segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

MULHER JOVEM, PROCURA




Eu cuidava de um bebê, mas ao mesmo tempo em que era um bebê humano, era também um bebê gato. Achei legal a maneira como lidava com aquilo, eu o ninava e o mimava como se fosse uma mãe e já tivesse prática para tal. Acabei dormindo com ele nos braços e quando acordei estava noutro ambiente.

Levantei e notei estar no meio de uma turma de estudantes. Por certo devo ter tomado banho, mas minha recordação maior é de tirar a toalha dos cabelos molhados e penteá-los. Eu estava junto de duas jovens e uma delas se ofereceu para cuidar dos meus cabelos quando houvesse uma oportunidade, e eu aceitei. Por gostar muito da atividade de cabeleireira, ela já se oferecera para fazer isso na outra jovem, mas esta não quisera. Ao terminar de pentear os cabelos disse-lhes que tinha de ir tomar o café da manha, pois eu já estava um tanto atrasada e quase todas já o haviam tomado.

Não lembro de comer em si, mas lembro de ter ido em seguida para uma sala de aula de canto. Nisso entrou um professor de antropologia que me deu aula na universidade (em 2002). Lembrando que naquela semana eu tinha aula de estatística ao invés de canto, saí do ambiente enquanto o professor dava algum recado que nem fiz questão de escutar. Já estava chegando na outra sala quando escutei o professor falar meu nome pela segunda ou terceira vez. Pensei que ele estava me usando como exemplo, querendo saber onde eu fora ou então me procurando para conversar algo. Como eu já estava atrasada para a aula de estatística, a principio não importei-me, mas num segundo momento, ao olhar para trás e verificar que o professor estava com todo o grupo fora da sala, resolvi ver o que queriam comigo ou o quê falavam de mim. Estavam indo fazer uma visita numa comunidade indígena e eu estava convidada para ir se quisesse. Não tive dúvidas de que queria ir, mesmo que fosse ficar com falta na aula de estatística. Preocupada com as faltas, que por certo deveriam ser muitas, comentei que eu sempre esquecia que tinha aula de estatística ao invés de canto, pois para mim cantar era muito mais agradável do que fazer cálculos. Entramos numa espécie de elevador, mas o mesmo era feito de tubos (canos) plásticos e não havia fundo. Ele era fino (pequeno) de modo que precisávamos escalar nele para cabermos. Ajeitei-me e sem nenhum medo, como se já estivesse acostumada aquele aparelho incomum, começamos a subir.

Num momento da subida o elevador foi enfraquecendo até quase parar e alguém comentou que ele não ia suportar o peso. Outro alguém lhe respondeu que era daquele jeito mesmo (eu já sabia disso) e logo depois o elevador deu um baque (era como se ele houvesse parado para se energizar) e continuou subindo. Pouco depois as paredes laterais sumiram e começamos a subir no meio do nada. Estávamos infinitamente longe da terra.

Interessante que eu continuava não sentindo medo, o problema foi que meus óculos começaram a cair do rosto com a força do vento. Mesmo tendo de me segurar com apenas uma mão, ajeitei várias vezes os óculos no rosto. Eu queria ficar com os olhos abertos a fim de ver o cenário, mas o vento foi ficando tão forte que precisei fecha-los. Fiz isso e fiquei quieta com a cabeça para os óculos não caírem. Fiquei tanto tempo quieta que quando abri os olhos eu estava numa espécie de balanço sobre terra firme. Nisso meus óculos finalmente caíram e ao tocarem o chão se transformaram em óculos de sol. Mesmo sentada dei um impulso no balanço e peguei os óculos, os quais naquele momento senti serem do meu pai (talvez por parecer com um que ele teve em vida). Fiquei esperando para continuar a subida até que me dei conta de que aquele balanço realmente não era mais o elevador.

Senti-me tola ao perceber que estava sozinha ali. Saindo do balando passei a mão na cabeça e notei que não estava com nenhum lenço (em todo caso eu não estava de lenço antes). Intrigada me perguntei quem teria pego o lenço português (estilo xale) que minha mãe me emprestara. Em compensação eu estava com um colar de penduricalho nas cores vermelho, verde e branco (lembrou-me a bandeira da Itália). Saindo do balanço retirei o colar e fiquei olhando para minhas mãos: de um lado aquele colar diferente que não sabia de onde viera e, na outra, o óculos escuro que também parecia não ser meu.

Passei os olhos pela região e concluí que já estava na comunidade indígena. Antes de explorar o local, caminhei até uma espécie de galpão donde estava tendo uma palestra. Comecei a andar entre eles na intenção de achar alguém. Estava um pouco escuro e sem os óculos eu tinha de me aproximar para tentar enxergar as pessoas melhor, mas ao fazer isso uma mulher tirou seus pertences do banco achando que eu queria sentar. Disse-lhe que não precisava e retirei-me indo mais para frente. A mulher índia tinha o semblante sério, mas não pensei que fosse por minha causa. Aquele por certo era o jeito dela. Entretanto, senti que poderia estava atrapalhando, porém precisava encontrar alguém conhecido e continuei procurando.

Estava nessa procura quando acordei.
*****

Faltam informações sobre suas atitudes afetivas, mas a introdução sonho revela a ausência de defesa e resistência afetiva frente a recém-nascidos, a compensação de sua atitude afetiva defensiva frente a outras pessoas ou o nascimento, a formação, de conteúdos psíquicos, que recebem foco de atenção que canalizam energias afetivas. O acontecimento pode ter influencia decisiva na reconstrução de sua auto estima.

Há também a possibilidade de conteúdos arquetípicos ligados à sua natureza maternal sendo compensados e direcionando a atenção e mobilizando sua disposição para este aspecto decisivo da natureza feminina a maternidade, e/ou sinalização de mudanças orgânicas de ciclos femininos (ovulação, menstruação, período fértil).

Filho de gato, gato é. A transformação pode ser indicativa de atitudes afetivas sendo projetadas em focos que permitam a sua realização como Intento. A maternidade não realizada é compensada no papel de mãe de um gato onde você pode projetar a sua afetividade compensando o sentido original da energia.

Cabelo – manifestação energética, de forças superiores, sentido de fertilidade. Força primitiva, símbolo solar. Representação da força viral, e da alegria de viver, ligada a vontade focada no Triunfo. Correspondem ao elemento Fogo.

“Estava nessa procura quando acordei.”

Quem procura, busca. Quem acha, acorda!

O sonho relata uma característica que vem se repetindo a forma com dissolve sua força em decorrência de não definir seus propósitos. Possivelmente já tenha me manifestado sobre o equivoco que há entre aqueles que acreditam que deixando se levar encontram a forma segura de aceitar os desígnios da vida.

Poucos podem desta forma obter resultados satisfatórios, a maioria se perde num mar de ilusões e de dispersão.

Em sonho anterior escrevi sobre o caminho entre a Ação e a Não-Ação. Quando nos deixamos levar pelas ondas do mar do inconsciente podemos dar num porto seguro tanto quanto dar num quebra mar rochoso, numa praia paradisíaca ou num mar de lugar nenhum. A Não-Ação é tão fundamental quanto a Ação. É fundamental se situar no seu cenário de vida, bem observá-lo para saber a hora em que se deve agir, atuar, e a hora em que se deve se deixar levar.

O sujeito que apenas age, acredita na presunção de um poder que não possui. O sujeito que apenas se deixa levar, se entrega ao sabor das ondas sem saber onde pode parar.

O inconsciente anseia evolução e para isso necessita da consciência que ajuda a construir e de onde espera ajuda para se ordenar. Necessita rumo ainda que possa se referendar em princípios resultantes de conteúdos arquetípicos que espelhem o conhecimento das gerações ancestrais que o norteiam.

Quando o sujeito se deixa apenas ser levado se entrega ao sabor de uma noção sem rumo, sem norte que precisa se referendar nos limites de uma realidade que funciona como Porto Seguro.

Você tem uma leve (ou profunda?) tendência de se deixar levar. Abre mão de referências lógicas, racionais, em nome do prazer ou de sensações que lhe servem de guia para se conduzir.

A intuição é um poder magnífico que quando bem utilizado nos permite caminhos seguros e acertados. Mas para se guiar pela intuição é fundamental se “Ouvir” e... Refletir, avaliar, diagnosticar, escolher. Quando mal utilizada por desconhecimento do mecanismo, ela pode se tornar uma armadilha conduzida por conteúdos que atuam para paralisar, travar e boicotar o sujeito.

Você se deixa conduzir, se entrega em mãos de aprendizes, justificada na bondade ou por oportunismo, conforto ou simplismo.

Sua Força Vital possui uma dona, uma Rainha: Você. Nada pode justificar a conduta de se entregar ao destino acreditando na magia de ser protegida ou guiada para um paraíso. É preciso trabalho duro. Montar o lombo do cavalo selvagem e domá-lo. Assim podemos nos comprometer com a vida que nos foi dada, ou que conquistamos.

Os óculos são instrumentos de ampliação da visão, consciência ampliada, ou descanso – óculos de sol-.

A tribo indígena pode ser a referência à postura dos guerreiros que sobrevivem em território ameaçador, indicação de força primitiva e ancestral.

Encontrar suas mãos no sonho é um acontecimento especial, mas isso fica para outra oportunidade.

Ψ

sábado, 29 de janeiro de 2011

VIAGEM ASTRAL, SONHOS E CONSCIÊNCIA






Outra vez eu não conseguia mexer-me sobre a cama. Queria acordar e não conseguia. Do desespero inicial surgiu a angústia e a sensação preocupante de não ter domínio ou poder sobre o corpo inerte. Como sempre, primeiro veio a sensação de fadiga com o medo de sofrer apneia e, depois, o medo de que os órgãos parassem de funcionar tendo uma falência múltipla. Tentei me mexer usando a técnica da sutileza já aprendida e utilizada em sonhos passados, mas creio que eu estava impaciente para isso. Então percebi que se meu corpo não respondia, minha mente estava completamente acordada, consciente e muito ativa. Embora desconcentrar-me do corpo fosse muito difícil, percebi que era possível. Então busquei algo que eu gostaria de fazer e pensei em brincar com um gato. Imediatamente fui transportada para um local donde brincava com um bichano preto muito fofo e manso.(1)

Eu não sabia se podia ter controle sobre tudo aquilo que me acontecia através do pensamento, mas em verdade eu nem explorei essa possibilidade, pois pareci ficar decepcionada: sonhar consciente estando dormindo era como sonhar acordada utilizando uma técnica de visualização. O diferente é que eu realmente estava lá, brincando com um gato, mas ao mesmo tempo, aquilo não parecia ter o realismo de uma situação sonhada de modo impreciso.

O fato do sonho ter lucidez tirava dele a magia que o mesmo deveria ter, mas por que essa decepção se já tive euforia e alegria em outros sonhos lúcidos?

Era como se eu estivesse menosprezando aquela situação ao ter consciência de que tudo era meramente um sonho, uma irrealidade.

Mas por que em tal sonho eu senti tudo de forma irreal se o sonho em si é uma realidade mental, uma comunicação com o inconsciente?

Era como se todo o produto da mente, ou seja, os pensamentos, fosse irreal, abstrato e principalmente relativo. Melhor, era como se a própria vida fosse real e irreal ao mesmo tempo: a vida seria a contradição de um fluxo vital incontrolável sendo mantido pela própria mente controladora. Eu senti como se a vida em si fosse um sonho consciente e isso não me agradou. Eu me senti um tanto boicotada, pois o racionalmente escolhido pela consciência em si pareceu ter ido contra aquilo que eu verdadeiramente desejava: um fato surgido de forma natural e espontâneo, mesmo que de modo inconsciente.

Dizem que o inconsciente não distingue o real do imaginário e isso por certo me fascina mais do que o discernimento consciente. À medida que compreendo o inconsciente, deixar que as coisas ocorram parece mais interessante do que tentar forçá-las para acontecer, seria isso?


Em meados da década de 80 um físico Inglês chamado David Bohm contestava a física moderna propondo a existência de um universo multidimensional e de camadas de realidade mais profundas, situadas à sombra da nossa realidade. Ele dizia que o universo lembrava um gigantesco holograma multidimensional, além do tempo e do espaço comuns, como um organismo vivo do qual fazemos parte.

Isso pode parecer muito, mas comparado ao que dizia o sábio chinês Lao Tsé, que viveu 500 anos antes de Cristo, que o mundo era Invisível - o que foi vislumbrado pela física apenas no século vinte com o estudo do microcosmo, nos dá a dimensão da complexidade do nosso entrorno e da tarefa na busca de compreensão da vida e do mundo.

Temos muito que avançar no mapeamento conceitual e na compreensão da psique, mas já conhecemos uma ponta desse Iceberg que nos permite certo entendimento dos mecanismos mentais, da estruturação e do funcionamento mental.

O seu relato pode ser dividido em duas partes:

1. O relato propriamente dito da vivência;

2. Suas reflexões e questões sobre a experiência.

O relato (1) parece-me a descrição clássica de um Sonho Lúcido. E você já descobriu o instrumento que precisa dominar para readquirir o controle nesta extradimensão, depois de se perceber dentro dela: a projeção do pensamento.

Entre as associações possíveis neste sonho, como evento psíquico, isto é, manifestação onírica, e não como experiência de saída extracorpo, eu indico a sua dificuldade de romper a sua paralisia, o seu travamento, a resistência, em direção à relação com o mundo como personalidade maturada e autônoma.

Sua solução é o domínio do pensamento, não necessariamente o pensamento imaginário ou fantasioso. O domínio que lhe permita direcionar suas ações para a realização de seus propósitos em sua vida.

Suas reflexões mostram sua tendência de chegar a conclusões precipitadas sem ter explorado em sua totalidade suas possibilidades no sonho ou na experiência de viagem astral.

“Eu não sabia se podia ter controle sobre tudo aquilo que me acontecia através do pensamento, mas em verdade eu nem explorei essa possibilidade, pois pareci ficar decepcionada”

“Eu nem explorei porque fique decepcionada” É bem característico em você esse tipo de resposta de ficar decepcionada por não ter suas expectativas e seu elevado grau de exigência atendido. Você responde como autoridade e conhecedora do presente, deixando de experimentar o que a vida lhe propõe por já ter mentalmente definido e classificado o acontecimento como frustrante. Essa é uma forma de se defender do “novo”. Mostrando controle do cenário ou reduzindo e banalizando o acontecimento.

Você enquadra a vivência no padrão pessoal de ver o mundo. Isso parece-lhe confortável. Desta forma você tem a impressão de estar num mundo limitado sob o seu domínio. Pura ilusão! Independente de querer acreditar nisso o mundo continua o mesmo: misterioso e assustador. Você apenas encontra uma forma confortável para se situar nessas realidades Mágicas, "a real e a irreal", abortando a magia em sua vida e suas possibilidades de estar neste mundo e sendo obrigada a compensar essa atitude na criação de  um universo de fantásias que atende  à sua satisfação pessoal.




“O fato do sonho ter lucidez tirava dele a magia que o mesmo deveria ter, mas por que essa decepção se já tive euforia e alegria em outros sonhos lúcidos?”

Essa lucidez elimina a magia quando se tenta enquadrar o universo no limite da consciência. Ou o contrário: A consciência egóica elimina a magia quando se tenta enquadrar o universo no limite da lucidez.

Na física existe um fenômeno chamado EPR, sigla formada pelas iniciais de Einstein, Boris Podolski e Nathan Rosen que observaram o estranho comportamento das partículas subatômicas que interagiram um dia, de responderem instantaneamente aos movimentos uma da outra estando separadas a anos-luz de distância. Esse fenômeno nunca foi bem resolvido, e Einstein sempre acreditou que o fenômeno colocava a ciência entre duas alternativas inaceitáveis, a de que a realidade objetiva é uma ilusão ou a medição da partícula EPR viola a lei de causa/efeito, interferindo de alguma forma na outra partícula. A ideia de que o Intento do olhar altera a experiência como um evento. Para o físico Niels Bohr o mundo objetivo é uma grande ilusão, cujas partículas elementares parecem assustadoramente próximas da substância que compõem os sonhos.

Você como sonhadora dentro do sonho, funciona como observadora que altera a dinâmica do sonho, independente do seu grau consciência.   Para que esse estado de consciência ocorra no universo onírico, o corpo exige do sonhador e de sua condição psíquica, um determinado nível de pré-requisitos que superados lançam o sujeito, independente de sua vontade, dentro de uma realidade extra dimensional, com múltiplas possibilidades de interação num espectro mais amplo de vibrações do universo.

Em outras palavras, você é lançada dentro deste mundo através do portal psíquico para interagir com mais possibilidades e de forma mais ampla com outras dimensões do universo.

“Era como se eu estivesse menosprezando aquela situação ao ter consciência de que tudo era meramente um sonho, uma irrealidade.”

Também sinto em você essa atitude de menosprezo. Mesmo que o entenda como uma forma confortável e defensiva que encontrou para lidar com o desconhecido, ainda que seja uma forma reducionista que a limita dentro do mundo. Neste aspecto a realidade não satisfaz a sua espectativa e o mundo "mágico" voce enquadra  num limite mental que tira dele a condição excepconal, restando-lhe apenas a satisfação na fantasia e na ilusão.

“Mas por que em tal sonho eu senti tudo de forma irreal se o sonho em si é uma realidade mental, uma comunicação com o inconsciente?”

O sonho é uma realidade mental, e funciona como a manifestação mediadora partindo do inconsciente em direção à consciência. Media a relação com o inconsciente que pode ser entendido como o espírito do mundo, o espírito do tempo. Mas o chamado “sonho lúcido” é um estado de Supra Consciência que se pode chegar através do sonho tanto quanto da vigília, por exemplo, um estado de meditação. Como para se chegar à essa Supra Consciência se faz necessário entrar num determinado estado vibracional excepcional e harmônico, é como se o individuo a partir de seu corpo acionasse a abertura de um portal que traspassado permite ao sujeito funcionar como consciência em estado Etéreo, sem o corpo físico, ainda que ligado a esse corpo através do Fio de Prata.

Dentro de nossa realidade podemos acionar outras dimensões através do corpo e vinculados a ele. Já depois de morto, sem o corpo é preciso primeiro existir como fenômeno espiritual, como realidade e unidade subatômica, mas aí é outro mistério.

Pois é, infelizmente a vida não é o que você quer. E essa condição se aceita ou se contraria. Eu sou daqueles que humildemente trabalham a aceitação. Exige-me menos esforço. Respeito os que gostam do confronto e não suportam aquilo que se veem obrigados a aceitar, passam a vida insatisfeitos e em conflito.

"Dizem que o inconsciente não distingue o real do imaginário e isso por certo me fascina mais do que o discernimento consciente."

A consciência é uma aquisição relativamente recente na espécie humana, possivelmente 30.000 anos em 1.000.000 de anos da espécie. Um resultado evolutivo fenomenal da natureza. O inconsciente não distingue o real do irreal porque é inconsciente, porque existe numa dimensão diferenciada, mas não tenho dúvidas de que ele anseia por consciência, por luz, por integração dos opostos para que possa na escala evolutiva atingir níveis mais elevados de totalidade e o aprimoramento individual acresce ao inconsciente coletivo um plasma de consciência, que é a possibilidade do individuo de se integrar á consciência cósmica.
"À medida que compreendo o inconsciente, deixar que as coisas ocorram parece mais interessante do que tentar forçá-las para acontecer, seria isso?"

Penso que isso em parte me parece sábio, mas a resposta pode estar no caminho do meio. Saber agir e interferir, saber conduzir e saber se deixar ficar. Ação e Não ação. Nessa atitude sabida dos orientais mora a lucidez de ter aprendido o momento de fazer e o momento de não fazer. Agir e esperar os sinais e depois agir novamente e saber para no momento em que se deve parar. Saber que se possui uma singularidade que não é o bastante para definir o universo e que é portanto um resultado deste universo. Como um marionete que tem o poder de se movimentar mesmo que seja tambem movimentado pelo seu criador.

Eu posso dizer-lhe por experiência pessoal: É excepcional e surpreendente quando navegamos sintonizados com nós mesmo e com o espírito do tempo.
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A intenção deste Post foi de tentar colocar um pouco de luz nesta área desconhecida e favorecer a reflexão sobre este fenômeno do psiquismo e de nossa natureza.

Desculpem-me, se não fui claro o bastante, A complexidade do tema envolve questão relevante e essencial da existência humana. O que torna a tentativa de dissecação exaustiva por tocar em conteúdos ainda de difícil compreensão, e nem sempre temos à disposição instrumental que nos permita delicadeza suficiente para tratar essa multiplicidade dimensional "irreal" do universo com o padrão linear de pensamento em que estamos estruturados. 

Ψ

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ESTRELA GUIA, LUZ DO ESPÍRITO



Eu estava testando uma mini máquina portátil de lavar roupas que estava sobre uma mesa. Só que eu não tinha roupas sujas e, embora não fosse do meu agrado, tive de colocar roupas limpas para lavar a fim de testar a mesma. Depois de ligar, verificar que seu funcionamento era potente e que cabia uma quantidade razoável de peças, notei que não havia como parar a máquina e teria de esperar o programa de lavagem ir até o fim. Isso me incomodou, mas sem alternativa, deixei a máquina funcionando a lavar as roupas já limpas e fui para o quarto. Lá havia uma cama de casal encostada na parede e nesta uma enorme janela com vista para o mar.

Onde o mar encontrava com o céu, lá no infinito horizontal, depois de alguns barcos que pacificavam a imagem, havia a estátua de um cristo redentor e, do lado dela, começou a surgir um sol, mas não era um sol comum e sim um sol espetacular. Busquei a máquina fotográfica para registrar aquele momento inebriante e para minha completa surpresa, ao pegá-la, notei que ela ligou automaticamente, ou então já estava ligada. A cena era maravilhosa: o sol era uma gigantesca bola alaranjada brilhante que parecia vibrar por trás de algumas nuvens. Eu praticamente podia me sentir dentro daquele sol.

Mas ao tirar a foto fui transportada para outro local que parecia um escritório. Então eu estava numa sala vendo uma jovem se locomover numa cadeira de rodas. Apesar de não poder usar as pernas, ela parecia alegre e demonstrava ser expressiva como uma criança. Notei a habilidade dela em se locomover com a cadeira quando ela saiu da pequena sala donde estava sozinha atendendo um telefonema, atravessou um estreito corredor e entrou noutra sala donde haviam várias jovens fisicamente normais trabalhando em computadores. Pensei que se eu fosse ela, provavelmente não teria a mesma adaptação emocional, nem mesmo aquela desenvoltura para locomover-me sem as pernas. Após entrar na outra sala ela pegou algumas fotos na impressora que estavam sedo impressas naquele momento. Enquanto ela via as fotos, notei que várias eram minhas. Assustei-me: o que fotos minhas faziam ali? Quem as tirara? O que pretendiam com aquilo? Eu estava olhando por trás de modo que ninguém havia me notado. Ao pedir explicações as jovens se assustaram com minha presença. Uma delas disse que aquilo era material de uma política, mas não soube dar a explicação completa, de modo que não me convenceu. Estranhando tudo, disse-lhe que precisava saber ao certo aquela história, pois conforme fosse iria dar queixa na polícia sobre o uso ilícito das minhas fotos. Elas pareceram não se importar. Com o monte de fotos na mão, pretendia separar as minhas, pois elas pertenciam unicamente a mim. Entretanto, era como se todas as minhas fotos houvessem desaparecido. Eu tinha certeza de ter me visto, mas ali só haviam fotos estilo cartões postais. Comentei que aquela impressora era muito boa e notei que o papel era adesivo. Acordei sem entender aquela confusão fotográfica.

Ψ

A lógica parece diferente, testar a máquina de lavar com roupa limpa não tendo a roupa suja. Mas é sua realidade. A necessidade de lavar a roupa suja, ainda que só apareça a roupa limpa. Onde está a roupa suja?

Muitos mecanismos são assim, depois que são desencadeados não podem ser interrompidos, fogem ao controle dos desejos, da vontade. O sistema passa a funcionar por si mesmo depois de acionado.

Na paisagem o Mar, o Céu , o Sol, o Cristo. O Mar e Jesus podem ser vistos no Indicador temático.

O SOL – Luz é origem da vida, fonte da Luz que se contrapõe à noite, do calor, a energia em movimento, natureza do conhecimento, da velocidade e do poder supremo. A força maior que ordena, purifica, dinamiza e acolhe ao aquecer. Poder regenerador e purgativo, manifestação do fogo eterno. Força Yang e princípio masculino, ativo e transformador, símbolo cósmico.

O Céu – O céu iluminado simboliza o intelecto, a consciência e o espírito, símbolo dos poderes superiores, princípio ativo, masculino, oposto à terra, passiva e feminina. Manifestação da transcendência, da transitoriedade e do sagrado, está no nível superior e é a manifestação da ordem ordenada de onde tudo emana e onde tudo contém. É o espaço e o plasma universal e sagrado onde tudo existe. Símbolo da morada de Deus e da consciência cósmica que conte os opostos, a luz e a sombra.

A paisagem espelha possivelmente o conflito: você experimenta o prazer da visão, ainda que fique focada na tentativa de reter a sensação através do registro, dando mais importância ao mecanismo de apreender do que ao acontecimento. Mas esse foco equivocado pode lhe tirar o prazer da experiência a aprisionando na ilusão do prazer do registro ou de possessão do acontecimento.

DEIXANDO DE LADO O CONTEÚDO

VOCE SE FIXA

E SE SATISFAZ NA ESTÉTICA

DO MUNDO

O que é outra forte tendência feminina.

O sonho avança apresentando a possessividade e o apego à materialidade ou ao registro do que se passa, o passado. O seu livre trânsito entre variações distinta pode indicar a dificuldade de mobilidade emocional e que deve se concentrar, focalizar o domínio mental, a disciplina na atenção para que possa amplificar as suas possibilidades de realização na vida.

A cadeirante é símbolo de suas múltiplas possibilidades na vida. Independente dos impedimentos, das barreiras, limitações, imprevistos, das armadilhas e dos confrontos que a vida aplica aos indivíduos, tirando-lhes recursos de mobilidade ou de qualquer outro tipo, as possibilidades do sujeito de realizar sua ações, atuações e transformações ainda podem ser significativas, e com propósito e determinação as dificuldade podem ser superadas, porque a vida é um desafio maior quando não se fica escondido na dependência.

Bem, uma característica de potencialidades pode indicar possibilidades de sucessos na arte do Registro e de manipulação de imagens. Já pensou em se aprofundar na arte da Fotografia?

A LEITURA

Bem, saindo do olhar tradicional, uma leitura se faz possível dentro do quadro e do histórico de seus sonhos:

No semestre passado detectamos em sua dinâmica psíquica a passagem por um período de transição e a entrada em estados de transformações, que além de simples transição representam o processamento e reconfiguração de códigos psíquicos.

O surgimento do Sol Estelar ao lado do Cristo no seu Céu Onírico pode indica o início do renascer em sua vida, um novo tempo, o nascer de um novo dia. A máquina se movimenta e o sistema em transformação já ascende no firmamento. A presença do Sol ilumina ativando a vida. o cristo reforça o sentido do renascimento na espiritualidade, na fraternidade, na liberdade, na tolerância, na compaixão.

Mas é bom salientar que mais importante do que a presença do sol é a dinâmica que possibilitou o surgimento. Porque o ambiente de intervenção, as mudanças de códigos e configurações, a resignificação conceitual de sua relação com o mundo, a mudança de atitudes e comportamentos, propiciam as condições favoráveis para a retomada do movimento ordenado na configuração original da ordem psíquica.

Mas lembre-se, mesmo que tenha conseguido recolocar a dinâmica num fluxo mais natural, isto não quer dizer que o cenário esteja estabilizado. O sol está no Céu, mas pode cair na tua cabeça ou desaparecer e acelerar o surgimento da noite. É preciso se preparar para a Longa Noite da Alma, e este é um longo acontecimento em nossas vidas. Antes disso é necessário lavar a roupa suja escondida na noite dos ressentidos e dos magoados, dos possessivos e dos compulsivos, dos transtornados e vingativos, etc.

Aproveite o seu verão e siga e não se esqueça das indicações anteriores e posteriores neste mesmo sonho, já que o aparecimento da estrela pode ser apenas a anunciação da transformação, que se consolidará desde que os pré-requisitos de mudanças tenham sido superados e aplicados.

DE QUALQUER FORMA

ANIME-SE

O ESPÍRITO SE ANUNCIA NA LUZ.


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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

CULPAS FAMILIARES, PUNIÇÃO E IMOLAÇÃO




Eu estava num palácio com decoração de sorvete de creme com passas (tudo era pintado de amarelo com manchas pretas) quando saí e fui para casa. O caminho era escuro e já estava chegando quando esbarrei com um bêbado e ele quebrou uma garrafa vazia sobre mim. Para me defender usei a mão direita e notei que ficou um hematoma de sangue coagulado na extremidade da mesma. Então eu corri dele e tranquei-me dentro de casa. Indo para o quarto tranquei-me dentro deste também, mas enquanto dava a segunda volta na chave e tirava-a da fechadura, notei que aquilo era uma armadilha, pois eu não tinha costume de deixar a chave do lado de dentro. Já abrindo apressada para sair dali, notei que havia alguém dentro do quarto e era uma mulher. Ao abrir a porta para fugir me deparei com um homem e dois jovens que pareciam ser seus filhos. Eu estava cercada. A mulher disse que era para eu tomar o veneno e nisso notei que o homem tirava de uma botija um liquido colocando-o para me servir. Tive vontade de revidar e dizer que se eu tomasse aquilo e morresse ela nunca mais teria sossego na existência dela, mas acabei escolhendo me humilhar e pedi-a para me perdoar. (Como posso ter tanta facilidade para pedir desculpa nos sonhos?) Ela parecia inflexível. Dentro do contexto eles pareceram ser espíritos obsessores. Disse-lhe que se eu estava viva tendo uma nova chance era porque Deus já me perdoara e insisti para que ela fizesse o mesmo e não o fizesse por mim, mas por ela, pois eu já estava pagando pelos meus atos desajustados (não sei o que eu lhe fizera, mas sei que assumia minha culpa). Disse-lhe que ainda queria nos ver de bem e que ainda os poderia ajudar muito (não disse como, mas pensei que o faria através de um centro espírita). Abracei-a sem importar-me com seu jeito esquivo e notei que ela ficara balançada. Ele comentou que eu estava querendo fazer a cabeça dela apenas para que ela desistisse de me dar o veneno. Isso não era verdade. Minhas intenções era realmente de reconciliação. Senti que tudo ia ficar bem e, por mais que quisesse continuar o sonho, acordei nesse exato momento.

Ψ

Palácio de sorvete é palácio de fantasia, construção da ilusão para acolher a Princesa do Creme com Passas. Ilusão. Fragilidade. Dessa forma a psique te introduz aprisionando o seu foco de atenção: através da ilusão da gostosura. Te seduz pela oralidade, polarização gerada pela ansiedade do afeto que conforta e protege. O afeto que compensa o seio materno. É também a energia densa e paralisada que precisa ser acionada para ser dissolvida ou para entrar em movimento.

Aí... de volta para casa o choque com a realidade. O caminho sombrio do real, o bêbado, a ameaça e a agressão.

A casa é refúgio, defesa, proteção, resistência. Mas o suporte da proteção doméstica já não existe. Há a dificuldade de defender-se, sem apoio. Insegurança? Fragilidade? Medo?

É bom ficar atenta, a defesa pode ser a armadilha que aprisiona ou que esconde o risco. Quando o individuo se defende em excesso a "suposta" proteção serve para proteger a ameaça, para camuflar o perigo.

Medo de ser devastada. Qual a culpa? Você se sente culpada? Que erro cometeu para ser condenada à morte?

Você não se sente uma pessoa merecedora. Precisa pagar, mesmo que já tenha pago, mesmo não tendo o que pagar. Mas essa é uma característica da natureza feminina. Cobrará pela eternidade do homem, que para ela, errou. Pobre do homem que não atender à expectativa feminina, será empurrado eternamente para o cadafalso da punição, eternamente condenado. E assim as mulheres fazem consigo mesmo. Mesmo que tenham dificuldades em aceitar que cometem erros, se punem com a culpa pela eternidade. Estão sempre culpadas, pelos filhos, pela família, pelos amigos, e... Por estranhos.Triste sina! carregar a cruz da culpa pelos caminhos da vida.

Neste aspecto a Cruz não é a horizontalidade da calmaria nem a verticalidade da ascensão mas a  encruzilhada do destino, o conflito sem saida. O medo de arriscar e se deparar com o inferno, o medo de acertar o caminho e não suportar as delícias do paraíso sabendo do sofrimento dos que vivem no purgatório.
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Existem vários tipos de medo, mas o medo de morte é um medo especial, porque antes de ser egóico é resultante do instinto de preservação do sistema, da vida, de sobrevivência. Muitas vezes mascara a angústia ou o senso de não ter cumprido em vida o que devia ter sido realizado ou vivido. Esconde expectativas do não vivido.

Tradicionalmente pode-se pensar no desejo da morte. Há o desejo mascarado de morrer? Há o medo de ser envenenada? De servir como sacrificada?

Uma fala pode esclarecer:

Disse-lhe que se eu estava viva tendo uma nova chance era porque Deus já me perdoara e insisti para que ela fizesse o mesmo e não o fizesse por mim, mas por ela, pois eu já estava pagando pelos meus atos desajustados (não sei o que eu lhe fizera, mas sei que assumia minha culpa).

Mas se Deus a perdoou e se você já pagava pela prática dos “atos desajustados”, seus pecados, quem a condena?

Você se culpa. Mergulhada na culpabilidade se condena, e se oferece ao sacrifício não por amor como a Julieta, que perde o sentido da vida por acreditar no seu Romeu morto, mas por culpa de ter, em algum tempo, em algum lugar, cometido os erros ou de não ter atendido à expectativa do outro, de ser aquilo que esperavam de você. A tendência é de sacrificar-se, punir-se, fazer-se de vítima à espera da santificação ou da salvação.

Quanta severidade. Quanto sofrimento. Quanto perfeccionismo. O caminho não é bom!
Tudo bem que o palácio de sorvete seja ilusão, seu refúgio, compensador da carência, energia gelada, mas em nome de que tanta condenação?

Seria essa mulher a sua irmã? Aquela que a pune, que a condena? Seria a culpa por não perdoá-la?

Há mistura: a mulher que te condena é você que condena a irmã pelos erros cometidos ao te colocar numa camisa de força. Mas essa mulher também pode ser sua irmã te condenando.

Essa mulher pode representar o medo de ser punida pela irmã em decorrência do sentimento cultivado por ela, e a possibilidade da reconciliação, a mudança que precisa realizar, abandonando o passado de mágoas e resentimentos? O pedido de desculpas poderia ser a sua necessidade de ver sua irmã se desculpando, mas espelha a culpa que sentes pelos sentimentos negativos dos quais não consegue se libertar.

Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa! Antes de tudo você precisa se perdoar, ter compaixão por si mesmo e compreender que é chegada a hora de reconciliar-se consigo mesmo e com aqueles que estão dentro de um passado que precisa ser passado a limpo.

O veneno destilado a ser tomado pode esconder a verdadeira ameaça: a submissão. Cercada por 4 ou por cem, qual a diferença? A dignidade da autonomia. Ninguém pode tirá-la a não ser você mesmo.

Você continua funcionando sendo comandada por estranhos, ainda que na ameaça, e o que a leva a implorar, e a tentar seduzir o outro é o medo de ter que fazer o que o outro obriga. Abrir mão da autonomia é entregar ao outro o direito de te comandar. Você ainda funciona comandada pelo outro.

Não adianta fugir de seu dever consigo mesmo. É fundamental aceitar a realidade de seus limites ou se verá obrigada a ceder ao controle do outro. É preciso abandonar a fantasia e aprender a se proteger sem se aprisionar nas armadilhas do simplismo. Desenvolva e amplie o repertório de respostas para não ficar perdida no passado de ressentimentos e mágoas.

Ah!
O PIOR DE NOSSOS ERROS APARECE
QUANDO NOS VEMOS OBRIGADOS
 A PROVAR O PRÓPRIO VENENO.

Implorar e suplicar e se desculpar pode ser um ótimo curativo, mas o melhor é interromper e superar os equivocos.

Ψ

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

VACA SAGRADA








Eu estava passando pelos fundos de uma casa com uma conhecida quando notei vários sacos de quitandas que estavam começando a mofar. Outra vez o simbolo do mofo que, nessa época de chuva, pode estar ligado a minha casa, a qual que não tem condições favoráveis de ventilação e iluminação do sol. Então eu pensei que iam jogar as mesmas no lixo e juntando tudo numa sacola resolvi pegar para mim a fim de esmigalhar e alimentar os passarinhos. Parece apenas uma recorrência do sonho anterior. Nisso minha conhecida comentou que havia gente sim na casa. Até então eu não notara ninguém para pedir aquilo e naquele momento vi uma criança e uma mulher na janela. Ambas choravam provavelmente achando que eu ia roubar-lhes as quitandas. Como esta não era a minha intenção, mostrei-lhes que as mesmas já começavam a mofar e perguntei se poderia levar. Outra mulher apareceu não me dando permissão e pedindo-lhes desculpa expliquei outra vez a situação dizendo que não tivera intenção alguma de ofender ninguém. Um homem fortão veio conversar comigo e outra vez pedindo desculpas perguntei se poderia deixar tudo reunido na sacola ou se deveria devolver exatamente da maneira como estava. Ele não respondeu, mas pela sua expressão percebi que era melhor optar pela segunda alternativa. Voltei a distribuir as quitandas sobre a bancada e depois sentei-me sem jeito de ir embora, pois a mulher e a criança ainda choravam. Varias pessoas foram saindo para a área e aquilo me pareceu uma reunião. Interessante que me sentia íntima daquelas pessoas mesmo sem conhecê-las. Quando procurei pela minha conhecida ela houvera ido falar com uma senhora e somente então notei que eu estava num terreiro cujo atendimento se finalizava. Foi então que constatei que aquelas quitandas realmente estavam naquele local para mofar, pois eram oferendas. Como eu não sabia disso, não havia sentimento algum de culpa. Comentei com uma pessoa que estava sentada do meu lado que, se soubesse de tudo antes, teria ido conversar com alguma entidade também, mas logo em seguida concluí dizendo que não me importava, pois já trabalhara em um terreiro e já me cansara de tanto fazer as coisas para mim e para os outros, de lidar com banhos, velas, oferendas, etc. Eu estava sendo completamente sincera e isso estava relacionado a minha realidade fora do sonho. Novamente a recorrência com os aspectos religiosos.

Ao sair dali fui com um rapaz a um rodeio. Entramos na arena donde haviam vacas e porcos enormes. Mais uma vez a recorrência com tais animais. Esse rapaz que estava comigo subiu num banco para beber leite da vaca, que deveria ter uns dois metros de altura, e o leite não saia de suas tetas e sim de seu lombo, cerca de uns três palmos atrás dos enormes chifres. Verifiquei o esguichar do líquido indo muito longe como se fosse um jato de água saindo de uma torneira. Fiquei impressionada com aquilo, mas ao mesmo tempo achei tão complicado beber do leite que perdi a vontade. Nisso eu subi num porco, que assim como os demais estava muito limpo, e passeei com ele como se estivesse cavalgando até chegar do outro lado da arena, donde havia uma arquibancada interna. Pegando uma cadeira eu e esse rapaz fomos procurar lugar para sentar mais no fundo. Vale dizer que tal arquibancada era no mesmo plano da arena, ou seja, não era mais alta, algo que dificultaria a visão do espetáculo. Enquanto tentávamos localizar onde era melhor de sentar, alguém pegou nossas cadeiras e, quando fui pegá-la novamente, uma jovem grosseiramente puxou a mesma dando a entender que o assento era dela. Só que ao fazer isso ela acabou arranhando minha mão. Disse-lhe que não precisava ser sem educação e antes que ela dissesse qualquer coisa, completei dizendo que a perdoava e me retirei. Não me importando de ficar sem cadeira, voltei para a parte da frente disposta a ver o espetáculo em pé. Interessante que essa arquibancada interna era coberta com uma parreira, formando um pátio agradável e fresco.

Sonhos apesar de serem sonhos e refletirem uma dimensão diferente e surpreendente, constituída em naturezas de tempo e de espaço fora dos padrões que nos formamos e nos condicionamos, não envolvem um “SER” diferente de nós. Ao contrário disso, eles são espelhos daquilo que somos, pensamos, agimos, reagimos. Espelham um espectro e a forma como respondemos à realidade, como respondemos ao mundo.

A tendência é de se pensar o contrário, e de nos confundirmos. Como a realidade onírica surge num vácuo de consciência, em um cenário que escapa ao nosso “controle”, constituído como uma dimensão onde o tempo possui outra natureza e o espaço se constitui a partir da bidimensionalidade, somos induzidos ainda pelo baixo e sutil nível de uma consciência fugidia a funcionar com uma lógica que nem sempre atende às nossas necessidades e que sempre pode se apresentar ilógica. Somos levados a acreditar que todo aquele “mundo” é apenas um acontecimento bizarro de nossa existência real e mental.

Neste aspecto a tendência de não se reconhecer no sonho é mais forte e serve como defesa frente aos confrontos a que somos submetidos.

Mas não tenham dúvidas, o sonhador é a essência nua e crua do que ele é na realidade, ainda que se desconheça.

O sonho confronta-a com situações das quais mentalmente busca escapar: O Constrangimento; a vergonha; o mal entendido; a distorção dos fatos; a crítica e o julgamento alheio; o desconforto de viver situações que fogem ao seu “Controle”; o desconforto de cometer erros;, o perfeccionismo; a severidade consigo mesma; a culpa de não se mostrar enquadrada na expectativa alheia; a sensação de exclusão do coletivo; a severidade da cobrança; as dificuldades que a realidade lhe apresenta e que lhe exigem esforço e determinação; etc.

A figura masculina nos últimos sonhos vem se apresentando como grande aliado. Te acompanha e te dá suporte. Há integração e equilíbrio. Ele a puxa para a realidade extraordinária dos sonhos e a acompanha em sua sina e desafios.

O rodeio, de vaca e porcos, te coloca frente à possibilidade de sugar o leite sagrado, o alimento afetivo, vindo da mama. Mas a mama não existe, o leite esguicha do lombo. Acho interessante a sua renúncia ao leite, pode significar crescimento. Abandonar a mama, renunciar à mama. É muito complicado depois de grande continuar a beber o leite na mama, o crescimento exige mudanças de hábitos e a realidade cobra.

Por fim o confronto agressivo, e a renúncia à reatividade. Você abandona a resposta agressiva, a competição e segue seu caminho. Isto é diferenciação diante do mundo, da realidade da vigília e do mundo onírico. Você encontra uma nova resposta e frente ao confronto faz a sua escolha.

Neste sonho é possível perceber que frente aos confrontos nasce um novo repertório de respostas diante do mundo. As atitudes pensadas, o cenário observado e avaliado, mas é preciso avançar nessas transformações, avançar experimentando, não se repetir, na descoberta de novas formas de ser diante das pessoas, diante dos acontecimentos que nem sempre ocorrem como se gostaria que ocorressem.

Mas cuidado! Você cavalga o porco. O porco simboliza as tendências obscuras em várias formas: compulsões, egocentrismo, luxúria, gula, cegueira, obsessão. Vigiai seus princípios para não abrir mão deles nas horas decisivas e para que sirvam como referência de conduta. A verdade, a generosidade, a compaixão e... a Mansidão.

E a vaca que é sagrada simboliza a fertilidade, a renovação, a esperança, a mansidão, a terra mãe, que nutre e alimenta a leveza, a vida. No Egito o amuleto Ahat - a cabeça de vaca com um sol entre os chifres – era utilizado para refletir calor para os corpos mumificados.

Lembra-se do sonho anterior? A energia passa a circular inundando de luz o corpo adormecido, amortecido pelo bloqueio do fluxo de energia, travado pelas defesas, pela rigidez e pelos limites a que se impõe.

A vida renasce. Ainda que para isso seja preciso morrer e enterrar os resíduos.



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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

PÁSSARO AZUL




Sonhei que estava com Albert Einstein em um galpão de experimentos em sua casa. Ele estava sendo desafiado a descobrir ou inventar algo e eu estava aprendendo e ajudando-o. Ele estava criando (reproduzindo) cobras e jacarés em seu laboratório caseiro. Creio que as cobras e os jacarés eram geneticamente modificados. Interessante que, se não me engano, ele criava os jacarés para alimentar as cobras. Houve um momento em que ele me pediu para segurar uma bandeja de barro cheia de cobrinhas com cerca de uns quinze centímetros. Eu sabia que elas eram inofensíveis, pois ainda eram praticamente larvas. Só que em questão de instantes elas começaram a sair da bandeja (o ninho) e esparramarem-se subindo e descendo em meu corpo. Devolvendo a bandeja para ele, já agoniada com aquilo, retirei com cuidado cada uma das cobrinhas devolvendo-as. Notei que elas grudavam umas as outras e onde elas haviam passado no meu corpo estava babando como se elas soutassem uma gosma. Não achei nojento e nem tive medo, apenas não esperava que as cobras fossem ter aquela reação. Era legal conquistar jeito para lidar com aquilo e tive o cuidado de retirar todas devolvendo-as intactas. Então Albert me explicou que eu só podia estar com cheiro de carne e isso era perigoso. Estranhei, pois além de ser vegetariana eu não mexera com carne alguma. (1)

Nisso ele se retirou para fazer uma receita de um bolo com farinha de milho e eu estava recolhendo uma das vasinhas de farinha com leite que caíra do nada no chão quando apareceram três pessoas conhecidas que me levaram até um parque. Logo na entrada havia uma piscina muito grande e funda que estavam enchendo de água. Embora fosse feita apenas de cimento, a água refletia o céu num azul límpido. Na parte mais funda havia uma grande escada de ondas e várias pessoas sentadas no ultimo degrau. Fiquei a pensar que se aquelas pessoas escorregassem da escada e não soubessem nadar para a parte rasa, provavelmente afogariam de imediato. Então entrei por uma rampa na lateral e fiquei olhando lá de cima para a piscina. Só que foram subindo mais pessoas e fui aos poucos meio que empurrada para o fim da rampa donde adentrava-se numa espécie de túnel-piscina-labirinto. Como se estivesse numa boia dentro de num amplo tobogã coberto (haviam mais pessoas comigo), fui deslizando e já estava achando que ia me sentir sufocada ali dentro quando saí num local completamente diferente. Levantando e saindo da boia, caminhei por uma espécie de mesquita. Percebendo que nada daquilo estava normal, perguntei para uma jovem que lugar era aquele. Sem saber me explicar direito ela respondeu que era um parque onde tinha algumas praças. Que era um parque eu já sabia, mas não estava achando que fosse um parque qualquer. Então perguntei para ela se não achava perigoso estar num local que não sabia exatamente o quê era e onde ficava. Senti-a confusa, mas ela definitivamente parecia não se importar. (2)

Foi então que dei-me conta de estar sonhando. Fiquei maravilhada por ter consciência do fato. Explorei o local olhando para o exterior. De uma janela enxerguei vastas dunas de areia com pessoas passeando de elefante, camelo, dromedário e cavalos. Achei muito divertido estar ali.(3)

Caminhei para um jardim (ou seria uma praça?) dentro da construção. Havia na parede alguns andares abertos (estilo pé direito) e num destes haviam dois homens reunidos descansando sobre almofadas, conversando e dividindo uma shisha (ou narguilé - descobri o nome através da internet). Como não havia escada, supus que eles só poderiam ter chegado lá voando e constatando que realmente era apenas um sonho, comecei a voar e isso era muito divertido. O local era encantador e fui ver um pequeno pássaro que estava preso numa gaiola num dos cantos. Enquanto eu voava o pequeno e belo animal estava preso. Comecei a conversar com ele carinhosamente quando notei que a comida dele estava mofada. Indignada com aquilo notei que ele estava quieto de mais e olhando bem para sua penugem azul brilhante, dei-me conta de que ele também começava a mofar e por certo deveria estar morto. Então comentei com a jovem, a qual ficara me observando, que aquele local estava precisando de funcionários melhores. Chocada com o fato me retirei do ambiente e nisso acordei.(4)

Ψ


EM 4 TEMPOS

PRIMEIRO TEMPO

No post, que pode ser revisto, Serpente e kundaline, no link


ou no indicador temático "kundalini" ou "serpente", o leitor poderá encontrar conteúdo relacionado, de onde pincei o seguinte trecho de sonho anteriormente relatado do mesmo sonhador:

“...e então deparei com um jacaré fino e comprido, parecia um filhote. Comentei que aquilo não era uma cobra e então me disseram que logo eu veria a cobra. Realmente, logo depois uma cobra de cor verde claro começou a sair de dentro do jacaré como se este tivesse uma bolsa nas costas.”

O relato acima se contrapõe ao atual onde as cobras se alimentam de jacarés.

No primeiro a cobra sai de dentro do jacaré neste o jacaré penetra a cobra.

A associação que me vem é imediata.

No post indicado escrevi que: “O Jacaré ocupa o terreno de mediador entre os elementos Terra e Água. O que faz dele o elemento que simboliza as contradições. Possui o mesmo simbolismo do Dragão, daí a força negativa de sua presença, agressividade, ameaça originária do inconsciente coletivo.”

Portanto, a dinâmica da psique pode estar indicando que seus centro energéticos incorporam, assimilam, atualizam, energias acumulativas voltadas para respostas reativas de defesa e de ataque contra o meio ameaçador.

O encontro com A. Einstein e a ocupação de assistente, pode ser referência da presença de ordenação de conteúdos masculinos agora comandados pelo pensamento lógico, pela elaboração de conteúdos e raciocínios, observação e o desenvolvimento de atitudes menos impulsivas e mais trabalhadas em objetivos.

Duas observações:

1. As cobras subindo e descendo podem indicar fluxo de energia que rompe os estados de maior densidade e paralisia para estados energéticos mais dinâmicos.

Quando as energias são densas ficam localizadas em estado mais profundos do corpo, consequentemente para serem acionadas exigem maior polarização e grande diferença de potencial elétrico, daí a presença de comportamentos mais explosivos e agressivos. A energia para ser acionada precisa de reações poderosas que quando atingidas resultam em explosões emocionais reativas e descontroladas. Há ausência de controle emotivo e de domínio de pulsões.

A introdução da consciência disciplinada, e analítica favorece o reordenamento dessas energias densas e que escapavam ao poder de controle do indivíduo;

2. A dinâmica da Kundalini se apresenta-se circulando pelo corpo. E a sua atitude é de domínio, e controle pegando cada fluxo e colocando-o no lugar devido, devolvendo-o ao controle do mestre do pensamento físico.

Você pode não se alimentar de carne, mas é constituída como carne. O cheiro é cheiro de vida, de desejos, de mulher carnal, sexual que atrai a “cobra” masculina.

As energias liberadas, liberam o poder de atração feminino. Se prepare para o assédio masculino.


A imagem acima e a anterior é uma singela lembrança e homenagem a Antoine de Saint- Exupéry

SEGUNDO TEMPO

Voce bem percebeu:

“Percebendo que nada daquilo estava normal,...”

A construção parece-me uma atualização psíquica que quebra a rigidez de seu controle perceptivo. Sua forma de funcionar, não escapa ao padrão coletivo, ordenando a percepção para uma classificação do cenário que está inserida para obter controle e eliminar a ameaças que coloquem em risco o seu entendimento do mundo. Você se refugia na construção de um mundo que lhe seja mais confortável mentalmente.

O sonho quebra esse padrão, e já vem fazendo isso a um longo tempo, para compensar sua rigidez mental e para prepará-la para poder avançar para outros estágios de percepção e de compreensão da realidade do mundo. A fase continua sendo de preparação e transição. Se antes você aprendeu a nadar, agora já possui instrumento, boia, para flutuar. E transpor o túnel, a transição.



TERCEIRO TEMPO

O estado de consciência é conquistado. A consciencia do Presente. A visão do SER

“Foi então que dei-me conta de estar sonhando. Fiquei maravilhada por ter consciência do fato. Explorei o local olhando para o exterior. De uma janela enxerguei vastas dunas de areia com pessoas passeando de elefante, camelo, dromedário e cavalos. Achei muito divertido estar ali.”

Elefante – símbolo do poder real, Xiva, prosperidade, estabilidade, força, longevidade e capacidade destrutiva quando descontrolado e pulsional;

Camelo (Camelus bactrianus, duas corcovas no dorso), Dromedário (Camelus dromedarius, com uma só corcova no dorso) – simbolo da sobriedade e do caráter difícil. Atributo da Temperança, a capacidade de resistência, o aliado na travessia do deserto.

Cavalo – símbolo do psiquismo inconsciente. A sublimação do instinto, a força domesticada a serviço do ser humano. Ver indicador temático.

A consciência pode não estar consolidada, mas já é experimentada, sentida, vivida. Se conquista a observação. Inicia-se a exploração e descoberta do mundo.

O Deserto se mostra rico e esplêndido, cheio de vida, o humour é agradável. Há harmonia e o equilíbrio é positivo. O individuo se aprimora, amadurece, a consciência se amplia.


QUARTO TEMPO

O pássaro é o símbolo da Alma, a representação da alma que se liberta do corpo.

Símbolo celeste e dos estados espirituais, o estado superior, representa a personalidade do sonhador.

No sonho você adquire a capacidade de romper com as barreiras e forças que a puxam para baixo, e subindo encontra seu pássaro azul aprisionado, seu espírito azul brilhante aobrevivendo às custas de alimentos estragados.

Olhando por esse prisma a imagem é infeliz, mas ao contrário do que parece, considero o encontro auspicioso, porque o que encontras e vês pode ser o estado do espírito que sofria o impacto do aprisionamento e agora podes ter o domínio para realizar as ações que levem à libertação deste espírito aprisionado.

Bem, em princípio é isso. Penso que pode favorecer sua reflexão e entendimento de seu momento. Outros acréscimos poderiam ser feitos, mas por hora é o que a situação me permite.

Ψ

sábado, 22 de janeiro de 2011

VERGONHAS SEM VERGONHAS






Sonhei que estava num local diferente, talvez no litoral. Eu caminhava numa parte com uma extensão muito grande de areia e haviam uma esculturas gigantes feitas com a própria areia do local. Admirada eu notei que estava sem os óculos e querendo enxergar direito aquelas paisagens artísticas distribuídas no local, saí pensando de ir pegar meus óculos, entretanto eu não sabia aonde exatamente poderia buscá-los.

Comecei a andar sem destino quando encontrei um conhecido e ele me chamou para comermos algo. Sentamos numa mesa com mais duas moças. Não era um restaurante, parecia um escritório particular. Foi-nos servido uma sopa de macarrão com açafrão que estava até gostosa. Eu comi tudo enquanto as duas outras moças comeram apenas um pouco e ficaram conversando e disputando atenção cada qual querendo mostrar que tinha mais razão que a outra em assuntos banais.

Aquele ambiente não estava agradável e fiquei aliviada quando o conhecido me chamou para irmos. Eu havia derramado um pouco da sopa no colo e notei que minha calça ainda estava suja. Notei o olhar observador desse conhecido constatando a mancha na minha roupa. Era desagradável estar com a calça suja de sopa e, enquanto retirava um fio de macarrão que grudara no tecido, senti que tanto não me importava com o fato, quanto me sentia uma desastrada ao vê-lo me olhando de modo sério e calado. Fomos para um banheiro público e ao vê-lo escovando os dentes tive pesar de não poder fazer o mesmo por não estar com minha escova em mãos. No banheiro entrava tanto homens quanto mulheres e a divisão era feita apenas nas repartições dos vasos sanitários, tendo um feminino e um masculino lado a lado. Aproveitei que estava ali e entrei numa das repartições femininas, e somente então notei que não havia papel higiênico. Haviam várias peças de roupas intimas lá dentro e fiquei me indagando quem deixara aquilo ali. Nisso entrou uma mulher grávida. Estariam todas as demais repartições femininas ocupadas? - foi o que me indaguei. Ela estava acompanhada de outra mulher que ficou esperando e conversando com ela do lado de fora. A repartição era muito pequena e eu não tinha como me mexer lá dentro junto com a mulher e seu barrigão. Ela começou a se depilar dizendo que ia fazer um exame. Por fim ela pegou um rolinho de papel higiênico que estava dentro da bolsa e então lhe pedi um pedaço. Ela prontamente me deu como se fosse um agradecimento por tê-la deixado usar o local comigo, sendo que eu ainda tive de esperá-la fazer as necessidades e sair, para somente depois fazer as minhas também.

Eu estava preocupada imaginando que meu conhecido depois de tanta demora já teria ido me deixando para trás. E caso ele estivesse me esperando, teria de me desculpar e explicar-lhe a situação chata que me acontecera. Outra vez eu ia ter de passar pelo “julgamento” dele e isso me incomodava, embora eu não me sentisse culpada pelo ocorrido em si. Minhas lembranças se interromperam aqui.

O início enfoca a perda visual. Não possuo informações sobre sua visão. Esse é mais um exemplo que mostra os limites de uma leitura de sonho sem informações do sonhador, já que a existência de déficit visual ou de algum problema oftálmico, tanto quanto a ausência de problemas, podem determinar o sentido ou a mensagem do sonho. Frente à dificuldade resta-me encaminhar:

. Existindo ou não existindo problema de visão procure um oftalmologista e faça um exame que lhe permita saber do estado em que está sua visão e preventivamente se cuidar em caso de diagnóstico que comprove alteração da função.

. Considerar a questão simbólica, sabendo que independente da existência ou não de alterações funcionais de sua visão o significado simbólico permanece e indica a possibilidade de “Falta de visão”, o olhar alterado sobre a realidade que mesmo estando realçada deixa de ser percebida ou considerada por você.

Mesmo que haja a intenção de ver, ou que a imagem possa estar realçada, ampliada, a sua dificuldade em enxergar o visível está evidenciado. Levando-a à necessidade de fazer uso de instrumento que lhe favoreça perceber aquilo que não enxerga, ou de enxergar os detalhes da visão que foca.

Há dificuldades na compreensão dos acontecimentos? A necessidade de ampliar o entendimento da realidade?

E sem dúvida a situação a deixa sem rumo, perdida, sem se situar adequadamente no espaço em que estás.

A sequência indica que existe fome, de alimento, de afeto, de compreensão, de sociabilidade, de participação, de interação e de aceitação do outro, mesmo que haja julgamento, condenação e distanciamento.

Sua criticidade condenando a “banalidade” das duas mulheres também a condena na excessiva preocupação com o macarrão ou com a roupa (padrão, imagem social, conteúdo de persona, máscara, fantasia) suja. A preocupação com o olhar, com a visão, com a falta de visão do outro no sentido de visão distorcida que julga e condena. Mas o que projeta no outro é o que pratica, é o que faz.

O constrangimento espelha a insegurança e o medo do julgamento alheio. Aquele que você pratica e que a leva ao distanciamento do outro (veja sonho anterior). O constrangimento que sente é o julgamento que realiza, é a severidade e o padrão classificatório que aplica ao coletivo.

Uma roupa suja pode ser desagradável, mas o acontecimento circunstancial não deve sê-lo, portanto a situação precisa ser assimilada, administrada e aprendida para ser evitada e não ser dolorosa, ainda que incômoda.

Naturalmente a situação mostra o despreparo e a insegurança pra lidar com a imprevisibilidade. Aquele que deseja ser o centro das atenções não se aceita nestas condições a ser este centro, ou indica falta de espontaneidade, naturalidade, para lidar com o presente, com as mudanças, com o imprevisto e circunstancial.

O preparo para lidar com a impermanência, o imprevisivel, é fundamental na modernidade, para não se permitir ficar travado, paralisado. A resposta  padrão não atende à necessidade diante do mundo, é preciso um repertório amplo, criativo e diferenciado de respostas. Um repertório sustentado pela espontaneidade e pela segurança de se fazer mais do que aquilo que o banal possa sustentar.

É preciso aprender a lidar com o ridículo. Ridículos são os que perdem o rebolado, porque se acreditam rídiculos para si mesmo. É preciso aprender a rir de si mesmo. Aprender a ser humano com a humildade de quem se sabe pequeno diante do universo. Tudo é muito maior. É preciso superar o orgulho, a importância que damos a nós mesmos.

É interessante que quando mais você fica desapontada e perdida nos seus padrões de segurança, mais você fica "Mental" e quando você está completamente envolvida pelo inesperado o inconsciente te enreda, você fica paralisada frente ao espontâneo e chega a lidar bem com a situação.

A sequência do sonho é exemplar, fenomenal. Coloca-a num banheiro coletivo, misto, em situações excêntricas, inesperadas, extravagantes. Onde a privacidade existe delicadamente comprometida. E você é confrontada, levada ao extremo para viver o imponderável, o surpreendente, o assombroso.

Você exprimida dentro de um reservado reduzido, acompanhada de uma grávida que se depila, se higieniza, e lhe serve papel para a sua higiene.

Estamos todos submetidos a estas questões básicas, que sendo básicas e fundamentais para a manutenção do corpo, podem ser reservadas. emocionalmente tambem precisamos nos desfazer dos residuos, dos excessos, daquilo que não possui utilidades. Por isso foi encaminhada para o lugar onde se desfaz dos dejetos. O box dos dejetos.
Mas existem aspectos básicos que são fundamentais na sociabilidade, que favorecem a convivência, facilitam as relações e interações com o outro, e que exigindo classe ou formalismo quando submetidas ao imponderável não precisam ser motivo para o constrangimento ou o sofrimento emocional. Problemas e imprevistos precisam ser administrados, não devem envolver valores, princípios, banalização, inferiorização ou justificativas para desqualificação para sentir e menos para condenar.

Constrangidos devem ficar os "sem princípios", os imorais, os pervertidos, os corruptos, os bandidos, os assassinos, os desrespeitosos, etc. É preciso ter referências e bom senso para não se perder em conceitos sustentados pela vaidade ou pela baixa estima. Cuidado! Para que a preocupação com a imagem não se transforme numa aprisionamento da alma.

Essa preocupação excessiva com o outro precisa ser, resignificada, recontextualizada. Ao outro devemos respeito. A vaidade tem seu lugar na sociedade, mas é ardilosa e em excesso privilegia a imagem que mitifica a existência idealizando o banal e retirando o sujeito da naturalidade, do seu eixo central. A capacidade de operar o imprevisível é imprescindível.

A a psique exige-nos esse preparo para que possamos existir em equilíbrio e harmonia nos sistemas da corporalidade.

ADENDO
SOBRE O TÍTULO

Para esclarecer: O meu objetivo ao titular este Post é tentar diferenciar as vergonhas que merecem e que devem ser preservadas em função  da privacidade que protege o sujeito e sua individualidade. A importância do coletivo pode ser primordial mas a singularidade adiciona a única possibilidade que temos enquanto existência. E naturalmente essa singularidade precisa conviver com a privacidade. A possibilidade que possuimos de experimentar o sabor da individuação aprimorada que é o projeto de evolução do coletivo evoluido.

Essa diferenciação coloca a individualidade no eixo do qual não se deve sair, diferentemente das "Vergonhas" que realçam os orgulhos, a presunção, os caprichos, a vaidade, o narcissimo, a prepotência, a autoridade presumida na auto importância. Essas vergonhas merecem ser deletadas pois insignificantes no processo de aprimoramento podem se fortalecer e  se transformar em muros que bloqueiam o desenvolvimento do individuo j[a que deformam a referência do que é verdadeiramente importante, transformando o banal em prioridade.
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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

ANOREXIA AFETIVA




Sonhei que minha irmã, cunhado e sobrinha estavam aqui em casa com mais uma turma de amigos. Eu permanecia esquiva na garagem quando minha mãe veio conversar comigo. Havia uma viagem programada para Caldas Novas, mas eu não queria ir, pois não achava que fosse um passeio agradável se ia ter que aguentar a “convivência familiar”. Nisso a turma de amigos já de saída para irem embora vieram se despedir de mim. Enquanto apertava na mão de algumas senhoras, uma delas perguntou algo que não lembro, e minha resposta um tanto objetiva demais foi: “porque assim tenho sossego”. Havia um homem já de meia idade que invocado queria dançar comigo, mas eu não estava interessada e me esquivava. Nisso uma jovem me abraçou para se despedir e percebendo que meu abraço era com descaso ela mandou-me abraçá-la forte. Embora também não estivesse interessada em tal abraço, o fiz pensando que assim ela me largaria logo. Entretanto ela não se desabraçava de mim e cheguei a comentar isso em voz alta quando simplesmente me desabracei dela, embora continuasse presa no abraço. Achei aquilo chato, mas ao mesmo tempo era curioso e tentava desvendar que motivo a fazia comportar-se daquele modo. Os demais não estranharam o fato e talvez ela realmente tivesse mania de “se grudar” aos outros. Mas o que a levava a isso? Estaria ela tentando conquistar minha consideração? Estaria ela achando que eu precisava de afeto? Estaria ela querendo ser caridosa? Estaria ela numa crise de carência da minha pessoa, mesmo tendo acabado de me conhecer? Como eu não estava por conta de ficar abraçada a ela, fiz mais força para desvencilhar-me e assim que consegui retirei-me para beber água. Minha sobrinha foi atrás de mim e suspirando fundo, como que para espantar a irritação de não conseguir ficar sozinha, esquivei-me outra vez e não lhe dei atenção.

O vocábulo esquivo nos dá a dimensão do comportamento e da emoção que mapeia o sentimento do sonhador. Esquivo- adj (germ *skiuh) 1 Que se esquiva. 2 Que rejeita afetos ou carinhos; arisco. 3 Reservado, retraído; insociável. 4 Irritável. 5 Rude. 6 Aborrecido. Var: esquivoso. (Michaellis - português)


Distanciamento crítico, afetivo, afetuoso, social.

O papel de quem chama a atenção para si, porque não consegue partilhar o convívio? Insociabilidade.

Deseja a convivência, mas dentro de seus limites, de acordo com a forma preestabelecida nas relações. Se relaciona com o outro com a negação

O sonho indica o apelo coletivo pela sua inclusão nas relações, sendo solicitada para interagir e você respondendo com a negação, a esquiva e a Rejeição. Lamenta a rejeição, mas atua rejeitando, se distanciando, se excluindo e excluindo, desprezando, criticando. Como já lhe disse anteriormente: Segregando e se segregando.

Deseja o convívio, mas se isola, como numa ilha, onde se basta. A convivência familiar se torna um martírio. As pessoas lhe tiram o “sossego” . Mas onde reside o desassossego?

Você reafirma o pensamento existencialista Sartreano: “O inferno são os outros”

Mas... Não apenas os outros.
 O mercado está dentro de si mesma.
O inferno é criação pessoal.
O sujeito se inferniza e se atormenta.
Cria e projeta sua criação.
O mundo que escolhe viver.

A viagem é a indicação de mudança que você evita por capricho, desinteresse ou porque para realiza-la se faz necessário aceitar um pré requisito básico: a inclusão social, a participação no coletivo, o abandono dos ressentimentos e mágoas do passado, o abandono da “vendetta” afetiva, a rejeição.

A dança que é parece-me a maior expressão lúdica do seu afeto, pelo movimento e desafio e pelo seu lado exibido que anseia aceitação também é rechaçada. Ou seja, envolvida na ação de exclusão e de rejeição da irmã e da mãe, todo o coletivo é contaminado e você atinge a si mesmo se boicotando em possibilidades de laser e elação. Prevalece o foco na negação.

Voce abandona suas possibilidades de realização e mergulha na punição do outro e de si mesmo, no mundo do NÃO!

Um lado interessante do “não” é a ação contaminadora que aciona. O sujeito passa a retirar prazer do “não dito”, da punição que inflige ao outro. O não passa a ser uma forma de poder de frustrar o outro. O sujeito entra num estado compulsivo negativo em que se aprisiona num Looping enredando os fios de seu destino. Quanto mais diz não, mais nãos dirá.

Frustrando o outro ele obtém prazer NA NEGAÇÃO, mesmo que também se puna, se impedindo de outros prazeres. A ação se envereda na compulsão negativa, “o impedimento”, fazendo do sujeito um ANOREXICO AFETIVO. Ao invés de se alimentar do afeto e do prazer da comunhão ele se alimenta na negação do afeto.

O anorexico não deixa de se alimentar,
simbolicamente se alimenta do prazer em se punir
em nome da vaidade.

Costumo ressaltar os perigos e as armadilhas com as quais nos defrontamos em nosso dia a dia. Praticamente tudo tem armadilha quando a consciência se perde, quando o sujeito abandona o senso crítico e se torna resultado dos movimentos que não soube limitar.

Os limites são fundamentais na formação de uma pessoa, no estabelecimento de sua conduta, na disciplina de seus hábitos, mas se tornam uma armadilha quando passam a limitar a expansão da pessoa, impedindo-lhe de realizar aquilo que lhe é imprescindível realizar.

O seu destino lhe empurra para a vivência coletiva, que significa os rituais de crescimento, amadurecimento e transposição para a vida adulta. Quando se perde em velhos hábitos ou formas de responder aos reclames da vida, como por exemplo na negação, você se boicota e se impede de interagir de forma mais ampla com as pessoas do seu entorno. Se fecha numa ilha e se alimenta do isolamento que se impõe e do prazer de se negar ao outro.

Neste momento a resistência prevalece, seu mundo se contrai, você se paralisa encantada com o seu poder de frustrar, os sinais indicam perigo de retrocesso prevalência das velhas formas de se manifestar no mundo.

Você nega o afeto,
abandona a “Viagem” ,
se alimenta do não alimento.
Se perde no não.


Adendo - Criei a denominação e estou usando pela primeira vez,  o termo Anoréxico afetivo  para me referir à negação afetiva e à negativa de interação, como  forma do sujeito se esvaziar do sentimento e dos afetos que dentro dele deixam de se realizar e cumprir o seu destino de projeção no mundo. oportunamente descreverei mais este conceito que para mim bem caracteriza determinados Labirintos Afetivos nos quais mergulhamos.
Em caso de já ter sido utilizado por outra pessoa, perdoe-me a desinformação.

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