sábado, 30 de janeiro de 2010

TORMENTA 2





Dormir não significa que o corpo não mantenha um fio de conexão com a realidade. O Sono mantém o corpo em baixa frequência de funcionamento, processamento, e avaliação de estímulos externos, mas a vida pulsa, e é fundamental para a nossa sobrevivência. Essa conexão com o mundo nos permite avaliar e processar estímulos, sons, umidade, temperatura, odores, luz e provocam sensações térmicas, táteis, olfativas, visuais, auditivas que podem ser incorporadas aos sonhos, como símbolos ou interferências ou serem, a partir de pré-avaliações pela psiquê, acionarem dispositivos de defesa e sobrevivência.
Estou me lembrando de ter visto na MTV na semana passada um programa exibindo vídeos em que “jovens” entram no quarto escuro em que um “amigo” dormia, levantam pela cabeceira a cama até ela ficar na vertical e a empurram até a parede à frente. Isto aconteceu em no máximo 5 segundos. O menino que dormia levantou-se, gritando e em pânico, enquanto os carrascos gargalhavam. Pura crueldade! Ao levantar a cama, eles deslocaram o sensor de equilíbrio do corpo e no momento em que o corpo do menino começa a escorregar pela ação da gravidade e se choca com a parede, alem de provocar um choque de estresse e pânico, retirou da psique toda a referência espacial de segurança, de repouso, horizontalidade e de apoio do corpo. O resultado, não há dúvidas, foi devastador. A psique deve ter avaliado a situação como de risco e ameaça à integrida, à vida e deve ter produzido uma leitura entre a realidade e a vigília, uma queda real em um abismo. O menino que sofreu a crueldade recebeu um impacto mental devastador que vai refletir em sua saúde mental por toda a sua vida. 
No seu sono, você estava inserida dentro de um cenário de instabilidade que não favoreceu ao corpo o repouso adequado, já que o reconhecimento dos sons de Trovão não alivia a ameaça externa, já que a cada estouro, a realidade é avaliada e reavaliada no momento em que o evento acontece. O corpo não se fia na avaliação do reconhecimento. Ele reavalia as informações (proximidade, intensidade, risco, continuidade, tempo, etc.) a cada nova ocorrência. Assim a inquietação é resposta de defesa. E os conteúdos arcaicos mobilizados são significativos, já que o conforto conquistado pela civilização, ao longo de nossa evolução, para nos proteger das intempéries, não nos afasta da ameaça permanente que representam as forças da natureza.
Frente ao exposto grande parte do sonho conturbado pode estar relacionado à este cenário inquietante de uma noite de tormenta. O que também não exclui a possibilidade de afloramentos de conteúdo de inconsciente ameaçadores, já que a fase é de transição e instabilidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário