sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

CAPÍTULOS DE UMA ESTÓRIA SÓ 3


  
2. Creio que depois de mais um monte de sonhos, antes de acordar tive este ultimo: eu estava numa espécie de chácara, acho inclusive que era a minha com algumas diferenças, quando olhei minha tia ‘Pituca’ construindo uma casa. Achei estranho a diferença do lugar e o fato dela estar construindo ali perto, pois até então ela só estava mexendo com construções em Caldas Novas. Estranhando aquilo percebi que eu estava olhando uma enorme tela de televisão que era muito nítida, plana e moderna. Imediatamente perguntei para minha mãe de quem era aquela televisão e ela falou que não sabia, que deveria ser de minha tia ou irmã. Achei estranho, pois nenhuma das duas estava ali no momento para ter levado junto a televisão.

Nisso um carro queria estacionar ali perto da casa e um garoto desligou a televisão e apertou num botão fazendo-a reduzir de tamanho a ponto de caber numa gaveta. Acho que era um aparelho bem mais moderno do que os atuais. Nisso ele chegou para a minha mãe e perguntou onde podia guardá-la, ficando visível que a televisão era dela. Nessa parte do sonho as pessoas já haviam descido do carro e aproximado da mesa que estava com alguns petiscos. Irritada eu disse para minha mãe: ‘Eu sabia que era mentira’ e as pessoas me olharam. Sem me constranger eu continuei a fala: ‘Ela sempre mente. Se ela compra uma caneta mente para mim que achou na rua’. As pessoas pareceram dizer o seguinte pela expressão facial: ‘O que você tem a ver com as compras da sua mãe?’ Essa parte da caneta é algo real que de fato aconteceu e minha mãe desmentiu na maior inocência tempos depois sem lembrar que houvera me dito anteriormente que a encontrara na rua. Sempre fui muito econômica, mas nunca achei que as mentiras fizessem diferença, pois em geral fico desconfiada perante uma e, depois do gasto executado, prefiro sofrer com a verdade do gasto a ter que sofrer com a perda de confiança que a mentira gera em mim. Eu não estava preocupada com a gastaria de dinheiro naquele momento, mas sim com a verdade. Irritada eu retirei-me da mesa e um tanto sem preservar os bons modos disse em bom tom jogando um pedaço de pão que ia comer e desistira sobre a mesa: ‘Ah, querem saber, eu vou ficar com a minha turma’. Mas todos ali sabíamos que não havia mais ninguém nas proximidades do local, ou seja, quis deixar claro que eu ia ficar sozinha, pois ninguém pensava como eu ou se importava com a maneira de eu pensar. Eu saí voando como se estivesse galopando sem cavalo e enquanto sentia o vento passar pelo meu rosto apreciava aquela maneira divertida de me locomover. À parte do pasto estava plantada com um bonito milharal até a metade exata do terreno. Ali havia uma cerca e acima desta continuava sendo o pasto sem nenhuma plantação, ou seja, havia aumentado a parte de plantação e diminuído à parte do pasto. No que aproximei da cerca vieram vários homens com espingarda. Fiquei apavorada tentando fechar a cerca, mas não entendia porque queria fazer aquilo, pois eram vários homens contra uma mulher e, além do que, se eles realmente fossem atirar, uma cerca de arame farpado não era proteção nenhuma. Fiquei ali até conseguir fechar a cerca enquanto eles discutiam se atiravam em mim ou não. Pareceu-me estranha aquela discussão e não pude entender ao certo o que eles estavam querendo, mas o fato de não atirarem em mim fez-me sentir uma sensação de poder sobre eles. Um deles chegou a dizer ‘Ela não’ para o mais próximo de mim que quase encostou a ponta da espingarda na minha cabeça. Era como se eles temessem fazer algo comigo e isso pareceu aliviar meu medo. Adentrei pelo milharal ainda voando a galope rapidamente e já distante subi voando sobre a plantação até chegar no local da casa. Lá eu alarmei uns homens, que pareciam peões, que havia intrusos na área e daí acordei. Achei muito interessante esse sonho pelo contraste entre ser falsa e receber a falsidade. Eu admiro a verdade expressa com coragem e vivo na meta-tentativa de não ser falsa, conseguindo assim expressar o que penso e sinto de forma natural, simples e espontaneamente. Parece que o sonho fez-me sentir com mais precisão o fato de que a verdade é menos cruel do que perda de confiança que a mentira gera, mesmo que essa mentira seja para preservar o lado emocional do outro. Além do que, no sonho eu fui capaz de dizer o que pensava e sentia mesmo a custo de sofrer rejeição e desaprovação. Eu mesma me retirei do ambiente e até aí o sonho pareceu-me repleto de sentido. Mas daí eu não entendi a parte dos homens armados. O que lhe parece?
2º Sonho
Relação complexa é a que envolve Mãe e Filha. Possivelmente a mais complexa das relações. Supera qualquer outro tipo. São de natureza feminina. Competitivas, se protegem, se amam e precisam se diferenciar, uma da outra, para constituírem-se como individualidades plenas, ou seja, precisam se aniquilar simbolicamente. Amor e ódio, simbiose e separação, identidade e diferenças (não são clones), apego e domínio. Neste sonho parece-me que você consegue superar a força da repressão e da castração e já consegue expressar seus pontos de vista, sua forma de conduzir sem medo. Você se sente confrontada e consegue ensaiar uma intervenção sem medo de perder o amor da mãe, sem medo de desafiar a mãe, sem medo de se mostrar como você é, e o que pensa. Esta primeira parte você compreendeu.
Quanto à sequência pode estar ligada ao desafio que você incorpora. Crescer significa abrir mão de facilidades, proteção, confortos e atravessar o portal do Voo pessoal. Mergulhar no espaço e voar; Ter que encarar desafios, medos, se defrontar com confrontos, com o desconhecido, desconfortável, com o perigo, com as ameaças, os mal entendidos, a competição o mundo, o imprevisível. E isto significa ter que desenvolver novas atitudes, encontrar forças para não fugir como um "fraco", se fortalecer como guerreira, superar as fragilidades frente à força do “outro”, aumentar o universo de respostas possíveis, olhar o desconhecido, inimaginável e surpreendente da realidade armada e ameaçante.
Por outro lado há no ato de voar uma recorrência significativa. Seja de avião (com instrumento auxiliar) seja sem o instrumento, seja na presença de Porto Aéreo, é interessante observar se este voo como, atitude recorrente, não signifique uma fuga de  realidade através do imaginário e de compensação através da idealização, ilusão, fantasia..
E tudo isso só é possível como resultado de suas conquistas, de seu trabalho pessoal, de suas plantações, de suas transformações. Crescer, amadurecer, deixar de ser a filhinha da mamãe para ser uma mulher “ao mundo”, com a consciência plena de seu tamanho, de sua força, de seu poder. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário