terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

PERSONAGEM






Eu estava com minha mãe em uma farmácia numa cidade considerada como patrimônio histórico. Ela ia comprar cálcio de ostra (medicamento que minha avó toma) para mim, mas eu achei o remédio caro (vinte reais) e disse que aquilo não ia adiantar para nada. Minha mãe começou a reclamar sobre mim para a atendente. Então eu repliquei contando-lhe que pelo fato de ser introvertida e quieta, minha mãe sempre me julgara ser doente, apática e depressiva. Disse claramente que meu jeito de ser era de tal modo e que inclusive gostava de ser assim, pois me aceitava, algo que a família não conseguia fazer. Continuei dizendo: “...não gosto de ser importunada e quando não me sinto à vontade com alguém, quando não há afinidade, prefiro não me relacionar e, se a distância física não for possível, mantenho a distância afetiva...”

Realmente não sou muito sociável e não associo isso a questões físicas de saúde, como geralmente faz minha mãe. Não sei se ela chegou a comprar o remédio ou não, mas sei que apareceu um senhor, provavelmente o dono do local, comentou que ia haver um teatro e convidou-me para participar do mesmo. A justificativa de que isso seria bom para minha introversão não interferiu na minha escolha, pois aceitei o convite por gostar de teatro. Assim fui conhecer o local donde o teatro ocorreria, conhecer o resto do pessoal que faria parte da peça e, pegando meu papel, comecei a ensaiar também. A história seria sobre um antigo bar que funcionara exatamente no local vazio donde estávamos. A arquitetura era bem antiga, estilo século XVIII, mas conservada. O ambiente era agradável e embora não sentisse ser amiga de ninguém, sentia me dando bem com todos. Almoçamos juntos até que resolvi ir embora. Eu estava hospedada num local bastante moderno (um contraste arquitetônico para a cidade) donde subi as largas escadas de aço brilhante. Fiquei meio perdida nas escadarias e não lembro exatamente como foi, mas sei que voltei para baixo. Nisso eu percebi que cada leque da escada tinha duas voltas, pois eu já estava descendo direto no estacionamento. Subi outra vez e então desvendei o mistério: de um lado ela descia para o andar de baixo (térreo) donde havia a piscina e, do outro lado, donde eu descera, ela descia dois andares indo parar no primeiro piso do estacionamento. Conseguindo chegar na piscina, encontrei com alguns conhecidos, mas não quis entrar na água. Fiquei a observar tudo enquanto me divertia relacionando (conversando) com as pessoas sem muito entrosamento. Também lembro que fiz massagem nos pés de um rapaz que saindo da piscina veio sentar-se ao meu lado. Dentro das minhas limitações e, apesar do meu jeito austero de ser, tudo parecia estar tranquilo e confortável.

O sonho envolve um aspecto decisivo de sua vida: a relação com a família e com a sociedade. A sua postura é de não envolvimento afetivo e você encontra justificativas que lhe são confortáveis para a sua dificuldade de interagir com as pessoas.

Caprichos, severidade, elevado grau de exigência, superioridade, criticidade e tudo isso inserido na necessidade de compensação, excluindo enquanto mascará o medo de ser excluída ou não aceita pelo coletivo.

No teatro grego, os atores representavam usando máscaras e túnicas de acordo com o personagem que iriam representar. Muitas vezes, eram montados cenários bem decorados para dar maior realismo à encenação.

Eu não a vejo como “não sociável”. É diferente, você se faz “não sociável” quando a situação não lhe agrada. Desta forma exercita seus caprichos, sua vaidade, suas exclusões, demonstra sua insatisfação, intolerância e impaciência e se refugia no ensimesmamento.

O sonho indica a permanência desta postura na sua relação com a vida. parece-me que você se esconde na “introversão” enquanto anseia a aceitação e o aplauso social. Prefere escorregar para evitar relações que estética ou socialmente não lhe agrada. Como se a inferioridade fosse compensada por uma atitude de superioridade. As concessões que faz estão associadas a situações que atendem à expectativas construídas na idealização de seus propósitos de vida.

“...não gosto de ser importunada e quando não me sinto à vontade com alguém, quando não há afinidade, prefiro não me relacionar e, se a distância física não for possível, mantenho a distância afetiva...”

RAPUNZEL, desça dessa torre onde por livre escolha se aprisiona à espera de um príncipe que não existe. O príncipe você constrói, pega um bom sapo e o transforma em nobre, assim como os homens fazem com as pererecas, transformando-as em princesas.

E, infelizmente, não é questão de sorte nem de santo, a fama é resultado de um destino ou de árduo trabalho. Se tens sonhos de ascensão social, corra atrás e lute pelo Pódio, chegue ao palco e trabalhe pelo aplauso. Mas, enquanto isso não acontece aprenda com as relações humanas, esse aprendizado a tornará mais humana no pináculo, menos solitária na torre, mais feliz como ser humano.

Ψ


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