancestralidade Primordial, aquela que reina em nós. Mas no passado, aquele era um encontro pleno e totalizador que se constituía numa reunião do grupo com o sagrado, com o universo e que servia para a consolidação e proteção daquele grupo tribal, geograficamente isolado, culturalmente limitado e protegido, diante de um universo desconhecido e ameaçador.

Neste aspecto a função tribal era um tarefa fundamental:
  • Na constituição de uma unidade tribal;
  • No diagnóstico de ameaças que os componentes individualmente pudessem sinalizar; 
  • No diagnóstico de ameaças coletivas que o grupo pudesse sofrer;
  • No estabelecimento de referências que os permitissem se situar neste mundo de forma mais segura; 
  • Na formação e educação dos mais novos;
  • Na constituição de referências tribais ritualísticas que permitia à geração mais nova um modelo de integração do grupo e o impedimento da dispersão ou a regressão para estados mais primitivos. Entre outros aspectos.
Bem, ainda que os tempos sejam outros e que a sociedade no seu processo evolutivo avance induzindo o distanciamento social, paradoxalmente essa pós-modernidade empurra os indivíduos para uma busca da constituição tribal que permita a reconstituição de grupos de identidade que favoreçam a diminuição do isolamento e a despersonalização a que todos são submetidos como sujeitos sem cara dentro da sociedade de consumo.
Sinceramente, dentro de nosso tempo tenho dúvidas se uma vivência tribal ancestral responde à demanda de nossas vidas nessa complexa sociedade pós-moderna. Eu prefiro evitar a repetição do passado, mesmo que aprendamos com ele, e encontrar instrumentos modernos mais adequado para que possamos crescer como grupo.
O nosso tempo favorece o encontro, independente do espaço e da distância. Encontramos-nos na identidade estando a milhares de quilômetros uns dos outros.
Portanto antes de avançar nesta reflexão vou lhes dar inicialmente algumas sugestões?
1. Constituam o grupo.
2. Introduza os participantes na iniciação dos estudos:
. Aquisição de um caderno de sonhos, de capa dura. Procure no indicador temático “caderno de sonhos”.
. A ideia é de que o material esteja protegido por capas que protejam o “tesouro” da alma;
. O caderno precisa ser pessoal, e ninguém deve ter acesso a ele. Por isso melhor que outros fora do grupo não saibam de sua existência;
. Estabeleçam uma bibliografia básica de estudo;
3. Comecem buscando estudar a história dos sonhos nas diversas culturas humanas;

4. Façam a a leitura do livro Autobiográfico de Jung, para que todos partam da mesma base.
    A segunda leitura que eu indico é "A linguagem Esquecida" de Erich Fromm;
5. Iniciem estudando sonhos de indivíduos desconhecidos. Por segurança não se arrisquem a estudar os sonhos de uns e de outros.
Poderei fazer as indicações sequenciais para que não fiquem encalacrados numa teoria complexa e que exige certos pré requisitos conceituais para a compreensão.
  
Se quiserem seguir a sequência dos sonhos do Blog, vocês poderão acompanhar a dinâmica do inconsciente de uma Mulher Jovem e um fantástico processo de desenvolvimento, metamorfose e transformação de uma dinâmica psíquica. Neste caso passo-lhes a sequência dos sonhos.
Mas se optarem por sonhos aleatórios, poderão se desenvolver do mesmo jeito, recolhendo-os aqui ou em qualquer publicação.
De qualquer forma poderei acompanhá-los e dar minha contribuição nessa formação. Posso não ser um feiticeiro tribal, a humanidade se reconfigurou, mas os papeis não são tão diferentes. Somos nós diante do universo, numa jornada pessoal, tentando encontrar repostas primordiais na busca de mantermos o equilíbrio e a sanidade mental e de realizar nossos desígnios nesta vida.
Perdoe-me, mas para lidar com conteúdos de inconsciente de forma segura não podemos correr o erro de sermos simplistas. Caso contrário o “feitiço vira contra o feiticeiro”.
Não se assustem com esta reflexão, todo início e busca de objetivos precisa ser criteriosa, já que será apenas uma etapa de processos mais profundos e escolhas mais profundas que independem de nós.
E mesmo esse “ser criterioso” não impede que se caia em armadilhas. Na hora em que perceberem o “espírito da coisa” vocês navegarão com segurança, independência e maestria.

Avancemos na reflexão, mantenham contato..